Número total de visualizações de páginas

quinta-feira, 24 de março de 2016

os olhos do coração



Personagens:
- Príncipe
- Princesa
- Rei
- Rainha
- Monstro
- Velha
- 2 Fadas
- 1 Árvore falante
- 1 Boneco falante
- 1 Menina

Cenário: Floresta

Cena 1
Música, abrem-se as cortinas, luz amarela para o palco, em cena já está a árvore falante e no fim da música entra a princesa com uma cesta na mão e o boneco dentro da cesta, entra aos saltinhos e a cantarolar.
MENINA – Lá, lá, lá, rá, lá, lá, lá, larararara…!
ÁRVORE – Isso, minha linda canta…canta enquanto podes…
MENINA – Bonequinho lindo…ouviste alguma coisa?
BONECO – Acho que… (frase interrompida)
ÁRVORE – Xiu! Está calado! Faz de conta que não ouviste nada.
(O boneco fica admirado a olhar para a árvore)
MENINA – Então, meu lindo?
ÁRVORE – Diz que não ouviste nada! Não me ouviste a falar.
BONECO – Mas vou mentir-lhe…e não posso fazer isso com a minha mãe!
ÁRVORE – Cala-te…não me faças perguntas e diz que não ouviste nada…!
BONECO – Não…não…não ouvi nada! Quer dizer…ouvi só…os passarinhos, os grilos, os sapos, os macacos…! E tu?
MENINA – Eu…também ouvi esses, mas acho que ouvi qualquer coisa…de…diferente desses animais!
BONECO – Hummm…eu…acho que não ouvi nada de estranho…pelo menos…que me apercebesse…ouvi os sons do costume! Deve ser a nossa imaginação.
MENINA – Estás com medo?
BONECO – Bem…tenho que ser sincero…sim…algum medo! E tu?
MENINA – Bem…eu não muito…já conheço esta floresta há muito, sei que não há nada de mal…mas às vezes há barulhos um bocadinho assustadores. Mas fica descansado…estás comigo! (p.c) Estamos juntos, não temos medo, certo?
BONECO (sorri) – Certo.
MENINA – Pareceu-me ouvir alguém a falar.
(O boneco volta a olhar para a árvore)
ÁRVORE – O que é que estás a olhar, com essa cara de pateta...já te disse para não dizeres nada, senão quem paga é ela.
BONECO – (para a árvore) Mas estou a mentir…que horror…que maldade…! (para a menina) Alguém a falar…? Só…só falei e tu…! Acho eu.
ÁRVORE – Pára de olhar para mim, estás a pôr-me envergonhada.
BONECO – Mas o que é que tu vais fazer?
ÁRVORE – Cala-te…fala com essa…a tua mãe ou lá o que é…!
MENINA – O que é que eu vou fazer…?
BONECO (sorri) – Sim…! O que é que tu vais fazer agora, aqui?
MENINA – Vou passear! Acho que vou apanhar umas flores para a minha Avó. O que é que achas?
BONECO – Eu acho que ela vai ficar muito feliz. Mas temos de ter cuidado com os grandes animais que habitam por aqui.
MENINA – Mas que grandes animais é que há aqui?
ÁRVORE (gargalhadas) – Ai…valha-me Deus…a tua dona é estúpida que nem uma porta (p.c) Tens que lhe ensinar o que são os grandes animais…e os bichos pequenos!
Cena 2
(A menina segue caminha a falar com o boneco, dá uma volta ao palco, olha para a paisagem, apanha algumas flores, com música, e anda ao som da música. rápido blackout, o lobo esconde-se atrás da árvore).
MENINA – Ai, estou cansada. Acho que me vou sentar à sombra.
(A árvore faz uma careta ao boneco e à menina, e o lobo faz cócegas à árvore, ela abana-se toda e ri-se).
MENINA – Boneco, será que está a chover?
