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quinta-feira, 24 de março de 2016

o farol das vidas delas





foto de Lara Rocha 

Personagens:
- Voz do farol
- Sofia
- Natasha
- Diana
- Carolina

           Era uma vez, uma praia, numa cidade grande e linda. Era uma vez quatro raparigas que não se conheciam de lado nenhum, mas tinham em comum, um desgosto de amor, e a solidão, a baixa autoestima, a tristeza e a desvalorização. Além disso, tinham também a vontade de acabar com a própria vida, mas o farol da praia onde fazem essa tentativa, muda a vida delas. Numa manhã, bem cedo, ainda o sol não tinha dado sinal, Sofia é a primeira a chegar à praia, com grandes olheiras, depois de não pregar olho há várias noites, triste, a chorar e a arrastar os pés, despenteada, e vestida de preto. O farol faz a vigilância do costume, com a sua luz, pelo mar, e pela areia. De repente, vê uma sombra na praia.
FAROL – Mas o que é isto…? Uma pessoa, aqui a esta hora…?
          O Farol pega nos binóculos e aumenta a imagem da sombra.
FAROL – Uma mulher…? (p.c) Será que estou a ver bem…? (volta a pôr os binóculos) A esta hora... neste sítio, e sozinha…Huuuummmm…não me cheira bem!
      Os pescadores lançam-se ao mar com os barcos, e passam indiferentes pela rapariga. O farol ilumina a praia toda, mas igualmente atento à sombra que viu. De repente, Sofia murmura.
SOFIA (triste) – Desculpem…Papá, e Mamã…mas não aguento mais.
FAROL – Não posso acreditar. O que é que esta fez…e o que é que vai fazer.
SOFIA – Acabaste com a minha vida maldito.
FAROL – Quem…?
SOFIA – Nunca te vou perdoar.
FAROL – A quem?
SOFIA – Grande besta.
FAROL – Eu?
SOFIA – Cabrão…! Odeio-te.
FAROL – Eu…? Odeias-me a mim…? Mas o que é que eu fiz…?
SOFIA – Maldito…
FAROL – Que mau humor, logo de manhã.
SOFIA – Odeio-te, e odeio-me. Quer dizer, eu não me odiava, tu é que me fazes odiar a mim mesma…! Cabrão…
FAROL – O quê? Mas o que é que eu tenho a ver contigo…? Nunca te vi por aqui antes…será que…é pela minha luz…? Olha, se não gostas dela…não tens que estar aqui…aliás, a esta hora tinhas mesmo era que estar a ver a minha luz para dentro.
SOFIA – Porco…!
FAROL – Quanto a isso não posso fazer nada…fala com o cú das gaivotas.
SOFIA – Monstro…
FAROL – Claro que sou monstro…à beira do ser humano minúsculo…mas isso tenho de ser, para dar uma boa luz à praia toda, e aos pescadores que trabalham.
SOFIA – Anormal…
FAROL – Ai, que eu já me estou a passar…! (grita) Óh criatura…pára de me insultar…se faz favor…! (p.c) Acordaste de pernas para o ar, não fui eu que te virei. (p.c) Vai dormir, pirralha…isto não são horas de estar aqui.
(Sofia estremece, olha para todo o lado e não vê ninguém).
SOFIA – Já estou a ouvir coisas…! Deve ser a minha tristeza, e de não dormir. (p.c) Claro, com aquele maldito sempre na minha cabeça...como hei-de dormir.
FAROL – Óh palerma…!
SOFIA – Outra vez…quem é que está a falar…? Não vejo ninguém…!
FAROL – Pois…deve ser o sono…olha que eu sou bem grande…que toupeirice!
SOFIA – O quê?
FAROL – Sim, estou mesmo do teu lado esquerdo…!
SOFIA – Ui, és o meu coração…?
FAROL (ri) – Não, estúpida…sou o farol.
SOFIA – O quê...um farol a falar comigo…? Um farol…? Não pode ser.
FAROL – Lá porque sou de pedra, já não posso falar contigo…? És racista não?
SOFIA – Não pode ser…! Acho que estou louca…
FAROL – Louca…é apelido.
SOFIA – Também, agora não me interessa…vou acabar comigo.
FAROL – Vais fazer o quê?
SOFIA – Vou-me atirar ao mar.
FAROL – Lamento informar-te, mas o mar já está cheio de gente…e de porcaria…não precisa de mais.
SOFIA – O que é que isso te afeta?
FAROL – Afeta a todos vocês, que levam com bactérias e lixo, poluição…depois apanham doenças.
SOFIA – Sou mesmo uma porcaria! Eu sei…mas podias ser mais deliciado…estou a sofrer.
