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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

OS FRASCOS (história ou peça de teatro)

Frascos de Lara Rocha 



NARRADORA – Era uma vez, numa pequena aldeia, numa montanha, com poucos habitantes. Numa tarde cheia de sol, a pacata aldeia ficou em alvoroço…tudo por causa de uma mulher linda que lá apareceu. Ela era mesmo um sonho…parecia uma fada. Parecia…? Não. Era mesmo uma fada, e tinha uma missão muito importante para as crianças. Primeiro, reuniu todas as crianças num largo, sorriu-lhes…e disse docemente:
FADA – Olá meus pequenitos…!
CRIANÇAS (sorriem) – Olá.
DIANA (sorri) – Ááááhhh…és tão bonita!
FADA (sorri) – Obrigada! Tu também!
SOFIA (sorridente) – Tu és daqui?
FADA (sorri) – Não…! Mas passei por aqui.
GONÇALO (sorri) – Bem me parecia…nunca te tínhamos visto antes. Aqui conhecemo-nos todos.
GLORINHA – Mas tu és daqui de perto?
FADA (sorri) – Não.  
DIOGO – Aqui vive – se muito bem.
INÊS – E o que é que vieste cá fazer?
HUGO – És muito estranha…não pareces uma menina.
FADA (ri) – Então, pareço um menino?
(Todos riem)
HUGO – Não…mas és misteriosa.
FADA – Isso é porque não me conheces.
DIANA (sorridente) – Pareces uma fada!
FADA (sorri) - Minhas pérolas da Natureza! Tenho uma missão para vocês!
TODOS – Missão?
FADA (sorri) – Sim! Muito importante.
TODOS – Qual?
FADA – Eu tenho aqui uns frascos…!
INÊS – De vidro ou de plástico?
FADA – De vidro!
GONÇALO – A minha mãe e a minha Avó também têm muitos frascos.  
DIANA – Mostra…
(A Fada mostra uns frascos de vidro)
FADA – Alguém vê alguma coisa nestes frascos?
SOFIA – Eu vejo umas luzinhas.
FADA (sorri) – Boa!
DIANA – Eu também, e vejo além das luzinhas, uns sorrisos.
FADA (sorri) – Muito bem. Este frasco é para ti…segura-o. E este é para ti, querida…como te chamas?
DIANA – Eu chamo-me Diana! Obrigada.
SOFIA – Eu chamo-me Sofia. Obrigada.
FADA (sorri) – Muito bem. E neste?
INÊS – Eu vejo abraços!
FADA (sorri) – Muito bem! (p.c) Este frasco é para ti. Segura…!
INÊS – Obrigada.  
GLORINHA – Eu vejo flores, e borboletas nesse frasco!
FADA (sorri) – Muito bem! Este é para ti…como te chamas?
GLORINHA – Glorinha. Obrigada.
RITINHA – Eu vejo beijinhos.
FADA (sorri) – Boa. Este é para ti. Como te chamas?
RITINHA – Ritinha. Obrigada.
GONÇALO – Eu não vejo nada.
FADA – Então…este é para ti. Como te chamas?
GONÇALO – Gonçalo. Mas para que é que eu quero um frasco vazio?
FADA – Vais enche-lo com o que quiseres…coisas boas.
GONÇALO – Mas vou enchê-lo como? As coisas não cabem aqui.
FADA – Vais conseguir.
NUNINHO – Eu também não vejo nada.
FADA – Também vais enchê-lo com o que quiseres.
DIANA – E nós…? O que fazemos?
FADA – Vão abrir o frasco, e vão distribuir isso que viram em cada um deles, por habitantes da vossa aldeia e pela cidade quando lá forem.
INÊS – Mas, para quê?
SOFIA – Não vamos conseguir…!
FADA – Claro que vão conseguir. Porque não?
DIANA – Ela tem razão…porque as pessoas fogem de nós.
FADA – Fogem?
TODOS – Sim.
DIANA – Andam todos muito amuados…
INÊS – Carrancudos.
SOFIA – Sempre a correr…!
GLORINHA – Parece que andam todos desconfiados uns dos outros.
RITINHA – Não querem proximidade…!
DIANA – Andam tristes.
FADA (sorri) – A vossa missão é precisamente alegrar as pessoas que andam pelas ruas, muito tristes, solitárias e trazer-lhes de volta os sorrisos, dar-lhes carinho…!
SOFIA – Mas e se nos batem, ou se não quiserem?
FADA (sorri) – Vão querer, vão ver…no inicio podem fugir, mas digam que é gratuito…apenas querem ver um sorriso nas caras. (p.c) Se não quiserem, não faz mal, não insistam!
TODOS – Está bem!
GLORINHA – Mas porque é que nos escolheste a nós?
FADA – Porque vocês são as crianças mais humildes, simples, e bondosas que vi…! (p.c) As da cidade estão um pouco transformadas.
HUGO – Então vou encher o meu frasco com os sorrisos das pessoas.
FADA (sorridente) – Excelente ideia.
GONÇALO – E eu vou recolher as lágrimas das pessoas, para depois regar as plantas.
FADA (sorri) – Boa ideia.
NUNINHO – Eu não quero frasco nenhum.
DIOGO – Eu também não quero.
FADA – Não faz mal.
DIANA – E quando começamos?
FADA (sorri) – Quando quiserem. Pode ser agora mesmo.
RITINHA – E depois o que fazemos?
FADA (sorri) – Depois vão ver… (p.c) Voltarei dentro de alguns dias. Combinado?
TODOS – Sim.
FADA (sorri) – Muito bem. (p.c) Boa sorte.
TODOS (sorriem) – Obrigada.
NARRADORA – E os meninos que receberam os frascos, começam a concretizar a missão. Primeiro pela sua pequena aldeia, pedem a cada pessoa com quem se cruzam, que abram um frasco à escolha, e dão à pessoa…luzinhas, sorrisos, abraços, flores ou borboletas. Algumas pessoas abrem mais que um frasco, e recebem mais coisas. Todos reagem bem, riem, alguns deixam escapar algumas lágrimas de carinho, ternura e felicidade, são carinhosos com os pequenos, e retribuem. O Gonçalo recolhe as lágrimas para dentro do seu frasco. Mas na cidade, tudo é diferente. Muita gente que se cruza com eles, a alta velocidade ignora-os, ou assustam-se e fogem, porque acham que estão a pedir dinheiro, outras pessoas gritam e resmungam com eles, dizendo que não têm tempo a perder com canalha. Os meninos ficam tristes, mas não desistem, e ainda bem, porque, no meio de tanta gente indiferente, há pessoas que dão valor a pequenos carinhos, e atenção…algumas crianças, mães e pais, alguns Avós, que abrem os frascos todos, e recebem tudo, com grande ternura, alegria, mostram sorrisos abertos, abraçam com todo o carinho e beijam com inocência, pureza e gratidão. Os meninos agradecem, e quem recebe, também. Estão felizes, e orgulhosos. A Fada está atenta a tudo, e aprecia deliciada…e sorri. Nos dias seguintes, os meninos voltam a fazer o mesmo. A Fada volta a aparecer, e reúne-se com os meninos dos frascos. Os frascos estão novamente vazios.
FADA – Então, meus amores…como correram as coisas?
TODOS – Bem.
GLORINHA – Correu melhor aqui.
SOFIA – Sim, na cidade houve muita gente a fugir de nós, a ralhar-nos, a dizer-nos que não tinham tempo a perder com canalha…
INÊS – É. Na cidade foram poucos os que aceitaram.
DIANA – Eu não gostei de fazer isto na cidade.
GONÇALO – O meu frasco ficou cheio de lágrimas.
FADA (sorri) – É sinal que as pessoas ficaram emocionadas e gratas pelos vossos gestos, não é?
TODOS – Sim.
DIANA – Mas as pessoas andam mesmo com caras muito feias…!
GLORINHA – Acho que lhes aconteceu alguma coisa má.
FADA – Sim, queridas, e querido, as pessoas andam mesmo tristes, porque perderam a capacidade de sonhar, de acreditar em dias melhores, e de dar valor às coisas boas do coração, para si e para os outros. Vocês fizeram um excelente trabalho.
TODAS – Que mau!
