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sexta-feira, 25 de março de 2016

Alma e amigos (Adolescentes e Adultos)

Era uma vez uma princesa chamada Alma, que vivia num castelo enorme, com a sua grande família, onde havia tudo o que é preciso, na ilha do coração, situada numa montanha isolada muito alta, na qual as quatro estações do ano eram sentidas intensamente, e muitas vezes no mesmo dia.
Além do castelo, e dos seus habitantes, não havia mais casas ou pessoas à volta. Apesar de viverem felizes e terem muito dinheiro…materialmente não lhes faltava nada, emocionalmente…viviam muito de fachada. Os sentimentos não eram sinceros e verdadeiros, e sentiam falta de amigos. A princesa Alma ficava muitas vezes triste e amuada por os dias serem sempre iguais, monótonos e rodeados de falsidade.
Sempre que Alma ia para a janela do seu quarto, com uma vista fantástica para uma praia paradisíaca pertencente ao castelo, de um lado, do outro lado era monte e floresta, pedia um desejo às estrelas.
- Óh, estrelas…aí em cima…então…não me ouvem? Eu tanto vos peço para me mandarem amigos verdadeiros…aqueles espectaculares, simpáticos, verdadeiros, sinceros…e até hoje…nada?! (p.c) Começo a achar que é tudo mentira, e que vocês, estrelas afinal não concretizam desejos nenhuns, nem nos ouvem. Estou farta de vos pedir…e nada…! (p.c, suspira) Aaaaaiiii…!
Ela vê uma borboleta a pousar na sua janela. Linda…diferente de todas as que já tinha visto. Olha para ela, sorri e fica a apreciá-la. Ela não sabe, mas esta borboleta vai mudar a sua vida, pois é um sinal de que as estrelas a ouviram, e em breve vai conhecer uns amigos muito especiais. De repente, Clara, filha de uma das empregadas do castelo, bate à porta do quarto de Alma. Alma estremece e pergunta. Do outro lado respondem:
- Quem é?
- Sou eu…a Clara…posso entrar?
- Sim, entra…!
(Clara entra, sorriem, cumprimentam-se e falam uma com a outra)
- Boa noite…desculpa estar a incomodar…! Só vim ver se já estavas a dormir.
- Ainda não. O quarto está tão quente, que não consigo dormir, nem deitar-me.
- Sim, tens toda a razão. Mas precisas de alguma coisa?
- Não, obrigada.
Ouve – se o barulho de cavalos a correr. Ela assusta-se, estremece, levanta-se de repente e vai à janela, espreita e só vê pó no ar. Clara fica preocupada e pergunta:
- O que estás a ver?
            Alma explica à amiga, mas esta não acredita, acha que é tudo imaginação da amiga:
- Ouvi barulho de cavalos a correr. Mas só vi pó no ar…!
- O quê? Eu não ouvi nada…
- Anda cá ver…ainda há pó no ar…!
Espreitam as duas, mas Clara só vê pó e desvaloriza, dizendo: 
– Óh…estás a sonhar.
            Alma fica ofendida e responde chateada. Mas a amiga continua na dela…sem acreditar na amiga, e as duas ficam a defender cada qual a sua verdade:
– Não estou nada. Eu ouvi cavalos a correr.
– Só vejo restos de pó no ar…!
– Pois, os cavalos foram para o meio da floresta.
– Mas…tu viste mesmo os cavalos?
– Vi.
– Tens a certeza?
– Sim.
– Não…deves ter imaginado…o pó no ar foi uma rajada de vento.
- Já lhe ouvi chamar muita coisa, mas vento…!
- Não há marcas de patas no pó…! Por isso, onde estão os cavalos? Eu oiço bem! E não ouvi…só podes ter imaginado. Tu bem querias que fosse…sei lá…algum príncipe a cavalo não…?
- Isso até tu querias…!
            As duas riem, e suspiram. Alma ficou inquieta, e desafia a amiga:
- Olha, já que estás com tantas dúvidas sobre o que vi, anda comigo lá abaixo.
- Eu até gostava de ir, mas…não nos vão deixar, com certeza…!
- Já agora…! Não nos vão deixar porquê?
- Porque é noite, e somos meninas novas, pode estar alguém lá fora…essas coisas do costume que nos dizem.
- Se formos as duas com certeza que deixam…não vamos para longe…!
- Mesmo assim…sabes como são os nossos adultos…! E eles têm toda a razão…é muito perigoso andar lá fora, à noite…! E não é nada comum andar cavalos por aqui. Muito menos a esta hora.
- Eu tenho a certeza que eles vão deixar.
- (ri) Falas com uma certeza…! (p.c) O que vais fazer…? Seduzir os guardas é…?
- (ri) Se for preciso chegar a esse ponto, também chego!
- (ri) Ainda gostava de ver…! Eras logo atirada pela janela fora.
- (ri) Achas que sim…?! Tu não me conheces…! Não sabes do que sou capaz.
- Acho que começo a perceber do que és capaz…! Pelo que me estás a dizer…!
- Olha…vens ou não…?
- Acho melhor não abusarmos da sorte…!
- Que chata…! Estás cheia de medo mas é.
- Eu…? Cheia de medo…? Achas…? Claro que não.
- Pois…! Não confias em mim?
- Confio, claro…somos amigas.
- Então…deixa-te de coisas, e anda comigo.
            Ela ouve novamente cavalos, mas Clara não ouve. Alma exclama assustada e estática:
- Olha…outra vez!
- O quê?
- Cavalos…ouvi outra vez cavalos.
- Ai…cruzes…ela está maluca…!
- Vou perguntar aos guardas se ouviram. Deves estar surda…
- Tu é que deves estar com alucinações.
- Não, não…! Eu sei que vi…!
- Deve ser a Lua Cheia que te está a mexer com os miolos…!
- Tu ainda vais engolir um sapo. Anda…!
            As duas descem as escadas de mão dada, e vão ter com os guardas: Cláudio, Marco, Marcelo e André que estão numa das entradas.
Cena 2
As duas dizem em coro:
- Boa Noite!
            Os guardas respondem:
- Boa noite.
            Cláudio pergunta intrigado:
- Está tudo bem convosco?
            Elas respondem em coro:
- Sim…!
            Clara esclarece:
- Esta rapariga está muito estranha…acho melhor levá-la ao manicómio…da vila.
            Os guardas riem, e perguntam em coro:
- Como…?!
            Clara ia começar a explicar, mas Alma interrompe imediatamente e pergunta:
- Está tudo calmo por aqui?
            Os guardas respondem em coro:
- Sim…!
            O guarda Marco comenta:
- Com a menina é que parece que as coisas não estão lá muito bem…o que se passa…? Sinto-a muito agitada…!
            Clara responde e Alma corrige:
- Ela está a ouvir coisas…
- Eu tenho a certeza que ouvi…esta é que está surda.
            Marcelo pergunta:
- Mas…ouviste o quê?
            Clara responde, Alma insiste:
- Uma rabanada de vento, que levantou pó, e ela diz que ouviu cavalos.
- Não foi rabanada de vento que levantou pó, tenho a certeza…ouvi cavalos a correr, mas quando fui à janela já só vi o pó que eles fizeram…mas entraram para a floresta…!
- Eu disse-lhe que se fossem cavalos havia marcas de patas, e eu não vi nada disso…só vi pó, mas com certeza foi uma rajada de vento.
            Os guardas riem, e André comenta:
- Óh…óh…óh Alma…claro…isso foi imaginação tua.
            Alma fica furiosa e resmunga:
- Mas porque é que ninguém acredita no que eu digo?
            Marco explica a rir:
- Não acreditamos porque nós estamos aqui em baixo há muito, e não sentimos vento nenhum…nem ouvimos nada.