ÁRVORE (a rir) – Ela é mesmo um soco…burra que nem uma porta.
BONECO (grita à árvore, zangado, a menina não ouve) – Pára de dizer essas coisas à minha mãe…! Estás a ofende-la e a ofender-me…! (para a menina) Não está a chover, olha para o céu…está limpíssimo. Não há uma nuvem para amostra… (riem).
MENINA – Deu-me a impressão que caiu qualquer coisa.
BONECO (sorri) – Não deve ter sido nada…! Descansa…tu tomas conta de mim, e eu tomo conta de ti.
(O lobo manda um grande espirro, a árvore abana toda e começam todos a gritar…estátuas com o susto).
ÁRVORE (resmunga) – Que porco que tu és…! Não sabes pôr a pata na frente dessa bocarra…?!
LOBO – Porco…eu…? Houve um porco que espirrou além de mim?
ÁRVORE – Não…estou a falar contigo!
LOBO – Desculpa…então não me estás a reconhecer…? Sou o teu amigo Lobo…!
ÁRVORE – Isso é maneira de espirrar…? Acho que nem os porcos animais fazem isso…! Cruzes…!
(O lobo dá outro espirro espalhafatoso. A árvore abana toda outra vez, gritam outra vez, e a menina desata a correr e sai do palco. O lobo espirra de forma escandalosa, mais duas vezes. A árvore ri-se).
LOBO – Olha lá minha desgraçada…que raio é que tu tens…ou puseste nos teus ramos para eu espirrar desta maneira…?
ÁRVORE (ri, às gargalhadas) – Eu…? Nada…! (p.c) Achas que eu ia perder tempo a pôr coisas nos meus ramos para apanhar com esses teus chuveiros de espirros…? (p.c. gargalhadas) Pode ter sido um mosquito que pousou no teu nariz e entrou-te para ele… (ri)
LOBO (chateado) – Fizeste de propósito! Que mazinha…!
ÁRVORE (ri) – Eu…? De propósito…? Achas…?! Claro que não.
LOBO (chateado) – O que é que eu te fiz, para me fazeres espirrar?
ÁRVORE (ri) – Nada…és meu amigo.
LOBO – Pois…também acho. Se não querias que eu me encostasse a ti, dizias logo. Escusavas de pôr coisas nos teus troncos para eu espirrar…ainda por cima chamaste-me porco…coisa que eu não sou!
(A árvore ri)
ÁRVORE (ri) – Desculpa…! Não te queria ofender…mas não gostei daquele teu espirro. (p.c) Garanto-te que não pus nada nos meus troncos para te afastar. (p.c) Não precisava disso…sei que se te dissesse directamente, tu respeitavas-me. (p.c) Além disso, gosto dos teus abraços...são…quentinhos…e felpudos…quer dizer…macios… (riem).
LOBO (ri, vaidoso) – Sua atrevida…ai, se não fosses de madeira…!
(Os dois dão uma gargalhada)
ÁRVORE - Olha à tua volta, e encontrarás a resposta…vais ver como tenho razão.
(Ouve-se o som de um mosquito…o lobo segue o barulho com os olhos e de repente para por uns segundos e o lobo dá uma grande estalada nele próprio, ouve-se o som de uma estalada sonora…o lobo cai, e o mosquito conseguiu escapar. Ri-se na cara do lobo).
ÁRVORE (às gargalhadas) – Estou rodeada de idiotas…o careca parecia um paspalho a olhar para mim… (p.c) a mãe dele…coitada…parecia que não tinha miolos…nem parecia deste planeta…só dizia disparates…! (p.c) E agora…este grandalhão…só tem tamanho grande, de resto…põe-se a andar atrás de um ser minúsculo que o fez espirrar...e acha que com um estaladão destes vai matar o mosquito…! (p.c) ai…que ignorância.
