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sexta-feira, 25 de março de 2016

A lua e o rapaz apaixonado (adolescentes e adultos)

(quadro pintado a óleo por Lara Rocha) 

Era uma vez um rapaz ainda muito novo, que teve muitos desgostos de amor até que desistiu de procurar a rapariga dos seus sonhos.
Ele partilhava a sua dor e tristeza com a Lua todas as noites, na janela do quarto.
A Lua ouvia-o pacientemente e também ficava triste por não poder ajudar o rapaz!
Como vinha acontecendo todas as noite, o rapaz vai à janela senta-se no banquinho de pedra dentro do quarto à janela e cumprimenta a Lua, e falam um com o outro:
– Olá Lua…cá estou eu! Triste…vazio…sozinho…sem ti…!
– Mas eu estou aqui…contigo…! Aliás, se eu fosse mulher ficava contigo! Mas sou Lua…estou aqui em cima…o nosso amor nunca será possível.
– Óh querida Lua…porque é que não há mulheres como tu?
– Eu também sou uma mulher! (p.c) Brevemente vais encontrar alguém especial.
– Mas eu não quero uma mulher…de carne e osso…quero-te a ti, Lua!
– Não…! (p.c) Não fiques assim, nem digas essas coisas…! (p.c) Brevemente vais ter uma surpresa.
– (sorri) Vais – te transformar em mulher e ser minha para sempre? Minha Lua…minha beleza rara…
– (ri) Se eu fosse tua, não me querias com certeza!
– Como é que eu não ia gostar de ti, nem querer-te?
– De momento gostas da minha beleza, do que vês daí de baixo…desejas-me porque queres curar o teu coração a gostar de alguém…mas tudo não passa de uma ilusão! É uma necessidade de te sentires preenchido…mas se eu estivesse aí, do teu lado, tudo ia ser diferente! (p.c) Eu sei como é que vocês são. (p.c) Não se esquecem amores com outras pessoas…isso só aumenta a dor.
– Ei, não somos todos iguais…
– Isso é o que todos dizem, mas chega a hora…e é tudo sol de pouca dura! (p.c) Vocês não respeitam as mulheres.
– Pois…tu és mulher…só compreendes o lado feminino.
– Vocês homens também só se compreendem uns aos outros, não compreendem as mulheres.
– Elas são misteriosas…estranhas…enfeitiçam-nos…e depois deixam-nos pendurados.
– Tal como vocês…estão com uma rapariga até aparecer outra qualquer com melhor aspecto que vos mostre os dentes, ou as mamas, ou…o que vocês mais gostam…que largam logo essa…e são tão otários, que mudam sempre para pior. Deixam-se enfeitiçar por todas elas…cromos.
– Não é bem assim…! Uns não se deixam enfeitiçar por qualquer uma.
– Vocês é que se deixam enfeitiçar…ficam encantados com esse feitiço…nem pensam no resto…só quando elas vão embora…quem vos ama mesmo…é que vocês acordam.
– Acordamos tarde demais?
– Sim!
– Elas enredam-nos…!
– Vocês é que se deixam enredar…
– És capaz de ter razão! (p.c) Não somos perfeitos, pois não?
– De maneira nenhuma…nunca serão nem nunca haverá ninguém mais perfeito…que a Natureza!
– És tu…Lua…que enfeitiças homens e mulheres, e depois destróis tudo…ficamos assim…estes trastes.
– (gargalhadas) Eu…? (p.c) Tu achas que eu não tenho mais nada que fazer? (p.c) Estou aqui em cima, para enfeitar a noite…não tenho nada a ver com o que se passa aí em baixo.
– Ai tens tens…! (p.c) Tu…és linda…hipnotizas…inspiras as pessoas…as cabeças ficam loucas, quando estás cheia…
– (a rir) Eu tenho as costas largas, não?! (p.c) Tem cada ideia de mim…!
– Tu até fazes nascer mais cedo!
– (ri) Eu faço nascer antes…?! (p.c) Como? (p.c) Não sou obstetra, nem parteira…nem feiticeira!
– As mulheres é que dizem…!
– (a rir) Não sei de nada.
- Tu também controlas os mares…!
- Eu…? (gargalhadas) Não tenho nada a ver com isso! Está-te mesmo a fazer muito mal não ter alguém do teu lado…!
– Óh Lua…desce daí…e anda para a minha beira!
– (a rir) Não querias mais nada! (p.c) Achas que é possível uma coisa dessas?
– Eu preciso de ti, quero ter-te sempre comigo.
