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quinta-feira, 21 de julho de 2016

O sino rebelde



Era uma vez um sino de uma torre de uma pequena aldeia, que era muito rebelde. Todos os outros sinos eram muito obedientes, tocavam apenas o que lhes mandavam, ou tocavam a música que lhes tinham ensinado a tocar a todas as horas, ou os toques para anunciar algo.
Chegava a vez desse sino e ele tocava só o que lhe apetecia, as músicas que queria, conforme as energias que sentia no ar, e adorava denunciar as verdadeiras emoções das pessoas, mesmo quando elas tentavam disfarçar.
Quase ninguém entendia o que ele queria dizer, e se estava chateado com alguma coisa que tinha acontecido ou ouvido, fazia um barulho insuportável, irritante, e escandaloso.
Umas vezes parecia que estava a gritar, outras a chorar, outras a rir, outras a troçar, outras vezes parecia que estava parado a pensar e deixava-se levar pelos sons da natureza à sua volta.
Todos ficavam muito surpresos, porque ele não tinha horas certas de o fazer…era quando queria, e ficava louco quando o obrigavam a tocar sons que ele não gostava.
Perguntava muitas vezes aos outros sinos se gostavam que os obrigassem a tocar músicas que eles não gostavam, e se gostavam mesmo dessas músicas que os mandavam tocar ou não.
Uns sinos não lhe respondiam, outros diziam que tanto lhes fazia tocarem músicas alegres ou tristes, outros reconheciam que tocavam porque eram mandados, mas não gostavam de todas as músicas.
O sino tentava convencer os outros a juntar-se e protestarem, mas os outros não lhe ligavam. Estavam habituados. Chamavam-lhe o sino rebelde e começaram a ficar fartos dele.
O presidente da aldeia fartou-se de tantas queixas dos habitantes contra o sino, e mandou retirá-lo da torre da igreja. Muitos homens reuniram-se e fizeram um grande esforço para o tirar da torre porque era enorme, muito pesado e tinham escadas para descer.
Pousaram-no no chão encostado a uma árvore velha com um tronco que parecia uma cratera oca. O sino continuou a tocar à sua vontade, de acordo com as emoções que sentia no ar, em quem passava por lá, e as melodias que queria, à hora que queria.
Ficaram irritados quando voltaram a ouvi-lo mesmo depois de tirado da torre. Alguém se lembrou de forrar o interior do sino com esponja e espuma…com isso ele apenas vibrava mas pelo menos já não se ouvia.
Ele ficou furioso, atirou-se para o chão, e pediu socorro para ver se alguém lhe tirava aquela cobertura. Não teve sorte. Ficou assim vários dias, e de um dia para o outro, desapareceu.
Foi levado por um homem que era director e músico de um coro de outra igreja, que o pendurou, tirou-lhe a cobertura interior, e o sino tocou de alegria, aliviado. O senhor achou tão engraçado, que pediu para ele lhe mostrar o que sabia tocar. O sino ficou tão feliz que mostrou tudo o que era capaz, sentiu-se livre, e contagiou o senhor com a sua felicidade que riu, dançou e aplaudiu.
Depois, o senhor descobriu que o sino tocava de acordo com as emoções que sentia no ar, de quem passava, mas era um segredo dos dois…só os dois sabiam isso, e o sino alertava o senhor quando as pessoas estavam a mostrar emoções falsas. Falavam um com o outro por códigos…discretamente, uma linguagem que só eles os dois entendiam.
E ele passou a fazer parte da animação das missas juntamente com o coro…às vezes nem eram canções que o coro conhecesse ou que tinham ensaiado, mas eram cantadas com tanta energia positiva que todos se deixavam levar por ele, e sentiam-se bem.
O sino passou a ser muito valorizado e usado para todas as festas. Aqui o sino podia ser ele mesmo, deixar as suas emoções falarem livremente, mais positivas e menos agradáveis, todos aprenderam com o sino a expressar também as suas emoções de forma natural, e livre, tão livre como os pássaros que pousavam no sino, e levantavam voo quando ele tocava, mas depois do susto, gostavam de o ouvir e até dançavam ao som das suas melodias.
O sino não saiu mais de lá, e tornou-se amigo de todos…era o ponto de atracão de quem ia visitar a aldeia, e dos próprios visitantes. Foi rejeitado num lugar, mas aceite noutro. A mudança levou-o para a felicidade.
Fim
Lálá

(21/Julho/2016)

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