            Alma bufa chateada:
- Olhem…boa noite…eu desisto. Mas ainda vão engolir um sapo…!
            Todos riem e respondem em coro:
- Boa noite…!
            Alma vira costas, sobe as escadas e volta para o quarto, chateada, a bufar e a resmungar baixinho.
Cena 3
            Os guardas ficaram em baixo a conversar com a Clara, e a rir. Alma foi para o quarto, muito chateada e vai outra vez para a janela. Olha para a paisagem novamente e questiona-se:
- Mas onde raio se meteram…? (p.c) Eu ouvi cavalos…tenho a certeza…! E não estou a sonhar. Ouvi mesmo. (p.c) Ninguém acredita em mim, não sei porquê…! A outra totó só porque não ouviu…já acha que inventei, ou que imaginei… (p.c) se fosse eu a imaginar, imaginava logo um príncipe…para que é que eu quereria o cavalo…?! (p.c) Que coisa mais estranha…! (p.c) Os guardas não ouviram nem viram nada…mas se calhar também estariam distraídos…! Óóóhhhh…não gosto nada disso…!
            A borboleta linda e diferente continua na janela, e começa a dar luz mesmo em frente à Alma. Alma vê-a, sorri surpresa, e as duas falam uma com a outra:
- Áááhh…! Estás aqui…?
- (sorri) Olá.
- (sorri) És uma borboleta que fala…?
- (sorri) Sim…alguma coisa contra eu falar…?
- (ri) Não…mas não é normal as borboletas verdadeiras falarem…! Só nas histórias infantis.
- (ri) E quem disse que eu era borboleta normal…?!
- Pois…olhando bem para ti…eu…fico com a sensação de que nunca te vi antes por aqui…!
- E é verdade…! Eu nunca andei por aqui…só por aqui perto.
- Mas…de onde vens?
- Daqui perto.
- Daqui perto…?! Isso é onde?
- Queres conhecer a minha vila?
- Sim…! Onde é?
- É aqui perto.
- De certeza?
- Sim.
- E como é que se vai para lá?
- Anda comigo.
- Pela janela…? (p.c) Eu não voo…!
            A borboleta manda um assobio e transforma-se numa linda rapariga, vestida de vermelho. Alma assusta-se e pergunta. A borboleta responde:
- Ui…quem és tu?
- (ri) Sou a borboleta.
- (confusa) A borboleta…? Mas…como…?
- É uma longa história. Queres vir comigo conhecer a minha vila?
- Sim. A borboleta ia levar-me, mas não sei voar…não poderei ir pela janela.
- Mas vais pela janela…!
- Mas…eu não pretendo esborrachar-me toda…! Ou vou pelas escadas, ou então não vou.
- Vai pelas escadas…eu espero por ti lá em baixo. Se viesses comigo pela janela…a vista era muito melhor.
- Não faz mal…eu conheço bem a vista…encontramo-nos no meu jardim está bem?
- Combinado.
            A rapariga borboleta acompanha a Alma até ao seu jardim, em forma de borboleta para passar despercebida, olha para todo o lado e comenta:
- Mas o teu castelo é fabuloso...cheio de coisas lindas…! Espaçoso…luminoso…brilhante…Uau!
            A borboleta e a Alma falam uma com a outra:
- Deves viver muito feliz aqui.
- Mais ou menos…! Às vezes não é assim tão bom.
- Mas porquê? Não te falta nada.
- Falta sim…uma coisa mais importante que tudo isto que está à minha volta…!
- O quê?
- Amigos sinceros…verdadeiros…divertidos…que me façam rir muito, que brinquem comigo, que me respeitem…que me ensinem coisas…e que tenham sentimentos verdadeiros por mim. Além disso, falta-me…um amor.
- Nunca tiveste amigos nem namorados?
- Tive um namorado…mas ele não me tocou a alma…como eu queria que fosse.
- Humm…vejo que já sofreste por amor…
- Eu sim, ele não. E tu?
- Eu também já tive muitos namorados…mas de momento não tenho.
- Que sorte…! Mas não admira…tu és tão bonita, que todos gostam de ti, com certeza.
- Sim, sou bonita, mas não gosto de me sentir presa…e os namorados que tive, faziam-me sentir presa.
- Porquê?
- Porque eram muito possessivos…não me podiam ver a falar com rapazes que ficavam logo histéricos. (p.c) Ia às compras, queriam logo saber onde ia e com quem…e seguiam-me. (p.c) Eu não lhes dava o que eles queriam, por isso não gostavam.
- E o que é que eles queriam e tu não deste?
            A borboleta diz ao ouvido da rapariga. A rapariga solta uma grande exclamação, e diz:
- Mas…isso foi o melhor que podias ter feito. Eu também não dei isso…!
- Sim, também não estou arrependida. Para mim a amizade é muito mais valiosa, e isso, felizmente tenho bastantes…claro que nem todos são verdadeiros, mas também só sou amiga verdadeira dos que merecem.
Cena 4
            Chegam ao jardim, e Alma pergunta:
- E como te relacionas com os outros que não são verdadeiros?
- Olha…sou educada na mesma com eles…mas não lhes dou muita confiança.
- Pensei que só aqui é que as pessoas eram falsas nos sentimentos…quer dizer…muitas delas são.
- Não…não é só entre vocês…!
- Olha, chegamos ao jardim…!
            A borboleta fica maravilhada com o que vê em todo aquele espaço, sobrevoa tudo, pousa em algumas flores, raspa na água a rir e feliz, toca nas luzes e suspira:
- Ááááhhh…é quentinho isto.
- É uma luz. (p.c) Não tens disto no sítio onde vives?
- Sim, existe…mas esta é diferente.
- E no sítio onde vives não existem jardins?
- Existem, mas são diferentes.
- Esse sítio deve ser muito estranho.
- Já vais conhecê-lo.
- Boa! (p.c) Olha…por acaso, há bocado, ouviste e, ou, viste cavalos?
- Sim. Foram uns amigos meus.
- Ai sim?! Ááááhhh…! Pensei que tinha sido eu a ouvir coisas, porque mais ninguém os viu, nem ouviram os passos. Só viram pó no ar.
- É possível que não tenham visto, nem ouvido…mas isso é óptimo. É sinal que podes entrar no nosso reino.
- Reino…? Mas há mais alguma habitação aqui nas redondezas?
- Sim…mas nem todos podem lá entrar…só pessoas especiais.
- Mas…especiais como?
- Não te posso dizer…desculpa…só te posso dizer que se ouviste os cavalos é porque um dos nossos te escolheu…e quer que entres no seu reino.
- Quem?
- Já sei quem foi…! Foi um ser que andava também à procura de um amor…puro…verdadeiro…sincero…transparente…tal como tu.
- Mas…eu já desisti de acreditar que ia aparecer alguma vez.
- Ele vai provar-te que estavas errada ao pensar assim…!
- Ãããããhhh…?!
- Ai…não me faças mais perguntas…já sinto martelos na cabeça…ele está ansioso. Anda…!
- Onde…?
            A borboleta transforma-se em rapariga, abraça-a com as suas asas vermelhas, baixam-se e vão ter à praia deserta. (Efeito de fumo).
Cena 5
            Chegam à praia paradisíaca. Olham em volta, e Alma comenta:
- Eu…conheço este sítio…!
- Pois conheces…fica perto do teu castelo.
- Ááááhhh…mas…o que é que isto tem de especial…? É uma praia bonita, está bem…mas…além disso…é aqui que vives?
- Sim. Porquê? Não gostas?
- Gosto…mas porque é que me trouxeste para aqui…?
