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sábado, 30 de julho de 2016

O vento e o silêncio


Era uma vez uma jovem rapariga que se chamava Rubi, e vivia num acampamento de índios com uma grande família, numa montanha mais ou menos perto da cidade, onde às vezes também precisavam de ir trabalhar.

A vida era muito diferente no acampamento e na cidade! Um dia, Rosa, uma amiga da Rubi, que vivia na cidade, quis ir com ela para conhecer o seu espaço e a montanha. A Rubi também já tinha ido muitas vezes para a sua casa.

Foi muito bem recebida, no início achou tudo muito estranho, mas ao mesmo tempo engraçado e muito especial. Conheceu os muitos rituais de agradecimento, as danças diárias, as refeições, as roupas, as tendas, os objetos…ficou surpresa e assustada mas explicaram-lhe tudo com orgulho, e ela aprendeu encantada.

Teve a possibilidade de ver a maravilhosa princesa de vestido preto com estrelas, que ela pensava ser uma pessoa e afinal era a noite! Era muito mais bonita do que se fosse realmente uma pessoa como elas, pelo menos todos diziam isso e ela concordou.

Tanta estrela! Uau! De perder de vista. Deitados no chão…lindo! Diziam que a princesa de vestido preto era leve e bailava como uma pena, com o vento. Realmente parecia que todo o céu que estava por cima deles se mexia. A cama era muito confortável.

No dia seguinte, assistiu ao nascer do sol, e ao ritual que faziam para o cumprimentar e agradecer o terem acordado, e o que estavam a ver. Rosa arrepiou-se com a energia que se formou nesse momento.

De tarde a Rubi levou a sua amiga Rosa a um pequenino vale muito perto do acampamento, e disse-lhe para não falar! Ia conhecer dois amigos seus…esperam em silêncio até que chegaram os dois amigos…o vento que nunca vinha sozinho, trazia sempre o seu inseparável companheiro, de nome silêncio.

- Olha Rosa, chegaram! Olá! – Diz Rubi a sorrir

- Quem? – Pergunta Rosa

- Os meus amigos!

- Onde estão? Não vejo ninguém.

- Estão aqui. Amigos, apresento-vos a minha amiga da cidade. Chama-se Rosa.

- Mas tu falas sozinha?

- Não! Falo com os meus amigos!

- Amigos imaginários? Desculpa, acho que já somos muito crescidinhas para falar com amigos imaginários…isso são coisas de crianças pequenas…

- Não! Eles são reais.

- Mas não vejo aqui ninguém. A não ser…nós as duas!

- Fecha os olhos e ouve-os! Eles vão falar contigo. Não digas nada, para já. Primeiro ouve. O meu amigo silêncio acabou de te dar um abraço, e o meu amigo vento está a fazer-te carinhos! Estão a dar-te as boas vindas.

- Não senti nada…nem um nem outro. Nem os vejo! Os nomes dos teus amigos são esses? Vento? E silêncio?

- São.

- Nunca outra ouvi.

- Fica em silêncio.

- Mas eles falaram? Não ouvi nada…? Porque é que não aparecem? São envergonhados?

A Rubi ficou em silêncio e pediu à amiga para fazer o mesmo. Rosa ficou muito surpresa, ficou calada, mesmo sem perceber o que estava a acontecer, e porque tinha de ficar calada, porque é que os tais amigos não aparecem, nem ela conseguia ouvir…

- Rosinha…por favor…manda calar um bocadinho as vozes que estão a falar na tua cabeça.

- O quê? Estás a ouvir vozes na minha cabeça…? Ai…!

- Sim! São os teus pensamentos. Estás a pensar não estás?

- Estou…

- Sei que queres saber o que está a acontecer, que não estás a perceber nada, e que queres ver e ouvir os meus amigos…queres saber porque é que eles não falam, nem aparecem…mas…espera! Fica só em silêncio.

- Tu consegues ler os meus pensamentos?

- Consigo. É o vento que me está a dizer. Não te assustes. Fica descansada…sem falar, e aproveita esta companhia do meu amigo silêncio.

- Está bem…

- Sossega. Daqui a pouco vais saber todas as respostas.

E passado um bocado Rubi ri-se e fala com o vento.

- Estás a falar comigo? – Pergunta Rosa

- Não. Desculpa. Estou a falar com o meu amigo vento!

- Mas eu só te ouço a ti, e só te vejo a ti. Tu deves ter uns parafusos a menos…desculpa! É que não estou habituada a estas coisas…

- Não te preocupes. (sorri) Tu também podes ouvir o meu amigo vento, e o meu amigo silêncio! O meu amigo silêncio está aí ao teu lado. O meu amigo vento está a falar…fica em silêncio, fecha os olhos e ouve o que a brisa que sentes te diz. Não é uma pessoa, mas ele fala. E como vem com o seu amigo podemos ouvi-lo, perceber o que diz quando toca nas folhas, nas flores, no chão, na erva, na água, nas folhas dos pinheiros, entre os troncos, nas penas dos pássaros, no pelo dos animais, nas árvores e em nós…ele também canta e fala de sentimentos. Sente…ri…chora…revolta-se…os dois também vão à cidade, mas nunca ninguém os ouve, ou entende. Se o nosso amigo silêncio não andasse com ele, nunca conseguiríamos ouvir o vento, nem percebê-lo, tal como acontece entre nós pessoas…também não nos conseguimos ouvir uns aos outros, se falarmos ao mesmo tempo, ou se estivermos distraídos a pensar noutras coisas, enquanto falamos com alguém. Na cidade há muito barulho, e movimento, não conseguimos senti-lo…passa-nos despercebido com tanta correria. Na cidade, o vento não é bem recebido, a não ser quando está calor. Mas ele gosta de conversar. Aqui aprendemos a ouvi-lo, e é muito bom! Experimenta. Só tens de fechar os olhos…estar em silêncio, e ouvi-lo!

Rosa ouviu a Rubi atentamente, e sorriu com a beleza da explicação. Nunca tinha pensado em nada disto. Nunca outra tinha ouvido, e nunca tinha falado com o vento, nem achou que fosse possível…pensou que essas coisas eram ideias de pessoas misteriosas, com poderes, ou com algum problema mental, pois era o que lhe diziam na cidade.

Rubi ensinou-a, e vários fins-de-semana seguidos, a Rosa acompanhou Rubi ao pequenino vale onde as duas se encontravam com o vento e com o silêncio, e aprendeu também a ouvir o vento, a compreendê-lo, a interpretá-lo, a falar com ele!

Com o silêncio, ela sentia uma grande paz, alguma coisa que ela não conseguia dizer por palavras, tal como a Rubi, arrepiava-se, ria e chorava com a Rubi e com os dois amigos. Depois de aprender, as duas tinham longas conversas com o vento, e Rosa ficou muito diferente!

Até na cidade ela sentia a presença do seu amigo silêncio e do vento, às vezes chamava-os, quando precisava de relaxar e tomar decisões ou fazer escolhas difíceis, pedia conselhos e ouvia-os.

Com a Rubi e os seus dois amigos: o vento e o silêncio, Rosa descobriu todo um mundo novo que estava diante de si, mas que lhe era totalmente desconhecido pelo barulho e agitação da cidade.

Fim

Lálá

(30/Julho/2016)


DESAFIO:

E vocês? Conseguem estar em silêncio e ouvir o vento? Já imaginaram que o vento fala? O que acham que ele diz ou pode dizer? O que ouvem no silêncio? Imaginem, experimentem e escrevam alguma coisa que o vento vos tenha dito.

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