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quinta-feira, 24 de março de 2016

No vale do silêncio (adultos, mães que sofrem)

           


            Era uma vez um grande vale, num sítio isolado e silencioso. Tanto silêncio que até entranhava nos corpos. Mas este silêncio era curativo…diziam. Para esse vale iam muitas mães em grande sofrimento, e todas saiam de lá com uma força renovada, cheias de alegria e segurança. Só assim conseguiam dar a volta e ajudar quem mais precisava delas.
            Foi para lá uma mãe que não acreditava muito em lendas, mas quis experimentar. Precisava realmente de se isolar um pouco e renovar forças, porque tinha a braços uma bebé muito prematura, frágil e delicada, que umas vezes melhorava um bocadinho, outras vezes piorava e voltava a melhorar.
 O hospital onde estava a bebé cobrava muito dinheiro, e ela começava a ficar tão frágil como a bebé. Só queria que a filha se salvasse. Já não sabia mais onde ir buscar força…estava a entregar-se ao sofrimento, ao medo e á dor, á tristeza. Não era porque queria, mas porque simplesmente não estava a conseguir ser mais forte.
            Quando chegou a esse vale…estavam lá quatro mulheres verdadeiramente monstruosas, horrendas, e assustadoras, feias. Uma chamava-se tristeza, outra dor, outra fragilidade, incerteza. Essas mulheres começaram a rondá-la e a fazer-lhe carinhos.
            Aparece um anjo cheio de luz, de asas brancas, e grita:
- O que estão aqui a fazer, seus demónios…? Rua…aqui não é o vosso sítio.
            A mãe estremece e diz:
- Desculpe…vou já sair.
- Não és tu! Tu ficas. Este lugar é para ti. Elas estão a mais. – Diz o anjo.
- Tinha que estragar tudo… - Resmunga a tristeza
- Tinhas que aparecer. – Comenta a fragilidade
- Calem-se. Vão para a vossa casa. – Ordena o anjo
            As mulheres horríveis desaparecem contrariadas. O anjo sopra, e todo o vale fica cheio de luz e brilho.
- Filha…o que te traz aqui? – Pergunta o anjo
- Anjo…estou sem forças…a minha bebé nasceu muito antes do tempo, e está muito fraca…tenho muito medo de…ai…até me custa pensar nisso!
- Percebo. Não digas mais nada. Vieste à procura de força, não foi?
- Sim. Não consigo mais lutar.
- A tua filha precisa de ti, forte.
- Pois. Mas estou sem ela. A situação é muito grave.
- Sei. Mas não digas mais essas palavras tão escuras e pesadas!
- Não me adianta pensar o contrário…a incerteza e o medo estão a dar cabo de mim.
- Nada é certo…tudo é incerto, filha! Já os mandei embora do vale. Não os chames outra vez.
- Anjo…não sei mais o que fazer.
- Claro, não consegues pensar. Não penses…para já…não digas mais nada. Fica em silêncio e de olhos fechados.
            Faz-se um silêncio profundo e arrepiante em todo o vale, agora cheio de luz por estar lá um anjo. Passado uns minutos, a mãe abre os olhos e suspira.
- Então?
- Não sei.
            Entram no vale vários anjos, de asas com cores suaves, e um deles, douradas.
- Por favor…ajudem a minha bebé. E a mim também.
            Os anjos rondam a mãe, estendem as mãos, e cada um envia a sua luz para a mãe. A mãe fica toda iluminada e brilhante.
- Estás linda! – Sorri um anjo
            A mãe abre um grande sorriso
- Não sei o que me fizeram, mas sinto-me melhor.
- Não importa o que fizemos, o que importa é que existimos, e estamos aqui para te ajudar. – Explica outro anjo
- Dá-nos a mão…
            A mãe dá a mão e os anjos todos pegam na mão.
- Pensa na tua filha… - Diz outro anjo
            A mãe pensa na sua bebé. Enquanto isso, cada anjo envia a sua luz para a mão da mãe, e essa luz invade todo o seu corpo. O anjo com as asas douradas, envia luz para o pensamento da mãe.
- Agora quando estiveres com a tua filha, toca-lhe a sorrir, e a pensar em nós.
- Está bem. Muito obrigada pela força.
            Os anjos sorriem.
- Agora vai, filha. – Diz um anjo
- Estamos contigo, e com a tua filha. – Diz outro anjo
            A mãe sai do vale, muito mais forte, muito mais feliz e vai ver a filha. Quando toca na mãozinha da pequenina, fica cheia de luz. Uma luz que aquece e ajuda a amadurecer o corpo. A bebé recebe toda essa luz, e de noite, os anjos visitam-na.
Pegam na bebé ao colo, e levam-na para o vale do silêncio. No vale do silêncio, deitam-na numa nuvem branca. Milhares de anjos aproximam-se, e fazem uma enorme roda gigante.
Anjos com asas de todas as cores, dão as mãos, bafejam a bebé com a sua luz curativa, e envolvem a bebé numa enorme bola de vidro, cheia de uma luz linda, e maravilhosa, pura. Um anjo leva a bebé na bola de vidro para a incubadora e todos os outros milhares de anjos continuam de mãos dadas a enviar a sua luz para a bebé. Ninguém deu por nada.
Na manhã seguinte, começam a notar pequeninas melhorias na bebé. A luz dentro da bolha dos anjos vai continuando a trabalhar, para curar a bebé. A mãe volta ao Vale do Silêncio para se acalmar, e renovar forças, correr com o medo…e vê o vale cheio de lindos anjos...aos milhares, cheios de luzes.
- Não te assustes! – Diz um anjo
- Estamos aqui para a tua filha. – Diz outro anjo
- Estivemos com ela esta noite…e continuamos com ela. – Diz outro anjo
- Ela vai ficar boa. – Garante outro anjo
- Estamos juntos…ela está rodeada de luz! – Diz outro anjo
- Não importa o tempo. O tempo não existe…só ela decidirá quanto tempo vai demorar, mas vai ficar bem. – Assegura outro anjo
- Vais ter a tua filha nos braços, bem! – Diz outro anjo
- Ela está cheia de força…é lutadora. Vai vencer. – Diz outro anjo
- Estamos com ela! – Dizem os milhares de anjos
- Não te impacientes, nem te inquietes…espera! – Diz outro anjo
- Confia em nós. – Diz outro anjo
- Sim, eu confio em vocês. Este vale está cheio de anjos… - Diz a mãe a sorrir
- Sim! – Respondem todos
- Estamos todos com a tua filha. – Relembra outro anjo
- Muito, muito, muito…obrigada. – Diz a mãe
- Festeja todas as melhorias…por mais pequeninas que sejam! Isso reforça o poder da luz que lhe enviamos. – Aconselha outro anjo
            A mãe sentiu-se realmente forte e renovada, cheia de coragem. Os anjos trabalharam realmente bem para a menina. Em poucos dias, a menina apresentou melhorias, engordou, cresceu e tudo nela começou a funcionar melhor. A mãe pôde pegar mais tempo nela ao colo, e sempre que precisava, voltava ao Vale do Silêncio renovar as suas forças e a sua luz.
E a menina VENCEU…!   
FIM
Lálá 
(14/Novembro/2014)



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