– (ri) Olha…pinta-me…ou desenha-me…ou tatua-me na tua pele…eu estou sempre aqui…! Podes ver-me todas as noites como tens feito até aqui!
– Não percebes?! Eu gosto tanto de ti, que não posso ficar longe de ti…tenho de te tocar, de te sentir…
– Mas já me sentes…
– Não te toco, como é que eu te sinto?
– Se quisesses podias tocar-me…sentir-me…
– Sim, se eu fosse astronauta!
– Ai, que limitação…! (p.c) Sim, essa podia ser uma maneira…mas tu já me tocas…com o teu olhar…e nos teus sonhos!
– Sim, claro… (chateado) Como tenho tocado outra rapariga qualquer! Nos sonhos…só…! Não tem piada nenhuma…!
- Ai tu queres uma mulher só para ter piada? Para ter piada não precisas de uma mulher…!
- Óóóhhhh…! Estás a gozar comigo…
– (irónica) Eu…? A gozar contigo? (ri) Naaaaa…nem penses numa coisa dessas…! (p.c) Óh totó…acorda…Não precisas de tocar nas raparigas para as sentires…e para elas te sentirem…! (p.c) Às vezes o olhar, o sorriso, um carinho…a amizade tocam muito mais depressa as profundezas da alma de uma mulher do que outro tipo de contacto!
– Que coisa tão superficial.
- Para quem nunca sentiu isso, é superficial. Vais ver até experimentares…! (p.c) Sim, porque aos homens também toca…vocês é que estão ocupados com outras coisas poluentes que nem sentem o mais importante. Experimenta…tocar uma mulher assim…como me tocas a mim! Vais ver o que acontece.
– Elas fogem de mim!
– Fogem porque tu vais feito crocodilo prestes a comê-las, elas têm medo, não querem isso! (p.c) Até eu tenho medo e teria…!  
– Crocodilo…?!
– Sim. Com a boca escancarada! (p.c) Tens de ir com suavidade…mostrar pequeninas estrelinhas…gestinhos que as preencham por dentro…da maneira que vocês andam, esvaziam-nas…é por isso que elas fogem. Eu também fugiria.
– (surpreso) A sério…?
– Sim! E gosto muito de ti…se fosse mulher…só te deixava aproximar de mim se não viesses com esse ar de crocodilo esfomeado. (p.c) Para me preencheres a alma tinha de ser como te disse.
– (surpreso) Como é que sabes isso?
– Halloooo…Sou mulher…e todas as mulheres saudáveis são assim…sentem isso…vocês é que não se apercebem…ficam ofuscados com a carne e não querem saber do mais importante…as emoções…o coração! (p.c) vocês são muito ignorantes!
– (surpreso) Achas?
– Sim! Eu sei bem o que estou a dizer… (p.c) não sabem nada sobre mulheres! (ri) Pensam que a única fonte de prazer da mulher é nas…partes intimas…que limitados…
– (surpreso) E não é?
– (gargalhadas) Santa ignorância…claro que não é! (p.c) Vocês é que são tão palermas que acham que a mulher é só aquilo, não se dão ao trabalho de conhecer…explorar e brincar…viajar através do corpo mágico da mulher! (p.c) Até o vosso corpo tem muitas mais fontes de prazer…que otários. (p.c ri) não querem ter trabalho…depois sofrem…e exploram…e são explorados…muito bem. (p.c) se fosse eu…também vos explorava para aprenderem…!
– (surpreso) Ááááhhh… (pequena pausa) deves ter razão.
– Claro que tenho razão! (p.c) Ainda têm, muito que aprender sobre o sexo feminino…elas não gostam de coisas rápidas…! (p.c) quer dizer…quase nenhuma mulher decente gosta disso… (p.c) experimenta…não vais querer outra viagem…!
– Está bem…quando aparecer uma rapariga que se interesse por mim! (p.c) Quem me dera que fosse contigo, minha beleza rara!
– Outra coisa…não queiras possuir essa rapariga…nem te atrevas a fazer isso…! Ela não vai gostar…tal como tu não gostas…nem eu…
– Tu és minha!
– Não! Não sou de ninguém, e sou de toda a gente que me vê! Quer dizer…sou unicamente da Natureza…!
– Não há mais bonita que tu…
A Lua sorri, continua no espaço.
O rapaz pensa durante várias noites no que a Lua lhe disse, e pequenos ensaios do que pode fazer com uma rapariga.
Passado uns dias, numa noite de Lua cheia, o rapaz está à janela e por baixo da sua janela está uma rapariga linda, meiga, educada, elegante, parece uma princesa.
