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sexta-feira, 25 de março de 2016

A felicidade simples

NARRADORA – Era uma vez um bairro muito pequeno, sossegado, construído num pinhal de uma praia deserta. Estes habitantes viviam poucas pessoas e alguns animais em árvores, em flores, em tocas e em grutas, e ainda outros seres viviam onde calhasse. Os seres humanos daqui, tinham um ar triste, pesado, carrancudo, sério, não conviviam uns com os outros, nem entre si. Uma menina jovem, de nome Diana, que vivia numa vivenda muito perto desta praia, foi passear com o seu cãozinho, como fazia sempre! Ela sorria e cantava o caminho todo, e olhava para a paisagem enquanto o cãozinho farejava, ladrava, corria, rebolava na areia, fazia as suas necessidades e brincava com a dona. O cãozinho meteu-se pelo pinhal, distraído, porque seguiu o cheiro a bolo que sentiu no ar...e vinha de lá, da casa de uma senhora velhinha, mas cheia de energia, a quem chamavam Avó Astro, e estava a fazer um delicioso bolo. Diana não se apercebeu que o cãozinho tinha entrado no pinhal, pois ia tão entretida, mergulhada nos seus pensamentos e na sua imaginação...e o bichinho andou à vontade. Não foi atrás dele, e seguiu para a praia. Alguns habitantes não gostaram da presença do cãozinho, e quando o mestre Mofo gritou...
MESTRE MOFO (grita) – Intruso!
NARRADORA – Mais alguns habitantes cercam-no com um ar assustador e numa roda tão fechada que o pobre bichinho não tinha por onde fugir.
DONA MÓMÓ – Mas o que é isto?
DONA QUICA – Não sei...mas não gosto dele!
SR. CARAPAU – Mas...o que temos aqui mestre?
MESTRE MOFO – Intruso!
SR. CILINDRO – Mas...que tipo de intruso?
MESTRE MOFO – Não conheço.
DONA ESPONJA – Mas...ele tem um ar...assombrado!
SR. ESPONJA – De onde saiu esta coisa?
MESTRE MOFO – Não vi! Sei que apareceu aqui!
DONA MAFA – Será um extra-terrestre?
NARRADORA – Enquanto tentam adivinhar a origem do bichinho, ele está muito assustado, encolhe-se, ladra...ficam todos assustados.
DONA NÊSPERA – Que raio de língua é que esta coisa fala?
TODOS – Não sei.
MESTRE MOFO – Não é a nossa, com certeza!
SR. CARAPAU – E agora...como nos vamos entender com ele?
SR. ESPONJA – Ele não pode estar aqui!
TODOS – Pois não!
DONA ESPONJA – Chutamo-lo!
DONA MAFA – Sim, boa ideia! E ficamos a ver se aparece algum ser estranho que o procure para lhe darmos uma boa ensinadela!
DONA NÊSPERA – Espero bem que se despache, porque eu não gosto dele.
NARRADORA – Aproxima-se a Avó Astro, que toda a gente respeita. A Avó Astro pergunta, quando vê todos em roda:
AVÓ ASTRO – O que é que se passa aqui...?
MESTRE MOFO – Intruso!
AVÓ ASTRO – Desviem-se...quero ver!
DONA NÊSPERA – É melhor não, Avó Astro!
DONA ESPONJA – Também acho, Avó...pode ser perigoso para si!
AVÓ ASTRO – Desviem-se!
TODOS – Não!
AVÓ ASTRO (grita) – Já disse para se afastarem e deixarem-me ver...e é agora!
MESTRE MOFO – Mas, você sabe o que está a dizer...? (p.c) Não pode estar no seu juízo perfeito.
AVÓ ASTRO (grita, zangada) – Mas que grande lata! (p.c) Olha o respeito! (p.c) Sou velha mas ainda estou no meu juízo perfeito! (p.c) Mais do que tu estás! (p.c) Desviem-se todos imediatamente, ou eu solto já os meus lobos!
SR. ESPONJA – Não, Avó...não precisa! (p.c) Este já é muito perigoso!