            Aparece um rapaz da idade dela, lindíssimo, vestido todo de preto, sorri-lhe, ela fica com a respiração ofegante do susto, sorri. Ele começa por cumprimentá-la e falam um com o outro:
- Olá Princesa…!
- Olá…!
- Já viste que linda que está a noite?
- Sim, pois está…com esta lua enorme…!
- E uma temperatura muito agradável.
- Sim. (p.c) Vives aqui…?
- Vivo.
- Eu vivo ali no castelo.
- Sim, eu sei. (p.c) Vamos dar por aqui uma volta…?!
- Sim.
- Amiga…podes ir à tua vida. Obrigada.
            A rapariga fica ofendida com aquele tratamento, vira-lhe as costas e vai para um rochedo no mar sereno, sentada virada de costas para eles, triste e nervosa. Alma fica preocupada:
- Ela é tua amiga?
- É…!
- E mandaste-a embora…assim…?
- Pois…eu quero passear só contigo, não é com ela.
- Mas…eu acho que ela ficou triste…coitada…!
- Não te preocupes com ela…depois entendemo-nos.
- De certeza que ela é só tua amiga…?
- Sim…é! Só minha amiga. Ela compreendeu muito bem. Anda…daqui a bocado ela fica bem.
- Óóóhhhh…não devias ter tratado assim a rapariga.
- Ela não leva a mal…! Vamos.
            Os dois passeiam tranquilamente pela praia, a falar alegremente.
Cena 6
            A borboleta ficou mesmo triste e chateada, magoada, ofendida. Está sentada no rochedo, de costas para o casal, triste e com raiva murmura:
- Maldito…! (p.c) Ingrato…! (p.c) hummm…que raiva…! (p.c) Sou mesmo idiota…para que é que eu fui buscar aquele caldo sem sal para ele…?! (p.c) Falso…! (p.c) Se eu sabia que era para me tratares assim, nunca tinha ido buscá-la…ias penar…desgraçado! Era o que merecias…! (p.c, olha para o casal de canto) Olha para aquilo…já se está a derreter todo… (p.c) parvalhão… (p.c) A saber que gosto de ti, e tratas-me assim…esfregas com essa na minha cara, mesmo para me humilhar. (p.c) Monstro cruel… (p.c) Que ridículo…! (p.c) É claro que ela agora não vai reparar no que tu és de verdade, porque já se sente atraída por ti…está iludida…coitadinha…é muito inocente. Quando souber como as coisas são de verdade…ela vai ver o que dói amar um homem. (p.c) Que triste sina minha…! (p.c) Formar casaizinhos…Rrrrrrrrrrrrrr…! (p.c) Vou-me vingar…! (p.c) Maldito Amor…!
            Aparece o Rei Amor com ar de mau, e olha para ela sem dizer nada. Ela olha para ele, estremece, assusta-se e ele solta um trovão que só ela ouve. Ela encolhe-se assustada, e ele começa um sermão, calmo…
- Boa noite…!
- (assustada) Boa Noite…! (baixinho) Só se for para ti. (p.c) Estás aqui…?
- Tu chamaste-me!
- Não propriamente…
- Eu ouvi…! Chamaste-me…Maldito…não foi?
            Lança outro trovão, e ela estremece e grita:
- Aaaaaaaiiiiiii…! (p.c) Se ouviste é porque ouves bem…não quero saber…é verdade…!
- Como…?
- Sim, foi isso que tu ouviste…! És mesmo maldito.
- Não estou a perceber porque estás a dizer isso a meu respeito…?! (p.c) Deves ter-me confundido com outro qualquer…!
- Tens a mania que és o melhor não?
- Eu…?
- Sim…
- Porquê?
- Só porque toda a gente fala em ti…Eu não devia ter junto aqueles dois…! Aquele era o homem da minha vida… (triste) Agora…viu aquele caldo sem sal, e não quer saber mais de mim.
- (ri) Essa é boa! (p.c) Ele nunca quis saber de ti.
- Como é que sabes?!
- Nem preciso de falar com ele…basta ver a maneira como ele te trata, e como fala contigo.
- Pois…! Foi mesmo estúpido comigo. Mas ele sabia que eu o amava.
- Vais-me obrigar a ser mau contigo…e eu não queria, porque até gosto de ti, embora não sejas a minha preferida.
- Ai, que simpático. Estás a fazer-me sentir muito bem.
- (sorri) Eu sei. É mesmo essa a intenção. (p.c num tom irado e seco) Já viste as figuras tristes que estás a fazer…?
- O quê?
- Sim…estás a ser ridícula.
- Mas…porquê?
- Porque estás a ser egoísta.
- Não, não estou.
- Estás sim…estás a querer o rapaz só para ti…quando ele não te dá confiança…! Vais vingar-te dele?!
- Sim, claro. Eu gosto dele.
- Não. Tu queres o rapaz para ti…mas não podes fazer isso…! (p.c) Fizeste muito bem ter junto os dois. Não podes possui-lo, só porque tu gostas dele. Mas não tens nada que ficar triste porque ele também gosta de ti…de uma maneira diferente, mas gosta.
- Tu dizes isso porque não gostas de ninguém. Vale-me de muito, ele gostar de mim de maneira diferente. Sou a borboleta da paixão, distribuo paixão, mas infelizmente também me apaixonou…alguém me apanhou distraída…!
- Tu ama-lo?
- Sim.
            O Rei manda outro trovão e bate com umas correias na rocha zangado. Ela encolhe-se:
- Ááááááhhhh…! Vais – me bater?
- Não. Isso não sou eu que faço…é só para te acordar…! Estás a sonhar…e a realidade é bem diferente. O que tu estás a sentir e a fazer…não me pertence…! (p.c) Estás a usar-me mal. (p.c) O que sentes por ele é…dependência…posse…tu não o amas de verdade…eu não estou presente nessa tua relação…!
- Eu amo aquele falso…! Infelizmente.
- Não…se o amasses…não o querias para ti, dessa maneira.
- Estás a dizer que não tenho sentimentos?
- Não…! Eu sei que tens sentimentos…simplesmente…esses que tens dentro de ti, em relação ao rapaz…não fui eu que tos pus aí. Se fosse eu, sentirias outras coisas.
- Desculpa…toda a gente que ama alguém sofre.
- Não. Não é verdade…se sofre é porque eu não estou presente de verdade…! (p.c) Eu não faço sofrer…só faço pequenos testes ao longo dos namoros para ver se aquele casal funciona, e se eu estou mesmo lá…!
- Mas para que é que fazes esses testes?
- Para ver se não me estão a usar erradamente, e para ver se me respeitam.
- Mas enquanto fazes esses testes, os elementos do casal sofrem.
- Isso é só para tornar a relação mais picante…! Porque…se eu estou presente…o que é que acontece quando o casal se chateia?
- Vai um para cada lado, insultam-se, batem um no outro ou matam-se…
            Ele manda outro trovão e bate outra vez com as correias. Ela grita, e ele diz:
- Não me conheces de verdade…! Aliás…ninguém me conhece…evocam-me sem ter a mais pequena ideia do que sou de verdade. Se fazem esses disparates todos, é porque eu não estou nessa relação…!
            A borboleta resmunga assustada:
- Claro…tu és um mistério.
            O rei corrige, e a borboleta defende a dela:
- Não…está tudo errado…! Eu sou muito simples, tu…é que estás sempre metida…chegas primeiro que eu, e depois confundes tudo. Confundem-me contigo…mas na verdade não temos nada a haver um com o outro…assim como também não fazemos nada um sem o outro…isto é…se as pessoas não te conhecem primeiro…também não me conhecem. A maior parte das vezes os casais ficam-se pela tua presença, o que é uma pena.
