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sexta-feira, 25 de março de 2016

Amizade canina (Adolescentes e adultos)



           

                






         



foto de Lara Rocha 

              Era uma vez um casal com filhos, que por não ter dinheiro suficiente para sustentar os filhos e os animais de estimação abandonou duas cadelinhas lindas, meigas, simpáticas, fiéis, excelentes companhias desde que foram para essa casa. Tudo corria bem, e as cadelinhas eram felizes na casa onde estavam, eram tratadas como elementos da família.
        Certo dia, o dono das cadelinhas (marido e pai) saiu de manhã cedo de casa, deixou a porta aberta com a pressa e foi despedido do emprego. As cadelinhas Juca e Dida, ficaram à porta para que ninguém entrasse, e entretanto trocam impressões:
- Sabes, Dida…estou preocupada com o nosso dono!
- Eu também Juca! Ele anda muito estranho ultimamente…!
- Sim, isso também já reparei, aliás, não é só ele que anda estranho. Acho que toda a família anda estranha. 
- O que se passará com eles?
- Não sei…mas o outro dia ouvi a nossa dona a dizer para ele ter calma, caso contrário ia dar-lhe alguma coisa muito má…
- Andará doente?
- Também pensei isso.
- Esperamos que não!
- Claro! Mas que andam todos diferentes andam.
- Sim, tens razão!
- Ainda hoje, saíram todos a voar, até deixaram a porta aberta…
- Pois foi, e logo de manhã começam aos gritos uns com os outros, não nos ligam nenhuma. 
- Eu fico triste sempre que os ouço a gritar uns com os outros.
- Eu também…principalmente pela nossa dona…que fica sempre com uma cara…e consigo sentir as energias negativas dela.
- Sim, eu gosto do nosso dono, mas ele às vezes é tão mau com a nossa dona, que me apetece furá-lo de dentadas.
- A mim também. Até eu fico com medo que ele nos faça alguma coisa de mal.
- Eu também já senti isso!
- Ainda bem que viemos as duas para esta casa…! Acho que ia ser muito difícil aguentar este ambiente se estivesse sozinha.
- Eu estava precisamente a pensar nisso.
         Ouvem o barulho de um carro a aproximar-se, e ficam alerta a olhar para todo o lado e a ladrar. Juca reconhece o barulho do carro.
- É o nosso dono!
- Ui…ele não costuma chegar tão rápido.
- Pois não, mas se calhar hoje não trabalha.
- É…pode ser…!
- Ui estou a sentir uma coisa esquisita…!
- O quê?
- Não sei…acho que se passa alguma coisa com o nosso dono.
         Elas ficam agitadas.
- Realmente…ele vem com os demos todos.
         O dono entra rapidamente, muito nervoso, a resmungar sozinho, as cadelinhas aproximam-se e começam a ladrar. Ele grita-lhes:
- Calem-se diabos…!
         Elas ficam assustadas, mas põem-se de volta dele, para tentar acalmá-lo, só que ele dá um pontapé em cada uma. Elas ganem assustadas e de dor e Juca partilha a sua dor com Dida:
- Mas que besta!  
- Acredita!
- O que se passa com ele?
- Não sei, mas não é boa coisa.
- Ele nunca nos tratou assim…!
- Pois não!
- Devíamos espetar-lhe uma boa dentada naqueles presuntos…
- Essa era a minha vontade, mas é melhor não…pode ser pior!
- Achas?
- Sim.
- Mas…ele magoou-nos.
- Pois foi, mas vamos ver se ele nos vem pedir desculpa. É melhor para já ficarmos aqui quietinhas…deixa-o acalmar.
- Achas?
- Sim.
- Mas…o que é que nós fizemos para levar um pontapé?
- Nada…acho eu!
- Pois não. Mas então…?! Porque isto?
- Gostava de ter uma resposta para ti, mas não tenho. Não ladres.
- Ai…acho que isto não vai acabar bem!
- Não digas isso…! Ele só está um bocado stressado!
- Olha, vem aí a nossa dona.
- Ai, coitada.