LOBO (ainda deitado, uiva) – Aaaaaaaaaaaaaaaaúúúúúúúúúúúú…! (p.c) Tu hoje…estás…aii…nem sei o que dizer…só…dizes coisas…más…! (p.c) Ainda por cima…ris-te na minha fuça…eu aqui todo amassado…e tu aí a gozar de fininho…e a chamar-me coisas…!
ÁRVORE (a rir) – Estás a queixar-te…? Ninguém te manda ser pateta.
LOBO – Aaaaiii…ajuda-me a levantar, por favor…! (p.c murmura) Deve ser mudança de Lua, hoje…o teu veneno está refinado…! À flor da casca…! (p.c) Desgraçada…!
ÁRVORE (ri) – Levanta-te, seu fiteiro…!
LOBO – Anda lá…deixa-te de bruxices e ajuda-me…!
ÁRVORE (a rir) – Dá outra chapadona em ti, outra vez…a ver se ganhas juízo. (p.c) Olha, vem aí a bombeira de duas patas…a velhota do costume…! Ela gosta tanto de ajudar, pede-lhe com jeito que te levante.
LOBO – Estás tola…? Ainda a mato de susto.
ÁRVORE – Se pedires com jeito ela ajuda-te…tenho a certeza.
LOBO – Tu deves ser bem mais velha que ela…!
                                            Cena 3
(A árvore dá-lhe com um cano no lombo. Ele grita, mas deixa-se estar deitado. Rápido blackout, música, e som de animais e de vento. Entra a velha, o lobo continua no chão a uivar). 
VELHA – Óh, pobre bichinho…estás ferido?
(A velha vê-o de cima a baixo, passa-lhe a mão pelo pêlo, o lobo uiva)
VELHA – Coitadinho!
(A velha ajuda-o a levantar e ele deita a língua de fora em sinal de agradecimento).
VELHA (sorri) – Ora…não precisas de agradecer…!
(Ouve-se outra vez o barulho do mosquito, o lobo segue outra vez o som com os olhos e a velha sacode-o).
VELHA – Sai, bicho chato…!
LOBO – Aaaaaúúúúú…!
VELHA – Não és tu, meu bichinho, lobinho. Estou a falar do chato do mosquito.
(A velha acaricia-o, dá-lhe beijinhos no pêlo…)
ÁRVORE – Estás a ver, desgraçado? Tiveste sorte…a velha vai com a tua fuça…! Se fosse eu a pedir…podia estar totalmente careca, seca, a morrer de sede, que a velha pouco se importava…deixava-me tal e qual como eu ficava!
(O lobo ri-se)
LOBO (para a árvore) – Ela pode ser velha, mas tem coração, de carne como eu…e tu…se tens coração…é de pau…é por isso que és tão má.
ÁRVORE (indignada) – Há animais com sorte! Os vegetais…que são os mais importantes para a vida das pessoas, tratam-nos assim. Não gostam de nós, mas esquecem-se que nós, de madeira é que lhes damos o ar que respiram, e aquecemo-los, no frio…quando nos cortam pedaços e atiram para o fogo…! E servimos de sombra…no calor… (p.c) Da bicharada…toda a gente gosta, e cuida… (p.c) estão capazes de os enfiar nas camas onde dormem só para não apanharem frio… (p.c) o lobo…como tem olhos lindos…um pêlo saudável, bonito, viçoso, macio…toda a gente o louva, (p.c) e nós, desgraçadas das árvores…que sofremos com todas as intempéries… (p.c) os nossos troncos…servem de sanita para os cães… (p.c) levamos com o xixi deles…e outras coisas… (p.c) suportamos fedores…porque também o raio dos pássaros usam-nos para casa de banho, e fazem outras judiarias connosco… (p.c) temos de aguentar tudo, e toda a gente passa indiferente…! (p.c) Na época de incêndios, levamos com fogo…não temos hipóteses de fugir…como os outros animais…e mesmo assim…toda a gente nos ignora. (p.c) Há tanta injustiça…!