Ele nem quer acreditar no que está a ver.
A rapariga olha-o, e ele para ela.
Olham-se fixamente, e os seus corações disparam, os seus olhos brilham e os seus sorrisos abrem-se.
O rapaz salta da janela, e vai para a beira da rapariga.
Os dois encantados sentam-se lado a lado, e falam alegremente um com o outro, a noite toda, passeiam pelo jardim e brincam até o sol nascer.
Antes de a Lua dar lugar ao sol, ela diz e o rapaz responde:
– (a sorrir) Vês…?! (p.c) Eu disse que um dia destes ia aparecer alguém especial! (p.c) Não te esqueças que tens de a respeitar…ser delicado com ela!
– (sorri) Eu encontrei a minha Lua…de carne e osso…!
– Os vossos olhos já se encontraram, já se encantaram e namoraram…
O rapaz sorri para a rapariga, e ao olhar para a Lua diz-lhe: – És a minha Lua…!
A rapariga sorri e responde:
– Que lindo! Meu astronauta…! Tocaste a minha alma…já beijaste o meu coração…!
         O rapaz sorri e diz sentir o mesmo:
– E tu fizeste o mesmo comigo…
         A rapariga sorri e pergunta:
– Tens pressa de viajar por todo o meu corpo…?
         O rapaz entendeu bem onde ela queria chegar com essa pergunta e responde:  
– Não!
         A rapariga agradece:
– Obrigada. Meu Amor…!
         O rapaz não percebe o porquê do agradecimento e responde com outra pergunta:
– De quê, minha estrelinha?
         A rapariga responde a sorrir:
– Por seres diferente de todos os outros que já conheci…leões esfomeados…que só queriam uma única coisa…e esqueciam do principal…o meu coração! A minha pessoa…
         O rapaz entende agora o que a Lua sempre lhe tinha dito, e como conseguiu conquistá-la responde:
– Para mim, o teu coração e a tua pessoa são o mais importante. E sei que te vou amar por isso!
         A rapariga sente o mesmo e responde a sorrir:
– Eu também…
Os dois abraçam-se, sorriem, trocam alguns carinhos e a Lua comenta sorridente e orgulhosa:
– Isso…! Perfeito! Estás a sair-te muito bem.
Os dois olham para a Lua, a sorrir, abraçados, olham-se a sorrir e a rapariga sorridente diz:
– Ela é a nossa madrinha…! Não te importas?
Os dois riem, a Lua sorri vaidosa, e feliz e o rapaz responde:
– Claro que não me importo…até parece que me leste os pensamentos. Adoro a Lua…
         A rapariga partilha do mesmo gosto:
– Eu também.
         Os dois estão tão sintonizados um no outro que até respondem em coro a olhar um para o outro:
– Mas gosto mais de ti…!
Os dois riem, dão mais um abraço e trocam carinhos. A Lua continuou no Infinito e feliz por ver que o rapaz que partilhava a sua tristeza com ela, encontrou a rapariga dos seus sonhos. Com o passar do tempo, a amizade tornou-se em amor verdadeiro e forte, com respeito um pelo outro, e foram os dois muito felizes, sempre com o testemunho da Lua. Durante muitas noites a Lua continuou a ser amiga e confidente do rapaz. Depois de alguns anos de namoro, os dois trocaram alianças diante da Lua cheia, e nesse dia o rapaz agradece à Lua:
- Obrigada Lua, minha confidente, minha amiga…por tudo o que me ensinaste…!
         A rapariga também agradece:
- Obrigada Lua, pela tua presença, e por nos teres junto…!
         A Lua sorri orgulhosa e diz:
- Não tem que agradecer, queridos afilhados…essa é uma das minhas funções…eu senti que os vossos corações deviam juntar-se…eu continuarei a ver-vos daqui. Juizinho…! Estou muito feliz por vocês.
         A rapariga acrescenta:
- (feliz) Tu sempre foste maravilhosa. E apresentaste-me um homem maravilhoso.
         O rapaz acrescenta:
- Tu tinhas razão Lua…!
         A Lua responde sorridente:  
- Vês…como foste capaz de beijar as profundezas da alma da rapariga sem lhe tocar, e sem pareceres um crocodilo esfomeado?!
         O rapaz ri e responde:
- Sim, é verdade! É mesmo muito bom…!

FIM
Lálá 
(18/Junho/2011)





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