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quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A fisga





Era uma vez um menino muito malandro que ocupava a maior parte do seu tempo a brincar com uma fisga que o seu Avô construiu. 
Quando o Avô a construiu não foi a intenção de que ele a usasse para fazer asneiras e maldades, mas essa parte, não era a vontade do menino.
Das primeiras vezes, meteu a sua família em gastos, porque atirava pedras com a fisga contra os vidros das casas dos vizinhos de quem ele não gostava, e os vidros ficavam estalados ou partidos.
Os vizinhos iam resmungar e os pais pagavam os estragos, mas punham o menino de castigo. 
Passado uns dias, ele punha-se com ar de anjo doce, sorridente, meigo, ajudava toda a gente, e voltavam a dar a fisga, com a promessa de que não voltaria a fazer nada de mal. Era só fachada, porque pouco depois, estava a fazer asneiras.
Da segunda vez, ia com a fisga pelo caminho, e atirava bolotas a quem passava, principalmente aos mais velhos, e ria-se. 
É claro que os mais velhos não acharam piada nenhuma, e alguns ainda lhe deram uns puxões de orelhas, mesmo depois de ele pedir desculpa.
Para que não fizessem queixa dele, ele fazia-se de bonzinho, ajudava os mais velhos em quem acertava, e inventava a desculpa esfarrapada de que estava a tentar correr os pássaros que pousavam nas plantações para as comer, mas às vezes falhava na pontaria.
Esta desculpa convencia uns, que acreditavam e até lhe agradeciam, diziam que ele estava a ser muito simpático, cuidadoso e amigo, ao proteger as plantações, mas recomendavam-lhe que treinasse melhor a pontaria, para não acertar nas pessoas.
Mas outros ficam mesmo muito zangados, e nada servia de desculpa, por mais que ele quisesse arranjá-las, e faziam queixa aos pais. 
Os pais punham-no de castigo, mas o seu ar de criança, e as desculpas que ele arranjava, acabavam por transformar os pais, em castigadores passageiros.
Ralhavam-lhe, punham-no de castigo, mas não adiantava nada, porque a seguir ele mostrava o seu lado mais inocente e doce, e os pais acabavam por acreditar que ele não fazia mesmo por mal.
Outra vez, quando saiu do castigo, lembrou-se de atirar pedras a pássaros…feriu muitos, e alguns magoaram-se mesmo a sério, ainda mais quando o menino se lembrou de convidar os pássaros a experimentar a fisga…!
Eles experimentaram-na como se fosse um baloiço, pendurando-se no elástico, e outros faziam equilibrismo. O menino aplaudia e ria-se, e os pássaros ficavam todos vaidosos!
Não pensavam que podiam magoar-se, mas um dia o menino malandro quis divertir-se à custa dos pássaros, e disse para eles se agarrarem ao elástico que iam voar.
Os pássaros já sabiam voar, mas este voo ia ser diferente! Quando os pássaros pousaram, o menino puxou o elástico e largou…os pobres pássaros chilrearam assustados, tentaram dar às asas mas não conseguiram porque iam com tanta velocidade que perderam o controlo de tudo.
Uns só pararam quando chocaram com as árvores, outros quando caíram na água, outros caíram no solo, outros no telhado, e todos se magoaram. O menino fartou-se de rir, maldoso, mas quando deixou de os ver, foi à procura.
Quando viu que todos estavam feridos, ficou muito envergonhado e arrependido. Pediu ao Avô que o ajudasse…disse-lhe a verdade…o Avô deu-lhe umas valentes sapatadas, e ralhetes, sermões…o menino ouviu calado e com as lágrimas nos olhos.
Pegaram nos pássaros, meteram-nos num carrinho de mão, e levaram-nos ao veterinário da aldeia. Todos tiveram de fazer vários curativos. 
O Avô ficou com os pássaros na sua casa, alimentou-os, deu-lhes água e carinho, e o menino ficou triste pelo que fez.
- Óh…que vergonha! Só fiz asneiras com esta fisga…como foi possível! Não sabia que isto era tão perigoso. Ai…! – Murmura o menino
Apareceu um anão com asas que assistiu a tudo e foi mandado por uma fada com poderes bondosos, e disse:
- A partir de agora não vais mexer mais nessa fisga. Eu vou levá-la.
- O quê?
- Isso mesmo.
- Quem és tu?
- Isso não interessa. Sou do bem, e vou levar a tua fisga. Não soubeste brincar com ela.
- Sim, tens razão, mas não podes levá-la assim.
- Só estou a cumprir ordens.
- Ordens? De quem?
- Dá-me a fisga e não me faças mais perguntas.
- Mas…
- Rápido. A fisga!
- Olha que ela é perigosa.
- Olha a quem vens dizer… (ri às gargalhadas) é por isso que vais ficar sem ela.
- Óhhhh…
O menino entrega a fisga e o anão desata a correr com ela. O menino vai falar com o Avô e faz queixa.
- Bem-feito. – Diz o Avô
- Ainda estás zangado comigo, Avô?
- Claro! Achaste que eu ia ficar contente, depois de tanta asneira que fizeste? Eu não te ofereci isso para seres mau.
     Uns dias depois, o Anão com asas regressa e devolve a fisga.
- Vê se agora a usas com muito juízo.
- A minha fisga! – Diz o menino com um grande sorriso
   E mal o anão vira costas, o menino foi experimentar. Para grande surpresa dele, quando puxa o elástico em sítios diferentes, quando tentou acertar em aves, flores ou pessoas, voaram gotinhas de luzes, bolinhas de água, flores perfumadas, borboletas, bolinhas de sabão, e beijinhos.
Ele experimenta atirar pedras, mas estas caem-lhe nos pés e nas costas. Ele chora e resmunga, aparece o anão com asas a rir às gargalhadas, e diz-lhe que é uma lição para o menino aprender…o menino percebeu que era a consequência de ter feito tanta asneira e tanta maldade com a fisga.
Agora só iria usar a fisga para o bem, para atirar coisas boas às pessoas e às aves, até para as casas. 
E foi isso mesmo que o menino fez…em vez de pedras e bolotas, atirava só o que a fisga mandava…a partir daí, todos começaram a gostar muito do menino, porque ele só tinha que puxar o elástico, a fisga fazia o resto, mandava tudo o que era preciso nesse momento, para a pessoa. A fisga tornou-se mágica, e com ela, o menino ajudava todos os que precisavam.
FIM
Lálá
(19/Agosto/2015)


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