VELHA – Anda meu lindo, vou cuidar de ti.
(A velha sai com o lobo de braço dado. A árvore sai do palco. Blackout, fecha-se a cortina, abre-se a cortina, música e aparecem no palco: o rei, a rainha e a princesa). 
Cena 4
(A princesa está muito assustada, pensativa, o rei e a rainha estão a falar um com o outro, e estranham o silêncio da filha).
RAINHA – Então, filha…estás muito calada.
REI – Aconteceu alguma coisa…?
PRINCESA (assustada) – Aiiii…papá e mamã…estou muito assustada!
REI – O que foi…? Sonhaste outra vez…ou imaginaste outra vez o lobo mau…? Querida…já te dissemos que ele não existe.
PRINCESA – Há bocado ouvi a Mariana, a filha da nossa empregada, a contar o que lhe aconteceu na floresta. Ela estava muito assustada.
REI – Óh, não acredites nela…Ela também deve ter imaginado…
RAINHA – O que é que assustou tanto a Mariana?
REI – Com certeza foi algum animal que apareceu de repente.
PRINCESA – Não, papá…ela estava a contar que foi à floresta apanhar algumas flores e que uma árvore espirrou, riu-se, deu-lhe banho…que parecia uma pessoa, mas não estava ninguém.
REI (gargalhadas) – Óh, óh…óh minha filha, que disparate! (p.c) E tu acreditas nisso?
RAINHA – Também acho querida! Não deves acreditar nessas histórias, ela se calhar é que inventou essa história toda só para chamar a atenção de toda a gente…e porque estava com medo…! (p.c) Nós já te dissemos que quando estamos com medo…às vezes…até imaginamos coisas que não existem.
REI – Claro…ou até…pode ter-se deitado na floresta e sonhou isso…depois…achou que isso aconteceu mesmo.
PRINCESA – Mas…
RAINHA – Não penses mais nisso…vai brincar. E não te ponhas a ouvir atrás das portas…além de ser feio…só ouves mentiras.
PRINCESA – Achas que a Mariana mente?
RAINHA – Não…mas é criança, e imagina coisas, como tu, quando estão com medo, por isso, não deves ligar a tudo o que ela te diz. Vai lá brincar.
REI – E fica descansada, que não há lobos, pelo menos aqui no castelo. (p.c) Nós conhecemos esta nossa floresta desde que nascemos…de trás para a frente, e da frente para trás…e para o lado direito…e para o lado esquerdo…e em todos os sentidos…até de pernas para o ar…quando subimos às árvores… (riem) Este nosso sítio é maravilhoso, sossegado, agradável…como todas as florestas…
RAINHA – O teu pai tem razão, filha. Podes acreditar em nós. Tudo o que as pessoas dizem ao contrário do que tu conheces…essas histórias de príncipes transformados em monstros…e outras coisas…é tudo inventado.
PRINCESA (entusiasmada) – Príncipes transformados em monstros e que se lhe dermos um beijo apaixonado, voltam a ser príncipes?
REIS – Sim.
RAINHA – Mas mete na tua cabecinha que isso só acontece mesmo nas histórias encantadas. Nós vivemos na vida real, e na vida real não acontece nada disso.
PRINCESA – É. Acho que ainda não parei de sonhar!
RAINHA (sorri) – Nem precisas de parar de sonhar, filha…sonhar é bom e faz bem à saúde…mas não te envolvas demasiado…senão…quando acordas, cais de cabeça.
PRINCESA – Ai, não quero cair de cabeça…é muito perigoso…quero sonhar, mas não quero cair de cabeça…posso…?
REIS (sorriem) – Sim, podes.
(Os três continuam a falar e a rir. Blackout, música, acende-se a luz amarela e em palco está a menina sentada no chão, em cima de duas grandes almofadas a brincar com o boneco. A princesa ver ter com ela).
PRINCESA (a sorrir) – Olá Mariana.