FAROL – Óh, minha filha, não sou cínico, ao contrário de todos vocês, seres humanos. (p.c) Só a porcaria é que diz o que tu estás a dizer…!
SOFIA – E sou…o meu namorado…cabrão, idiota…besta…porco…acabou comigo…é porque sou mesmo uma porcaria.
(Gargalhadas sonoras do farol)
FAROL (a rir) – Ai…o porco…o cabrão…e os outros todos que disseste eram os irmãos gémeos do teu namorado?! (p.c) Pensei que estavas a falar de mim.
SOFIA – O quê…? (p.c) Tu ouviste a insultar o meu namorado?
FAROL (a rir) – Óh, rapariga…eu sou de pedra mas tenho ouvidos. (p.c) Toda a praia deve ter ouvido…quer dizer…os que estão lá em baixo não ouviram com certeza. (p.c) Era uma delícia, o teu namorado…! Estou a ver…pelo que estás a descrever…! (ri-se)
SOFIA - Estás-te a rir na minha cara…? Eu, prestes a atirar-me ao mar, e tu ris-te descaradamente na minha cara…?
FAROL (a rir) – Desculpa…! (p.c) Mas é que isso dá mesmo vontade de rir…tu vais atirar-te ao mar, por causa de um gajo…?
SOFIA – Sim.
FAROL (gargalhadas) – Francamente…o que é que tu bebeste…?
SOFIA – Queria beber veneno.
FAROL – E por acaso és algum parasita, para beberes veneno?
SOFIA – Sou abaixo disso.
FAROL – Abaixo disso…? Não conheço o que vem abaixo disso…talvez um vírus…!
SOFIA – Eu vou-me atirar ao mar.
FAROL – Olha que está frio, e o mar está picado.
SOFIA – Melhor ainda. Está mesmo bom para fazer o que quero.
FAROL – Não estamos no Verão.
SOFIA – Que me interessa…! (p.c) Não fales mais comigo.
FAROL (ri-se) – Coitadinha…não bate as bolinhas todas…!
SOFIA – Odeio bolinhas…!
FAROL – Mas tens muitas bolinhas pelo teu corpo todo…! O que lhes vais fazer…?
SOFIA – Eu tenho bolinhas…?
FAROL – Sim! (p.c) E duas delas, bem grandes.
SOFIA – Quais…?
FAROL (ri) – Essas, aí perto da barriga…mais a cima…!
SOFIA – Estás a falar das minhas mamas.
FAROL (ri) – Não sei o nome…sei que é muito comum em vocês…e bem bonitas!
SOFIA – Que palerma…!
FAROL (ri) – Eu a elogiar, e ainda levo um atestado de palerma.
SOFIA – Pouco me interessam os teus elogios. Vou atirar-me ao mar…não quero saber de mais nada.
FAROL (ri) – Olha que o mar, não tas pode apertar…! Não tem mãos.
      Passa Natasha a correr, desesperada, para o mar.
FAROL – Atira-te agora…!
      Sofia levanta-se rapidamente, e vai a correr atrás de Natasha. As duas, quase levam com uma onda, mas caem na areia. Sofia agarra Natasha.
FAROL (feliz) – Boa! Mesmo a tempo.
NATASHA (grita) – Larga-me!
SOFIA (grita) – Não…!
NATASHA – Larga-me. Não me podes impedir de acabar comigo.
SOFIA – Eu também ia acabar comigo, mas acabei de mudar de ideias.
NATASHA – Se mudaste de ideias, melhor para ti…mas eu não mudei…e não me podes impedir de fazer o que eu quero.
SOFIA – Posso sim…já que nos encontramos aqui.
FAROL (ri) – Fez-se luz naquela cabeça.
NATASHA (a chorar) – Deixa-me…eu não quero mais estar neste planeta.
FAROL (ri) – Não deves ser mesmo deste planeta, para estar a fazer esta loucura, e a dizer isto…!
SOFIA – Eu também não queria…quer dizer…queria…mas não a passar o que estou a passar.
FAROL – Ai, valha-me todos os santos e mais alguns dos mares…!
NATASHA (a chorar) – Deixa-me ir…não estou a fazer falta nenhuma.
SOFIA – Cala-te…! (p.c) Dá-me um abraço…! Por favor…!
NATASHA (a chorar) – Estás louca…? Vou dar um abraço a uma desconhecida…? Larga-me, eu não quero abraço nenhum…quero é acabar logo com isto.
FAROL – Outra! (p.c) Meninas…atenção!
       Passa Diana a correr, desvairada, louca, a chorar e a gritar, e tenta atirar-se ao mar, mas Sofia passa-lhe um traço, e ela cai junto das outras.