AVÓ ASTRO (grita) – Deixem-se de coisas e afastem-se (p.c) Seja o que for...eu não tenho medo!
NARRADORA – Todos se afastam assustados e preocupados.
DONA MAFA – Cuidado!
DONA NÊSPERA – Ele tem um ar assustador.
AVÓ ASTRO (irónica) – Imagino...! (p.c) Mas...já se viram ao espelho?
DONA ESPONJA – E não fala! Faz um ruído!
NARRADORA – A Avó Astro sabe que é um cão, sorri, pega nele ao colo carinhosamente, todos levantam as armas com ar ameaçador e o cãozinho está a ganir e a tremer. Aproxima-se o Mestre Fogo. Todos fazem uma vénia.
AVÓ ASTRO (ri) – Baixem essas porcarias...seus primitivos.
MESTRE FOGO – O que há?
AVÓ ASTRO (ri) – Estão com medo deste bichinho!
MESTRE FOGO (às gargalhadas) – Áh, áh, áh...o quê? (p.c) Medo de um cão...? (p.c) Mas que desperdício de energias!
TODOS (intrigados) – Um cão?
AVÓ ASTRO E MESTRE FOGO (a rir) – Sim...um cão.
MESTRE FOGO (ri) – Eu já conheço este ser! Passa aqui todos os dias, com uma menina que está na praia.
DONA NÊSPERA – Claro! Então este intruso pertence aos estúpidos dos terrenóides.
AVÓ ASTRO – São humanos como nós.
DONA ESPONJA – Ele tem um ar assombroso! Ou...parece uma coisa misteriosa.
MESTRE FOGO – Que ignorância. Isto não faz mal nenhum.
SR. ESPONJA – Nunca o vimos aqui.
SR. CILINDRO – O que fazemos com ele?
AVÓ ASTRO (grita) – Nada! (p.c) Apenas deixem-no em paz...livre!
MESTRE FOGO – Pois claro! (p.c) Se ele apareceu aqui...é porque tem alguma mensagem muito importante ou alguma missão para nós.
AVÓ ASTRO – Claro que sim. Ou ele, ou a dona dele!
MESTRE MOFO – Mas, ele invadiu o nosso território!
MESTRE FOGO (grita) – Cala-te! Não digas asneiras!
AVÓ ASTRO – Nós é que sabemos.
DONA MAFA – Mas...ele é um perigo para nós.
AVÓ ASTRO – Que perigo? Perigosa és tu! (p.c) O bicho deve ter sentido o cheiro a bolo...! (p.c) Vou dar-lhe água, e um bocadinho de bolo! (p.c) E, ai de quem fizer o que quer que seja contra ele, ou contra a dona.
SR. CILINDRO – Não acredito...está a dar tanto valor a um intruso.
AVÓ ASTRO (grita) – Cala-te! Eu sei o que estou a fazer.
MESTRE FOGO – Vão descansados para os vossos trabalhos! Este ser vivo não constitui qualquer perigo para nós!
MESTRE MAFA – Se precisar de alguma coisa de nós, grite...
AVÓ ASTRO – Está bem! (p.c) Não vou precisar!
NARRADORA – Os habitantes vão para os seus trabalhos e fazer os serviços, e a Avó Astro e o Mestre Fogo vão para casa da Avó com o cãozinho. A Avó tranquiliza o cãozinho, dá-lhe água, bolo e acaricia-o. O Mestre Fogo informa a Avó:
MESTRE FOGO – Astro...eu vou para o meu canto meditar...e perceber o que é que a vinda deste bicho representa para nós, e qual a missão dele, aqui!
AVÓ ASTRO (sorri) – Está bem! Eu estou aqui.
NARRADORA – O mestre Fogo vai meditar, e a Avó fica com o bichinho deliciada, fala com ele, enche-o de mimos, e ele retribui todo o carinho, faz algumas gracinhas e isso faz rir a Avó, deixa-a muito feliz.
