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quarta-feira, 23 de março de 2016

A bruxa irada



Era uma vez umas flores muito belas que viviam sossegadas no seu jardim. Certo dia, uma bruxa que odiava flores, perguntou ao seu namorado:
- Bruxão, monstrão…meu horroroso…quem é mais bonita…eu…ou aquelas coisas?
- Claro que és tu, minha horrorosidade monstrona. – Responde o namorado
- Pois claro! Eu sabia! É claro que não ias gostar daquelas pirosas, vaidosas, pois não?
- Claro que não! Eu só gosto de ti…quer dizer, odeio-te, minha monstruosa horrível.
        A bruxa desata a rir, e trocam carinhos. Entretanto, sem ela saber, e enquanto tomava o seu banho em lama quente, o namorado foi ter com as flores, ao jardim.
        Ele tinha dito à bruxa que não gostava de flores, mas mentiu! Na verdade, ele gostava mesmo muito das flores, e até ia ter com elas, disfarçado de vespa.
        As flores não sabiam quem ele era, mas gostavam dele…ele tinha sempre uma conversa muito agradável e simpática, era delicado. As flores nem imaginavam que era o monstro namorado da bruxa.
E por falar na bruxa…quando ela não viu o seu namorado em casa, e ele não respondia às suas chamadas, foi ao seu caldeirão ver se o descobria.
Quando a bola de cor de fogo do caldeirão abriu, ela viu o seu namorado disfarçado de vespa, de volta das flores de quem ela tinha tanta inveja e tanto detestava.
- Mas o que é isto? O que é que ele está a fazer de volta destas pirosas?
- Ele mentiu-te! – Soa uma voz
- Mentiu? Como assim?
- Mentiu! Disse-te que não gostava das flores, mas na verdade…gosta…e olha como! Olha para ele, vestido ou disfarçado de vespão, para andar à volta delas…! E mais…
- Mais? Não chegava mentir-me?
- Não! Mentiu-te, e chega! A mentira que ele te disse, não foi só essa, de que não gostava das flores…ele acha-as lindas!
- O quê?
- Isso mesmo…ele acha as flores muito mais bonitas do que tu!
- Não pode ser!
- É! Olha para ele, todo derretido com elas…
- Ááááhhh… (grita) não pode ser!  
- Pode! E é!
- Mas como é possível? Como é que ele fez isto comigo? Maldito! E malditas flores…
- Confessa lá…tu até gostas delas…
- Claro que não. Já me conheces bem…
- Estás ruída de inveja delas.
- Bom…claro…isso sim. Mas a culpa é dele.
- Pois. Ninguém diz o contrário. Porque estás tão ciumenta?
- E achas que não é para estar?
- Acho que não! Elas são só umas flores…tu és uma bruxa. Com as flores, nunca vai poder ter nada…e contigo…pode…e tem!
- Ele nunca me fez isto.
- Que tu saibas…
- Sabes de alguma coisa, que eu não sei?
- Não. Só sei tudo o que tu sabes.
- Huummm…
- Mas que saibamos, ele nunca te enganou, nem tu a ele.
- Eu já. Ele é que não soube!
- A sério? Ááááhhh…
- Claro.
- Conta-me…
- Noutra altura, agora não posso! Tenho de me concentrar no castigo… ele mentiu-me a dobrar… maldito!
        Fica tão nervosa, tão irritada e chateada, que grita, guincha, e pensa numa vingança.
- Malditas…e maldito! Vão ver…
        Prepara no caldeirão um castigo: uma valente tempestade! Primeiro, põe milhares de nuvens no céu, roxas, pretas, cinzentas, azuis-escuras, quase a rebentar. O sol fica completamente tapado.
- Ei…! – Dizem todas as flores
- O que aconteceu? – Pergunta uma flor
- Ficou noite, de repente? – Pergunta outra flor
- Não! – Dizem todas
        Olham para o céu.
- Parece que vai chover! – Diz o namorado da bruxa
- Pois! – Dizem todas
- Óh não! – Diz o namorado da bruxa
- O que foi? – Pergunta outra flor
        O namorado suspeita, mas disfarça:
- Áh! Acho que vamos ter de nos abrigar.
- Onde? – Perguntam as flores
- Acho que vamos ter de levar com ela! – Comenta outra flor
        A bruxa desata às gargalhadas, e grita, gira as mãos, e faz levantar uma forte ventania. A vespa que era o seu namorado, tenta voar, mas não consegue, e dá uma série de cambalhotas com o vento.
        As flores gritam e quase são arrancadas da terra, batem várias vezes na terra e choram muito assustadas, abraçam-se para tentar segurar-se.
        A vespa bate várias vezes nas árvores pelo jardim, e desata a chover, uma valente tromba de água. As flores ficam rodeadas de lama, e quando estavam quase a afogar-se, com tanta água, o namorado da bruxa chama uma nuvem amiga sua, e boa. Ela desce ao jardim e protege-as da chuva.
        A bruxa fica completamente histérica de raiva.
- Outra…? Mas que traidor…
        Castiga o namorado de várias maneiras, sacode-o, puxa-lhe as asas, aperta-o, tenta esmagá-lo, dá-lhe sapatadas através do vento, e forma-se trovoada. As flores não se molharam mais, com a nuvem a protegê-las. A bruxa puxa o namorado, todo amassado. Ele grita quando a vê:

