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sexta-feira, 25 de março de 2016

A fonte das lágrimas (Adultos)

                                                                    foto tirada por Lara Rocha 
                                                          
            Era uma vez uma fonte, numa montanha muito alta, onde muita gente se deslocava para meditar, relaxar e pensar sobre a vida, ou simplesmente para desabafar. A fonte era muito especial, pois a sua água era muito fresca, leve, e dizia uma lenda muito antiga que essa água curava. Até um certo dia, ninguém acreditava que essa água, embora fosse muito boa e leve, curava…Sim, até um dia em que…uma mãe, desesperada, e completamente destroçada, pelo sofrimento de um filho que tinha uma doença grave, sem mais esperanças, sem qualquer luz nos seus olhos, e no seu coração, sem forças, subiu à montanha, quase de gatas, e não acreditava na lenda. Ela queria atirar-se pelo monte abaixo…pois não aguentava mais sofrer. Olhou em volta, cheia de lágrimas, e olha para a fonte nervosa.
MÃE - Tu não existes…! És uma criação de alguém…não tens qualquer poder pois não? (Espreita para a fonte e suspira) Nem sequer tens vida…só tens água!
(Das profundezas da fonte soa uma voz)
FONTE - Tens a certeza?
MÃE - Certeza, de quê?
FONTE - Que eu não tenho vida? Sou apenas água…?
MÃE - Sim. Não passas de água.
FONTE - Mas água é vida!
MÃE - Se fosse vida, o meu filho não estava doente como está!
FONTE - Ora…o teu filho não se alimenta de água…nem tu…mas enquanto não nascemos, estamos debaixo de água…sem ela não vivemos.
MÃE - Não me interessa. A minha vida já não tem sentido.
FONTE - Então, porque estás aqui?
MÃE - Vim atirar-me daqui.
FONTE - Atirar-te para onde?
MÃE - Não sei…para o Universo.
FONTE - Ora essa… (ri) desculpa desiludir-te, mas nunca lá chegarás.
MÃE - Como é que sabes? Já lá tentaste ir?
FONTE - Eu sou o Universo…sou de lá.
MÃE - O quê? Tu não passas de uma fonte, de pedra, com água.
FONTE - E achas que eu apareci como?
MÃE - Alguém te construiu.
FONTE - Sim, é verdade, mas tu tens uma função…porque queres ir para o Universo?
MÃE - Que missão? Sofrer, sem parar?
FONTE - Não. Lutar por quem mais amas, por ti…pelo amor…por muitas coisas.
MÃE - Lutar…? Eu não tenho forças…
FONTE - Tens sim…ainda não a conheces!
MÃE - Não tenho. Achava que tinha alguma, mas não tenho…
FONTE - Ainda não conheces a tua força.
MÃE - Conheço…não existe.
FONTE - Enganas-te!
MÃE - Não…
FONTE - E o amor pelo teu filho, não é uma força?
MÃE - Não.
FONTE - Então como lhe deste vida?
MÃE - Não o fiz sozinho…
FONTE - Mas ama-lo?
MÃE - Claro que sim…mais que tudo…mais que a mim mesma…! Ele está doente…se o meu amor por ele fosse tão forte…ele nunca estaria doente sequer.
FONTE - Os teus pais não te amam?
MÃE - Dizem que sim!
FONTE - E tu nunca ficaste doente?
MÃE - Sim, muitas vezes…
FONTE - Então…? Se ficaste doente, o amor dos teus pais por ti não existe…
MÃE - Eles dizem que sim.
FONTE - Não acreditas?
MÃE - Acredito…
FONTE - Então porque ficaste doente?
MÃE - Isso…foram outras coisas…
FONTE - Pois…e o teu filho também não está doente por falta de amor…! Mas tu podes curá-lo com o teu amor.
MÃE - Isso queria eu…mas se tivesse que acontecer, já tinha acontecido, com tanto amor que tenho por ele.
FONTE - Lava a tua cara na minha água.
MÃE - Para quê? Se me vou atirar?
FONTE - Para clareares a mente…a tristeza está a bloquear-te as ideias…Não faças isso…pensa nos que amas…! Nada justifica fazer isso.
MÃE - Achas que não? E o meu sofrimento?
FONTE - Nem o teu sofrimento…
MÃE - Tu não tens noção do seu tamanho porque não és tu que o sentes.
FONTE - Sei bem o que estás a sentir. Anda…mexe-te…lava a tua cara na minha água.
MÃE - Está bem…vou-me atirar, tanto faz se a tua água é venenosa, ou não.
FONTE - Ainda vais engolir o que estás a dizer.
MÃE - És vingativa?
FONTE - Não.
MÃE - Castigas?
FONTE - Não.
MÃE - Então porque é que estás a dizer que ainda vou engolir o que disse?
FONTE - Experimenta…não me faças mais perguntas. Vem aqui muita gente para o mesmo que tu.
MÃE - E fazes milagres?
FONTE - Não.
MÃE - Então o que é que vem cá fazer?
FONTE - Tudo, menos atirarem-se, por causa de sofrimentos atrozes…
MÃE - Então…?
FONTE - Vêm falar, desabafar, chorar, recarregar baterias…encontrar as suas forças para o sofrimento.
MÃE - Quem és tu?
FONTE - Sou a fonte.
MÃE - És a fonte…? Um conjunto de cimento?
FONTE - Sim…sou o que os teus olhos vêem.
MÃE - E um conjunto de cimento fala?
FONTE - Porque não?
MÃE - Porque as pedras não falam.
FONTE - Cala-te e molha essa cara de uma vez aqui nas minhas águas.
MÃE - Está bem…não me importa o que aconteça.
NARRADORA – A mãe sem pensar duas vezes, molha a cara na fonte, várias vezes, e acalma-se.
FONTE - Agora…pensa com calma…
MÃE - Penso em quê?
FONTE - No que mais desejas…!
MÃE - Atirar-me daqui.
FONTE - Molha outra vez a tua cara.
MÃE - Está bem…
NARRADORA – A mãe molha novamente a cara, olha para a água e grita.
MÃE – Eu quero que o meu filho fique curado.
FONTE – Agora já começamos a entender-nos…repete!
MÃE – Eu quero a cura do meu filho.
FONTE – Muito bem…outra vez…
MÃE – Eu quero a cura do meu filho.
FONTE – Molha outra vez a tua cara…E repete.
MÃE – Eu quero…a cura do meu…filho!
FONTE – Outra vez.
MÃE – Eu quero a cura do meu filho.
NARRADORA – E da bica da fonte caem gotas de luz, uma luz linda, parece quando o sol bate nas gotas, mas esta luz é ainda mais bonita.
MÃE – O que é que está a acontecer?
FONTE – Não faças perguntas…repete o que mais desejas.
MÃE – Eu quero a cura do meu filho.
FONTE – Outra vez…
NARRADORA – Quanto mais a mãe repete, mais gostas de luz se formam, e a fonte fica repleta de milhões de luzes a boiar, e que caem continuamente da fonte.
MÃE – O que é isto…?
FONTE – Agora…bebe dessa água…
NARRADORA – A mãe bebe da bica, grandes goladas de água, e de repente grita, abre um enorme sorriso.
FONTE (ri) – Então…? Como te sentes?
MÃE (grita sorridente) – Ááááhhh…! Não me conheço…!
FONTE (ri) – Como te sentes?
MÃE (sorridente) – Sinto-me…estranhamente…feliz…não sei…desconhecida…será que me atirei mesmo…e estou noutro planeta?
FONTE (ri) – Não…estás no mesmo sítio, mas descobriste a tua força.
MÃE (sorridente) – Força…? Sim…acho que é isso que eu sinto…! Ááááhhh…esta fonte é tão bonita…
FONTE (sorri) – Bebe mais…e leva ao teu filho.
MÃE – Mas…como?
FONTE (sorri) – Num biberão…Podes tomar banho se quiseres…
MÃE – Sim, acho que vou tomar…toda a força é pouca…
NARRADORA – A mãe mete-se na fonte, feliz, e molha-se, mergulha, ficando cheia de luz por fora e por dentro.
FONTE (sorri) – Que linda que tu estás!
MÃE (sorri) – Ááááhhh…! Não sei o que está a acontecer…sinto-me estranha…!
FONTE – Não te assustes…está tudo bem. Agora…vai ter com o teu filho.
MÃE – Mas…eu não tenho aqui nenhum biberão dele.
FONTE – Não faz mal…vai ter com ele.
MÃE – Não sei se podes fazer isto…mas…por favor…se salvares o meu filho, eu trago-o aqui…
FONTE – Vai…!
NARRADORA – A mãe vai a correr ter com o bebé, cheia de força, sorridente, parece quase um furacão, e cheia de luz. Da fonte saem milhões de bolas de água, repletas de luz, que voam da fonte, como se fossem leves bolas de sabão, e pousam no bebé que está doente. Depois, vão aos outros quartos, de outras mães com filhos doentes, e inundam os quartos de luz. A mãe abraça o bebé, e a sua luz, juntamente com as outras luzes, saídas da fonte, cura-o. Como por magia, ou milagre…os outros doentes também ficam curados. As mães gritam...
MÃES (felizes) – Milagre! Milagre!
MÃE (feliz) – Sim, foi a fonte das lágrimas…
NARRADORA – As mães vão com os filhos a essa fonte, para agradecer, molham-se nela, e molham os filhos, saudáveis, e felizes.
MÃE (sorridente) – Fonte…desculpa ter duvidado de ti…
MÃES E FILHOS (felizes) – Muito obrigada.
FONTE (sorri) – Eu disse-te que ainda ias engolir o que disseste, e o que ias fazer…
MÃE (feliz) – Sim, tinhas toda a razão. Seremos-te eternamente gratas.
FONTE (sorri) – Há muita gente que vem aqui, chora comigo, fala comigo, medita, vem procurar forças, no seu limite máximo, e renascem, com esta água!
MÃE (sorri) – Verdade! Eu renasci…com uma nova força.
FONTE (sorri) – É por isso que me chamam…a Fonte das Lágrimas…lágrimas de tristeza, dor, sofrimento, desgosto…que se transformam em lágrimas de felicidade, de força, de alegria…e de amor.
MÃES E FILHOS (sorridentes) – Que lindo.
MÃE 2 – Eu já estava cansada de pedir…e nada…estava a ficar sem forças…
FONTE (sorri) – Esta mãe pediu por todas vós…e por ela…! A mulher tem sempre forças desconhecidas…encontram sempre fontes de força…uma força curativa, poderosa…tão poderosa como o amor que têm pelos seus…! Nunca desistam! Nem quando o cansaço se apodera de vocês, ou a dor. O amor é a vossa força…vocês são a Luz para quem mais amam, mesmo quando não são reconhecidas por eles. Esse reconhecimento vem de outras formas. Procurem na vossa fonte interior, as águas de luz…Vocês têm-nas! São mulheres!
NARRADORA – Ajoelham-se todos, dobram-se sobre a fonte, agradecem em lágrimas de felicidade, acariciam o cimento da fonte, e molham-se. E desde esse dia, todos os que sofriam de algum problema, de tristeza ou solidão iam à fonte das lágrimas, e aí encontravam a sua força interior, renasciam. Todos nós, seres humanos, chegamos muitas vezes ao limite das nossas forças, em que a tristeza toma conta de nós, mas também…dentro de cada um de nós, e à nossa volta, há fontes de luz, onde podemos ir buscar essas forças. Se não encontrarem, recorram a esta fonte das lágrimas, na vossa imaginação. Mães que sofrem…que as luzes desta fonte das lágrimas, em forma de palavras, vá ter convosco, e que vos devolva a força enfraquecida, e adormecida pela dor, pela tristeza…e que as vossas lágrimas de dor, se transformem em lágrimas de luz, que curam quem mais precisa, e quem mais amam! Os verdadeiros milagres acontecem primeiro, em vocês…dentro de vocês…e depois passam para quem mais precisa.


FIM
Lálá
(18/Maio/2013)

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