A lágrima

Lara Rocha 

           Era uma vez uma lágrima que abriu a porta da sua casa e saiu. Ela ia passear mas não reparou que estava uma grande tempestade e já havia milhares de outras lágrimas a ser levadas pela corrente feita de lava incandescente, a borbulhar e a fumegar.
- Onde vão tantas lágrimas…? Parece uma corrida! São aos milhares. – Comenta a lágrima.
As lágrimas gritavam, pediam socorro, tentavam de todas as maneiras fugir daquele calor.
- Socorroooo…! - Gritam as lágrimas aos trambolhões na lava.
- Afinal não é uma corrida…
- Volta para casa… - Grita uma lágrima
- Sobe para o telhado! – Grita outra lágrima
- Porquê? – Pergunta a lágrima
- Porque vem aí uma corrente de lava…- Explica outra gota
- Foge, enquanto podes! – Grita outra
- Ajuda-nos! – Implora outra
A lágrima ainda conseguiu ajudar algumas lágrimas a sair da lava, puxando-as…e sobem rapidamente para o telhado.
- Aqui estamos seguras…não se preocupem! – Diz a lágrima
- Tenho pena das nossas amigas…! Que horror! – Lamenta outra lágrima
Outras lágrimas foram cair num grande lago, onde já havia tantas lágrimas mergulhadas, que muitas estavam sentadas de fora. Todas essas lágrimas tinham conseguido fugir a tempo da chegada da lava.
Aparece a lágrima que saiu de casam com as outras lágrimas pequeninas que agarrou da lava.
- Eeeeiiii…tantas lágrimas aqui!
- Mais uma? – Murmura outra lágrima
- Porquê? Não temos espaço? – Pergunta a lágrima
- Duvido! Ainda por cima trazes apêndices! – Responde a outra lágrima
- E tu cheia de inveja! – Responde outra lágrima
- Eu não! – Responde a outra lágrima
- Não me apetece chatear contigo. – Diz a lágrima
- Nem vale a pena…não tarda muito já não existiremos! – Diz uma lágrima bruxa
- Cruzes! – Dizem todas preocupadas
- Ai…o que é que vem aí! – Suspira outra lágrima que já a conhece
- Estás assim tão desgostosa? – Pergunta outra lágrima
- Não estou a brincar. É uma coisa muito séria. Não demorará muito estamos todas fora daqui. – Diz a lágrima bruxa
- Como é que sabes? – Pergunta outra lágrima assustada
- Eu sinto! – Responde a lágrima bruxa
- Sentes o quê? – Perguntam todas
- Não estão a sentir apertos?
- Apertos? – Perguntam todas
- Isso é de estarmos muitas aqui! – Explica outra lágrima
- Está-me a cheirar a fumo! – Comenta outra lágrima
- Fumo…? – Perguntam todas
- Ai, que lá vamos nós…- Comenta outra lágrima assustada
- Fujam! – Gritam umas lágrimas que estão a fugir
- Porquê? – Perguntam todas
- Queres o espaço todo só para ti, é? – Pergunta a lágrima vaidosa
- Estamos aqui tão bem…- Diz outra lágrima
- Vem aí lava incandescente. Vai derreter quem apanhar pelo caminho. Fujam enquanto é tempo. – Grita outra lágrima
- Óh não…! – Gritam em coro, assustadas
Gera-se a confusão total! Todas gritam, correm de um lado para o outro, chocam umas com as outras, empurram-se, apertam-se, o chão treme cada vez mais, o cheiro a queimado e a ácidos torna-se cada vez mais forte, elas tentam fugir por onde podem, mas não há grandes saídas. São aos milhares.
À medida que encontram as duas saídas possíveis, escorregam rapidamente por uma linda piscina azul, caem umas por cima das outras, escorregam por duas pequenas montanhas abaixo, aos gritos e a rebolar, e param dentro de um frasco.
A viagem delas terminou…escaparam da lava incandescente…agora, sentem-se livres e calmas.
De onde vinham afinal? De um coração que sofria…as saídas eram os olhos, escorregaram pelas bochechas e foram parar a um frasco que a menina quis guardar de recordação quando teve o seu primeiro desgosto de amor.

                                                                               FIM
                                                                               Lálá
                                                                       (25/Maio/2014)