- Tens a mania que és o melhor. Não sei onde está a diferença entre mim e ti.
- Ai, não acredito…óh mulher…acorda…! (p.c, outro trovão, ela estremece, salta e encolhe-se) Tu só estimulas a aproximação dos casais, a carne, o exterior, aquele fogo-de-vista, o calor do desejo físico, e isso é preciso e importante, mas o meu trabalho é mais profundo. (p.c) Eu apareço quando o teu fogo se acaba…apareço quando o casal começa a olhar para dentro um do outro…quando começam a respeitar a pessoa que escolheram…quando perdoam ataques de ciúmes e outras pequenas falhas, quando confiam, quando são fieis um ao outro, quando se respeitam…quando deixam o outro livre se não quer ou quando precisa de respirar… (p.c) quando dão espaço… (p.c) quando eles começam a gostar da presença um do outro, quando se sentem bem e felizes um com o outro… (p.c) E os meus filhos também fazem um trabalho excelente e são fundamentais… o carinho, a amizade, a paciência… a dedicação… o diálogo… a sinceridade… a curiosidade, a brincadeira com o corpo, a delicadeza. Muitas vezes aparecem as minhas sobrinhas lágrimas… quando há alegria e emoção… raramente são de tristeza. (p.c) Eu manifesto-me de várias formas de serenidade, proporciono momentos de grande ternura… e posso estar presente o resto da vida…enquanto que tu, minha menina…és uma coisa fugaz…apareces e desapareces, tanto és ardente e de curta duração, como és ardente e de repente arrefeces…! Isso não presta para os seres humanos. Isso sim, faz sofrer.
- (triste e chateada) Estás a dizer que eu não sirvo para nada…?
- Não, não estou a dizer isso. Já te disse que te considero importante, mas sou-te muito sincero…não és a melhor coisa do mundo. Fazes falta nas relações, mas não é bom que sejas só tu a existir nas relações.
- (vaidosa) Os humanos nunca se queixaram…!
- A ti não se queixam, mas a mim queixam-se…insultam-me, amaldiçoam-me, querem-me mal…tudo porque me confundem contigo.
- (resmunga) Que grande convencido…tu e os teus filhos. Mas agora, já que és assim tão inteligente e tão bom, como é que me explicas aquelas relações de casais onde eu estou presente, e eles tanto se beijam, como a seguir estão à chapada, ou envolvem-se com outros?
- Já te disse que nessas relações não estou presente!
- Então quem é que está?
- És tu, e os teus irmãos…o ciúme, o desejo e aqueles teus primos irritantes…a posse, a prisão, o egoísmo, o desrespeito, a mentira, a raiva, a maldade...ehehehehe…que mulheres insuportáveis. (p.c) Quando essas estão presentes, não há lugar para mim.
- Tens mesmo a mania que és o melhor. Mas olha que há gente que se mata por tua causa.
- O quê? (bate com as correias na rocha e lança outro trovão, ela grita e encolhe-se) Mas que grande mentira. (p.c) Matam-se os fracos, que te dão valor a mais…sua miserável. (p.c) És tentadora…agitada…eufórica…! És louca…as pessoas gostam de ti, mas acredita que não é por muito tempo.
- Ai, agora tudo o que os casais têm de mau, entre eles, a culpa é minha, dos meus irmãos e dos meus primos…?
- Nem duvides.
- (convencida, vaidosa e sorridente) Uau…estou a sentir-me poderosa…
- Devias era ter vergonha.
- Já agora…! Dou o meu melhor…se gostam, gostam…se não gostam…boa noite e um pirolito.
- Devias ter mais cuidado…!
- Porquê?
- Porque a tua presença é que faz sofrer.
- Mais nada…! Se tu não estás presente, alguém tem que estar, caso contrário, as vidas das pessoas seriam uma seca. (p.c) Estás para aí todo convencido, e há muita gente que tem medo de ti…que foge de ti como o diabo da cruz…porque será?
- Porque tu apareceste na hora errada, e uniste as pessoas erradas…!
- O quê?
- Sim. Tens de ter mais calma…ter os olhos mais abertos…e analisar primeiro, antes de marcares a tua presença.
- Mas…mas…estás a dizer que eu não fazer as coisas…?
- Não, mulher…! Pára de me interpretar mal…que coisa chata! (p.c) O que estou a dizer é que muitas vezes és precipitada. Depois…as coisas não correm bem.
- E tu és lento?
- Sou.
- Que seca!
- Sou lento, mas quando marco a minha presença, fico para sempre…enquanto que tu adoras aparecer…marcas a tua presença, mas como és esfomeada, vais logo pregar a outra freguesia.
Cena 7
            Aparece a Fada da Amizade, filha do Rei Amor. A Borboleta Paixão reclama, mas a Fada da Amizade responde meiga, e o seu pai responde:
- Olha…olha…quem está aqui…!
- Olá Pai…olá Paixão…!
- Então filha…?!
            A fada e a borboleta trocam umas palavras:
- Venho de trabalhar…!
- Por acaso vieste de brindar aquele casalinho…?
- Sim. Porquê? Conheces?
- Conheço. Fui eu que os juntei. Alguma coisa contra?
- Não…! Eu sou mais forte que tu, por isso, a tua presença não me afecta.
- (ri) Olha, olha…falou a poderosa…! (p.c) Fica sabendo que aquele casal não levou com o teu veneno.
- O quê?
- Sim, é isso mesmo que tu ouviste…não levaram com o teu veneno.
- Mas…fui eu que os juntei.
- E o que é que isso tem de tão especial…? Por os teres junto não quer dizer que tenham que levar contigo.
- Não pode ser…tive tanto trabalho a juntar aqueles dois…e…nada…?!
- Podera…primeiro estou eu. Tudo começa comigo.
- Nem tudo, óh convencida…! Muitas vezes apareço eu primeiro…!
            A fada da amizade e o Rei Amor dão uma gargalhada. A fada comenta:
- Deves achar que és a melhor não…?! Nunca outra ouvi…tu apareceres primeiro nas relações…quer dizer…até podes aparecer, mas não significa absolutamente nada…a maior parte das vezes. (p.c) Eu é que permaneço. Tu podes aparecer, e a seguir, quando eu apareço…vais logo para o espaço…!
- Duvido que haja o que quer que seja entre aqueles dois.
- Não sei porquê…?
- Porque são os dois muito diferentes.
- Então porque é que os juntaste?
- Porque estavam os dois carentes.
- Que palermice…! (p.c) Os dois estão a entender-se muito bem, eu fui abençoá-los, porque bem merecem.
- Foste-me roubar trabalho, sua invejosa…?!
- (ri) Ai, eu é que sou invejosa…?! Essa tem piada.
            O Rei Amor acaba com a conversa, mas a Borboleta ainda defende a dela:
- Filha…não percas tempo a discutir com essa…falar com ela o que quer que seja, é falar para as paredes. (p.c) A cabeça dela não dá para mais…coitada.
- O quê?
- Sim. (p.c) És limitada…só vês a tua função, e tens a mania que és a melhor. (p.c) Estive este tempo todo a falar contigo e não aprendeste nada! (p.c) Nem te atrevas a meter-te já entre aquele casal…
- Já agora…?! Não és tu que decides os casais que eu vou formar.
- Vê se te controlas. (p.c) Olha que eu estou de olho em ti. Muito cuidado…!
- Uuuuiii…que medo!
            A fada comenta:
- Não sei como há quem goste tanto de ti.
- Claro que gostam de mim, eu provoco boas sensações.
- Pois claro… (p.c) Quem estiver iludido acredito que goste de ti, mas se tiver alguma coisa na cabeça, vai perceber que eu sou muito melhor…! (p.c) Convencida.
            O Rei Amor diz:
- Boa Noite, Paixão…!
- Boa Noite.
Cena 8
            Pai e filha dirigem-se para o casal. A paixão vai atrás o casal está sentado na areia a falar alegremente, e a rir. A paixão tenta intrometer-se, mas o Rei manda um sonoro e estrondoso trovão, e a Amizade grita à Paixão. As duas discutem:
- Vai-te embora…ainda não é a tua vez.
            A Paixão fica frustradíssima e muito zangada protesta:
- Ááááááááááhhhhhhh…mmmmmmmrrrrrrrrrrrrrrrr…és sempre a mesma parva desmancha prazeres…cobra.
- Fica bem longe deste casal…pelo menos por enquanto. (p.c) Ai de ti que te veja aqui a rondá-los outra vez.
- Ai quer dizer…eu juntei-os, e agora…vou ficar a ver navios…?! (p.c) Isso não é justo.
- Ainda tens a lata de cobrar…?! (p.c) Francamente…! (p.c) Já te disse que ainda não é a tua vez de te meteres com este casal.
- Mas que raaaaaaiiiiivvvvaaaaaaa…! Mmmmmmmrrrrrrrrrr…!
- Tens que esperar pela tua vez…este casal merece ser feliz um com o outro...por isso, tem de começar pela amizade…ou seja…por mim…!
- Porque raio é que tens de te meter primeiro…? Se esse casal merece ser feliz um com o outro, por alma de quem é que tens de aparecer…? Eu é que sou a responsável.
- Teimosa…! (p.c) Não te metes neste casal e ponto final. (p.c) Para este casal ser feliz tem que começar por mim e mais nada. Por mim e pelos meus irmãos…o respeito, a confiança, a sinceridade, a entrega…a serenidade, a simpatia…o carinho…tu serás das últimas a aparecer para este casal. Antes do meu pai.
- (zangada) Mas o que raio é que este casal tem de diferente dos outros, para que eu não possa aparecer primeiro…?
- (zangada) És mesmo ignorante…! Tem sentimentos verdadeiros…são puros…são boas almas…!
- (zangada) Parece que falam chinês. Tu e a tua família são uma coisa horrível…são do pior que pode haver para mim.
- Imagino…tenho muita pena de ti… (ri)
- É para aprenderes a controlar-te…o teu mal é que queres o protagonismo todo…queres que toda a gente repare em ti, queres ser a melhor, mas tira o cavalinho da chuva que não és…! Sem nós…não vales nada. (p.c) Só os que não tem nada na cabeça é que se deixam dominar por ti, depois carregam com as consequências! Eu e a minha família não somos para pressas…é por isso que persistimos…!
- (zangada) Eu não vou largar este casalinho…! Mas vou fazê-lo apaixonar-se por mim…!
            O Rei Amor e a filha mandam uma sonora gargalhada. O Rei comenta:
- Sonha à vontade! Não estás proibida de sonhar…tudo não passa de um sonho, na tua cabeça de vento. (p.c) Não fazes milagres…! (p.c) Vai para longe…! Vive a tua ilusão.
- (zangada) E quando é que eu apareço?
            O Rei responde calmo, e a filha acrescenta:
- Logo vês.
- Tens de esperar pela tua vez.
- Deixa estes dois jovens em paz.
- Vai-te embora!
            A Paixão afasta-se muito zangada e frustrada, o Rei Amor e a filha riem.
Cena 9
Já quase de manhã, e depois de muita conversa, a Alma tem de voltar ao castelo, e sem ser vista. Ela comunica:
- Olha…a noite foi maravilhosa. E eu ficava aqui o resto da noite a falar contigo, mas tenho de voltar para casa.
- Eu levo-te.
- Está bem.
            Ele abraça-a e transporta-a nos seus braços carinhosamente, até uma entrada secreta que existe no castelo. Olham-se sorridentes e felizes. Alma e o rapaz ainda trocam agradecimentos:
- Muito obrigada pela companhia. Adorei falar contigo esta noite toda.
- De nada. Eu também adorei. (p.c) Temos muitas coisas em comum.
- Sim.
- Podemos encontrar-nos mais vezes, daqui para a frente?
- Claro. Quando quiseres…eu vivo aqui. Mas…por esta porta, ok?
- Ok. (p.c) Ou então, basta olhares para a praia…!
- Está bem.
- Beijinhos…
            Dão dois beijos na cara, sorriem, e ele acrescenta:
- Boa noite. Dorme bem.
- Obrigada, tu também.
            Ela entra sem fazer barulho, e vai para o quarto dela. A paixão está a vê-lo, chateada. 
Cena 10
            Alma aparece na janela e sorri para o rapaz. Acenam um ao outro, e sorriem. Ela fecha a janela, sorridente, olha para o espelho e fala baixinho para o espelho:
- Ai, que rapaz tão simpático…giro…! (p.c) Uaaaaaauuuu…! (p.c) Que noite fantástica. Pronto… (p.c) retiro o que disse de vocês, estrelas! (p.c) Eu disse que duvidada de vocês, e que afinal vocês não ouviam, nem realizavam os desejos…porque eu pedi-vos tantas vezes…amigos…e nunca mais apareciam…hoje…apareceu! (p.c) Quer dizer…eu espero que seja amigo no futuro…e que não seja superficial ou falso como os outros. (p.c) Eu…acho que este é diferente!
            Batem à porta do quarto. É Sofia, uma amiga da Alma, filha de uma empregada que vive lá no castelo. Ela viu o rapaz lá em baixo, e viu a amiga a acenar. Alma vai à porta, e abre:
- Olá…! Entra…!
            Sofia sorri, entra, Alma fecha a porta e pergunta:
- Bom dia…desculpa estar a incomodar-te. Já acordaste?
- Ainda não me deitei…!
- O quê? Mas…não dormiste nada?
- Não.
- Não tinhas sono, ou foi o calor que não te deixou dormir?
- Não tinha sono.
- Podias ter dito, que eu trazia-te um chá para dormires.
- Não…ainda bem que eu não tomei nada…!
- Não estou a perceber…!
- Senta-te aqui.
            As duas sentam-se na cama e Alma pergunta:
- Tu és minha amiga não és?
- Claro que sim…mas que pergunta é essa agora…? Fiz alguma coisa que não devia…? Ofendi-te…?
- Não…pelo menos à minha frente não.
- Nem na tua frente, muito menos nas tuas costas.
- Acho bem. Tu gostas de mim, não gostas?
- Aaaaiii…tu não estás boa da cabecinha pois não…? (p.c) Claro que gosto de ti…muito…e sabes muito bem disso! Mas porquê essas perguntas todas?
- Posso confiar em ti?
- Eu não acredito…! Alguma vez te traí, ou te dei provas que não podias confiar em mim…?
- Não. É que…tenho uma coisa muito séria para te contar.
- (preocupada) Ui…o que é que te aconteceu, rapariga? (p.c) Conta de uma vez…!
- Prometes que não contas a ninguém…?
- Ai, já não estou a gostar nada desta conversa…o que é que vem aí…?
- Prometes que não contas a ninguém?
- Prometo! Diz lá…!
- Lembras-te que eu pedia sempre um desejo às estrelas…e que nos últimos tempos eu dizia que afinal elas não me ouviam…?
- Sim. E eu acho o mesmo…!
- Pois…até esta noite eu achava isso, mas esta noite…conheci um rapaz…!
- (surpresa) Conheceste um rapaz…? (p.c) Onde…?
            Alma conta tudo à amiga. A amiga sorri deliciada, ri, abraça a amiga, e as duas falam durante um bom bocado entusiasmadas. Entretanto a Borboleta Paixão e o rapaz encontram-se na praia.
Cena 11
O rapaz está sentado na areia, a olhar para o mar e a pensar na amiga Alma, com um sorriso de ternura e encanto. A Paixão em forma de rapariga olha para ele, zangada, e comenta:
- Que cara de parvalhão… (p.c) Estás com um sorriso patético.
- (irónico) Ááááhhh…estás aí…?! Não te vi…!
- Eu reparei que não me viste! (p.c) Estavas noutra.
- (sorri) Pois estava…noutra bem melhor. (zangado) O que é que queres…?
- Isso é maneira de se falar com uma amiga…?
- Amiga…? E tu és minha amiga…?!
- Claro que sou…! (p.c) Já há bocado me chutaste…! (p.c) E foste muito injusto ao fazer isso, porque eu fui-te buscar aquela insossa e ainda me tratas mal.
- Eu…? Chutei-te…?! (p.c) Estás enganada.
- Sim…claro…! (p.c) Eu não senti isso…!
- Sentiste mal.
- (zangada) Para de gozar de fininho comigo. (p.c) Tu chutaste-me e ainda por cima foste muito estúpido comigo!
- Eu não te chutei…mandei-te embora! (p.c) Eu estava com a minha amiga, não tinhas nada que estar ali a ouvir a conversa!
- E só porque tens uma nova amiga, não podes ter mais amigas…? (p.c) Eu sou tua amiga desde a infância…desde a minha existência…
- Claro que posso ter mais amigas…e sim, tu és minha amiga desde que nascemos…mas aquele não era o momento para estares comigo!
- Porquê? Eu conheço todos os teus amigos e amigas, e estamos juntos muitas vezes!
- Mas é diferente!
- Claro que é diferente…eu sou muito mais bonita que ela, muito mais sexy…muito mais tua amiga que aquela…!
- (ri) Que grande convencida! (p.c) Tens a mania que és a melhor.
- Eu não tenho a mania, eu tenho a certeza…sou a melhor.
- Mas que coisa horrível…a minha amiga é bem mais simples que tu, tem um coração enorme…!
- Que descaramento…enches a boca para falar dessa gaja.
- Estou a dizer a verdade.
- Ela assim não vai gostar de ti.
- Como é que sabes?
- Eu vi a cara dela.
- Viste a cara, mas não viste o coração.
- E tu viste o coração dela…?
- Vi.
- Como?
- Eu falei a noite toda com ela…sobre muitos assuntos.
- Estás a gostar dela?
- Sim! Muito!
- E de mim…?
- Também gosto de ti, mas neste momento gosto mais dela.
- Claro…é novidade…! (p.c) A nova é que é a boa…as mais antigas já não servem para nada…não é?
- Pois é.
- Que grandessíssima lata! (p.c) Mas se gostas de mim, porque é que não me queres…?
- Eu não disse que não te quero…! Eu gosto de ti…mas tenho direito a ter outras amigas…! Umas não ocupam o lugar das outras!
- Tu chutas-me…e depois ainda tens a ousadia de dizer que gostas de mim…!
- E gosto…tu sabes muito bem disso, mas ainda é muito cedo para apareceres, e para estares presente naquela relação.
- Não percebes nada de sentimentos…nem de relações!
- Entendo mais que tu. E sei que ainda não há paixão entre nós.
- Não há paixão entre vocês, mas isso já podia ter acontecido…se não fosse aquela nojenta…da Amizade tinha que meter o bedelho…e bloquear o meu trabalho!
- Fez ela muito bem…e vê lá como tratas a minha amiga! (p.c) Não te atrevas…ainda não é o teu momento de aparecer!
- Também tu…?!
- Também eu, o quê?
- Também estás a dizer que ainda não é altura de aparecer?!
- Sim, e é verdade! (p.c) Eu sei que gostas muito de aparecer e de espalhar o teu…veneno…por toda a gente mas comigo não levas a melhor!
- O quê? (zangada) Veneno…?! (p.c) Mas…tu tens noção do que estás a dizer?
- Sim, és um veneno…toda a gente fica louca com a tua presença…parece que ficam sob o efeito de alguma droga…como se comessem cogumelos venenosos! (p.c) Tu deixas toda a gente fora da órbita da terra e das cabeças. (p.c) Contigo, as pessoas perdem os sentidos…e a noção da realidade…parecem um bando de loucos…perdem o rumo dos seus sentimentos, perdem a noção do seu corpo…! (p.c) Tu és horrível.
- (zangada, indignada, surpresa e ofendida) Ááááhhh…! Não acredito no que estás a dizer…! (p.c) Isso tudo acontece porque eu sou irresistível…linda…sensual…picante…!
- Uuuiiii…adoram-te…! Por isso é que sofrem tanto…é aquele fogo de vista…não permites que toquem nas almas uns dos outros…envenenas todo o corpo, depois vais embora…e o que resta…?! O frio, a dor…o sofrimento…o desgosto…! (p.c) Tu és superficial…não te envolves. (p.c) Tens a mania que és a melhor.
- Nem tu me resistes…óh palerma…estás aí com uma armadura montada só para me provocar, mas no fundo adoravas que eu te invadisse.
- (ri) Só os fracos é que se deixam dominar pelo teu veneno…! É bem forte, mas os efeitos são rápidos e devastadores…! (p.c) Coitados dos que se ficam pelo teu veneno.
- Coitados…? Porquê?
- Porque a tua presença impede que os corações se toquem e que os olhos conversem uns com os outros…! (p.c) Tu és tão rápida e tão venenosa, que em vez de preencheres as pessoas interiormente, como faz a Amizade e o Pai dela, esvazias…depois de marcares a tua presença…vais embora e que se arranjem.
- Pois claro! É essa a minha função.
- Tu devias aprender a ser como o Rei Amor, e como a Amizade.
- O quê? Aquelas duas secas…cruzes…as relações não iam prestar com certeza…! Ainda não atingiste que as relações só são boas na minha presença?!
- Aaaaaiiii…és convencida que metes nojo.
- Tu ainda vais ser meu…!
- (ri) Não querias mais nada…!
- Tu ainda não reparaste em mim…mas quando reparares verdadeiramente…aquele sonsa vai pelos ares… (gargalhadas)
- (grita, zangado) Cala-te…isso nunca vai acontecer…só se for nos teus sonhos, mas na realidade não.
- (surpresa) O quê?
- Até podes ser muito bonita, atraente…mas dentro não tens nada. És má, possessiva, venenosa…!
- Eu gosto de ti.
- Eu também gosto de ti…!
- Mas não da maneira que eu…por enquanto.
- Nem por enquanto, nem no futuro eu vou gostar de ti, como tu gostas de mim.
- Ááááááhhhh…falas com uma certeza…!   
- Pois falo com certeza, falo…! Sei muito bem o que quero para mim.
- Porque é que estás sempre a tratar-me mal e a ignorar-me…?
- Eu não faço isso…!
- Naaaaa…que ideia…!
- Gosto de ti como amiga…mas tu estás sempre em cima de mim…sempre a provocar-me, e a pressionar-me…sufocas-me…! Eu detesto isso. Eu e qualquer homem.
- Sois tão mal agradecidos…! (p.c) As mulheres dão-vos tudo…preocupam-se convosco, dão-vos mimo…carinho…atenção…e ainda agradecem dessa forma…!
- Tudo tem limites…e nós não gostamos de excesso.
- No fundo…tu…dizes essas coisas porque não me resistes…mas estás armado em forte…em santinho para cativar a deslavada…!
- Não…eu estou a dizer o que sinto de verdade.
