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quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

O prémio das estrelas


O prémio das estrelas


   Era uma vez uma vela que vivia num grande salão com outras velas de todos os tamanhos e cores. Não estavam sempre acesas, e nunca derretiam porque os abraços que trocavam sempre que estavam a ficar pequeninas eram sentidos, verdadeiros, e fazia-as crescer outra vez.
         Para se entreterem faziam grandes festas, declamavam poemas que tinham ouvido e gostado, inventavam outros. Meditavam sobre o que ouviam e diziam, aplaudiam.
Diziam palavras soltas que lhes passavam pela mente, faziam jogos com essas palavras, riam, choravam, brincavam e dançavam ao sabor do vento. Que lindo que era.
Outras vezes, ficavam em silêncio, que era respeitado por todas, que apenas estavam presentes e trocavam abraços ou beijos se precisassem. Não precisavam do ruído das palavras para se entenderem. Bastava uma chama quase desaparecer e todas sabiam.
         Das grandes janelas do salão viam muita coisa: o sol, a lua, e as estrelas, e também ouviam muitos sons. Mas não eram só elas que viam…havia alguém que as via e ouvia, fora do salão, um ser transparente, uma mulher enviada pelas estrelas.
Mas ela nunca se tinha mostrado! Apenas durante muitas noites escolheu aquele jardim como refúgio, porque sentia uma energia muito especial, que a preenchia, sentia-se muito bem naquele espaço. E sempre que ia, ouvia deliciada as palavras que elas diziam, meditava com elas, ria e até chorava com elas.
Um dia, ela decidiu mostrar-se para agradecer o bem que elas lhe faziam sentir…as energias boas. As velas decidiram passar uma noite diferente: apagaram todas as chamas e ficaram a ver uma lua gigante que viam das janelas. Parecia quase dia.
Da lua desceu uma mulher vestida da sua cor, igualmente linda, misteriosa, elegante. As velas gelaram quando perceberam que havia uma energia no exterior diferente das que estavam habituadas a sentir, e ficaram ainda mais inquietas ao ver uma sombra a caminhar e a aproximar-se do salão.
Não sabiam quem era, nem o que estava lá a fazer. Ficaram muito assustadas, deram as mãos, juntaram-se o mais que puderam e murmuram umas com as outras.
- Vem ali alguém.
- É uma pessoa?
- Acho que sim.
- Parece…pelas curvas.  
- Estou a ficar nervosa!
- Eu estou assustada.
- Sinto uma energia diferente…
- Vem de lá de fora.  
- Estamos juntas… - Dizem todas
         A sombra ganha forma humana. Tinha uns cabelos escuros enormes, e um vestido luminoso.
- Hoje está muito escuro aqui…e silencioso! – Comenta a mulher misteriosa
         Ela entra no salão com uma grande orquestra de estrelas e uma fotógrafa. A orquestra começa a tocar, a rapariga dança e do seu cabelo pingam pequeninos pontinhos luminosos.
         As velas estão deslumbradas, não resistem, perdem o medo, e percebem que aquilo que está a acontecer é bom. Rapidamente ficam contagiadas com a música e com a beleza da rapariga.
Acendem-se ao mesmo tempo, muito surpresas, sorridentes e começam a dançar ao ritmo da música juntamente com a rapariga. Mas as surpresas não ficam por aqui…!
Quando roda o seu enorme vestido, soltam-se dele grandes cristais transparentes, que formam um enorme candeeiro de salão, com uma luz branca azulada que se reflecte no chão de azulejo que as velas nunca tinham visto.
Do seu sorriso soltam-se muitos outros brilhantes que se transformam em lâmpadas e espalham-se por todo o lado. As velas aplaudem com um grande sorriso, e quanto mais a rapariga dança com a sua leveza, mais felizes as chamas ficam, e mais dançam…tornam-se enormes…como nunca visto.
- Esta é toda a luz da vossa amizade. Esta luz foi criada com a energia e força da vossa amizade e pureza dos vossos sentimentos.
- Ááááhhh…Que lindo! – Exclamam todas
- Sim, é mesmo! – Diz a rapariga
- Que linda que ela é! – Dizem todas
- É um prémio por tudo de bom que me deram estas noites todas, quando estive aqui no vosso jardim para meditar e senti toda a vossa boa energia que me fez tão bem…adorei ouvir-vos a declamar poemas, e a meditar sobre palavras, eu fiz o mesmo. Adorei o vosso respeito umas pelas outras, quando queriam ficar em silêncio. Adorei os vossos jogos, os vossos sentimentos sinceros, a vossa amizade, adorei tudo! Muito obrigada por tudo.
         Elas sorriem e dizem:
- Muito obrigada por toda esta luz.
- Como é que estiveste sempre lá fora, e nunca te vimos…? – Pergunta uma vela
- É…realmente…e nunca te sentimos, nem ouvimos.
- Só hoje sentimos uma energia diferente.
- Depois, vimos uma sombra…
- E depois apareceste tu.
- É. Eu nunca quis aparecer. Não ia ser um intruso…não queria incomodar-vos, nem invadir o vosso espaço. Só queria paz, meditar, e ouvir-vos…sentir todas as coisas boas que me transmitiam. Até que hoje decidi aparecer e agradecer-vos desta forma. – Explica a rapariga
- Tão linda! Muito obrigada, nós. – Dizem todas  
- Não vás embora, por favor… - Pede uma vela
- Fica! – Pedem todas  
- Agora vou. Mas voltarei. Posso? – Pergunta a rapariga
- Claro que sim. – Dizem todas
- Adoramos conhecer-te…
- Danças tão bem.
- Aparece sempre que quiseres.
- Estamos sempre aqui.
- E podes entrar nas nossas brincadeiras, jogos, meditações…
- Boa! Até breve, e que essa voz luz nunca se apague, muito pelo contrário que se torne ainda mais forte…há muita gente que precisa dela. – Diz a rapariga a sorrir
- Seremos mais fortes se juntarmos a tua luz! – Diz uma vela
- Claro…juntas somos mais fortes. – Diz outra
- Claro que sim! Boa Noite! – Diz a rapariga
- Boa noite! – Dizem todas  
         A rapariga volta para a sua Lua e as velas ficaram tão felizes que nem dormiram essa noite. Conversaram e dançaram, divertiram-se e até viram o sol nascer! Outro espectáculo maravilhoso, que as deixou com mais energia, força e alegria.
         O salão nunca mais foi o mesmo. A rapariga voltou sempre e fez com elas longos serões, festas, danças, alegria, brincadeiras, carinhos e jogos, e também respeitou quando queriam ficar em silêncio. Tornaram-se numa verdadeira família, e as velas continuaram a viver com a mesma simplicidade e amizade.

FIM
Lara Rocha 
(26/Janeiro/2016)

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