Número total de visualizações de páginas

sexta-feira, 25 de março de 2016

As cores do Mundo de Miguel (Adolescentes e adultos)

NARRADORA - Miguel era um adolescente, que vivia triste e deprimido. Vestia quase sempre roupa preta e isolava-se. Vivia numa casa sozinho, longe da família. O seu mundo interior era qualquer coisa, menos colorido e bonito…era preenchido por preto e branco, cinzento. Um dia, alguém bate à sua porta. Ele vai ver quem é. É um rapaz que ele não conhece com um bebé ao colo. Ele abre a porta.
MIGUEL - Olha, se vens pedir dinheiro, esquece…não tenho! Com licença.
(Tenta fechar a porta, mas o rapaz segura-a com o pé)
SÉRGIO - Espera…antes de me fechares a porta na cara, por favor ouve-me.
MIGUEL - Está bem, diz lá.
SÉRGIO – Esta bebé, é tua filha. Pediram-me para a entregar aqui.
MIGUEL (exaltado) – O quê? Não pode ser…isto é uma armadilha. Só pode…!
SÉRGIO – És o Miguel não és?
MIGUEL – Sim…mas há muitos gajos com esse nome.
SÉRGIO – Certo…mas…o nome Carla…diz-te alguma coisa, certamente.
MIGUEL – Por acaso, era o nome da minha ex…mas nunca mais nos falamos, nem nos vimos, desde que voltei para França e agora para aqui outra vez.
SÉRGIO – Pois. Ela ficou grávida da última vez que se encontraram.
MIGUEL (assustado) – Não pode ser!
SÉRGIO – Sim, é verdade.
MIGUEL (em pânico) – Não…ela não me disse nada. Não pode ser…não pode ser!
SÉRGIO – Não te disse nada porque tinham acabado, mas ela é a minha namorada agora…e disse que tu eras o pai da filha dela…ela só não te disse antes porque sabia que não ias aceitar, e não te queria prender! Pediu-me para que tomes conta da vossa filha.
MIGUEL – É…uma menina?
SÉRGIO – Sim!
MIGUEL – Mas ela tem de ficar com a mãe…
SÉRGIO – A mãe não tem condições!
MIGUEL – E até parece que eu tenho…
SÉRGIO – Sim, tens mais que ela.
MIGUEL – Deves estar a gozar.
SÉRGIO – Por favor…pelo menos, tem pena da menina, da vossa filha. Se não ficares com ela, ela vai para uma Instituição, ou para um centro de adopção.
(Miguel fica pensativo)
MIGUEL – Entra…por favor…eu preciso de pensar uns minutos.
SÉRGIO – Claro.
(Ele entra com a bebé, Miguel olha para a bebé)
MIGUEL (suspira) – O que é que eu vou fazer contigo, agora…? Ai…a minha vida…! (p.c) E agora…como é que nos vamos sustentar. (p.c) Eu não percebo nada de bebés, nem tenho os meus pais comigo…eles emigraram. Porque é que aquela maldita não falou mais comigo, nem me disse mais nada…?! E aparece de repente…uma bebé…que diz ser dela, e minha.
SÉRGIO – E é. Ela está doente da cabeça…pode matar a vossa filha.
MIGUEL – O quê? Não…nem pensar.
SÉRGIO – Infelizmente é verdade. Ela está fora de si…está…gravemente doente da cabeça. Ela rejeita a bebé, eu protegi muitas vezes esta inocente de ser cortada, atirada pela janela…e outras maldades que ela queria fazer-lhe.
MIGUEL (em pânico) – Ai, não! Ela não seria capaz…é mulher.
SÉRGIO – Mas está doente…perturbada…é capaz de tudo. A vossa filha corre perigo.
MIGUEL (nervoso) – Como é que se pega nisto…?
NARRADORA - Sérgio passa-lha para o colo, explica-lhe como se põe os braços, e outras indicações importantes. Miguel olha para a bebé, e começa a chorar, depois sorri ligeiramente, enternecido.
MIGUEL – A minha filha…filha…filha…! Eu…sou pai…!
SÉRGIO (sorri) – É uma bebé linda.
MIGUEL – Sim, é verdade.
SÉRGIO – E então…vais ficar com ela?
MIGUEL – Sim! Não tenho condições, mas também não tenho coragem de a deixar ir. Ela não tem culpa de ter nascido daquela mulher…sou pai.
SÉRGIO – Hás-de arranjar, de certeza! Desculpa ter aparecido assim, de repente sem avisar, mas não tive outra solução. Cuida bem da menina…!
MIGUEL – Sim, cuidarei! Os pais fazem tudo pelos filhos, mesmo quando não tem condições…pelo menos foi o que os meus pais sempre me ensinaram, e sei que é verdade, porque eles também sempre fizeram tudo por mim, e fazem! Desde que haja sempre amor e responsabilidade…! O resto…resolve-se!
SÉRGIO – Sim, concordo…mas tenho a certeza que a Carla também a ama.
MIGUEL – Não…se a amasse não a mandava para mim.
SÉRGIO – Ela ama-a, por isso é que a mandou para ti…que és o pai, e ela sabe que contigo a bebé estará bem!
MIGUEL – Louca…
SÉRGIO – Doente!
MIGUEL – Um dia vou ter uma conversa com ela.
SÉRGIO – Agora não, por favor…! Isso acabaria com ela de vez, aliás já o tentou fazer muitas vezes, mesmo grávida.
