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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O SONHO DA MENINA

                                                                        desenhado por Lara Rocha 

            Era uma vez, uma menina ainda pequenita, que ficou triste com umas notícias de Guerra que ouviu na televisão. Muito intrigada, e na sua ingenuidade perguntou à sua Avó:
Óh Avó…esta Guerra é perto da nossa casa?
Não, filha…é muito longe! - garante a Avó 
Mas então, porque é que estão a dar estas notícias?
Olha, porque temos de nos manter informados, e há notícias de todo o mundo.
Mas eles andam à Guerra porquê?
Olha, porque são malucos…!
Mas se são malucos tinham de tomar medicamentos.
Óh, filha…a maluquice deles não passa com medicamentos, infelizmente. - ri a Avó 
Porquê?
Olha, porque…não sei. Não te preocupes com eles. Nós estamos aqui sossegadas no nosso canto, e aqui não há Guerra. - diz a Avó a rir 
Mas eu queria saber porque é que eles são tão maus. São muito maus não são?
São, querida, são. Mas não penses neles! Eles estão muito longe, deixa-os lá. Não te vem fazer mal.
Mas é muito mau o que eles estão a fazer, não é?
É, filha, é…!
Mas…se é tão mau o que eles estão a fazer, alguém devia ralhar-lhes, ou dar-lhes umas sapatadas para eles fazerem isso, não achas?
Sim, pois era. Mas eles já são muito grandes. - responde a Avó a rir 
E os grandes não podem levar sapatadas?
Alguns bem mereciam. Mas, não…não podem levar sapatadas. - ri a Avó 
Porquê? Se levarem sapatadas têm de ir para o hospital?
É.
Mas isso não fazia mal, se fossem ao hospital ficavam outra vez bons.
Deixa lá. Não penses neles.
Mas, Avó…porque é que os meninos também levam tiros dos grandes?
Porque são apanhados nos disparos. Apanham os tiros sem querer.
Mas os meninos deviam estar em casa para não apanhar com os tiros, não era?
Sim, era. Mas não estão.
Porquê?
A cultura deles, é diferente, lembras-te do que te falei o outro dia sobre isso?
Ááááhhh…sim. Mas, óh Avó…os meninos também têm armas! Olha…!
Pois têm, mas tu não tens, nem ninguém da tua família tem armas, fica descansada.
Ainda bem. Mas óh Avó…tu não podes ir buscar aqueles meninos, para a nossa casa, para eles não levarem com os tiros?
Óh, filha…(ri) claro que não posso…infelizmente…! A nossa casa é pequena…e depois como é que eu podia alimentar tantas crianças…? Não tenho dinheiro.
Pois, tens razão, Avó. Mas eu queria ter dinheiro para os tirar das armas. Eles não podem ter armas, tem de ter brinquedos…!
Sim, pois é. Deviam ter brinquedos, mas infelizmente há muitas crianças que não têm a sorte que tu tens.
Isso é verdade, Avó, é por isso que eu te adoro tanto! - diz a menina sorridente 
Eu também minha querida. Amo-te muito, muito, muito. (p.c) Vá, agora vai para a caminha…amanhã tens de te levantar cedo. - responde a Avó sorridente 
Mas, Avó, eu não quero a Guerra.
E não há Guerra, aqui, filha.
Olha…eles são seres humanos como nós?
Claro, querida. Olha bem para eles… têm cara como nós, têm cabelo, orelhas, olhos, nariz, boca, braços…
Sim, Avozinha…eu sei…eu vejo isso tudo, mas eles não são humanos.
Porque é que dizes isso?
Avó…Se eles fossem humanos, tinham coração.
E eles têm coração, todos os seres humanos têm coração.
Não estás a perceber, Avó. Eles não podem ter coração, porque se tivessem coração não andavam à Guerra. Não achas?
Ááááhhh…sim, claro. Tens toda a razão.
Eu sei. Mas óh Avó, eu queria dormir com aqueles meninos todos.- sorri a menina 
Sim, sim, filha…quando fores grande, ou quando nos sair o euro milhões nós vamos buscá-los todos. - reponde a avó a rir 
Prometes Avó? - pergunta a menina a sorrir 
Sim. (sorri) Agora…cama, e olha…fecha os olhos, e imagina que todos aqueles meninos estão aí á tua beira, está bem?
Está bem. (p.c) E vou rezar…e pedir às estrelas para acabarem com aquelas pistolas todas, e para salvarem os meninos todos! - sorri
Isso mesmo. - responde a Avó a sorrir 
Achas que elas me vão ouvir, Avó?
Sim, vão ouvir-te.
E tu vais fazer o mesmo não vais Avozinha querida?
Sim, minha querida, sim.
Boa! - sorri 