         Ouvem-se coisas a partir dentro de casa, e gritos. É o marido que está a descarregar a sua raiva nas coisas. Entra a mulher, as cadelinhas cumprimentam-na, lambem-na, ela acaricia-as sorridente, mas assusta-se com os barulhos dentro de casa. Entra em casa e o marido está completamente louco. A mulher assustada pergunta da porta.
Mulher – Quem é que anda aí?
         Vê – se uma faca a voar pela janela fora, e passa de fininho pelas cadelinhas, que muito assustadas vão rasteirinhas ao chão esconder-se atrás da dona. Juca e Dida estão preocupadas uma com a outra, e assustadas com o que está a acontecer. Falam uma com a outra.
- Dida…estás bem?
- Sim, Juca…quer dizer…acho que sim. Só estou muito assustada. E tu?
- Eu também! Mas não estás ferida pois não?
- Não! E tu?
- Eu também não!
- Acho que tivemos muita sorte.
- Sim, também acho. Aquilo que voou da janela pareceu-me perigoso…
- A mim também.
- Eu se fosse à nossa dona não entrava ali.
- Nem eu.
- Mas aconteça o que acontecer, nós vamos defendê-la.
         As cadelinhas ficam atentas e em silêncio, agachadas. Entretanto, dentro de casa, a mulher está muito assustada, mas tenta manter a calma, e falar decentemente com o marido que está completamente louco, a gritar e a partir coisas. A mulher pergunta-lhe:
- Então, querido…? O que é que estás a fazer?
         O marido atira uma panela e grita:
- Não me dirijas a palavra.
         A mulher assustada pergunta:
- Mas porque é que estás tão nervoso?
         Ele grita:
- Fui despedido…e a culpa é tua!
         A mulher não percebe onde possa estar a culpa nela e pergunta:
- O quê? A culpa é minha…? Porquê? Não fui eu que te despedi!
         Ele grita:
- Tu com tanta paneleirice atrasas-me sempre…lá com todas essas porcarias que pões nas fuças…e depois primeiro que saias de casa…! Chego sempre atrasada.
         Ela fica chateada e responde:
- Que grande lata. Tu é que dormes que nem um porco…depois sais em cima da hora, apanhas trânsito e chegas atrasado. Eu é que levo as crianças à escola e nunca chego atrasada. Com certeza foste despedido por outros motivos. Mas como estás furioso, descarregas em mim.
         O homem não a ouve, e dirige-se para ela, aos gritos, e com uma faca na mão. As cadelinhas estão muito agitadas, e quando a mulher grita, elas entram a correr disparadas, e num grande salto dão uma dentada na mão do homem, ele deixa cair a faca, e grita, as cadelinhas não o largam, rosnam e mordem-no em vários sítios, quanto mais ele as sacode e grita, mais elas o atacam:
- Larguem-me suas nojentas…estúpidas…Aaaaaiiii…monstras…larguem-me…
         A mulher desata a chorar de nervos e de alívio, pega na faca atira-a pela janela fora, e implora ao marido:
- Por favor…acalma-te! Vamos falar decentemente…! (p.c) Eu sei que estás com raiva, mas chega…vamos falar…e tudo se vai resolver…está bem?
         O marido grita:
- Tira-me estas idiotas de cima de mim…! Olha o que elas me estão a fazer…
         A mulher sorri e diz:
- Estão a defender-me! (p.c) Prometes que não vais fazer nenhuma loucura…? Eu digo para elas pararem…
         O homem responde:
- Está bem, eu não faço nenhuma loucura.
         A dona ordena às cadelinhas que o larguem. Elas param, e ficam no chão. A dona acaricia-as, elas abanam o rabo felizes, e lambem-na. O homem está ferido em várias partes do corpo. A mulher recomenda, enquanto acaricia as cadelas:
- É melhor desinfectar isto…! E vamos ver se não precisas de ir ao hospital cozer…
         Ele grita nervoso:
- Eu não preciso de porcaria de hospital nenhum, nem curativo…Aaaaaiiii…que isto dói.
         As cadelinhas rosnam a olhar para o homem. Ele dá uma sapatada a cada cadela, elas ganem e rosnam. A mulher resmunga com ele:
- Pára quieto. Nem te atrevas a fazer mal às bichinhas, se não quem apanha és tu!
         Mesmo ofendidas e zangadas, as cadelinhas ficam do lado da dona, enquanto os dois falam. A mulher começa.