DIANA (a chorar) - Parvalhona. (p.c) Não acredito…! Raios…!
FAROL – Sim…ainda estou ligado, é natural que vejas os meus raios de luz!
SOFIA – Não vás.
DIANA (a chorar) – Mas quem és tu para dizer o que eu posso fazer ou não…?
SOFIA – Eu queria fazer o mesmo, mas de repente, uma força apoderou-se de mim. 
NATASHA (a chorar) – A minha força ia empurrar-me para o mar…mas esta cabra impediu-me…!
SOFIA – Se eu estivesse sozinha já o teria feito, mas vi-te…e ia contigo, só que ao chegar aqui…tudo mudou.
FAROL (a rir) – Claro. Acordaste…boa!
DIANA (a chorar) – Não me podes impedir.
SOFIA – Posso sim…impedi esta, também posso impedir outra…!
FAROL (grita) – Cuidado meninas…vem aí uma mega onda…! Afastem-se.
      Uma grande onda, rebenta em cima delas, e elas são arrastadas para a areia, enroladas umas nas outras, a gritar, e às voltas. Chega Carolina à praia, para se suicidar, e vê as três raparigas todas enroladas, cheias de areia, umas por cima das outras, atordoadas, sem se mexerem.
CAROLINA (horrorizada) – Ai…corpos na areia…! O que é que aconteceu aqui?
FAROL (ri) – Elas só estão a levar uma lição…!
CAROLINA – Não está mais ninguém aqui…! (p.c) Ai, que horror…! (p.c) E logo agora que eu vinha desaparecer…! (p.c) O que é que eu faço…? (p.c) Talvez…chamar a polícia…? (p.c) Ai…
FAROL (sorri) – Não é preciso…!
CAROLINA – Será que…estão…ai…!
         Carolina toca-lhes a medo…elas começam a tossir, e a deitar água fora, Carolina estremece, e fica estarrecida com o susto, a olhar para elas. Elas sentem-se estranhas, levantam-se, e percebem que estão entrelaçadas. Começam a gritar e a tossir, instala-se a confusão, ao tentar desentrelaçar-se, gemem, rodam, puxam os membros umas às outras, tossem, cospem areia. Quando estão desentrelaçadas olham umas para as outras, e para Carolina. O Farol ri-se. Carolina respira de alívio.
CAROLINA – Ai, que susto!
SOFIA – Estás a rir-te de quê?
CAROLINA – Eu não me estou a rir…!
FAROL (a rir) – Que espetáculo lindo…! Áh, áh, áh…!
NATASHA – Mas…eu estou a ouvir vozes…?
FAROL – Sim, sou eu…! (p.c) E sou bem grande. Só não me vês se não quiseres.
SOFIA – É aquele, de pedra que está a falar…!
DIANA – Ou é…a nossa imaginação…?
NATASHA – Pode ser a nossa vontade de ter alguém a falar connosco. Ou é esta rapariga…?
NATASHA – O que é que estás a olhar…?
SOFIA – Tu não estavas na praia…!
CAROLINA (ainda assustada) – Estão bem?  
NATASHA – Será que conseguimos o que queríamos…?
         Olham em volta
SOFIA – Estamos no mesmo sítio.
FAROL (sorri) – Sim.
NATASHA – Não acredito!
DIANA – Estamos vivas…? É isso.
FAROL – Sim.
CAROLINA – O que é que vos aconteceu?
NATASHA – Eu pensei que me tinha suicidado.
SOFIA – Eu também.
DIANA – Eu igual…mesmo depois desta me ter passado um traço.
FAROL (sorri) – Foram arrastadas por uma onda. (p.c) Eu disse que o mar não queria mais porcaria lá…!
NATASHA – Já sei que não valho nada, mas também escusas de humilhar.  
FAROL (ri) – Estão todas a precisar de óculos.
TODAS – O quê?
DIANA – O que é que nos aconteceu…óh, tu aí que estás a olhar para nós?
CAROLINA – Eu?
TODAS – Sim.
CAROLINA – Não sei…isso queria eu saber…!
SOFIA – Tu já estavas aqui na praia?
CAROLINA – Não. Quando cheguei vi-vos aqui todas esborrachadas, enroladas umas nas outras…!
NATASHA – Também vinhas para o mesmo que nós?
CAROLINA – Acho que sim...vocês também vinham suicidar-se…é isso?
TODAS – Sim.
FAROL (a rir) – Eu disse que o mar já não queria mais porcaria lá.
DIANA – Fogo, nós já a sentirmo-nos uma porcaria, e ainda vens tu, carregar mais…!