(As duas vão para o quarto da menina. A menina deita-se, a Avó cobre-a, beija-a carinhosamente).
Boa Noite, querida.
 – Boa Noite, Avó.
Sonha com os Anjos. - deseja a Avó 
Eles também vão acabar com a Guerra, e livrar aqueles meninos todos. - diz a menina sorridente 
Sim, vão. - assegura a Avó 
Avó…porque é que há gente tão má?
Óh, meu amor…dorme…! Não te preocupes com os grandes que não tem juízo.
Mas eu não quero dormir.
Mas tens de dormir.
 – E se os maus vem com as pistolas…?
 – Não vem maus nenhuns…!
 – Tu não deixas entrar?
Não. Dorme descansada…!
Mas, Avó, eu não consigo dormir, ao pensar que aqueles mauzões estão a matar meninos, que deviam estar a brincar.
 – Sim, tens razão, mas não penses nisso agora. Dorme.
Não é justo.
Pois não, filha…mas não podemos fazer nada, nem eles vem para cá.
Quando eu for grande, vou lá salva-los todos, e trago-os todos para cá.
É. Está bem. Mas ainda te falta muito para seres grande…dorme…assim cresces mais.
Está bem.
Até amanhã.
Até amanhã…e não te esqueças de rezar e de pedir às estrelas…o mesmo que eu.
Está bem. - diz a Avó já sonolenta 
Boa Noite.
Boa Noite.
         A Avó sai do quarto, um pouco cansada de tanta pergunta da neta, mas com vontade de rir. A menina adormece, e sonha…Sonha que enfrenta um bando de soldados cheios de armas, e que fala com eles. Ordena-lhes que acabem com a Guerra imediatamente, e que não matem mais meninos, nem peguem mais em armas. 
        No seu sonho, os soldados ouvem-na com atenção, e ficam emocionados com o discurso dela. Gostam tanto dela, que atiram as armas ao chão e nunca mais pegam nelas. Sonha que tira as armas aos meninos, que cura as feridas deles, provocadas pelos tiros, com a ajuda dos soldados, e oferecem-lhes brinquedos. 
        Também sonha que todas as casas foram reconstruídas, e ficaram casas muito bonitas. E antes de acordar, sonha que ouviu nas notícias que a Guerra tinha finalmente acabado, por causa de uma menina boa. Ela acorda feliz, e vai ter com a Avó a correr, contar o sonho.
Avó…Já viste que maravilha? Eu fiz acabar a Guerra. - diz a menina feliz 
 – Como seria bom, minha filha! - responde a Avó a rir 
Mas…não aconteceu? - pergunta a menina quase em lágrimas 
Infelizmente não.
Óóóhhhh…! Então…? Mas eu falei mesmo com os soldados, eu vi-os, e ralhei com eles…e tirei as armas…deles e dos meninos…!
Quem sabe…pode ser que um dia, isso aconteça mesmo. - diz a Avó com um grande sorriso 
Óóóhhhh…foi só um sonho!
Sim, um sonho muito lindo. - diz a Avó a sorrir 
Sim. (p.c triste) Eu gostava tanto que acontecesse mesmo.
Vamos rezar todos os dias, para que isso aconteça…e sabes o que é mais importante…? É que na nossa família, pelo menos…e em cada família…que conhecemos…haja paz, e não Guerra. - sugere a Avó 
Afinal aqui também há guerra?
É uma guerra às vezes um bocadinho diferente, mas há, filha…há famílias, como em alguns meninos da tua escola, onde os pais fazem guerra…uma guerra de palavras feias, e lutam…e nessas guerras os meninos também levam com balas…não umas balas de pistola, mas palavras que são como balas, e eles ouvem coisas muito feias, que os deixam muito tristes.
Sim, pois é. Conheço alguns meninos e meninas que têm os pais sempre muito zangados. (p.c) Mas isso é muito mau, não é, Avó?
Sim, querida, mas fica descansada porque a tua família não é assim, pois não?
Não. Nós damo-nos todos muito bem…e gostamos muito uns dos outros. Mas eu não queria que houvesse Guerra. (p.c) Sabes uma coisa, Avó…eu não quero ser Guerra para andar em Guerra, nem para ver Guerra. Os grandes são maus…e não quero ser má.
Óh minha linda, há adultos bons…na tua família e á tua volta não há?
Sim.
Então…?! Isso é o mais importante
Um dia, as estrelas vão ouvir-me. Não achas Avó? E não vai haver mais maus, nem armas, nem meninos feridos.
Sim, tens toda a razão. Cabe a cada um de nós, fazer pela paz…! Pelo menos, à nossa volta e com quem lidamos, nas relações que estabelecemos uns com os outros. (p.c) Se todos fizessem isso, o mundo seria um lugar mais tranquilo. (p.c) E no coração de cada um também deve haver sempre paz.

FIM
Lálá
(16/Dezembro/2012)



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