- Senta-te aqui imediatamente.
         O homem grita nervoso:
- Não me vou sentar coisa nenhuma. Eu vou é acabar comigo e dessas cadelas estúpidas.
         As cadelas rosnam e preparam-se para atacar novamente. A dona acaricia-as e grita com o marido:
- Ou sentas-te ou vou ser obrigada a tomar medidas drásticas e ai vais sentar-te à força.
         A mulher levanta-se, empurra o marido para o sofá e ele senta-se. Ela dá-lhe um estalo na cara e grita-lhe:
- Agora vais ouvir tudo o que eu tenho para dizer, e vais pensar comigo…em vez de desfazeres a casa…! (p.c pega nas cadelas) Importas-te de explicar como deve ser o que aconteceu realmente?
         O marido ainda muito nervoso conta o que aconteceu, e a mulher grita:
- Achas que são maneiras de falar sobre as coisas…e de pensar sobre o que aconteceu…ou como dar a volta aos problemas? (p.c) Destruir a casa toda? (p.c) É o caminho? (p.c) Que grande imbecil. (p.c) E eu…? Nem sequer era da tua empresa…o que é que eu tinha a ver com o despedimento…? (p.c) Estúpido! Palerma. (p.c) Monstro… (p.c) Infelizmente hoje em dia é o mais comum…é ser despedido…mas há muitas outras coisas para se fazer…mas não é cruzar os braços, e desfazer a casa, ou matar-se ou matar a mulher e os filhos…é ir à luta…à procura…aqui e ali…! (p.c) E as cadelinhas…o que tem a ver com isso…?
         O marido desata a chorar envergonhado e pede desculpa à mulher. A mulher prometeu ajudá-lo, e ele pede desculpa às cadelinhas, embora esteja com raiva delas. Ele vai tratar as feridas e as cadelas recebem mimo da dona. Estão felizes por ter salvo a sua vida. Em casa, Juca e Dida voltam a falar uma com a outra:
- Ai, Dida, acho que este foi o maior susto que apanhei em toda a minha existência.
- Para mim também foi muito difícil, Juca.
- Que stress!
- Ainda bem que estávamos presentes, e não fomos embora depois de levar o pontapé.
- Pois foi. Coitada da nossa dona…nem quero imaginar o que lhe poderia ter acontecido…
- Mas estivemos bem!
- Sim, claro. É essa é a nossa função…proteger a nossa dona!
- Mas acredita que fiquei com muito medo.
- Eu também, mas não me deixei influenciar por ele. Fui mais forte que ele…pela nossa dona.
- As dentadas libertaram-me.
- A mim também. Ele merecia muitas mais.
- Pois.
- Devemos continuar atentas.
- Sim.
         As duas cadelinhas conversam mais um pouco, e o marido volta, com muitos pensos e ligaduras, depois das dentadas das cadelas. Ele passa por elas, elas rosnam-lhe e ele murmura-lhes:
- Vão pagá-las! Não perdem por esperar.
         A mulher ouve, e relembra-lhe:
- Ai de ti que lhes toques num único pelo.
         Ele responde:
- Não percebo tanto amor que tens a estas malditas pulguentas.
         A resposta das cadelinhas é ignorá-lo. Pouco depois, ele cumpre a promessa. Apanha a mulher fora de casa, e vinga-se nas cadelas. Maltrata-as, bate-lhes com várias coisas que encontra e deixa-as muito feridas. Elas não têm hipótese de se defender, porque são apanhadas desprevenidas e ele não permite. Ele dá-lhes um pontapé e põe-nas fora de casa de forma violenta. Elas ganem, e uivam por causa das feridas, e caminham lentamente com muita dificuldade, a ganir, muito tristes e com dores. Juca pára e deita-se na relva onde começa o pinhal. Dida encosta-se à amiga, lambe-a no focinho e na cabeça e deita-se também. Juca pergunta:
- Ai, amiga…o que nos aconteceu?
         Dida responde:
- Não sei bem! Olha…se quiseres podes continuar caminho e procurar ajuda…não te preocupes comigo…! Eu fico aqui.
         Juca responde:
- Não, não ter vou deixar aqui sozinha, muito menos assim sozinha. Vais ver que vai aparecer aqui alguma alma caridosa e vamos arranjar um sítio onde tratar estas feridas, e onde ficar.
         Dida e Juca partilham as suas dores e a decepção do que lhes aconteceu:
- Aquele monstro…!
- Nem me fales…!
- Vai pagá-las! 
- Podes crer que vai.
- Como é que ele teve coragem de nos fazer isto?
- Ele está louco…temos que proteger a nossa amiga. Apanhou-nos desprevenidas, desta vez, mas não vai levar a melhor!
- E como é que vamos proteger a nossa amiga, com aquele empecilho e depois do que ele nos fez?
- Não te preocupes gora com isso…havemos de encontrar uma maneira…
- Mas como, se ele nos pôs fora de casa.
- Tem de haver uma maneira de a protegermos…mesmo sem entrar em casa.
- Estou cheia de dores…
- Eu também amiga, mas temos de ser mais fortes que a dor…quando estivermos melhores encontraremos uma solução.
         Fazem silêncio um bocadinho, ganem…e continuam a desabafar.
- Estou tão triste amiga!
- Eu sei, eu também.
- Tenho pena da nossa dona…
- Eu também.
         De repente ouvem uma voz feminina e um ladrar. As duas levantam as orelhas. Juca e Dida partilham as suas expectativas:
- Vem aí alguém.
- Será a nossa dona?
- Não.
- Será uma das nossas meninas?
- Não. O cheiro é diferente. (p.c) Mas pode ser uma alma caridosa que vai cuidar de nós.
         Aparece uma cadela com a sua dona, que ao cheirá-las vai ter com elas, ladra sem parar, e tenta acariciar as cadelinhas mas a dona ao vê-las grita:
- Que nojo…sai daí Jita. Antes que apanhes uma doença.
         A cadelinha não sai e fala com as duas:
- Olá…são novas aqui?
         As duas respondem em coro:
- Sim.
         Dida pergunta:
- Tu és desta área?
         A cadelinha responde:
- Sim. Esta é a minha dona! (p.c) O que é que vos aconteceu?
         As cadelinhas suspiram e ganem. Juca responde triste:
- O nosso dono bateu-nos e chutou-nos.
         A cadelinha fica horrorizada e com pena das duas. A dona volta a chamá-la, mas ela insiste em não largar as duas. Dida aconselha a cadelinha:
- Olha, é melhor ires, se não a tua dona ainda te enforca…
         A cadelinha ri e responde com segurança:
- Não, nada disso. Fiquem descansadas. Ela é muito boazinha e minha amiga. Vai ajudar-vos, tenho a certeza.
         Juca informa a cadelinha:
- Não me parece que a tua dona nos vá ajudar. Ela está com pena de nós, mas não irá fazer muito mais.
         A dona da cadelinha tem pena das bichinhas e comenta:
- Pobres bichas…Não sei se são vadias. Se calha foram abandonadas…eu não tenho condições para vocês se não levá-vos. Mas posso ligar para o canil. Aqui na rua é que não podem ficar.
         A cadelinha fica nervosa e acha injusta a opção da dona. Começa a rosnar para a dona, e diz às cadelinhas, nervosa:
- Não…para esse sitio não aceitem! Por favor…fujam…se vão para o canil é o vosso fim.
         Dida comenta triste:
- Talvez seja mesmo melhor esse sítio.
         Juca repreende-a e encoraja-a:
- Não digas isso, os canis são sítios horríveis…se ninguém nos vier buscar, teremos força para fugir, e haveremos de encontrar um abrigo…
         A cadelinha reforça:
- Sim, é isso mesmo, mas não queiram ir para o canil.
         Passa uma outra senhora que fica com muita pena dos bichos e já acolheu uma série deles. A dona da cadelinha pergunta-lhe:
- Olhe…por acaso não conhece aqui um canil? É uma obra de caridade para estes bichos…!
         A cadelinha rosna á dona. A outra senhora responde:
- Canil? Felizmente não conheço.
         A dona da cadelinha explica a razão da pergunta:
- Estes bichinhos estão aqui a penar…olhe para eles…estão num estado miserável…coitadinhos…!
A outra senhora responde:
- Sim, estão num estado crítico, mas vão recuperar…e não vão para o canil.