NATASHA – És homem com certeza…
FAROL – Sim, mas o que é que isso tem a ver…? Sou estou a dizer que o mar não quer mais porcaria lá.
DIANA – Estás a incluir-nos na porcaria, certo?
FAROL – Sim…mas não são vocês, a porcaria…porcaria era o que vocês iam fazer.
TODAS – Cala-te.
DIANA – Tu não sabes nada!
NATASHA – Não tens a mais pequena noção do nosso sofrimento.
FAROL (ri) – Coitadinhas.
SOFIA – Senta-te ao menos…rapariga…
          As quatro estão sentadas, olham-se fixamente, umas para as outras, sem dizer nada, tristes.
CAROLINA – Vocês estão, feridas…? Querem ajuda…?
TODAS – Não.
FAROL – Curtas e grossas…! (p.c) Estão vivas…devem estar felizes.
SOFIA – Que grande vantagem…
NATASHA – A dor continua.
FAROL – É para vocês a suportarem.
DIANA – Se fosse contigo, queria ver o que fazias…!
FAROL – Mas que dor é essa?
TODAS – Dor de amor. (p.c. Olham umas para as outras) Também?
FAROL (gargalhadas) – Que bonito…parecem um coro.
TODAS – Cala-te.
SOFIA – Para de nos gozar.
FAROL (às gargalhadas) – Desculpem, mas é tão ridículo, que a única resposta que tenho para vocês é rir-me.
TODAS – Ridículo?
FAROL (gargalhadas) – Sim. Não pode ser mais…!
TODAS – Porquê?
SOFIA – Partiram-me o coração…! A besta do meu ex acabou comigo.
FAROL – E precisas dele para alguma coisa…?
SOFIA – Precisava.
FAROL – Para te usar e deitar fora…?
SOFIA – Como é que sabes?
FAROL (ri) – Querida…não penses que és a única que vens para esta praia, para fazer a mesma loucura que tu…são centenas!
TODAS – A sério?
FAROL – Sim, sim…! Eu já conheço todas as histórias…ridículas…!
NATASHA – Porque é que dizes que somos ridículas…?
FAROL – Claro que sim…onde é que já se viu, umas raparigas novas, tão bonitas, querem fazer esta loucura, só por causa de um idiota…com milhares de homens…e suicidam-se por um anormal toupeiresco!
TODAS – Toupeiresco?
FAROL – Claro…aquele que não vê nada…vê com o olho dos entrefolhos…que pouco ou nada vê e só vê o que está mais ou menos à sua frente…uns mais a cima, outros mais abaixo…dependendo da altura da mulher.
DIANA – Tu andas bem informado!
NATASHA – O meu…acabou porque eu não queria fazer amor com ele.
CAROLINA – O meu também…!
SOFIA – O meu também, apesar de eu achar que foi por ter arranjado outra qualquer.
FAROL – Lá está! (p.c) Estão a ver como eu tenho razão? (p.c) Sou de pedra, mas sei bem o que digo!
SOFIA – Mas…se eu tivesse aceite…ele estaria ainda comigo.
TODAS – Eu também.
FAROL (gargalhadas) – Enganam-se. Isso era o que vocês queriam. (p.c) Tenho a certeza que ele ia usar-vos e deitar-vos fora a seguir.
TODAS – Que horror.
CAROLINA – Mas isso já foi o que eles fizeram.
FAROL – Mas vocês foram muito superiores a eles…!
DIANA – Eu acho que fui uma idiota.
NATASHA – Eu também acho…mas na altura não queria mesmo.
FAROL – E muito bem…não querias, disseste que não! (p.c) Deviam ter todas orgulho nisso.
TODAS – Orgulho…?
FAROL – Claro.
CAROLINA – Eu tenho é vergonha de ter sido tão idiota.
FAROL – Desculpa, idiota foi ele, que só estava contigo para te comer…!
CAROLINA – Achas?
FAROL – Tenho a certeza…! (p.c) Aposto como também fizeram chantagem convosco…!
TODAS – Sim.
FAROL – E vocês não cederam…certo?
TODAS – Certo.
SOFIA – Foi por isso que o meu acabou.
TODAS – O meu também.
FAROL – Devem ficar orgulhosas disso!
TODAS – Orgulhosas…?!
NATASHA – Todos vão achar que sou mesmo uma betinha.
SOFIA – De mim, igual. Aliás, já toda a gente acha isso de mim.
FAROL – E que valor é que isso tem para vocês?
NATASHA – Para mim tem…porque já sou gozada, e o cabrão ainda foi dizer aos estúpidos dos amiguinhos que eu não presto.