AVÓ ASTRO (ri) – Ai, meu felpudo...já há tanto tempo que não me sentia tão feliz...que não sentia carinho, e sentimentos tão sinceros como estes que recebi de ti! (p.c) Tu fizeste-me rir e fizeste-me rir e fizeste-me sentir preenchida...muito obrigada! (p.c) Se não tivesses dona ficava contigo! (p.c) Mas olha...se tens dona...fico feliz por ti, apesar de estar a adorar ter-te comigo... (p.c) é sinal que não estás abandonado...que tens alguém que cuida de ti...e que gosta muito de ti...dá para ver...tu és tão meigo...e estás muito bem tratado! És bonito e feliz. (p.c) A tua dona tem muita sorte em ter-te! Com certeza deve ser muito feliz contigo...eu também seria! (p.c) Prometes que me vens visitar? (O cãozinho ladra feliz) Sim, já percebi...que bom! (p.c) Aqueles palermas vão engolir um sapo! (p.c) Ignorantes! Quando te virem vão adorar-te! (p.c) Tenho a certeza! (p.c) O mestre Fogo...tem razão no que disse! (p.c) Tu vieste aqui por alguma coisa. E não foi só pelo cheiro do meu bolo pois não...? (o cãozinho ladra) Pois não!
NARRADORA – Enquanto a Avó continua feliz na companhia do cãozinho, o mestre Fogo vai para a entrada do pinhal porque ouve a menina a chamar e a procurar o cãozinho.
DIANA – Desculpe…não viu o meu cãozinho por aqui?
MESTRE FOGO (sorri) – Vi, sim! Está aqui! Acompanha-me por favor!
DIANA (preocupada) – Ele está aí...no pinhal? (p.c) Ai, que desgraça!
MESTRE FOGO – Que desgraça, porquê?
DIANA – É que...dizem muitas coisas desse pinhal, feias...de gente má!
MESTRE FOGO (ri) – Ora, ora... (ri) Menina...isso são dizeres...não deves acreditar em tudo o que se diz por aí!
DIANA – Este pinhal é escuro!
MESTRE FOGO – É escuro, por causa dos pinheiros, mas só por isso é que é um lugar onde acontecem coisas más, desgraças? (p.c) Nós aqui também temos luz, como em todas as casas da cidade!
DIANA – Pois...mas as pessoas que vivem aqui são estranhas.
MESTRE FOGO (sorri) – Ora, rapariga, não te assustes com as aparências! (p.c) Aliás...se calhar não os viste, porque estás a dizer isso?
DIANA – Vi, já vi várias pessoas que vivem aqui...são assustadores! (p.c) Parecem um bando de andróides.
MESTRE FOGO (ri) – Eu também?
DIANA (ri) – Não...o Sr. Não é assim diferente de nós, como os outros, para parecer andróide!
MESTRE FOGO (ri) – Mas acredita que são humanas. (p.c) Tu dizes cada coisa!
(Os dois riem)
DIANA – Mas, o meu cão está aí, no pinhal?
MESTRE FOGO – Sim, está! Seguiu o cheiro de bolo que a Avó Astro fez há bocado, de certeza! (p.c) Eu já te conheço de passares aqui com ele!
DIANA (sorri) – Ai sim? Mas...nós não viemos pelo pinhal, pelo que dizem!
MESTRE FOGO (sorri) – Eu sei! (p.c) Mas havia cheiro de bolo desta vez, foi por isso que ele desviou por aqui!
DIANA – E porque é que ele ainda não apareceu? (p.c) Ele costuma vir logo ter comigo!
MESTRE FOGO (sorri) – Está na casa da Avó Astro.
DIANA – Quem é a Avó Astro?
MESTRE FOGO (sorri) – É uma senhora muito querida, aqui do bairro...madura, amorosa, toda a gente a respeita! (p.c) Anda conhecê-la. Ela está lá com o teu cãozinho.
DIANA – Mas, ela não vai ficar com ele, pois não?
MESTRE FOGO (sorri) – Fica descansada! Tenho a certeza que não vai ficar com ele...ela só o acolheu para o salvar de pessoas ignorantes...mas ela devolve-to!