         A senhora pega nas cadelinhas ao colo carinhosamente, a dona da cadelinha fica horrorizada e alerta:
- Cuidado…não pegue nos bichos, ainda apanha alguma doença ou carraça ou pulgas…
         A senhora responde:
- Não se preocupe! Elas vão para minha casa! Apanha-se muitas mais doenças bem mais graves entre seres humanos, do que dos animais. (p.c) Elas deviam ter dono…eu vou tratar de vocês queridas…
         A dona da cadelinha desabafa:
- Que crueldade!
         A senhora responde:
- Acredite! Gostava muito de saber quem fez isto para lhe dar um correctivo.
         A dona da cadelinha concorda totalmente:
- Tem toda a razão…e era muito bem dado.
         A cadelinha ladra feliz, e saltita, põe as patinhas na perna da senhora e diz:
- Boa…! Trata bem das minhas amigas! (p.c) Meninas…vão ter sorte esta dona! Vemo-nos por aqui…! Coragem e as melhoras…!
         As cadelinhas agradecem. A cadelinha pendura-se na dona, feliz, lambe-a, a dona faz-lhe festinhas. A outra senhora despede-se da dona da cadelinha:
- Até logo…
         A dona da cadelinha retribui:
- Até logo! E obrigada por as acolher…! Eu se tivesse condições tinha-as acolhido…fiquei com pena delas…!
         A senhora responde a sorrir:
- Não tem que agradecer…eu compreendo-a. Olhe e já agora, se não se importar, quando encontrar aqui gatos ou cães abandonados, pode entregá-los ali na minha casa, aquela do inicio da rua.
         A dona da cadelinha responde:
- Está bem!
         A senhora leva as cadelinhas para casa, fala com elas, e quando entra, os dez cães vem recebê-la e ladram sem parar. As cadelinhas ganem no colo da senhora. A senhora acalma os ciúmes dos cães:
- Calma meninos…então…? Isso é maneira de me receber?!
         Um cão comenta:
- Olhem, olhem…intrusos…!
         Outro cão resmunga:
- Ora essa…não faltava mais nada!
         Outro cão resmunga:
- Óh valha-nos todos os santos caninos…!
         Outro acrescenta:
- Já somos tantos…!
         A senhora diz:
- Lá porque venho com mais duas meninas, não quer dizer que deixo de gostar de vocês!
         Os cães continuam a reclamar, e a rosnar. As cadelas da casa impõem-se:
- Calem-se!
         Uma cadela ralha com eles:
- Que falta de respeito!
         Outra cadela acrescenta a ralhar:
- Pois é…! Que maneira mais idiota de receber gente nova na casa…ainda por cima estão feridas…
         Outra cadela resmunga:
- Seus insensíveis. Possessivos…
         Os cães ficam ofendidos mas calam-se, e um deles manda uma piada:
- Mais mulherio…estamos fritos!
         A senhora ordena:
- Atenção, estas duas princesinhas são para ser bem tratadas, entendido?
         Os cães rosnam. As cadelinhas dão as boas-vindas:
- Bem-vindas!
         Outra cadelinha acrescenta:
- Vieram parar a um sítio paradisíaco!
         Uma outra cadela confirma:
- Sim, estão muito bem entregues!
         Outra acrescenta:
- Não vos vai faltar nada!
         Outra confirma e acrescenta:
- Sim! E podem contar connosco para qualquer coisa que precisem!
         As duas cadelinhas agradecem. Aparece o marido, e pergunta:
- Então…? Que algazarra toda é esta, putos?
         Os cães põem-se de volta deles. O senhor acrescenta:
- Assim não conquistam as cadelinhas…onde está o vosso romantismo…? Ai…ai…!
         A senhora explica ao marido:
- Estas cadelinhas foram encontradas ali fora…eu trouxe-as!
         O marido apoia a decisão da senhora:
- Fizeste muito bem querida! Estão muito maltratadas…coitadinhas…vamos já tratar dessas feridas!
         Os cães começam a rosnar. Os donos mandam-nos calar, eles obedecem. Uma outra cadela comenta com as outras, feliz:
- Meninas…temos mais duas aliadas!
         As cadelas saltitam de alegria, sorriem e encorajam as novas amigas:
- Não tenham medos, meninas!