FAROL – Ele é que não presta, porque se fosse homem de verdade, não fazia isso! (p.c) Vocês deviam ter orgulho pela decisão que tomaram…!
TODAS – Mas perdemos.
FAROL – Perderam…? (p.c) Até parece que perderam grande coisa…nunca o tiveram.
CAROLINA – Eu namorei com ele, perdi-o…por não querer fazer amor com ele.
FAROL – Muitos parabéns por essa decisão.
CAROLINA – Achas que sim?
FAROL – Sim. Deste-te ao respeito…! (p.c) Ele não viu com os dois olhos da cara, o que perdeu…é problema dele. (p.c) Só tiveste a ganhar com isso.
TODAS – Pois…!
NATASHA – Tu falas porque não foste tu que perdeste…!
DIANA – É…e não sabes a dor que é perder…!
FAROL (ri) – Vocês estão a falar de uma maneira…! Parece que é o fim do mundo.
TODAS – E é.
FAROL – Desculpem lá…que limitação!
TODAS – O quê?
FAROL – Sim…estão a ser muito limitadas…!
SOFIA – Não percebo porque estás a dizer isso de nós.
CAROLINA – Nós estamos a sofrer muito.
FAROL – Queridas, eu entendo o vosso sofrimento, mas estão a exagerar.
DIANA – Não…eu não queria mais, nem quero sentir esta dor.
NATASHA – Esta dor…é sufocante.
TODAS – Aaaaaaaiiiiiii…!
FAROL – Vá lá, Julietas…não sejam tão dramáticas…! (p.c) Vocês ainda são umas crianças…ainda vão ter muitos desgostos. (p.c) Faz parte, e ajuda-vos a crescer.
SOFIA – Com dores…realmente é muito animador…muito bom.
NATASHA – É…para quem não as sente.
TODAS – Pois.
CAROLINA – Já alguma vez tiveste um desgosto?
DIANA – Que estupidez…achas que um farol tem sentimentos?
FAROL – Óh…quantos…! (p.c) Nenhum amor meu é correspondido. (p.c) Sou apreciado, mas ninguém se envolve comigo.
TODAS – Claro que não.
SOFIA – És de pedra.
NATASHA – Uma pedra é o que eu sinto, no lugar do meu coração!
DIANA – Eu também.
SOFIA E CAROLINA – Eu também.
FAROL – Acham que o vosso ex…está a sofrer como vocês?
TODAS – Espero que sim…
FAROL (ri) – Pois, pois…nos vossos sonhos.
SOFIA – Achas que não?
FAROL (ri) – Ele…já se está a esfregar noutra…ou noutras.
SOFIA – Ááááhhh…que cabrão.
DIANA – Como é que sabes?
NATASHA – Estiveram aqui?
FAROL – Sei…eu vejo tudo. Estiveram aqui, numa grande festa…todos felizes, a comer raparigas…umas atrás das outras…!
TODAS – Nãããoooo...
FAROL – Sim. É verdade! (p.c) Mais uma vez vos digo…deviam estar orgulhosas por ter dito que não, mesmo que eles tenham acabado. (p.c) Se acabaram, é problemas deles…foi quanto perderam…! (p.c) Deixem os touros à solta…! (p.c) Coitados…! (p.c) Podem ter a certeza que foi o melhor que podiam ter feito…terem-lhes espetado com o não nas trombas. (p.c) Deviam ser todas assim…! (p.c) Quando é não…é não…independentemente das consequências.
TODAS – Porquê?
FAROL – Assim eles aprendiam a respeitar as mulheres, a tratá-las como deve ser…como rainhas, com delicadeza, e aprendiam que elas têm vontades, como eles…mas têm acima de tudo, sentimentos, e valores. (p.c) Se levassem nãos, nas fuças…aprendiam a abrir e a usar os olhos da cara, e do coração…em vez do olho toupeira, do centro…! (Elas fazem silêncio e ficam pensativas) Vocês não têm nada que ter vergonha, ou preocupar-se com as outras…o que elas fazem, é problema delas…o que importa é o que vocês fazem. (p.c) E acreditem que foi de facto o melhor que podiam ter feito! (p.c) Pensem…iam deixar de ver este lindo nascer do sol…esta praia…este mar…e a minha luz…por causa de um toupeirão...da idade da pedra? (p.c) Francamente…disso é que deviam ter vergonha…! (p.c) Vocês deviam era vir para a praia, passear com um sorriso de orelha a orelha…esses sorrisos lindos, e esfregá-lo na fuça do vosso ex…só para ele perceber que não teve qualquer valor para vocês…!
TODAS – E a nossa dor?