DIANA (sorri) – Áááááhhh...está bem! É que eu adoro aquele cãozinho. Ele faz-me muito feliz. Foram os meus papás que mo deram.
MESTRE FOGO (sorri) – Que bom! (p.c) Dá para ver como gostas dele, e como ele te faz feliz!
NARRADORA – Diana acompanha o Mestre Fogo, um pouco assustada, a olhar para todo o lado, de olhos muito abertos, e o Mestre Fogo fala com ela para a tranquilizar. Ela responde sempre, mas não deixa de olhar para todos os lados. O mestre Fogo bate à porta da Avó Astro.
AVÓ ASTRO (sorri) – Entra, Fogo! (O cãozinho ladra feliz no colo da Avó Astro). Sim, querido, é a tua dona.
NARRADORA – O mestre Fogo abre a porta e entra com a menina. A Avó Astro está muito feliz, com um sorriso de orelha a orelha, e os olhos brilhantes. Pousa o cãozinho no chão e ele corre a abanar o rabo, feliz para ela. Ela pega nele ao colo, abraça-o, acaricia-o, dá-lhe beijos, e diz:
DIANA – Seu malandreco...fugiste da minha beira, sem pedir autorização...e vieste chatear a senhora. (p.c) Desculpe...!
AVÓ ASTRO (sorri) – Olá, querida...! Não faz mal...és tu, a dona desta maravilha da Natureza?
DIANA (sorri) – Sim!
AVÓ ASTRO (sorridente e cheia de ternura) – Óhhhh...que coisa mais linda! És tão fofa...tão querida com o teu bichinho, por isso é que ele também é assim...!
DIANA (sorri) – Obrigada!
AVÓ ASTRO (sorridente) – Como te chamas?
DIANA – Diana, e a Sra.?
AVÓ ASTRO – Ai, filha...por favor...não me chames de senhora...podes chamar-me Avó Astro! (p.c) Senta-te. Vou dar-te um pedaço de bolo que fiz agora mesmo, e...gostas de chá?
DIANA (sorri) – Sim, gosto muito. Mas não quero dar-lhe trabalho.
AVÓ ASTRO (ri) – Não dás trabalho nenhum...o teu amigo também já provou. (p.c) Fogo...também tomas?
MESTRE FOGO – Vou deixar-vos à vontade!
AVÓ ASTRO – Podes ficar, meu amor...és sempre bem - vindo.
DIANA – É seu filho? (Mestre Fogo, ri)
AVÓ ASTRO (ri) – É meu filho do coração!
DIANA – Então...é seu neto?
AVÓ ASTRO (ri) – Não, querida. Eu não tenho filhos, mas este rapaz é muito meu amigo...gosto tanto dele, como se fosse um verdadeiro filho!
MESTRE FOGO (sorri vaidoso e feliz) – Obrigado...! Esta Avó é uma maravilha. É uma mãezinha para mim.
(Diana ri. Sentam-se à mesa, a Avó prepara os chás e corta uma fatia de bolo para os três).
AVÓ ASTRO (feliz) – Adorei a companhia e a presença do teu cãozinho. Já não sabia o que era sentir-me tão feliz, e sentir tanto carinho tão sincero, há muitos, muitos anos! (p.c) Não é que o Fogo seja pouco dedicado, ou que tenha sentimentos falsos...não! O Fogo dá-me muita atenção, carinho, fala muito comigo...é um amor de rapaz, mas o carinho deste bichinho...fez-me sentir muito feliz, mesmo! (p.c) Este cãozinho é especial. Retribuiu o carinho que lhe dei.
DIANA (sorri) – Sim...! Ele faz sempre isso comigo.
AVÓ ASTRO (sorridente) – É tão doce...e faz gracinhas...e habilidades...! Fez-me rir muito, como eu já não me ria há muito tempo.
DIANA (sorri) – Ai é...? Ainda bem. (p.c) Mas porque é que já não se sentia assim tão feliz...há tanto tempo?