- Estão em excelentes mãos!
- São muito meigos…e vão dar-vos tudo o que precisam!
- Coragem!
- Estamos convosco amigas!
- Vai correr tudo bem!
         A senhora leva uma cadelinha ao colo, o marido leva a outra. Juca e Dida falam entre si:
- Parece que tinhas razão.
- Eu senti que era uma boa pessoa que se aproximava!
- Aquela cadelinha foi impecável…se não fosse ela a dar sinal, acho que até agora ninguém nos tinha encontrado!
- Sim, é verdade!
- No inicio a dona dela estava enojada, mas vá lá que perguntou a esta senhora boa se conhecia um canil. Acho que ficou com pena de nós. 
- Sim, mas tu querias ir para o canil.
- Isso foi só da boca para fora, porque estava tão triste que já nada mais me importava.
- Eu percebi…! Olha se íamos para o canil…! Nem quero pensar (p.c) Estamos muito tristes é certo, mas estamos juntas (p.c) eu não ia conseguir viver sem ti… (p.c) se fosses para outro sítio eu ia atrás de ti, onde quer que fosses.
- Eu sei amiga…eu fazia o mesmo por ti! Só me lembrei do canil como uma situação provisória, porque…ao menos lá tínhamos uma casota, comida…água…e haveria lá outros cães.
- Isso íamos encontrar noutro sítio qualquer. Não era preciso ir para o canil…há pessoas boas que têm pena de nós e dão-nos sempre qualquer coisa. Temos que seguir em frente, amiga…mesmo com esta dor.
- Espero que esta dor seja passageira!
- Eu também!
- Quer dizer…acho que só vai passar rápido a dor física, porque o coração não dá para fazer curativos!
- Pois não! Sim, é verdade que dói muito, mas temos que ser mais fortes que essa dor para salvar a nossa dona…
- Sim, eu fiquei muito preocupada com ela!
- Temos de arranjar uma maneira de a salvar daquele monstro.
- Havemos de encontrar!
         Elas ganem com as feridas. Os novos donos dão-lhes comida e água, tratam-lhes das feridas e acariciam-nas. Elas ganem de dor, mas comportam-se bem. Depois de tudo resolvido, os donos levam-nas para a beira das outras. A dona alerta os outros cães:
- Meninos…atenção! Trouxe aqui duas meninas novas…duas irmãs para vocês e amigas! Mas é para as tratarem bem, entendido?
         Todos ladram. A Sra. Põe as cadelinhas na casota e os cães viram costas e afastam-se, mas as cadelinhas ficam de volta delas, e perguntam em coro:
- Então?
         As cadelas querem saber tudo, e cada uma faz uma pergunta:
- Como se sentem?
         Juca e Dida respondem:
- Mais ou menos.
         Juca diz:
- Estamos muito magoadas e tristes…
         Outra cadelinha pergunta:
- E os nossos donos trataram-vos bem?
         As duas cadelinhas respondem em coro:
- Sim, muito bem!
         Dida acrescenta:
- Foram muito carinhosos.
         Juca recorda:
- Deram-nos de comer, de beber, e carinho…
         Dida acrescenta:
- São uns amores!
         As cadelas perguntam em coro:
- Mas o que é que vos aconteceu?
         As duas cadelinhas respondem em coro:
- Fomos maltratadas.
         Dida reforça:
- O nosso dono teve um ataque de loucura e tentou tratá-lo a espancar-nos.
         As cadelas respondem:
- Que monstros!
         Uma cadela esclarece-se com as cadelinhas:
- Então vieram de um casa…
         As duas respondem:
- Sim.
         Juca lembra:
- Gostávamos muito dos nossos donos, e dos filhos deles, mas o que aquele…nos fez…não tem perdão!
         Dida:
- Ainda salvamos a nossa dona de uma desgraça, porque o monstro ia fazer-lhe muito mal.
         Juca acrescenta a rir:
- Fizemos dele carne picada…espetamos-lhe umas belas dentadas…só tive pena de não ter veneno nos dentes para dar cabo dele…!
         As cadelas riem, e uma responde:
- Compreendo-te amiga!
         Outra cadela acrescenta:
- Mas não se preocupem…ele vai ter o correctivo que merece!