MENINA (sorri) – Olá. Brinca um bocadinho comigo e com o boneco.
PRINCESA (a sorrir) – Está bem.
(As duas começam a brincar uma com a outra, e com o boneco).
MENINA – Sabes, há bocado eu fui à floresta e a árvore onde eu estava deitada espirrou, riu-se e gritou…!
PRINCESA – A sério…? (p.c) Ui…que medo!
MENINA – Sim, pois foi. Eu também tive muito medo.
PRINCESA – Mas tens a certeza que foi a árvore, ou…será que foi algum animal que estava por trás da árvore e espirrou…?
MENINA – Era a árvore, eu tenho a certeza. E o meu amigo viu…! Não foi, boneco?
BONECO – Sim. Foi mesmo a árvore.
MENINA – Tu não viste nenhum animal atrás dela, pois não?
BONECO – Não. E a árvore falava.
PRINCESA – Não era um cavaleiro que estava por trás da árvore, ou algum viajante…ou caçador malvado?
BONECO – Não. Era mesmo a árvore.
MENINA – Ela falou contigo?
BONECO – Sim. Logo no inicio, quando disseste que achavas que tinhas ouvido alguma coisa mais além dos bichos…era verdade…eu é que fui obrigado pela árvore a dizer-te que não tinhas ouvido nada! Ela já tinha falado comigo, mas disse-me para eu não te dizer nada. (p.c) Óh, desculpa…eu menti-te…e não gostei nada de fazer isso…foi…quando tu perguntaste se eu estava com medo…!
MENINA – Mas…porque é que ela não queria que me dissesses que falava?
BONECO – Não sei. Ela só me disse para eu fazer de conta que não sabia de nada…que ela falava!
PRINCESA – Mas, então…se ela falava…também…pode muito bem ter espirrado…! Não…?
BONECO – Sim…! (p.c) Não estava lá mais ninguém. Só pode ter sido a árvore.
MENINA – Não sei…nós fugimos. Apanhamos um grande susto.
PRINCESA – Nunca pensei ter uma árvore falante na nossa floresta.
MENINA – Vamos lá as duas agora, queres?
PRINCESA – Sim, vamos…quero ver essa árvore, e ouvi-la.
BONECO – É melhor não.
MENINA – Porquê?
BONECO – Os Reis não vão deixar…! E eles têm razão, é muito perigoso.
PRINCESA – Nós saímos pelo jardim…eles nem vão reparar.
BONECO – Eu não a achei nada simpática…mas pode ser que convosco seja simpática.
MENINA – Mas nós vamos lá agora…se perguntarem alguma coisa…dizemos que…vamos passear…ou…apanhar flores.
BONECO – Vão mentir?
PRINCESA – Não é mentir…! (p.c) Vamos ver a árvore, e apanhamos flores para as mães e Avós.
MENINA – Mas não precisamos de dizer que vamos ver a árvore…e que fala…!
PRINCESA – Pois.
BONECO – Mas é perigoso!
MENINA E PRINCESA – Não é nada.
MENINA – A árvore pode ser falante, mas não nos vai comer, tenho a certeza!
BONECO – Eu…não tinha tanta certeza disso.
PRINCESA – Se ela nos meter medo, fugimos…de certeza que não vem atrás de nós. 
MENINA – Pois não…está pregada ao chão…com aquelas raízes enormes…
PRINCESA – Claro. (p.c) Vamos.
BONECO – Deixem-me ir convosco.
MENINA – Está bem.
(As duas levantam-se, e o boneco ao colo. Blackout, música, saem as duas, e volta a entrar o lobo e a Árvore).
Cena 5
(O lobo está atrás da árvore. A menina e a princesa caminham pela floresta, calmamente, e contentes. O lobo faz cócegas à árvore, e abana-se toda a rir).
ÁRVORE – Pára quieto, pateta…! (p.c) Xiu…vem aí gente.