AVÓ ASTRO – Fico muito triste muitas vezes...porque sinto-me sozinha, e a minha família está longe, mas eu fiquei aqui. Porque tiveram de me proteger de gente muito má...e muito raramente vem cá ver-me, embora liguem todos os dias...mas uma coisa é ligar e falar ao telefone...outra coisa, muito diferente...é ter as pessoas aqui...sentir a pele delas na minha, sentir o seu calor e os seus abraços..., receber os seus beijos...ver os risos e conversar...! É claro, o telefone ajuda alguma coisa, mas é muito melhor quando temos mesmo as pessoas ao pé, não é...? (p.c) E este cãozinho trouxe-me recordações muito felizes. (p.c) Como eu gostava de ter um destes...!
DIANA – E porque não tem?
AVÓ ASTRO – Porque...não sei onde se vendem cães, aqui perto.
DIANA – Na cidade! E na aldeia onde vivo...aqui mesmo ao lado! Se o meu cãozinho tivesse filhos, eu dava-lhe um dos filhos.
AVÓ ASTRO (sorri deliciada) – Óh, tão querida.
DIANA – Mas, vivem aqui mais pessoas não vivem?
AVÓ ASTRO – Não muitas mais...e as que vivem aqui, são também tristes, e quase não nos falamos, porque chegam tarde dos trabalhos, e eu já estou recolhida...mal nos cruzamos uns com os outros.
DIANA – Mas porquê?
AVÓ ASTRO – Olha, porque...não sei! Talvez tenham as razões deles. São muito fechados...!
DIANA – Mas não fazem lanches, nem festas, nem nada...?
AVÓ ASTRO – Não! (p.c) No outro sítio onde vivi, havia algumas pessoas boas e nessa altura ainda havia algumas festas e jantares...até a maldade transformar tudo! Nessa altura eu fui muito feliz, ria-me muito, cantava muito, e dançava. De repente...tudo mudou para pior.
DIANA – Mas...porque é que não muda de sítio?
AVÓ ASTRO – Não é assim tão fácil, querida...agora já estou aqui habituada (p.c) É um ambiente triste, mas só porque aqui falta muita alegria, e convívio, e encontros entre as pessoas. As pessoas não se riem, não convivem, não partilham nada...mas já estamos habituados a que seja assim. Só me resta o Fogo, e os meus lobos de estimação...que adoro...mas não são pessoas.
DIANA – A Avó tem lobos...de estimação?
AVÓ ASTRO – Sim. Estão aqui atrás...depois espreita ali pela janela e vais vê-los.
MESTRE FOGO – Huuummm...desculpem interromper...Avó...este bolo está divinal.
DIANA (sorri) – Sim, maravilhoso. Porque é que se chama Avó Astro...? É um nome bonito, mas nunca tinha ouvido antes!
AVÓ ASTRO (sorri) – Pois não. Não sei porque me deram esse nome.
MESTRE FOGO (sorri) – É raro, mas está muito bem-posto! E particularmente hoje, que a Avó parece mesmo um astro cheio de luz...com esse sorriso!
DIANA (sorri) – Tem razão. Gosto muito desse seu sorriso.
AVÓ ASTRO (ri) – Obrigada...!
DIANA – Óh, Avó...aqui não há flores...nem nada?
AVÓ ASTRO – Olha, é pena...mas realmente...não há flores.
DIANA – Mas fazem muita falta! Como não há, uma coisa tão bonita...?
AVÓ ASTRO – Tens toda a razão...! Também acho que fazem muita falta.
DIANA – Eu tenho montes de flores, de muitas cores. As flores trazem sempre muita alegria.
AVÓ ASTRO (sorri) – Pois é! Tens toda a razão.
DIANA – Porque é que a Avó Astro não planta umas flores...?
AVÓ ASTRO (sorri) – Vou ver se arranjo.
DIANA – Avó...desculpe, mas vou ter de voltar para casa.
AVÓ ASTRO – Óóóóhhh...mas...já?