         Outra cadela reforça e incentiva:
- E podeis contar connosco para isso!
         As duas cadelinhas ficam felizes, sorriem, agradecem e Juca diz:
- Boa! Obrigada…acho que vamos precisar mesmo…mas tem que ser uma coisa bem feita…! 
         As cadelas combinam um castigo para o homem, ex dono delas. Juntam-se todas, e nesse mesmo dia, quando vão passear com os seus donos, ouvem a dona a gritar…o marido está louco, bate nela, destrói a casa…as cadelinhas ladram…foi um sinal combinado entre elas…e desatam todas a correr, saltam o muro da casa, e a Sra. Preocupada segue-as para ver o que vão fazer.
As cadelas silenciosamente entram em casa, e desatam a ladrar, atirando - - se para o homem, ele cai para tentar livrar-se delas, e ainda é pior, porque oito cadelas juntas, umas bem grandes que só de olhar impõem respeito, nervosas…cuidado com elas. Elas rosnam e dão-lhe várias dentadas.
A mulher grita e chora muito assustada, o homem grita por ter as cadelas em cima dele a ladrar sem parar, a arranhá-lo a rosnar e a morde – lo.
A dona dos cães pede permissão para entrar:
- Desculpe…posso entrar…?
         A mulher abraça-se à Sra. E pede-lhe ajuda:
- Sim, por favor…ajude-me! Chame a polícia, o meu marido está completamente louco…ia acabando com a minha raça…e…estou sem telefone…
         A Sra. Está horrorizada e pergunta:
- Ele maltratou-a?
         A mulher responde:
- Sim.
         A Sra. Acalma-a:
- Não se preocupe…desta ele não vai escapar…vai para a cadeia…(ri) desculpe estar a rir…mas…já viu os carinhos que ele está a receber das minhas bichinhas…?
         A mulher apesar de muito assustada e triste, consegue rir e pergunta surpresa:
- São todas suas?
         A Sra. Responde:
- Sim! E estas duas encontrei-as ali no caminho muito maltratadas…

         A mulher responde:
- Tão lindas…eu tinha duas iguais a estas, que me salvaram o outro dia, mas não sei o que esta besta lhes fez…desapareceram. (p.c) Mas como é que elas entraram aqui?
         A Sra. Responde:
- Devem ter ouvido os gritos…não sei…sei que se dirigiram para aqui e eu vim atrás…com licença…vou chamar a polícia.
         As cadelas não saem de cima do homem, e sempre que ele se mexe, depois de bem mordido, elas rosnam e ladram, ele fica quieto. Enquanto a Sra. Liga para a polícia, a mulher aprecia as cadelinhas, sorri deliciada, e acaricia-as. As duas bichinhas lambem a dona. A mulher reconhece-as e grita feliz:
- São elas! São as minhas queridas cadelinhas…!
         A Sra. Fica feliz, e diz:
- Que bom! Fica com elas?
         A mulher responde feliz:
- Eu gostava de ficar com elas…nem sei como lhe agradecer por as ter acolhido…!
         A Sra. Responde:
- Se não tem condições, eu fico com elas até a senhora ter condições…
         A mulher responde:
- Sim, tenho…muito obrigada!
         A Sra. Responde sorridente:
- Não tem que agradecer…só peço que as trate bem, e por favor, qualquer coisa que precise, diga-me…eu sou veterinária…vivo ali naquela casa…
         Enquanto a polícia não chega, as duas conversam, e as bichinhas não largam o homem.
O homem é preso em flagrante, e as cadelinhas estão muito felizes! Recebem muito carinho da dona e da outra senhora.
As duas senhoras tornam-se boas amigas, a mulher fica de novo com as duas cadelinhas, o que também as deixa muito felizes. Juca, Dida e as outras cadelinhas prometeram continuar a encontrar-se, o que passa a acontecer sempre que vão passear com as donas, e tal como as suas donas, também as cadelinhas se tornam grandes amigas, e vão para casa umas das outras brincar.
Esta amizade canina foi com certeza verdadeira!
Esta amizade canina devia servir de exemplo para muitos seres humanos, que não sabem o significado verdadeiro de amizade!
           

Fim!
Lálá 
(11/Setembro/2011)



           





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