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quinta-feira, 24 de março de 2016

o que esconde o nevoeiro

                                                                        foto de Lara Rocha 


           Era uma vez uma montanha muito alta onde havia sempre muito nevoeiro. E às vezes era ainda mais cerrado. Parecia magia! Quando se aproximavam estranhos que iam cheios de curiosidade para ver o que havia por trás do nevoeiro, nunca conseguiam! Além disso, ficavam com tanto frio que fugiam rapidamente e nem queriam ver mais.
      Todos os visitantes achavam que não havia nada por trás de tanto nevoeiro. Imaginavam que ninguém conseguia viver no meio de tanta humidade e frio, ou com sorte poderiam viver alguns animais que já estavam habituados. Deixavam-nos no seu canto, e seguiam o seu passeio. Ninguém conseguia lá entrar.
        Apesar do nevoeiro, a paisagem valia a pena! O que os visitantes não sabiam é que o nevoeiro era formado pelo guarda da aldeia. Sim, isso mesmo! Quem conseguia atravessar o intenso nevoeiro esperava-os uma grande surpresa.
       Uma pequena e linda aldeia de anões, com as casinhas nos troncos das árvores. Vivendas e prédios, com todo o mobiliário, janelas e luz. Dragões e fadas também partilhavam o mesmo espaço. Nesta aldeia reinava a Paz, e a amizade. Havia respeito entre os animais, e estes respeitavam os habitantes.
      O guarda bafejava nevoeiro para que as ameaças de fora não perturbassem todo o bom ambiente. Era quase um mundo à parte, onde se vivia muito bem. Aqui havia sol, um sol que quase parecia feito de encomenda só para eles. Os habitantes nunca saiam dessa aldeia, porque trabalhavam e estudavam lá! Tinham tudo! Até praia, fontes e jardins por todo o lado. 
      Viviam numa grande felicidade. Um dia, uma linda e pequenina criança com uma deficiência foi deixada nesta montanha. Era ainda bebé, mas os sinais da sua deficiência já se notavam. A sua mãe não tinha condições para o tratar, nem para ficar com ele, até porque era ainda adolescente.
        O bebé era muito bonito e gordinho, loiro, de olhos claros, e não chorou. Ficou parado na alcofa, a dormir. O guarda nevoeiro apercebeu-se de algo estranho no exterior. Sentiu uma atmosfera diferente. Saiu e viu uma alcofa à porta, debaixo de uma árvore cheia de folhas.
- O que temos aqui? – Pergunta o guarda
       Aproxima-se devagar, olha para o bebé.
- Óh! Um bebé? Como pode ser?
- Sim, é um bebé! – Responde a árvore
- Mas, mas…um bebé? Aqui, neste lugar? A esta hora?! Se eu apanho os pais desta criança, eles vão-se ver comigo… - Diz o guarda irritado
- Isso não é possível! – Responde a árvore
- Porque não? De certeza que a criança tem pais!
- Sim, foi a mãe que a deixou aqui!
- E o pai?
- Não sei. Veio só a mãe. Já foi embora!
- E não levou a criança? Um ser tão pequenino e frágil não pode ficar assim…
- Esta criança é diferente, e muito especial.
- Qualquer criança é diferente e especial.
- Sim, é verdade! Mas esta tem uma deficiência.
- E qual é o problema? Acontece! Ninguém é perfeito, e não é por causa disso que deixa de ser uma criança inocente.
- Claro. Esse é o teu ponto de vista, e concordo, mas esta mãe era adolescente! Não tem cabeça nem capacidades para tomar conta de uma criança, muito menos com uma deficiência.
- Ora! Para isso não a tinha!
- Pois é! Mas não a julgues mal. Ela não fez por mal…até…fez bem ao bebé.
- Como fez bem? Deixou-o aqui…
- Pois! Deixou-o aqui porque talvez soubesse que aqui alguém o veria e acolheria! Entregou-o para que cuidem dela já que ela não pode…pelo menos não lhe fez mal.
- É! Isso menos mal. Mas abandoná-lo é grave…! 
- Não a critiques, tu falas de fora porque os teus pais felizmente desejaram-te, e cuidaram bem de ti, são boas pessoas, já tinham cabecinha para saber o que queriam, mas se fossem adolescentes, como a mãe deste bebé, não sei não! 
- Hummm....acho que me aceitavam na mesma! 