MESTRE FOGO (sorri) – Avó...os pais da menina podem ficar preocupados! (p.c) Eu também ficaria...! Eu sei que a Avó ficava aqui o resto da tarde e da noite, com a menina e com o cãozinho, mas ela deve mesmo ir para casa...os pais não merecem ficar preocupados!
AVÓ ASTRO – Pois é, querida. Tens razão. Vai, meu amor, mas por favor...prometes-me que voltas mais vezes para me visitar e fazer companhia?
DIANA (sorri) – Sim, claro que sim...amanhã mesmo, volto, com o meu amiguinho. (p.c) Muito obrigada por ter acolhido o meu amiguinho e por lhe ter dado de comer e de beber... (p.c) E muito obrigada pelo chá e pelo bolo.
AVÓ ASTRO (sorri) – Ora, filha, não tens de agradecer. Eu é que te agradeço a visita e a felicidade que me trouxeste hoje, minha boneca. (p.c) Leva bolo para os teus pais.
(A Avó corta uma parte do bolo e embrulha).
DIANA (sorri) – Muito obrigada. Anda, fofinho...vamos para casa!
(O cão ladra feliz, e a Diana pega nele ao colo. A Avó Astro acaricia o cãozinho, e ele retribui os mimos encostando-se a ela).
DIANA (sorri) – Ele também gostou muito de si! (p.c) Até amanhã, Avó!
AVÓ ASTRO (sorri) – Até amanhã, querida...! Obrigada.
MESTRE FOGO – Eu acompanho-te até casa!
DIANA – Está bem.
NARRADORA – A menina e o Mestre Fogo vão pelo caminho a falar alegremente, riem e ao chegar a casa a menina:
DIANA (sorridente) – Boa Noite, e muito obrigada.
MESTRE FOGO (sorri) – De nada! Obrigada eu! (p.c) Aparece. (p.c) Até amanhã, e obrigada por teres feito a Avó ficar tão feliz.
NARRADORA – A menina foi para casa muito pensativa! Ficou com pena da Avó, e quis fazer alguma coisa pela Avó. Mas não sabia o quê. Então...fala com os seus pais, e estes dão-lhe umas sementinhas de flores diferentes, para ela plantar no pinhal, pois as flores trazem alegria e têm muita cor...e embelezam os sítios. (p.c) Os pais ficaram muito orgulhosos deste gesto da filha e no dia seguinte vão com ela ao pinhal, de manhã bem cedo plantar. (p.c) De repente, a menina lembra-se que a Avó gostou muito do cãozinho, e fala com os pais sobre isso! Os pais vão aos vizinhos do lado que têm criação de cães e muitas crias, e pedem um cãozinho. Os vizinhos dão-lhe um cãozinho ainda bebé, muito fofo, lindo...e os pais vão com a Diana levar o cãozinho à Avó Astro e conhecê-la. A Avó fica feliz, abraça, beija e acaricia o cãozinho, e fica toda iluminada, com um sorriso feliz, aberto, terno...agradece muito, e convida os pais e a menina para entrar. Oferece chá e outro bolo. Tornam-se praticamente família e a Avó rejuvenesce de tanta alegria e felicidade. Nos dias seguintes, a menina e os pais vão ter com a Avó Astro e passar algum tempo com ela, os dois cãezinhos também se tornam amigos, e brincam juntos. (p.c) A Avó comentou:
AVÓ ASTRO – Olhem...será que se pode fazer alguma coisa para fazer estes caras de rabinhos...para não dizer outra coisa...para fazê-los rir? (p.c) É que é muito triste, eles não se rirem.
NARRADORA – Faz-se silêncio...e todos estão pensativos. Diana lembra-se:
DIANA – E que tal...trazermos aqui um circo...?
TODOS – Um circo?
DIANA – Sim. (p.c) Podemos pedir à Dona Judite para trazer aqui o circo dos filhos dela!
MÃE – Ééééééhhhh...podemos falar nisso...ela deve aceitar!