FADA – Pois é. (p.c) E há tanta coisa boa e bonita para as pessoas se sentirem felizes, por estarem vivas, e pelo privilégio de ver e de sentir o carinho, os abraços que fazem milagres. Esquecem-se de sorrir, e de rir…é por isso que há muitos doentes. (p.c) Só porque cresceram, acham que já não é correcto e que não podem continuar a sonhar, a imaginar…têm medo de tudo.
DIANA – Eu acho que não tem nada a ver a idade com o sonhar, ou com o imaginar, e o apreciar as coisas boas.
FADA – Claro que não, doce Diana…! (p.c) Cabe a vocês, continuarem essa missão…! Sempre que puderem, deverão fazer o mesmo, para que a sociedade comece a ser um pouco mais saudável e colorida.
TODAS – Como?
INÊS – Irmos outra vez para a cidade e pedir às pessoas para abrirem os frascos?
FADA – Não…quer dizer…podem fazer isso, mas devem mudar um pouco…há outras formas… (mostra uma flor linda que dá luz) Estão a ver esta flor?
TODAS (sorriem) – Sim, é linda!
GLORINHA – E dá luz.
SOFIA (sorri) – Uau!
FADA – Muito bem, sim, é mesmo linda. E com ela, não vão precisar de se aproximar das pessoas, nem de lhes pedir para abrirem frascos.
DIANA – Então…oferecemos a flor?
FADA – Não. Esta flor vai dividir-se, e tornar-se pequenina, para caber nos vossos bolsos. Basta andarem com ela, e quem passar por vocês, vai ver-vos a sorrir…só tem de sorrir…para que as pessoas sorriam também. A luz que ela possui, é muito pura, e poderosa, vai dar às pessoas boas energias, para que se sintam bem.
TODAS (sorriem) – Ááááááhhhh…que bom!
FADA (sorri) – E sempre que entenderem, podem usar os frascos. (p.c) Vão ver que lindo que vai ser. (p.c) Alguma pergunta?
RITINHA – E não há nada que as faça ter vontade de sonhar…ter sonhos bons?
FADA – Sim, a flor já tem essa função.
SOFIA – Era tão bom, se víssemos as pessoas a sorrir.
FADA – Sim. E podem conseguir…! (p.c) Infelizmente poderá não ser toda a gente por quem passam, mas o mais importante é que vocês sorriam, e façam alguém sorrir. (p.c) Bom trabalho.
NARRADORA – A Fada distribui uma flor pequenina por cada menina e menino. Os pequenos metem-na no bolso, e vão passear pela sua aldeia. Na aldeia conseguem que todos sintam o efeito da flor e vêem sorrisos nas caras. Na cidade, acontece o mesmo que aconteceu com os frascos. No meio de tanta correria há sempre alguns que felizmente reparam, e sentem coisas boas, sorriem, embora a maioria das pessoas passe indiferente, com ar pesado. É fundamental que as pessoas voltem a sorrir, a sonhar acordadas, a reparar nas coisas boas e bonitas que há à sua volta, e que vivam com menos pressa, para que possam ver as belezas que todos os dias existem diante dos nossos olhos, por onde passamos, incluindo sorrisos de crianças. É urgente voltar a apreciar as luzes, as flores, as borboletas…dar mais e receber mais abraços e beijinhos, sem malícia, brincar mais…rir mais…ser mais positivos…talvez muitas doenças desapareçam. Cada um pode fazer a sua pequena parte, para que haja mais humanidade! Meninos e professores…Experimentem colocar dentro de frascos pequeninos ou envelopes, os ingredientes que os frascos da história tinham, e partilhem-nos com Avós nos Lares, ou dentro da vossa própria escola…peçam às pessoas que retirem algum desses ingredientes e ponham-nos em prática. Vejam o que acontece, e depois escrevam ou partilhem como ficou o vosso coração, e perguntem às pessoas a quem ofereceram os frascos, o que sentiu o coração deles.   

FIM
Lálá
(26/Dezembro/2012)

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