FAROL – A vossa dor vai passar, com certeza. (p.c) E vocês são suficientemente fortes para aguentar essa dor, e muitas outras que venham… (p.c) porque vocês são mulheres… (p.c) E as mulheres são mais emocionais… (p.c) Quem não vos dá valor é porque também não o tem! (p.c) Vocês são muito mais que essa dor…e que esse desgosto. (p.c) Vocês valem muito mais que esses cromos que vos deixaram. (p.c) E haverão muitos mais a magoar-vos, até aparecer aquele que vos vai ver como de facto interessa…com os dois olhos da cara, e com os olhos do coração.
NATASHA – O coração tem olhos?
FAROL – Claro que sim…qualquer coração tem olhos, mas nem toda a gente os usa. E os homens são um exemplo disso…mas é só até uma dada altura…! Enquanto são putos. Quando amadurecem, tudo muda. (p.c) Para amadurecer, têm de bater com os cornos várias vezes!
SOFIA – Eu quero o meu os parta bem…até eu os partia.
FAROL (ri) – Não sujes as mãos…fica descansada…ele vai mesmo parti-los. (p.c) Vocês iam poluir o mar, por causa de um brutamontes…? (p.c) Ora, ora…! Iam deixar a vossa casa, os vossos pais…tudo o que vocês adoram, por causa de um calhau? (p.c) Sinceramente…! (p.c) Acham que essa toupeira merece, o vosso fim…? 
TODAS – Não.
FAROL – Mas iam fazer isso…! (p.c) Deem valor a vocês mesmas, em vez de dar a quem não tem o mínimo. (p.c) Tanta coisa bonita à vossa volta, e iam cometer a loucura de acabar convosco por causa de uma besta quadrada…? (p.c) Eles estão a rir-se na vossa cara, a achar-se o máximo…e irresistíveis… (p.c) Vocês não precisam deles para nada…aliás, até deviam agradecer por eles terem saído da vossa vida. (p.c) Vão ver como eles vão ficar, quando vos virem a sorrir, mais lindas que nunca… e toda a gente a olhar para vocês…eu então…com alguém ao lado! (p.c) Olhem para vocês…! (p.c) São tão bonitas…! Não é porque um imbecil vos deixou que vocês são feias…! (p.c) Tenham orgulho em vocês…principalmente por terem dito que não queriam…por se terem respeitado a vocês mesmas. (p.c) Isso é muito bonito.
(Elas olham-se, sorriem)
TODAS – Dóóóóóóóiiiii…!
FAROL – Pois dói…mas vai passar.
SOFIA – Eu acho que a minha nunca vai passar.
FAROL – Ora, ora…vai passar mais depressa do que tu imaginas!
NATASHA – A minha também acho que não vai passar…
FAROL – Dói agora, mas a partir do momento em que perceberem que foi o melhor que podiam ter feito…a dor vai passar…quando tiverem orgulho em vocês mesmas. 
CAROLINA – É muito difícil.
FAROL – Nada é fácil…ainda bem, pois se fosse tudo fácil, perdia a piada.
DIANA – Custa muito.
FAROL – Ninguém disse que não custa, mas eu sei que vocês são superiores.
SOFIA (sorri) – Está-me a saber bem ouvir estas coisas…esses elogios todos.
FAROL – São do fundo do meu coração…quer dizer…do meu motor…!
(Elas riem) Que riso tão bonito.
TODAS (sorriem) – Obrigada.
FAROL (sorri) – Verdade! (p.c) Olhem...vão à vossa vida…! (p.c) Felizes! (p.c) Sorridentes, poderosas, lindas, maravilhosas…para esfregarem bem esfregado nas fuças dos vossos ex…o que eles perderam. (p.c) E sejam orgulhosas…! (p.c) Façam o mesmo na próxima relação que tiverem…se não quiserem…!
(Elas olham-se)
CAROLINA – Estamos juntas…!
NATASHA – No barco da tristeza e da dor…!
SOFIA – Estamos vivas…!
DIANA – Nem nos apresentamos…!
FAROL – Estão a ver…a onda juntou-vos, e deu-vos uma grande lição! (p.c) O resto é convosco.
         As quatro apresentam-se, olham-se fixamente, e desatam às gargalhadas.
DIANA (a rir) – Olhem a nossa figura…!
SOFIA (a rir) – Realmente…!
NATASHA (a rir) – Tenho quilos de sal e de areia…
CAROLINA (a rir) – Olhem…vamos tomar um banho.
SOFIA – Esperem…antes de irmos embora…e nunca mais nos vermos…porque não falarmos mais um bocado…?
NATASHA – Já que nos encontramos!
CAROLINA – Boa…
DIANA – Não precisamos de não nos vermos nunca mais…acho que depois deste dia…podíamos falar mais vezes, e encontrarmo-nos mais vezes. (p.c) Pensei que estava sozinha, mas não estou.
SOFIA – Sim, trocamos os telefones…
TODAS – Boa!
FAROL (sorri) – Muito bem, isso mesmo.
NATASHA – Acho que nunca mais vamos ser as mesmas.
DIANA – Já não somos as mesmas…eu pelo menos já não sou há muito.
CAROLINA – Eu já nem sei quem sou…desde que aquele monstro acabou comigo.
FAROL (sorri) – Agora juntas, vão reencontrar-se a vocês mesmas, novamente.
NATASHA – Mesmo com dores…acho que…renasci!
TODAS – Eu também.
FAROL (sorri) – Podem ter a certeza que sim.
SOFIA – O Farol tem toda a razão…em tudo o que disse.
FAROL (vaidoso, sorri) – Eu sei que sim. (p.c) Olhem, porque não dão os números de telemóvel umas às outras, voltam para as vossas casas, tomam um banho, arranjam-se, e encontram-se a seguir, para se conhecerem…? (p.c) Vai fazer-vos muito bem.
TODAS (sorriem) – Excelente ideia.
(Levantam-se, cada uma dá o seu número de telemóvel e anotam).
FAROL (sorridente) – Espero-vos aqui, daqui a pouco.
TODAS (sorridentes) – Está bem.
FAROL (sorridente) – Boa. (p.c) Vejam-se bem ao espelho…vejam como são lindas…especiais…cheias de coisas boas…poderosas…! (p.c) Venham comemorar a amizade…! A alegria do nascimento de umas novas mulheres!
TODAS (sorridentes) – Sim.
SOFIA (sorri) – Mais uma vez, estás coberto de razão.
NATASHA (sorri) – Este farol é especial…!
CAROLINA (sorri) – Vamos…encontramo-nos a seguir…! Quem chegar primeiro, dá toque às outras…?
TODAS – Sim.
DIANA – Encontramo-nos neste sítio.
FAROL (sorri) – Excelente ideia.
SOFIA – Sabem o que eu queria agora…?
TODAS – O quê?
SOFIA – Um abraço…!
TODAS – Eu também.
FAROL – Porque não se abraçam umas às outras…? Coletivamente e depois, individualmente…? (p.c) Bem merecem…!
      Elas abraçam-se coletivamente, e depois uma, por uma abraça as outras. Uns abraços longos, cheios de vida, e força, e alegria. Até choram de alegria.
FAROL (emocionado) – Óóóhhhh…que lindo! Que momento tão doce!
SOFIA (sorri) – Senti vida, em cada abraço!
TODAS (sorriem) – Eu também.
NATASHA (sorri) – Que bem que me soube…!
CAROLINA (sorri) – Renasci com estes abraços…!
FAROL (sorri) – Daqui a pouco estou a chorar… (p.c) Aaaaaiiii…!
(Todas riem)
NATASHA – Bem…até já…!
TODAS (sorridentes) – Até já…
        Dão as mãos, e vão a casa. Descobrem que moram muito perto umas das outras, e falam pelo caminho, riem. Cada uma na sua casa, sorri, toma banho, olha para o espelho, arranja-se toda, e voltam a encontrar-se na praia. Olham umas para as outras, sorriem, elogiam-se, dão um outro abraço umas às outras, com um novo sorriso.
FAROL (assobia, feliz, e sorridente) – Uau! (p.c) Que sereias…! (p.c) Lindas…! (p.c) Já nem parecem as mesmas.
TODAS (sorriem) – Obrigada.
FAROL (sorridente) – E um novo sorriso.
        Dão as mãos, olham para o mar, sentem o vento a levantar os cabelos, e sentem uma nova força, olham-se.
CAROLINA (sorri) – Sinto uma nova força…!
TODAS (sorriem) – Eu também.
SOFIA (sorri) – Parece a força do mar.
DIANA (sorri) – Ou do vento…
NATASHA – Pode ser…mas eu sinto principalmente a força de uma amizade que está a começar hoje…!
TODAS (sorriem) – Eu também.
SOFIA – Sinto a força de uma nova vida…!
TODAS (sorriem) – Eu também.
FAROL (sorri) – E eu sinto a força do renascer de umas novas mulheres…!
TODAS (sorriem) – Sim…novas mulheres!
      Todas abraçam o farol, sorridentes, e de mãos dadas.
FAROL (sorri) – Que bom…! A minha luz até vai ser mais forte esta noite…!
TODAS (sorriem) – Muito obrigada!
SOFIA (sorridente) – A nós também nos deste uma nova luz.
TODAS (sorridentes) – Sim.
FAROL (sorri) – Vejo uma nova luz no vosso olhar…! Que lindas que estão. (p.c) De facto…o nascimento de novas mulheres!
SOFIA (sorri) – Viva a força e a luz da amizade.
TODAS (sorriem) – Viva!
FAROL (sorri) – Quero voltar a ver-vos aqui mais vezes.
TODAS (sorridentes) – Voltaremos.
FAROL (sorri) – A luz da vossa amizade, é muito mais intensa que a minha luz…nunca a apaguem.
TODAS – Nunca.
NATASHA (sorri) – A nossa luz, e a luz desta nova amizade, brilhará para sempre…
DIANA (sorri) – Cada vez mais forte.
TODAS – Sim.
CAROLINA (sorridente) – E cada vez mais bonita.
TODAS – Sim.
FAROL (sorri) – Vocês são maravilhosas…!
SOFIA (sorri) – Vamos tomar o pequeno almoço…e dar uma volta?
TODAS (sorriem) – Claro…é já…
FAROL (sorri) – Isso. (p.c) Estarei sempre aqui.
TODAS (sorriem) – Nós também.
SOFIA (sorri) – Nunca te poderemos virar as costas!
NATASHA – De maneira nenhuma…tu salvaste-nos.
FAROL (sorri) – Eu…?
TODAS – Sim.
CAROLINA (sorri) – Deste-nos novas amigas.
DIANA (sorri) – Fizeste-nos renascer!
TODAS (sorriem e gritam) – Novas mulheres…!
FAROL (sorri) – Ai, estou tão feliz…
TODAS (sorriem) – Nós também.

VOZ - OFF - E as raparigas caminham felizes, de mãos dadas pela praia, e vão tomar o pequeno-almoço a falar alegremente. O farol transformou a vida destas raparigas, e elas próprias construíram um novo farol, que as ilumina a partir desse dia…a amizade! Pois a partir desse dia, tornaram-se inseparáveis…até a dor do desgosto passou mais depressa…a força da amizade ofuscou toda a dor. É isso que acontece muitas vezes na nossa vida…temos sempre um ou vários faróis, quando o nosso coração fica partido, ou dói…! Temos o farol da família, o farol das amigas e, ou, amigos…o farol da alegria…o farol das cores…o farol da força interior…o farol…vontade de viver…o farol…coragem…o farol…autoestima…amor-próprio e respeito por nós mesmas…e por fim…o farol das coisas boas…das coisas bonitas…como a Natureza! E esses devem estar sempre presentes...não importa quais sejam…nem que seja apenas um deles…de cada vez…o importante é que exista, quando a tristeza bate à porta e a dor é mais forte que a alegria. A dor é que nos faz crescer…a seguir à dor…transformamo-nos em pessoas melhores, em pessoas diferentes e mais fortes. E tudo passa a ser diferente. Nada pode servir de pretexto para apagar as luzes da nossa vida e do nosso dia-a-dia…as luzes da nossa pessoa...muito menos por causa de um homem que nos rejeita, ou por dizermos que não. A nossa vontade deve estar em primeiro lugar, e o nosso respeito por nós mesmas…se o outro recusa, e acaba é porque não nos merece…e aí…é quanto ele perde! Não temos que ir atrás dele…haverá outro que nos dará valor. E há pessoas e coisas muito mais importantes do que um idiota masculino, que não tem nada na cabeça. Meninas…acordem…não há nada de mais importante do que nós próprias…cada uma de nós, os nossos sentimentos…as nossas vontades! Parem de dar valor a quem não o tem…e de pôr termo á vossa vida, ou estragar o vosso corpo, só porque querem agradar aos homens…! Tudo é ilusão…o vosso e o nosso verdadeiro valor está no interior…e nós devemos gostar dele…esse sim, é que poderemos fazer alguma alteração para melhorar, se não gostamos de alguma característica…agora…o exterior…?! Deixem-se disso. Ensinem aos homens o verdadeiro lugar deles, e ensinem-lhes que nós mulheres não somos feitas para eles usarem, ou para nos fazerem o que eles querem…ensinem-lhes que quando é não, é não…! Digam não, sempre que quiserem…eles aguentam, e se vos amam e respeitam, vão aceitar. Se não aceitam, é porque não vos merecem…nós mulheres somos muito mais do que eles pensam. Não se deixem pisar, nem permitam que eles vos usem. Aquele que vos amar de verdade será o que vai aceitar os vossos nãos e continuar do vosso lado, mesmo com os nãos.

FIM.
Lálá 
18/Novembro/2012 

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