MIGUEL – Então a minha filha está mesmo bem é comigo!
SÉRGIO – Com certeza. Tu serás capaz de cuidar bem dela, e estará protegida… ela terá o teu amor, e com a mãe, infelizmente não terá nada disso.
MIGUEL – Porque estás com ela?
SÉRGIO – Porque a amo, e ela precisa de mim…não vou abandoná-la quando ela mais precisa.
MIGUEL – Ama-la ou tens pena dela?
SÉRGIO – Amo-a! Ela está doente…qualquer um de nós pode ficar doente, a qualquer momento…e de certeza que nessa altura queremos ter alguém que nos ame, ao nosso lado!
MIGUEL – Eu já lhe tinha virado as costas há muito…também não sou muito fino…ela sabe que eu também tenho uns parafusos a menos.
SÉRGIO – Agora dizes isso, mas se estivesses no meu lugar, talvez também ficasses do lado dela.
MIGUEL – Não…não estava para aturar as loucuras dela.
SÉRGIO – Mas pelo menos protegias a tua filha.
MIGUEL – Isso claro que sim! Porque a bebé não tem culpa, não pediu para nascer…nós é que fomos inconscientes.
SÉRGIO – Estás arrependido?
MIGUEL – Em parte sim, claro…porque…nunca pensei que ela ficasse grávida, e que não me dissesse. Tínhamos que ter tomado precauções.
SÉRGIO – Se calhar pensou que a rejeitasses, ou que fizesses algum mal, quando soubesses…!
MIGUEL – Jamais faria isso. Se ela me tivesse dito, eu tinha ficado lá com ela.
SÉRGIO – Olha, não sei, mas também agora não interessa estar a falar no passado. O que interessa é que tenhas força para cuidar dessa criança inocente.
MIGUEL – Sim, terei! Espero que sejam felizes, os dois.
SÉRGIO – Obrigado. Eu vou deixar-te os meus contactos para ir sabendo dela, se não te importares.
MIGUEL – Claro…
SÉRGIO – Vou buscar ao carro, as malas dela.
MIGUEL – Ok…
NARRADORA – Enquanto Sérgio tira as muitas malas e sacos da menina, Miguel olha deliciado para a bebé, no seu colo, e sorri.
MIGUEL (sorri) – Filha…! Minha filha…! És linda. O teu pai é um ignorante…mas vai aprender a cuidar de ti. Não te vai faltar nada!
NARRADORA – Sérgio leva tudo para casa do Miguel, os dois despedem-se.
SÉRGIO – Obrigado. Tenho a certeza que ela estará muito bem entregue contigo. Se precisares chama-me.
MIGUEL – Ok. As melhoras da Carla, e felicidades para vocês os dois. Diz-lhe que ela nunca mais verá a filha.
SÉRGIO – Bem…até breve.
MIGUEL – Até breve.
NARRADORA – Sérgio sai, e Miguel senta-se com a bebé ao colo, deliciado. O seu mundo preto, cinzento e branco, ganhou alguma tonalidade colorida. Ele está nervoso, inseguro, com medo, perdido… Liga aos pais e conta o que aconteceu. Os pais ficam surpresos, mas felizes e poucos dias depois regressam a Portugal para ajudar o filho a cuidar da bebé e para a conhecer. Entretanto, Miguel vai-se habituando, e segue as instruções da mãe pelo telefone, para os cuidados primários da bebé, alimentação, higiene, roupa…A bebé é uma doçura, e Miguel enche-a de mimos, carícias e beijos. A bebé sorri muito, e ele está muito mais feliz.
MIGUEL – Nada te vai faltar, filha.
NARRADORA – Os pais chegam, e ajudam a cuidar da criança. O mundo de Miguel ganha muita mais cor. Num instante, Miguel torna-se um verdadeiro pai, muito dedicado, preocupado, feliz. A mãe e o pai são uns avós babados, e fazem tudo pela menina, e pelo filho. A menina cresce, e é o orgulho da sua família. Miguel deixa de viver num mundo de cor preta, cinzenta e branca, e passa a viver num mundo cheio de cor, brilho, luz e alegria, pintado pela presença da sua filha na sua vida. Há acontecimentos que mudam as cores do nosso mundo interior…umas vezes pintamo-lo de cores escuras, outras vezes, acontecem coisas, mesmo as mais simples e mais pequeninas, que de um momento para o outro, enchem o nosso mundo de cor, luz e alegria. O importante é nunca desistir, e mudar constantemente as cores escuras do nosso mundo interior. A qualquer momento tudo pode ser diferente, e as trevas transformam-se em luz, e a luz transforma-se em trevas, mas devemos sempre pintar o mais depressa possível o mundo escuro, pelo mundo da luz e da cor.
                                                                           
                                                                                 FIM
                                                                                 Lálá



                                                                       (11/Novembro/2013)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras