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quinta-feira, 24 de março de 2016

O ABRAÇO (adultas)

         
(desenhado por Lara Rocha) 

       Era uma vez quatro mulheres, muito bonitas que depois de um desgosto de amor, de tanto chorar, ficaram congeladas. E juraram nunca mais se voltar a apaixonar para não voltar a sofrer.
Clara, Diana, Neusa e Susana queriam, mas na montanha onde viviam, o Mago, um velho sábio centenário, não gostou nada dessa decisão delas, e tentou a todo o custo mudar-lhes as ideias. Mesmo assim, elas fecharam o coração para sempre.
O Mago Olhodefalcão não ficou nada contente, e apesar de ser um homem muito bondoso, foi ter a sua amiga de infância: Analuz…uma senhora da mesma idade, com uma cabeça fresca, e muito generosa.
- Minha querida, preciso de te ver! – Diz o Mago à sua amiga, ao telefone.
- Óh, meu amigo, tu sabes que as portas da minha casa estão sempre abertas para ti! Anda, quando quiseres…olha…vem de seguida, que estou a acabar de fazer um chá. – Diz a Analuz.
- Está bem! Estou aí a seguir. Até já. – Diz o Mago.
        O Mago colhe uma linda rosa vermelha para a sua amiga, sem a cortar. Tira delicadamente a flor da terra à porta da sua árvore.
- Óh…uma flor do amor…! – Comenta uma borboleta sorridente.
- Sim, amiga…esta flor do amor, é para uma amiga de infância, por quem tenho um grande amor…fraternal! – Diz o Mago sorridente.
- Amor fraternal? O que é isso? – Pergunta a borboleta muito surpresa.
- É um amor de irmãos…de amigos…! – Responde o Mago.
- Áh! Estou a perceber. Mas então, não devias oferecer rosas vermelhas! – Observa a borboleta.
- Porque não? Não gostas da cor vermelha? – Pergunta o Mago.
- Gosto. Mas as rosas vermelhas só se oferecem a quem se ama. – Diz a borboleta muito inocente.
- (ri) Ora, ora…não necessariamente…isso são coisas que as pessoas inventam, para justificar o que sentem…às vezes nem sequer sabem que o que sentem não é amor…acham que é…mas na verdade, não é! – Diz o Mago.
- Não é amor? – Pergunta a borboleta muito intrigada.
- Não! – Responde o Mago.
- Como é que sabes? – Pergunta a borboleta muito surpresa.
- Porque o amor não é aquilo que se vê…que eles mostram! – Responde o Mago. 
- Não? – Pergunta a borboleta.
- Não…o amor não é beijos e abraços e mãos dadas…tudo isso, pode fazer parte…e faz…claro…mas o verdadeiro amor, não se vê assim a olhos nus. – Explica o Mago.
- Então? – Pergunta a borboleta
- Sente-se! E o que se sente, não se vê com nitidez, a não ser…brilho nos olhos…mas esse brilho, também aparece na felicidade, por isso, nem sempre o que reluz nos olhares, é amor! – Responde o Mago.
- Então…mas se não é amor, para que é que eles oferecem rosas vermelhas? – Pergunta a borboleta - A mim sempre me disseram que só se oferecem rosas vermelhas a quem se ama – Diz borboleta pensativa.
- Não. Pode-se oferecer rosas vermelhas, a qualquer altura, e a qualquer pessoa, desde que queiramos, e desde que a pessoa goste da cor. É certo que também pode ser a quem amamos, porque a cor vermelha simboliza o fogo, a paixão, o amor…! – Explica o Mago.
- E tu, amas essa pessoa, a quem vais oferecer essa rosa vermelha? – Pergunta a borboleta.
- Sim. Amo de verdade! – Responde o Mago.
- Mas se a amas, porque não estás com ela? – Pergunta a borboleta.
- Porque…o amor que nos une, não é para estarmos presos um ao outro…! Na mesma cama, na mesma casa…Quer dizer…estamos ligados, e encontramo-nos muitas vezes, falamo-nos muitas vezes, e às vezes até partilhamos a mesma casa…mas o nosso amor é puro demais, muito natural…inocente…para ser um casal! – Explica o Mago.
- Acho que devias ficar junto dela. – Diz a borboleta
- Não. Eu e ela somos livres! E o nosso amor resiste forte…! – Diz o Mago.
- Como? – Pergunta a borboleta.
- Olha…não sei explicar…talvez porque…não cobramos nada um ao outro, não exigimos nada um do outro, não nos prendemos, e mesmo assim, as nossas almas encontram-se, e os nossos corpos também. Adoramos a companhia um do outro, mas não para sermos um casal…se fossemos um casal, talvez já não estivéssemos juntos. Somos os dois muito felizes, e inseparáveis. A luz dela brilha em mim, e a minha luz, brilha nela…damos força um ao outro! Estamos um para o outro, sempre que precisamos, e juntamo-nos sempre que queremos! Respeitamo-nos muito. Temos muito carinho um pelo outro! – Explica o Mago.
- Áhhh! Que lindo! Nunca vi um amor assim! – Suspira a borboleta sorridente e maravilhada.
- Talvez um dia destes conheças algum amor assim. – Diz o Mago a sorrir.
- Receio que não…hoje já não há disso. – Suspira a borboleta.
- Devemos ter sempre esperança que apareça alguém parecido com o que nós queremos…igual…nunca aparece, mas podemos ter a sorte de encontrar, com algumas características iguais, e às vezes, até melhores que não estávamos à espera…! – Responde o Mago.
- Ááááhhh…! Que lindo! Mas hoje em dia não vejo nada disso entre os casais. – Suspira a borboleta a sorrir, sonhadora.
- Infelizmente tens razão, mas temos de ter esperança que as coisas vão mudar, se não, transformamo-nos em pedras de gelo…como aquelas quatro raparigas. – Responde o Mago.
- Quem? – Pergunta a borboleta
- Aquelas jovens…Ali, no jardim. – Aponta o Mago.
- As estátuas? – Pergunta a borboleta muito intrigada.
- Sim…de carne e osso. Mas de facto parecem mesmo estátuas de pedra. – Responde o Mago a rir. Vai sonhando…desculpa, tenho de ir. Até logo. - Diz o Mago.
- Até logo…! – Diz a borboleta.
        O Mago sorri, e segue caminho, a passo lento, pensativo, com a flor na mão. Os dois reuniram-se para um chá na casa de Analuz, uma casa numa árvore. A Analuz abre a porta, e sorri.
- Senti a tua presença, meu amor…! – Diz a Analuz sorridente.
- És sempre a mesma. Eu também já sabia que me esperavas mesmo sem bater á tua porta. – Diz o Mago a rir.
O Mago estica o braço, e mostra a flor vermelha à amiga.
- Para ti…! – Diz o Mago.
- Óh, meu raio de sol…muito obrigada…! Sempre amoroso e cavalheiro…! Que lindo…! – Diz Analuz a sorrir.
        Ela pega na flor, dão um abraço, dois beijos e entram. Analuz põe a flor numa jarra. Olhodefalcão instala-se na cadeira do costume, à volta da pequena mesa.
- O chá está pronto. Fiz aquele que adoramos. Se quiseres, faço outro para ti…! – Diz Analuz.
- Não, filha, não te preocupes. Eu gosto muito do chá do costume…qualquer um que tu faças é bom! – Diz o Mago a sorrir.
- Estão os biscoitos a sair do forno…em dois minutos. Mas…sinto que há outro motivo que te traz aqui… - Diz Analuz.
- Sim, é verdade! Além do motivo de estar contigo, que é sempre maravilhoso, e mais que suficiente…há outro…é que…preciso de ajuda! – Explica o Mago.
- Conta, querido…só estou de ouvidos! Eu vou tirar do forno os biscoitos, mas podes falar, que oiço-te! – Diz Analuz sorridente.
- Queres ajuda? – Pergunta o Mago.
- Não, obrigada. – Responde a Analuz.
        O Mago conta, enquanto ela tira os biscoitos.
- Há umas meninas que fizeram uma coisa que eu não gostei nada! Disseram que fecharam o coração delas para sempre, só porque tiveram uns desgostos de amor…para não voltarem a sofrer. Eu tentei fazer de tudo para lhes mudar as ideias, mas não adiantou de nada. A verdade é que elas estão quase como estátuas de pedra, ou gelo…sabes…os casais de hoje, têm uma ideia de amor que é irreal…são uns verdadeiros ignorantes, e depois confundem tudo. Ora…elas são tão jovens…não podem fazer isso. Estão congeladas. Entendes-me? – Conta e pergunta o Mago.
- Sim! Muito bem! – Responde a Analuz.
        Ela põe os biscoitos na mesa, ia servir o amigo, mas ele segura na mão dela, e serve-lhe o chá, servindo-se depois a ele. Ela sorri.
- Já sei que não queres açúcar. – Diz o Mago.
- Pois não…mas se quiseres põe para ti. – Diz Analuz
- Não! – Responde o Mago.
- Mas em que posso ajudar-te? – Pergunta Analuz.
- Era mesmo isso que eu vinha perguntar-te…sinto que me podes ajudar, mas não sei como…! – Diz ele.
        Os dois ficam pensativos, enquanto tomam o chá e comem os biscoitos.
- Já sei! – Grita Analuz.
        O Mago estremece, e ri.
- Como? – Pergunta ele.
- Vamos transformar essas meninas em gelo…estátuas de gelo…
        A Analuz conta o seu plano. O Mago ouve atentamente, acena com a cabeça e sorri.
- O que te parece? – Pergunta Analuz
- Muito bem…acho uma óptima ideia. Mas elas não vão sofrer, pois não? – Pergunta o Mago.
- Não…elas vão pensar que estão a sonhar. E quando acordarem, o gelo dos seus corações derreteu. – Explica Analuz.
- Estou a perceber! – Diz o Mago a sorrir – E quando podes fazer isso? – Pergunta o Mago
- Hoje mesmo. Já a seguir. – Responde Analuz.
        Os dois conversam alegremente mais um pouco. Mais tarde, Analuz faz a pequenina mágica, juntamente com o Mago, e as quatro raparigas que estão no jardim, transformam-se em estátuas, cobertas de gelo. Quase se confundem com as estátuas de pedra. A Analuz escolhe uns rapazes, lindos…uns descendentes de Elfos, na floresta vizinha, e chama-os para aquele parque. Eles ainda não sabem bem ao que vão, mas passam pela casa de Analuz e esta explica-lhes tudo.
- Deixem connosco! – Respondem os rapazes a sorrir.
- Não se esqueçam…tudo com delicadeza…! – Diz o Mago.
- Sim, fiquem descansados…! – Respondem os rapazes.
- São lindas! – Diz um dos rapazes, a sorrir.
- É…mas não te entusiasmes demasiado…! – Pede a Analuz.
- Está tudo controlado…! – Garante o rapaz.
- Podem ir… - Diz Analuz.
        E os rapazes vão para o jardim. Ao ver as quatro raparigas em estátua, os quatro rapazes ficam maravilhados, e olham uma por uma.
- Como são lindas! – Elogiam os quatro rapazes.
        O rapaz mais sensível, que chora com facilidade, comenta, já com as lágrimas nos olhos:
- Ai! Parte-me o coração vê-las assim!
- Calma…! – Pedem os outros rapazes.
        Mas o rapaz deixa-se levar pelas lágrimas, e abraça as quatro raparigas, deixando cair uma lágrima em cada uma.
- Segura-te, pá! – Recomenda outro rapaz
- Lembra-te do que a Analuz nos disse…- Diz o outro rapaz.
- És sempre o mesmo apressado…! – Diz o outro rapaz.
- Porque é que te deixas levar pela emoção? – Pergunta um dos rapazes.
- Desculpem! – Diz o rapaz mais sensível.
- Vá…controla-te…e sai daí…agora é a nossa vez. – Manda o outro amigo.
        Ele não quer saber, e abraça outra vez todas, e depois uma por uma, até que se fixa na última. Os outros amigos, vão cada um, para uma. Abraçam-nas, beijam-nas, acariciam-lhes os cabelos, e a cara, dão-lhes a mão, sorriem-lhes…e pouco depois, o gelo começa a derreter. Elas começam a ficar humanas. Não sabem o que está a acontecer, sabem que quando abrem os olhos, vêem os lindos rapazes em frente a elas, sorridentes. Elas não resistem à beleza deles, e sorriem-lhes.
- Ai, acho que adormeci. – Comenta Clara
- (boceja) Ai…eu também! - Acrescenta Diana,
- Eu tenho a certeza que dormi…até sonhei…! – Diz Neusa
- Eu também! – Respondem em coro.
- Mas, quem são estes…? – Pergunta Susana
- Umas aves raras…! – Dizem em coro.
        Eles sorriem, e apresentam-se, elas também se apresentam, e ficam encantadas com eles, com a delicadeza deles. Os rapazes vão passear com elas, e têm longas conversas, riem muito. 
- Sinto-me muito estranha…! – Comenta Susana.
- Eu também… - Dizem em coro.
- Espera aí…o que é que estamos a fazer com estes rapazes? – Pergunta Diana.
- Boa pergunta. – Respondem todas.
- Não vos conhecíamos… e estamos a falar convosco, como se já nos conhecêssemos há séculos… - Diz Neusa
- Mas a realidade é que estou a gostar muito. – Confessa Clara.
- Vocês estão curadas! – Diz o rapaz mais sensível.
- Curadas, de quê? – Perguntam as quatro.
- O vosso coração está novamente aberto para o amor… - Responde outro rapaz a sorrir.
- Não pode ser! – Respondem assustadas.
- Sim, é verdade! – Responde o outro rapaz.
- Não se preocupem…isso é muito bom. – Garante o outro rapaz.
- Não! – Respondem todas.
- Esperem…já não me sinto bloqueada…! – Repara Clara.
- Nem eu…parece que me passou o medo! – Reconhece Neusa.
- Acho que fizeram alguma coisa connosco! – Comenta Diana assustada.
- Não! – Garantem os rapazes.
- Não podiam ficar eternamente, fechadas…! – Diz um rapaz.
- Isso ia ser muito mau para vocês! – Diz outro rapaz.
- Estávamos tão bem com o coração fechado para sempre…ai…! – Suspira Susana
- Foram vocês que o abriram? – Pergunta Neusa
- Sim! – Respondem os rapazes.
- Como? – Perguntam as raparigas.
- Com o calor dos abraços! – Respondem eles em coro.
- E com as minhas lágrimas…é que…partia-me o coração ver-vos assim…em estátuas de gelo. – Explica o rapaz mais sensível.
- Os nossos abraços tinham amor…fraternal…por isso é que conseguimos derreter o vosso gelo… - Explica outro rapaz.
- E tinham carinho…respeito…amizade…! – Acrescenta outro rapaz.
- Mas…como é que isto aconteceu, e porquê? – Perguntam todas.
- Só estamos a cumprir ordens do Mago Olhodefalcão e da Analuz.
- Óh não…! – Suspiram todas.
- É castigo dele…! – Suspira Clara.
- Castigo seria continuarem fechadas, e geladas! – Garante o rapaz mais sensível.
- Vá lá…deixem-se de medos…! Vai fazer-vos muito bem…-Garante outro rapaz.
- Não! – Respondem em coro.
- É para arrumar connosco de uma vez…- Diz Susana.
- Não é nada! – Garantem os rapazes.
- Por favor…deixem-nos provar-vos que temos razão. – Pede outro rapaz.
- Dêem uma nova oportunidade ao vosso coração…! – Diz outro rapaz
- Ele merece! – Dizem eles em coro
- Vai ficar muito mais feliz…vão ver! – Diz outro rapaz
- Até vocês, vão sentir-se muitos mais livres…- Diz o rapaz mais sensível
- Está bem… - Respondem elas em coro.
- Vão ver que não se vão arrepender. – Garante o rapaz mais sensível.
- Ai de vocês que estejam a iludir-nos. – Ameaça Clara.
- Fazemos de vocês picado…- Ameaça Neusa.
- Só se for picado de beijinhos e abraços… - Diz outro rapaz a rir, e a brincar.
        Elas riem.
- Vamos dar mais uma volta…? – Sugere outro rapaz.
- Vamos! – Respondem todas a sorrir.
        E desde esse dia, os rapazes e as raparigas saíram todos os dias, divertiram-se todos, riram e brincaram muito, juntos. Com o tempo, depois de muitos encontros, muita conversa, muito convívio, tornam-se amigos inseparáveis, e uns anos mais tarde, nasce o amor. Apesar de trocarem muitos carinhos, como é normal, o verdadeiro sentimento do amor existia, e tal como o mago tinha dito, este não se via a olhos nus…via-se no brilho dos olhares de felicidade, mas acima de tudo, o amor estava lá, entre eles, nos pequeninos gestos simples, de amizade, pequeninas ofertas, nos recadinhos e mensagens que trocavam várias vezes ao dia, na presença, no diálogo, na companhia sem prender, nos encontros sem cobranças, quando queriam, nas conversas sinceras, e no respeito. O amor que se tornou fraterno, tal como aconteceu com o Mago Olhodefalcão e a Analuz, que estavam orgulhosíssimos.
        As relações seriam bem melhores, bem mais saudáveis, felizes e naturais se existissem estas pequenas porções mágicas que muitos se esquecem de cultivar diariamente, de mostrar ao outro, o que sentem, e como essa pessoa é importante para elas…mas que fazem toda a diferença, para que as relações sejam duradouras.

FIM
Lálá 

(25/Agosto/2013) 

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