(O lobo levanta o nariz, e as orelhas. Olha atentamente. Elas apanham mesmo umas flores, riem-se).
LOBO (baixinho) – Huuummm…que cheirinho…meninas…huuummm…menhã…menhã…
ÁRVORE (ralha) – Nem penses…ficas aqui quieto.
LOBO – Óh, não…não faças isso comigo.
ÁRVORE – Cala-te…ou queres que te espete já com uma troncada…!?
LOBO – Pronto…está bem…eu fico quieto…
(Mas salta mesmo, e para em frente às meninas. Elas assustam-se, estremecem e ficam estáticas).
LOBO – Olá, bela princesa! Não tenham medo…não vos vou fazer mal.
(Elas desmaiam assustadas, o lobo segura-as, aparece a fada e diz).
FADA – Olha, olha…duas…nas tuas patas… (ri)
LOBO – Óh…e agora?
FADA (ri) – Agora…vais ter que escolher…uma apenas.
LOBO – Mas…como? Se elas fogem de mim…! Com este meu ar…!
FADA (sorri) – Agora…acorda-as e conversa com elas…e só podes escolher…uma.
LOBO – Mas…como é que eu vou escolher uma só…se são as duas tão bonitas…e se…elas fogem…?
FADA – Fala com elas…torna-te primeiro…amigo das duas…sê cavalheiro…e depois…o teu coração vai escolher a que for melhor para ti.
LOBO – Óh, mas se for assim…uma vai ficar triste…
FADA (ri) – Mas quem é que te garante que as duas vão apaixonar-se por ti, seu convencido…?
LOBO – Ai…não?
FADA (ri) – Claro que não!
LOBO – Mas…caíram as duas nas minhas patas.
FADA (ri) – Isso não significa que se apaixonem as duas por ti. Até pode não se apaixonar nenhuma.
LOBO – Mas e se for a outra que se apaixona por mim, e não a que o meu coração escolher? Como é que eu faço?
FADA (sorri) – Se isso acontecer…não podes obrigá-la a gostar de ti…só tens de a respeitar, e ser amigo dela…não precisas de te afastar. Ou então…és amigo das duas, e não ficas com nenhuma, como amor da tua vida.
LOBO (triste) – Mas…a outra vai ficar triste…
FADA (ri) – Na hora…saberás o que fazer…agora…conquista primeiro a amizade das duas, que é muito mais importante.
LOBO (triste) – Eu não quero magoá-las, nem vê-las tristes.
FADA (sorri) – Se fores amigo das duas, isso não vai acontecer. (p.c) Mostra-lhes o teu coração de carne…elas vão mostrar os delas, também…e depois…o resto vês…podes achá-las bonitas, e no fim, não gostar de nenhuma, para amares…mas podes continuar sempre com a sua amizade. O teu feitiço quebrar-se-á!
(O lobo dá-lhes um beijo na cara, cheio de encanto, meiguice e carinho, ouve-se um trovão…blackout rápido, e aparece o lobo transformado em príncipe, com as duas meninas de mão dada, sorridentes e felizes).
PRINCESA E MENINA – Tu…és o lobo?
PRÍNCIPE (sorri) – Eu…lobo…? (p.c ri) Isso…é um elogio, ou um insulto?
(Elas riem)
PRINCESA (ri) – É um elogio…!
PRÍNCIPE (ri) – Esqueçam o lobo…! Vamos dar uma voltinha…?
PRINCESA E MENINA (sorriem) – Vamos.
(Os três caminham pela floresta, sorridentes, felizes, falam uns com os outros, brincam, correm, rebolam felizes pela relva, escondem-se e trocam carinhos…e tornam-se amigos inseparáveis).
FADA – Não olhem para as outras pessoas com os olhos exteriores, mas sim, com os olhos interiores, os do coração…pois é aí que se encontra a verdadeira beleza das pessoas.

FIM !
Lara Rocha 
(Dezembro/2000) 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras