pedido de um bebé a uma cegonha

Foto de Lara Rocha 

        Estava uma cegonha a repousar no seu ninho, lá…muito longe …num sítio desconhecido, onde estão milhares de cegonhas rodeadas de centenas de milhares de bebés que esperam para ser enviados aos pais que desejam mesmo um bebé. Um sítio onde estão protegidos e onde são bem tratados.

         De repente…a cegonha ouve uns passinhos pequeninos…olha para baixo, e está um lindo bebé a olhar para ela. Ela sorri, desce do ninho e pousa junto do bebé.

CEGONHA – Olá lindo…estás aqui?

O bebé sorri – lhe e responde:

Bebé – Desculpa estar a incomodar...estavas a descansar não?

Cegonha – Não, querido, não te preocupes…vocês bebés, nunca me incomodam. Diz lá…querias alguma coisa?

Bebé – Vim visitar – te…!

Cegonha – Humm… tenho muito gosto na tua presença e na tua companhia, mas os teus olhinhos brilhantes estão a dizer – me que queres mais alguma coisa…!

Bebé – E os meus olhos falam contigo?

Cegonha (ri) – Sim.

Bebé – Mas eu não os ouço…nem falo com eles…eles estão aqui em cima…e não falaram comigo…

Cegonha – Pois não! Mas eu ouço…eles falam sem palavras…sem voz…!

Bebé – Não percebo isso.

CEGONHA – Não faz mal, mais tarde vais perceber.

BEBÉ – Mas eu quero saber agora… o que é os meus olhos te disseram?

CEGONHA – Vocês são puros e transparentes…

BEBÉ – Foi isso que os meus olhos te disseram?

CEGONHA (sorri) – Sim! 

BEBÉ – Não sei o que é isso que estás a dizer.

CEGONHA – Quero dizer que vocês bebés, não tem maldade, não enganam nem escondem as emoções…mostram o que estão a sentir…

BEBÉ – Continuo sem perceber…

CEGONHA – Deixa lá meu amor…um dia vais perceber!

BEBÉ – Mas…isso que tu disseste que não temos…é bom ou é mau?

CEGONHA (sorri) – É maravilhoso!

BEBÉ – Áááhhh…olha cegonha…eu adoro – te, mas às vezes dizes coisas muito estranhas…

(A CEGONHA RI)

CEGONHA – Mas diz lá…porque é que vieste ter comigo? Não foi só para me visitar, pois não?

BEBÉ (SORRI) – Não…vim visitar – te e fazer – te um pedido.

CEGONHA – Um pedido?

BEBÉ (Sorri) – sim.

CEGONHA (surpresa) – Está bem! Se eu puder concretizar o teu pedido, ficarei feliz.

BEBÉ – Mas antes quero saber umas coisas!

CEGONHA – Muito bem…tudo o que quiseres.

BEBÉ – Olha, cegonha…tu gostas de mim?

CEGONHA – Mas…que pergunta é essa…meu bonequinho…? Ainda tens dúvidas que gosto de ti? Claro que gosto … muito…muito…muito… de ti e de todos os bebés. Porque é que estás a perguntar isso…? Achas que não gosto de ti?

BEBÉ – Sim. Eu sei que gostas de mim. Mas…e os humanos grandes…que nos pedem…também gostam de mim e dos outros bebés?

CEGONHA – Hummm…sabes, pequenino…essa é uma pergunta difícil de te responder…porque…há muitos humanos que infelizmente não gostam de vocês, mas também há humanos que gostam.

BEBÉ – Áááhhh…ai é…? E porque é que há muitos humanos que não gostam de nós?

CEGONHA – Isso é uma pergunta muito difícil…que gostava de te responder, mas não sei…!

BEBÉ – Como é que sabes que há muitos humanos que não gostam de nós?

CEGONHA – Porque esses humanos tratam – vos mal, magoam – vos muito, usam – vos como se fossem coisas…E quando se gosta de alguém, não se faz isso.

BEBÉ – Mas porque é que esses humanos nos magoam? Nós fizemos – lhes algum mal?

CEGONHA – Não! De maneira nenhuma…sabes, essas pessoas é que são doentes.

BEBÉ – E somos nós que os pomos doentes?

CEGONHA – Não, claro que não…

BEBÉ – Se estão doentes, porque é que não vão ao médico?

CEGONHA – Claro, isso era o que tinham de fazer, mas infelizmente não fazem.

BEBÉ – Então não percebo porque há tanta gente que nos faz tanto mal.

CEGONHA – Sinceramente, eu também não.

BEBÉ – Ando a ouvir umas conversas entre as cegonhas que andam a assustar os bebés…

CEGONHA – Ai sim…?

BEBÉ – Sim. Ouvi uma cegonha a dizer a outra que já há muito tempo não há pedidos de humanos para bebés…! (p.c) e ouvi outra dizer que as coisas não andam bem…as pessoas andam cada vez pior…mais más umas com as outras…não sei se isso é bom, ou mau…mas pareceu – me mau…pela expressão das cegonhas…

CEGONHA – Sim, tens toda a razão…e elas também tem razão. As coisas não andam boas.

BEBÉ – O meu pedido é este: eu não quero ir para nenhuma mamã nem nenhum papá.

CEGONHA – Mas…porquê?

BEBÉ – Não quero ser maltratado, nem usado como coisa. Se gostas de mim, não me entregues a ninguém.

CEGONHA – Só te vou levar aos papás, se esses forem bons para ti.

BEBÉ – Eu quero uma mamã muito boa, que seja muito meiga comigo…que me dê muitos beijinhos, muitos abraços, e muito colinho. Quero que a minha mamã me alimente, que me agasalhe quando estiver frio, e que me ponha à fresca quando estiver calor…que me proteja…que não me deixe sozinho…que cuide de mim quando estiver doente…que me deixe limpinho…que tenha paciência nos dias em que eu tiver muitas saudades tuas e destes bebés…e…chorar muito…ou ficar muito triste, que brinque comigo…que fale muito comigo…e que me ame mesmo…com todo o seu ser…com as minhas coisas boas e as minhas coisas más…e nas coisas más, que me dê umas sapatadinhas que não me magoem muito, só para eu me lembrar que tenho de ser bonzinho com ela. O papá… quero que seja como a mamã. (p.c) Existem essas pessoas?

CEGONHA (sorri) – Claro que sim, fofinho.

BEBÉ – Eu quero uns papás que me aceitem na vida deles, e que fiquem muito felizes com a minha presença na vida deles. Existem essas pessoas?

CEGONHA – Claro que sim…! Podes acreditar que sim. Confias em mim?

BEBÉ – Sim. Eu sei que gostas muito de mim, e que não me vais entregar a uns papás maus.

CEGONHA – Claro que não! Nenhum dos nossos bebés é entregue a papás maus. Mas porque é que estás a falar nisto agora?

BEBÉ – Porque têm chegado muitos bebés que vão para baixo e voltam cá para cima…

CEGONHA – Isso acontece porque…hummm…porque às vezes há papás que nos encomendam bebés, mas no fim não querem bebés e se é para serem mal tratados ou usados, nós não os entregamos.

BEBÉ – Mas…e aqueles que estão lá em baixo com papás maus…porque é que não vieram?

CEGONHA – Possivelmente não saíram daqui. Sabes, é que há milhões de cegonhas que levam os bebés, e há milhares de papás a pedir bebés…por isso, algumas cegonhas entregam os bebés…ás vezes infelizmente elas não vêem se os papás vão ser bons ou maus. Também acontece de haver papás que parecem bons, que dão a entender que querem muitos os bebés, mas no fim maltratam-nos.

BEBÉ – Isso é muito mau, não é?

CEGONHA – É, querido…é mesmo muito mau…e é muito triste.

BEBÉ – Já recebeste algum pedido?

CEGONHA – Quando aparecerem uns bons papás a pedir eu mando – te.

BEBÉ – Mas…eu queria que viesses comigo…e que ficasses lá comigo…Vou ter muitas saudades tuas!

CEGONHA – Eu também, lindo… Quem sabe…pode ser…não vou estar na tua casa, mas vou estar no jardim da tua casa, a tomar conta de ti, e a ver se te tratam bem.

BEBÉ (sorri) – Ááááhhh…a sério? Que bom! Vou ficar muito feliz. Muito obrigada…!

CEGONHA (sorri) – Mas ainda é muito cedo, por isso vai brincar com os outros meninos, ou dormir um soninho…! (p.c) Queres perguntar mais alguma coisa?

BEBÉ – Não…só…achas que pedi demais?

CEGONHA (sorri) – Não, querido…pediste uma coisa simples, e uma coisa a que todas as crianças tem direito.

BEBÉ (sorri) – Obrigada, cegonha. Adoro – te!

CEGONHA (deliciada, ri) – Ai que coisa tão boa…ouvir isso…(abraça o bebé) eu também te adoro, pequenino!

(a história acaba com a cegonha e o bebé abraçados).

Mensagem: pois é, infelizmente há crianças que estariam melhor com as cegonhas, do que com alguns seres humanos.

                                               FIM.

                                         Lara Rocha 

                                      (17/Junho/2010)