- Olha o que me fizeste! Foste tu, não foste?
- Quem mais podia ser? Idiota…traidor…- grita a bruxa
- O quê?
- O quê? Pergunto eu… o que é que estavas a fazer de volta daquelas pirosas malditas? E disseste que não gostavas delas…
- Eu sabia que isso tinha garra tua.
        Ela dá-lhe um estalo e puxa-lhe os cabelos. Agarra-lhe no pescoço e grita-lhe:
- Mentiste-me! Maldito! Disseste que não gostavas daquelas nojentas, e afinal disfarças-te de vespa para andar de volta delas.
- Sou só amigo delas!
- Sou só amigo delas…que palerma! Odeio essa palavra. Isso é traição.
- Não. É amizade. Tu também tens amigos, e amigas, mas és minha namorada.
- Mas eu não me disfarço para ir ter com eles, e tu sabes quem são…tu disfarças-te de vespa para andar de volta delas. E ainda chamaste outra…para as defender…que ódio…
- Claro. Como é que eu ia chegar a elas? Que outra?
- Aquela nuvem. Não tinhas nada que te chegar a elas.
- Porquê?
- Porque eu odeio-as…são horrorosas…e tu, todo babado com elas…que nojo. Mentiste-me!
- Não menti…só não te disse!
- Estúpido. Não me disseste, e mentiste!
- Ciumenta.
- Claro que sou. E depois?
- E depois? É mau.
- É como nós. Podias gostar de outra coisa…de outra bruxa qualquer…agora…daquelas…francamente! Traíste-me.
- Não te traí. Amigas não são a mesma coisa que namoradas. Não sejas assim.
- Estás feito bonzinho agora…? Foram elas que te deram a volta à cabeça? Disseste que eu era a mais bonita, então porque foste atrás delas?
- E és. Mas as flores também são bonitas.
- Ainda confessas?
- Confesso. Acho-as bonitas, mas não podia dizer-te porque já sei que és muito ciumenta.
- Quem é mais bonita afinal?
- És tu! Mas elas também são, não és a única bonita…
- Palerma! Pelo menos agora não me mentiste…é a tua sorte…mas, ai de ti que vás outra vez ter com elas.
- Mas o que é que tem, ir ter com elas?
- Ainda perguntas? Não podes.
        Dá-lhe umas fustigadas.
- Ai! – Geme ele
- É para aprenderes que sou tua! E mais ninguém pode ser.
- Elas são minhas amigas.
- Não podem ser. Ou elas, ou eu.
- Que disparate. Então o nosso namoro fica por aqui.
- Vais atrás delas?
- Vou. Para ver se ganhas juízo.
        Ele sai a porta, e a bruxa faz uma série de maldades, para tentar destruir as flores e o namorado. Mas ele defende-se e defende sempre as amigas. Protege-as.
        Mais tarde, a bruxa sentiu falta do namorado e pediu-lhe que voltasse, prometendo que o deixava ser amigo das flores. Ele não acreditou nela, e não voltou.
        A bruxa cansou-se, e desistiu de chatear o rapaz, entregando-se à tristeza e à solidão. O choro dela ouvia-se muito longe, e estava a ficar doente, fraca.
Isto fez com que ela deixasse de ser má, e tornou-se também amiga das flores, que a ajudaram com pena dela. Assim, ganhou outra vez o amor do namorado.
        E foram felizes para sempre…com a amizade das flores, a quem a bruxa pediu desculpa. Ela deixou de ser má e de ser ciumenta.

FIM
Lálá 
(23/Fevereiro/2015)





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