- Vocês babam-se todos por mim. Não admira…eu ponho-vos a arder…!
- Olha…vamos combinar uma coisa…!
- (sorri) Vais pedir-me em namoro…?
O rapaz bufa nervoso, mas tenta controlar-se:
- Imagina o que quiseres… (p.c grita nervoso) Deixa-me em paaaaaaazzzzzzzzzzz! (p.c) Convence-te de uma coisa…nunca vai haver mais nada entre nós, a não ser Amizade…mas é Amizade mesmo…como tem acontecido até aqui. (p.c) Mais nada, além disso. (p.c) E por favor…para de me perseguir…de tentar acabar com todas as relações que eu começo só porque sentes alguma coisa mais por mim…! (p.c) Se gostas de mim, além de amizade…afasta-te de mim, porque eu não te quero! (p.c) Até podes gostar de mim da maneira que dizes…mas não tens o direito de me levar atrás…ou de me obrigar a gostar de ti da mesma maneira…entendeste…?! (p.c) Não podes infernizar-me a vida, nem bloquear as minhas relações para ficares comigo, ou para ver se eu gosto mais de ti. (p.c) Esquece…isso nunca vai acontecer. (p.c) Vai chatear outro…! (p.c) Estamos entendidos…?
            A borboleta Paixão fica em estado de choque com aquele tratamento, e muito triste…não consegue responder, perde as forças, enrola-se sobre si mesma, até ao chão. O rapaz ainda acrescenta nervoso:
- Ai de ti que te veja outra vez à minha volta, sem seres chamada. (p.c) Passa um bom dia.
            Ela vira costas, e ele vai para casa.
Cena 12
A Borboleta fica muito triste, e vai para um rochedo à beira mar chorar.  Ouve-se o seu choro e os gritos de dor e de raiva, em toda a praia durante vários dias. A Amizade ronda a Alma e o rapaz durante vários dias, sem ninguém lhe ligar, e eles encontram-se durante vários dias, onde tem longas conversas, momentos divertidos, muita gargalhada e sempre às escondidas. O rapaz apresenta a Alma a outros amigos, que gostam muito dela e divertem-se muito com ela. A Amizade esteve sempre presente também. A Alma andava muito mais feliz por o seu desejo se ter concretizado: por ter muitos mais amigos, até que pouco tempo depois apresenta os novos amigos à família. A família recebe-os bem. O tempo vai passando, e a Amizade percebe que aquela relação está para durar e que seria bom para o casal apimentar um pouco mais, por isso decide ir falar com a Paixão. A borboleta Paixão está de rastos, exausta, fraca, triste, desleixada, maltratada, continua no mesmo sítio. A Amizade não gosta da Paixão, mas fica com pena dela ao vê-la naquele estado, e até preocupada com ela. A Amizade e a Paixão falam uma com a outra:
- Paixão…?! És tu…? (A Paixão não responde, mas a Amizade insiste) Paixão…
- O que é que queres…?
- O que é que te aconteceu…?
- Não sei…
- O quê? (p.c) Estás aqui…nesse estado…?!
- Sim…estou aqui…!
- Mas…estás tão estranha…! Aconteceu-te alguma coisa…? Estás muito maltratada.
- Morri…!
- O quê?
- Sim…
- Mas…o que é que tens…?!
- Estou só à espera que uma onda me leve lá para baixo…! Para…os peixinhos se servirem…ou…talvez nem eles gostem de me comer.
- Mas…estás louca? O que é que estás para aí a dizer…?! (p.c) Nunca te vi assim.
- Pois…antes…eu estava viva…agora…não…!
- Aaaaiii…! Tu não estás bem, pois não?
- Não sei…! (p.c) Mas…o que é que queres…?
- Primeiro vou tratar de ti, depois digo-te.
- Não…! Deixa-me ficar aqui quieta…!
- Nem penses… (p.c) há quanto tempo estás aqui?
- Não sei…
- Ai…! Isto é pior do que o que eu pensava…! (p.c) Tu…não sabes…? Mas como…?
- Não…!
- Parece que estás noutro planeta…!
- Sim…talvez.
- Sabes quem eu sou…?
- Desculpa…não me…lembro do teu nome…! Mas não me és totalmente estranha…!
- Não acredito… (p.c) ela não está nada bem…! De certeza que não sabes quem sou?
- Não…sei…!
- Vou cuidar de ti…
- Não. Não precisas…!
- Eu preciso de ti…mas não é assim nesse estado…! Pareces um zumbi…!
- Não…ninguém…precisa de mim.
- Anda…vou dar-te de comer e dar-te um banho…depois falamos.
            A Amizade agarra-a pelos braços e tenta arrastá-la, mas ela está fraca e muito pesada…não facilita.
Cena 13
A Amizade pede ajuda ao irmão Carinho, e os dois conseguem arrastá-la para a areia, até à árvore de assistência. O Carinho fica comovido com o estado da paixão:
- Mana…o que é que lhe aconteceu?
- Não sei. Encontrei-a em cima do rochedo…toda esfarrapada…assim…! (p.c) Olha, vai chamar alguém…e traz uma roupa minha para lhe vestir…e…comida e água…está bem…? Rápido…!
            O Carinho vai a um pescador que vive num barquinho na praia e pede ajuda, enquanto vai a sua casa buscar o que a irmã lhe pediu. A Amizade tira a roupa à Paixão, e mete-a num divã para lhe dar banho, segurando-a, lava-a delicadamente, penteia-a, limpa-a, e abraça-a enquanto lhe segura na toalha. A Paixão pergunta:
- Porque é que estás a fazer isto comigo…?
- Porque sou tua amiga!
- Minha amiga…?! (p.c) Mas…tu…não gostas de mim…! (p.c) Nem tu…nem ninguém…!
- Não digas isso…!
- Eu sou…uma…porcaria…não presto…sou…um monstro…!
- Não és nada!
- Sou…! (p.c) Eu faço sofrer.
- Não…eu sei que não fazes essas coisas por mal…! (p.c) E neste momento…tu é que estás a sofrer muito.
- Não…não tenhas pena de mim…eu não mereço…!
- Então…?! (p.c) Que conversa é essa…?!
            Entra o Carinho com a Delicadeza, o Respeito e a Bondade, com tudo o que a Amizade pediu. Todos ajudam preocupados e com pena da Paixão, a vesti-la, a penteá-la, e dão-lhe de comer e de beber, aquecem-na, dão-lhe carinho. Ela fica emocionada e diz:
- Óóóhhhh…porque é que estão a fazer isto comigo…? Eu não mereço…!
            O Carinho comenta, a Paixão responde, e a Delicadeza e o Respeito acrescentam:
- Mas porque é que estás a dizer isso…?
- Porque eu sou má…sou horrível…faço mal…faço sofrer…!
- Não…nós sabemos que não é verdade.
- Estás a sofrer muito.
            A Paixão conta tudo o que aconteceu, a chorar. No fim, a Amizade diz:
- Mas que mauzinho que ele foi…!
            O Respeito comenta:
- Até pode ser verdade o que ele disse, mas podia ter dito de outra maneira mais delicada…ou nem dizia nada…ou…agradecia e não fechava as portas do coração dele pelo menos para a tua amizade.
            Respondem em coro:
- Pois.
            Paixão comenta, mas todos a contradizem:
- Mas ele tem razão…eu sou mesmo…isso tudo…agora que me apaixonei por ele, e ele ignora-me, insulta-me…e tem toda a razão no que diz!
- Não tem nada.
            A Delicadeza, a Bondade e o Respeito respondem:
- Não podes levar isso tão a sério…! Ele falou sem pensar…a quente…!
- Claro. É certo que ele foi mau a dizer isso mas não lhe dês valor.