- Isso são os teus pais, os pais dela não sabemos. 
- Hummm... acho que sei o que queres dizer. 
- Nem todas as famílias são iguais às nossas, há muitas famílias com problemas, dificuldades a todos os níveis, e não aceitam determinados acontecimentos. Por muito que nos doa, não podemos ser tão cruéis com alguma mãe que faz isso. Os adolescentes são quase crianças, e cuidar de um bebé, não é fácil. De 
certeza que ela não fez porque quis, até foi madura, tê-lo deixado aqui, porque podia ter-lhe feito mal! Se o vendesse ou...coisas piores! 
- Alguém vende filhos? 
- Não duvides, parece que não ouves as notícias. Infelizmente acontece isso em muitos países onde há miséria. 
- Que horror! Sim. Isso, é verdade! Mas...E agora, o que faço?
- Recolhe-o!
- Vou lá dentro perguntar.
        O guarda entra e toca o sinal de alarme! Rapidamente aparecem todos os habitantes preocupados.
- O que se passa? – Perguntam todos em coro
- Temos aqui um bebé! Quem puder…acolha-o! É um bebé lindo, especial e diferente. A mãe não podia ficar com ele. Era uma adolescente, e este bebé precisa de cuidados especiais! – Diz a árvore
      Todos se prontificam e ficam tão encantados com o sorriso do bebé, que todos querem ficar com ele. Uma anã novinha, solteira sugere:
- Ele pode ficar na minha casa, porque estou disponível, tenho muito tempo livre para me dedicar a ele, e a casa tem um quarto ainda livre! Todos vocês poderão ir vê-lo e até cuidar dele sempre que quiserem.
- Acho que está muito bem pensado! – Diz a árvore
- Qualquer um de vocês teria capacidade para cuidar dele, mas já tem os vossos filhos e uma vida muito preenchida. – Explica a jovem anãzinha
- Não precisas de te explicar…nós até agradecemos! – Diz um anão
- Por favor…qualquer coisa que precises, chama-me, a qualquer hora…estou mesmo ao teu lado. – Diz outra anã.
- Está bem…eu sei! Não se preocupem! Ele estará muito bem entregue. – Diz a anãzinha
- Não tenho dúvidas disso! – Diz o guarda
          A anãzinha pega no bebé e na alcofa. Entram, o nevoeiro fica ainda mais intenso. O bebé vai para casa dela, cada um dos habitantes dá o que pode: cama, lençóis, cobertores, roupas, brinquedos que os filhos já não usam, oferecem biberões e chupetas, coisas para o banho, leite e outros alimentos.
         A jovem trata dele como se fosse uma verdadeira mãe do bebé. No dia seguinte leva-o ao médico, e segue todas as instruções. Todos os dias o pequenino recebeu muito carinho, muita dedicação, amor e presentes dos habitantes. 
          Os pais explicaram aos pequenos, o que tinha acontecido, e ensinaram-nos a tratar bem da criança que tinha sido deixada lá, como se fosse alguém de família, um amigo. Foi mesmo isso que os pequenitos fizeram. 
       Gostavam muito da criança, brincavam com ela, davam-lhe carinho, liam-lhe histórias, partilhavam brinquedos, ensinavam-lhe canções e passeavam de mão dada pela aldeia, apanhavam flores e frutos, brincavam com os animais. 
        Os adultos sentiam-se muito orgulhosos dos pequenos, apreciavam a união entre eles, e faziam festas convívio, para que todos tivessem oportunidade de estar com o pequenito. Estavam sempre dispostos a ajudar e a acarinhá-lo. À medida que foi crescendo, a criança tornou-se muito querida, educada, respeitada e amada por todos, muito feliz.
        Este foi o único ser humano que entrou através do nevoeiro que guardava e protegia a aldeia. De resto…sempre que chegavam estranhos, o guarda fechava ainda mais a porta, aumentando o nevoeiro. E vocês? Se conseguissem atravessar o nevoeiro, como era a aldeia? Acham que o guarda vos deixava entrar na aldeia? E se vocês fossem o guarda, quem deixavam entrar na aldeia? E quem não deixavam entrar?

                                                           FIM
                                                           Lálá  

                                                      (29/Julho/2014) 

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