NARRADORA – Os pais da Diana falam com a Dona Judite e a mesma aceita de imediato. Os habitantes reúnem-se, como sempre...trombudos, carrancudos, sem rir, ou sequer sorrir, e olham desconfiados. Feitas as apresentações do circo, quando as actuações começam, logo na primeira, surgem algumas gargalhadas tímidas, mas rapidamente todos são contagiados pela alegria dos artistas, pelas cores das roupas, pelas músicas e pelas habilidades, e brincadeiras. Muito rapidamente surgem gargalhadas estrondosas e sonoras, todos batem palmas e o público transforma-se em pessoas simpáticas, muito mais abertas, interagem com os artistas, e a menina e os pais estão completamente boquiabertos, surpresos com a transformação. A Avó Astro está feliz, e igualmente surpresa. No final da actuação, todos estão tão felizes que até falam mais uns com os outros, e pedem aos artistas para voltar. No dia seguinte, os trombudos, só mostraram sorrisos uns aos outros, e à noite voltam a encontrar-se para outro espectáculo de outro grupo de circo e do mesmo grupo com outros números. Todos dão valentes gargalhadas e batem muitas palmas, deixam-se contagiar pela alegria, pela música e dançam felizes na plateia uns com os outros, e com os artistas. E os sorrisos nos dias seguintes tornaram-se verdadeiros, sinceros, abertos, naturais, luminosos, e a partir desses dias, aquele bairro sombrio nunca mais foi o mesmo...passou a haver vida, cor, alegria, amizade, muito convívio entre os habitantes, e vinham pessoas de fora, pois as sementes que os pais de Diana plantaram...cresceram e transformaram-se em flores grandes, lindas, raras, de todas as cores, e outras mais pequenas não menos bonitas, e as pessoas de fora queriam ver essas belezas. Esse pinhal passou também a ser um local onde se instalaram circos, e onde todos se sentiam muito bem e felizes, onde faziam muitas festas. O mestre Fogo e a Avó Astro estão radiantes, e parece que todos rejuvenesceram. Andavam sempre pelo pinhal sorridentes a receber bem quem chegava com chá, água, sumos naturais, bolos, pães, cozinhados deliciosos...da Avó, e esta sempre com o cãozinho, que conheceu outros cãezinhos. A menina, os pais e a família iam todos os dias ao pinhal, ver a Avó Astro e conviver com os outros, que se tornaram muito simpáticos (p.c) De facto, para estes habitantes não foi preciso muita coisa para os fazer felizes, e para os rir...bastaram coisas simples, como...uma surpresa, um animal de estimação, a presença de pessoas boas, a companhia uns dos outros...o carinho, a atenção e a dedicação, as cores...as flores...a música...a diversão dos circos...a amizade...e outras pequeninas coisas! Podem parecer coisas minúsculas ou insignificantes, sem qualquer interesse, mas para muita gente, são uma enorme alegria, um grande momento de felicidade. Aliás, a verdadeira felicidade está mesmo nas pequenas coisas...no que há de mais simples à nossa volta...que muitas vezes não damos qualquer valor porque vão tão absorvidos nas nossas ideias e planos...stressados...preocupados...que nem damos conta que a felicidade está mesmo ao nosso lado...no melhor de cada ser humano que vive e que se cruza connosco, nas coisas que temos...na natureza...nas cores...em pormenores que nos agradam...mas nem reparamos...só achamos que a felicidade está nos bens materiais, mas nada traz a verdadeira felicidade, porque...são máquinas, não dão gargalhadas, não tem pele...para poder tocar...são frias...não nos abraçam...não nos dão carinho...ainda que dêem mais conforto e ajuda mas para sermos felizes devíamos dar muito menos valor ao que é material, e mais valor aos bens morais, e de relação com os outros. Todos neste bairro que viviam como muitos de nós vivemos hoje...andavam sempre de mau humor, tristes, quase não se falavam...encontraram a verdadeira felicidade em coisas muito simples! Deveríamos seguir o exemplo deles!

FIM
Lálá  
(26/Setembro/2012)

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