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sexta-feira, 25 de março de 2016

Mãe Adolescente (monólogo para adolescentes)


Cheguei há bocado do hospital. Pensei que já tinha apanhado grandes sustos na minha vida, mas este foi sem dúvida o maior de todos. Depois de algumas análises e conversas com o médico para despistar intoxicação alimentar ou problemas digestivos, o médico sugeriu que eu fizesse um teste de gravidez. Eu ri-me e pensei: ele está louco…mas como tinham de ter certezas do que era todo aquele mal-estar…não quis dar parte de fraca e fiz. Até porque tinha a convicção e certeza absoluta de que não estava grávida. Eis que estourou uma bomba na minha cabeça e nos meus ouvidos: não é que o raio do teste deu positivo? O quê? Eu? Grávida? Com 15 anos acabados de fazer… Aos 15 anos ninguém engravida…pensava eu, na minha ignorância. E não é na primeira vez que se engravida…! Dizia o meu namorado! Tanto eu como ele não percebíamos nada. Só queríamos curtir o momento e conhecer o nosso corpo…estar um com o outro…era o que tínhamos combinado! Pois…o que combinamos esquecemos rápido. Demasiado rápido…ou acho que nem nos lembramos. Com o fogo da lareira…queríamos era…bem…saborear…! Desculpem…deve haver aqui algum engano. Como é que eu posso estar grávida? Deu-me um ataque de histeria. Seguraram-me e disseram-me: menina acalme-se. Isso faz mal ao bebé. Bebé? Que bebé? O deles? Só se fosse, porque meu nunca podia ser. Eu tinha namorado, mas daí até…Pois! Daí até…! Fez-se luz na minha cabeça. Calei-me. Recordei aquela noite intensa, fria do inverno, na visita de estudo que fizemos a Lisboa. Uma noite louca, activa, de euforia. Éramos namorados, dormimos juntos. Aconteceu! Só dormimos juntos. Dizia eu, com toda a certeza. Depois, veio a lembrança do que aconteceu antes de só dormirmos juntos. Aí…nessa altura…o meu mundo caiu. Pois…é isso mesmo! Antes de dormir…claro! Bem, vocês sabem. Bem bebidos, quartos só para nós, enquanto apanhavam borracheiras até cair, eu e o meu namorado aproveitamos melhor o tempo. Tão bem aproveitado, que até recebemos um prémio. Um rebento. Eu é que rebentei quando soube. E agora? O que vai ser de mim, e da criatura que carrego? Eu não ganho dinheiro…os meus pais não ficaram felizes, mas não tiveram coragem de me pôr para fora de casa. Disseram que eu fui uma irresponsável. E fui. É verdade. Não sei onde estava com a cabeça! E logo eu, que tinha tanto medo de relações e das consequências…o que é que me deu? O que é que vou fazer agora? Menos mal que o meu namorado assumiu, mas ele também está na miséria. Não sei o que vai ser de nós. Também me custa que sejam os meus pais a sustentar-me, mas infelizmente acho que vai ter de ser assim, pelo menos…eles não querem que eu trabalhe, querem que eu continue a estudar, e eu também prefiro, é claro…mas…como é que eu vou sustentar uma cria…? Eu não percebo nada de crianças. Tive muito medo da reacção dos meus pais e do meu namorado, mas felizmente aceitaram bem. Bom…tive de levar a gravidez até ao fim, com a preciosa ajuda dos meus pais. Eles ficaram felizes, quando souberam que vai ser um menino. E eu também. Quer dizer…para mim tanto me fazia. Pensei muitas vezes em não seguir com a gravidez, mas via bebés na rua, e não tinha coragem. Tudo corria bem, até que a relação com o pai do meu filho desabou. Ele ficou doente…quer dizer…louco da cabeça. Tornou-se depressivo e teve uma depressão tão grave que tentou o suicídio e quase conseguia. Ninguém se apercebeu que ele estava a fabricar uma depressão. Mas estava, e só perceberam isso quando o viram cortado em várias partes do corpo, feitas por ele, e ainda por cima quase com uma overdose de medicamentos. Sinto-me até hoje culpada por isso…por nunca ter reparado que ele estava a sofrer…até porque ele não mostrava, mas eu…como namorada devia ter a capacidade de conhecer. Talvez por eu estar mais centrada no nosso filho, e em mim, não reparei. Ainda está internado. Tenho medo da reacção dele. Estou quase no fim do tempo…não sei se vamos voltar, mas o meu filho não vai pagar por isso. Nem pensar! A gravidez correu bem. Tive momentos de grande tristeza, e de alegrias também…graças à minha família que sempre me apoiou. É assustador pensar que aos 15 anos ainda podemos brincar com bonecos, e de repente, aos 15 anos temos nos braços um boneco de carne e osso, que cresce dentro de nós, que se mexe, que chora, que caga e mija… ai…que preocupação. Estou aqui cheia de medo…pesada, angustiada. Ao mesmo tempo que quero libertar-me deste peso e deste volume…tenho muitos medos. Agora não posso voltar atrás. É seguir em frente e crescer à força. Se fosse agora, não me deixava levar pelo calor da lareira…nem pela minha ignorância. Pode-se engravidar em qualquer altura. Raparigas, prefiram bonecos de plástico, não tenham pressa. Pensem muito bem antes de se deixarem levar pelo entusiasmo. Aproveitem ao máximo a vossa adolescência, o mais que puderem…porque um filho muda tudo. O meu filho vai nascer amanhã. A cesariana está marcada para amanhã. Estou com muito medo, mas o amor que já sinto por ele, suaviza a dor e a angústia. Em relação ao pai dele…bom…é possível que entre mim e ele não haja mais nada! Terei de ser forte, e aguentar, mas ele vai ter de assumir as responsabilidades em relação ao filho, porque o filho é um ser humano, e tem uma mãe e um pai…os avós, os tios…ele não se alimenta de ar e vento…implica muitos gastos. Pensava eu que só engravidava quem quer, mas na verdade…só engravida quem quer e quem não pensa, sim…quem se deixa levar pelo fogo do momento, pelo desejo e vontade de divertir, sem pensar nas consequências. Se não partir dele, a precaução deve partir de vocês. E se eles não aceitarem, virá quem aceite…boa noite e um pirolito e até à próxima. Ninguém diz que é fácil, mas somos fortes, e mais cedo ou mais tarde conseguimos superar tudo. Se eles não pensam, pensem vocês! Porque tudo pode acontecer, e não é só aos outros.

FIM
Lálá
(18/Outubro/2014) 

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