- Se ele não te quer como namorada…tens de respeitar a escolha dele, mas isso não quer dizer que ele não queira a tua amizade!
            Paixão responde:
- Não quer a minha amizade…nem nada meu…só quer…distância. E para ele é mesmo melhor que eu me afaste. (p.c) Ninguém imagina como isso dói.
            Respondem em coro:
- Sabemos o que isso é.
            O Carinho, o Respeito e a Delicadeza acrescentam:
- Todos nós já nos apaixonamos por quem não sentia o mesmo por nós…! E aguentamos…!
- Claro…e tivemos de respeitar o outro, por muito que isso nos tenha doido muito…!
- Mas a culpa disso não é tua.
            A Paixão insiste:
- Sim…a culpa é minha…eu é que não me controlo. Eu sufoco a pessoa por quem tive a estúpida ideia de me apaixonar.
            A Bondade e o Respeito acrescentam:
- Não, amiga…tu dás o que entendes que queres dar…se ele não gosta do que tu lhe dás…é quanto ele perde. E perde muita coisa boa.
- Sim, claro. Perde…mas por muito que te custe, tens de respeitar a decisão dele…de não querer…e olha, querida…só tens de ficar no teu canto, a ver de longe!
            A Amizade acrescenta, e a Paixão pergunta:
- Não podes ficar assim tão triste por causa de um rapaz…! Até porque…ele agora pode não querer o que tu queres…mas para a frente…pode querer…! (p.c) Não te entregues à tristeza. (p.c) Nós precisamos muito de ti…!
- Para quê?
- Para apimentar a relação daquele casal.
            A Paixão desata a chorar e responde:
- Não…não contem comigo para isso…eu não consigo…!
            Respondem em coro:
- Claro que consegues.
            O Carinho lembra, e a Paixão defende a dela:
- Vá lá…! (p.c) É claro que consegues. Tu és forte…!
- Não sou nada! Sou fraca.
- Não…não és…estás fraca neste momento, porque estás a deixar-te vencer pela tristeza…mas tenho a certeza que daqui a pouco vais conseguir.
- Eu não posso fazer isso…!
            Respondem em coro:
- Podes!
            A Paixão justifica-se:
- Eu faria isso se fosse para ele se apaixonar por mim.
            A Amizade diz, a Paixão responde:
- Então…?! Não sejas tão egoísta…! Tu gostas mesmo dele?
- Sim. Eu queria-o ter para mim.
            O Respeito sugere, mas a Paixão mantém a dela:
- Então deixa-o livre…!
- Se o deixo livre ele foge ainda mais, e nunca mais será meu.
- Se o prenderes, ele é que nunca será teu!
- Mas como é que eu vou deixá-lo livre, ou dar-lhe a outra gaja…?! Se eu gosto dele e se o quero para mim?
- Se gostas dele assim tanto, deixa-o livre…! Deixa-o com a outra…por muito que isso te custe. (p.c) É melhor tê-lo como amigo, do que não tê-lo…! (p.c) Se o libertares, vais ver como ele te vai procurar e aceitar.
- Mas ele estando com a outra, nem a minha amizade vai querer.
- Não é bem assim…!
            A Bondade acrescenta, mas a Paixão defende:
- Se gostas mesmo dele, e queres que ele esteja na tua vida, nem que seja só como amigo…dá-lhe a outra…ele vai ficar feliz.
- Ele vai ficar feliz, mas eu vou ficar infeliz, e sem ele…! Acham isso justo?
            Respondem em coro:
- Não.
            A Amizade recomenda:
- Vá lá…amiga…vai fazer-te bem!
            A Paixão desata a chorar e desabafa:
- Ai…porque é que eu não me atirei para a água de uma vez… (p.c) esta dor é insuportável…! (p.c) Eu não aguento isto…! (p.c) Não sou capaz…escolham outra…
            O Carinho comenta:
- Então…?! Claro que aguentas…não digas essas coisas. (p.c) Tu és forte…muito bonita…! A tua vez também vai chegar…!
            O Respeito e a Amizade acrescentam:
- Se lhe deres a outra, mesmo gostando dele…isso é um sinal de maturidade e de superioridade tua em relação a ele…ao fazer isso estás a mostrar-lhe que gostas dele, mas não tanto quanto ele se calhar imagina… (p.c) Vai baixar a crista.
- Chegou a tua vez de marcares presença e de entrares naquela relação.
            A Bondade e a Delicadeza acrescentam e incentivam:
- Vai rapariga! Tu és linda e poderosa! (segreda) Tu vales muito mais que um simples homem…tens muita coisa boa para dar…!
- (segreda) Há muitos homens por aí…tu nem estás a parecer a rainha das faíscas…!
            Todos sorriem, e a Paixão fica pensativa…mas depois sorri. A Amizade aconselha:
- Olha, queres mais comida ou bebida?
- Não…obrigada.
- Então…vai lavar essa cara bonita, nós vamos pôr-te produzida e vais levar a tua vida para a frente…continuar a ser muito poderosa e a espalhar por aí as faíscas…!
            A Paixão sorri, vai à casa de banho, lava a cara, olha para o espelho, triste. A Amizade, a Bondade e a Delicadeza mandaram o Carinho e o Respeito embora, e as duas tratam da Paixão. As três falam umas com as outras, riem, brincam, e a Paixão volta a ganhar força.
Cena 14
            As três vão ter com o casal: Alma e o rapaz. O respeito e o Carinho já lá estão de volta deles. A Paixão fica triste, mas sorri para o rapaz. Ela comenta triste:
- Aiiii…que dor…não vou conseguir…desculpem.
            A Bondade e a Delicadeza incentivam:
- Esquece a dor, rapariga! Vai em frente.
- Tu és capaz.
- Lembra-te que é melhor ter a amizade dele do que não o ter…!
- Tu és mais poderosa que ele…!
- A seguir vai aparecer um melhor para ti.
- Fá-lo engolir um sapo.
- Respira…e vai em frente…
- Tu consegues…!
            As duas respondem em coro:
- Força…!
            A Paixão ganha coragem e lança sobre o casal o seu poder da Paixão. O casal apercebe que está apaixonado e o rapaz pede-a em namoro. A Alma aceita, feliz. A Paixão quase desmaia de desânimo e de fraqueza. A Amizade, a Bondade e a Delicadeza estão presentes, abraçam a Paixão, e dão-lhe os parabéns, animam-na. A Paixão agradece-lhes:
- Ai…que tristeza…! (p.c) Estou desfeita…! (p.c) Muito obrigada pelo apoio, pela ajuda e por estarem aqui do meu lado, neste momento..de…grande dor…!
Todas riem. O namoro dos dois é muito intenso, longo e feliz…os dois dão grandes passeios, estão com os amigos, fazem festas, brincam, divertem-se, passam longas horas a conversar e a rir um com o outro, umas vezes vão para o castelo da Alma, outras vezes para outros sítios. E a Paixão ganha de novo a amizade do rapaz, conhecendo pouco depois também ela um rapaz muito especial.
Depois de uns anos de namoro, aparece o Amor, e os dois casam, rodeados pelos seus amigos de sempre e família. O Rei Amor grita bem alto:
- Venceram todas as provas…merecem a minha presença na vossa vida!!! Parabéns.

            Em qualquer relação entre pessoas deveriam estar presentes: a Amizade, o Carinho, o Respeito, a Bondade, a Delicadeza…a Paixão…e o Rei Amor…para que tudo fosse muito mais tranquilo, sincero, agradável e verdadeiro. As pessoas seriam muito mais felizes…!

FIM!
Lálá 
(9 de Maio de 2012)













            

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