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quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Caminho de ida e volta

                                                foto tirada por Lara Rocha 

Era uma vez uma boneca feita de madeira, palitos, por isso era fininha. A sua cabeça era uma bolinha redonda de madeira. Os olhos, dois botões pretos, o nariz uma molinha e a boca um pedacinho de feixo. Tinha cabelos compridos de cor castanha muito encaracoladinhos feitos de lã. Usava uns sapatinhos de malha a condizer com o vestido. Esta boneca vivia numa toca de uma árvore com a sua família, numa grande floresta, onde tudo era puro e bonito, não havia poluição, nem guerra.
Uma tarde, a boneca saiu de casa e disse aos pais que ia dar uma voltinha. Os pais deixaram-na ir, com muitas recomendações, as de sempre, sobre a segurança, e que ela já sabia de cor e salteado. Ouviu e prometeu ter cuidado. Ela não tinha nenhum lugar especial para ir na grande floresta, mas queria andar um pouco.
Seguiu pelo caminho do costume, e viu coisas que sempre tinham estado lá, mas como ela passava sempre a correr, ou ia distraída sozinha com as suas brincadeiras, ou com os manos, primos e amigos, por isso não reparava em nada.
Desta vez, ela caminhou devagar, e viu tudo o que conseguiu ao pormenor, coisas lindas, flores, árvores que pareciam gente, de braços abertos e troncos ondulados. Cruzou-se com coelhos, que saiam das tocas apressados, viu toupeiras à superfície à procura de raízes.
Ouviu e viu passarinhos a chilrear e crias bebés em ninhos à espera de comida, esfomeados, viu as suas mães a voar e a transportar alimentos. Parou para conversar com fadas que estavam a costurar uma bela toalha rendada, abelhas e borboletas a aspirar pólen das flores e a levá-lo para as fábricas onde os anões o transformavam, em rebuçados, cremes, xaropes, bolos, e outros objectos.
Brincou com macacos, fugiu de leões, chitas, leopardos, e panteras, correu com lebres, andou montada no cavalo Universo, e depois passeou de caracol que a levou a ver o resto…as cascatas onde estavam fadas a tomar banho, sereias a aquecer as lindas vozes e a ensaiar para espectáculos, morcegos a dormir pendurados em troncos e em grutas, onde entrou, e viu cristais no tecto e no chão.
- Que coisas tão bonitas! Nunca tinha vindo aqui. Aquelas sereias cantam mesmo bem! E que lindas que são. Um dia destes, viu ver se elas me deixam tomar ali um banhinho! As águas são transparentes. O sítio onde vivo é mesmo maravilhoso, cheio de surpresas. Como é que eu nunca vi aquilo? Se calhar já estavam lá, acho que não iam aparecer ali, só para eu ver! Estas grutas…são um sonho…parecem salões de bailes! E a água a cair…a circular por estes caminhos…parece que fazem música! É tão bom este som! Onde será que vai dar esta água?
E continua a explorar a gruta, até chegar a um laguinho com peixes de todas as cores e tamanhos.
- Áh! Que lindo! Então vem ter aqui a água! Tantos peixes…e um de cada cor…são todos diferentes.
Um peixinho brincalhão vem à superfície com a boca cheia de água, e envia um grande chafariz para a boneca, da sua boca. Ainda não satisfeito, mergulha de propósito e com esse salto, a boneca leva um banho completo. Ela grita e o peixinho ri-se.
- E agora? Como é que eu me vou secar?
E sai da gruta muito zangada. Continua em frente, e o sol seca-lhe a roupa num instante.
- Obrigada, sol!
E pára junto a um enorme campo onde estão vacas, bois, cavalos e póneis a pastar sossegados. Por trás tem uma montanha, aquela que a boneca vê do terraço da sua casa, mas nunca lá foi.
- Aqui…é onde acaba a aldeia. Já andei tudo? Parece que andei pouco.
E começa a subir à montanha. Pelo caminho apanha amoras, framboesas e umas folhas que ela conhece bem, que dão para fazer chá. Vê plantações de milho, de cabaças, pepinos, alfaces, batatas, árvores de frutos vários, cruza-se com alguns lobos que a cumprimentam e perguntam se quer ajuda, ou se está perdida. Ela agradece e diz que não, aproveita e conversa um pouco mais com eles…que simpáticos que eles são.
De repente, o céu que estava limpo, quando a boneca saiu de casa, fica cheio de nuvens, escuras, carregadas, e o sol esconde-se. A boneca estava tão encantada com a paisagem que estava a ver do cimo da montanha, que só acordou quando sentiu um vento frio e forte acabado de se levantar. A boneca estremece, olha para o céu muito surpresa, e pergunta:
- Áh! O que aconteceu? Ainda há bocado estava sol, e agora…nuvens por todo o lado e este vento…ficaram com inveja, foi? Também vieram ver a paisagem?
As nuvens riem, e caem algumas gotas de chuva em cima da boneca. A mãe da boneca, como sabia que a filha era muito distraída, pensa em tudo, e sabia que ela ia perder-se no passeio, enviou uma borboleta especial, que foi sempre atrás dela, discreta e silenciosa, para a proteger e tudo o que ela precisasse.
- Menina…acorda! Está na hora de ir para casa. Não tarda nada, vai chover forte! – Diz a borboleta
- Áh! Quem és tu?
- Estou sempre contigo!
- És a minha sombra?
- Não! Sou tua amiga e tua protectora!
- Nunca te tinha visto antes!
- Pois não…mas ando muitas vezes contigo!
A boneca sorri, não sabe que foi a mãe que a enviou, mas gosta dela e agradece-lhe.
- Então, mas ainda não me disseste o que aconteceu ao céu…
- Vamos embora! Eu explico-te pelo caminho.
- Está bem! Realmente está frio e há muitas nuvens.
Elas descem a montanha, e cruzam-se com matilhas de lobos que voltam para as tocas apressados. Os pássaros voam baixinho e com dificuldade, correm para os ninhos, caem mais pingas.
A borboleta abre as suas asas, que pareciam pequenas, mas abertas eram enormes, e abriga a boneca.
- Áh! Tens guarda - chuva?
- Tenho!
- Já sabias que ia chover?
- Já.
- Como? Eu não sabia de nada!
- Mas não se tem falado noutra coisa…tu é que com certeza, e como sempre, andas distraída!
- Do que estás a falar?
- Não reparaste que havia mais agitação na floresta?
- Reparei…mas…o que é que isso tem a ver com as nuvens e a chuva?
E passam esquilos a correr, carregados de nozes, os coelhos e as lebres voltam para as tocas a correr, tudo procura abrigo.
- Porque estão todos a fugir? – Pergunta a boneca
- Porque está a chover. Acorda rapariga…amanhã será um dia muito especial…
- Alguém faz anos?
- Não! Quer dizer…que eu conheça não!
- Então é especial porquê?
- Porque hoje...termina o Verão, e amanhã chega o Outono! No Outono, o tempo é mais instável, por isso já se preparam para depois não andarem à chuva, nem passarem fome!
- Ááááhhh…claro! Como é que eu não me lembrei disso!
- Estás sempre distraída! É por isso que estou sempre contigo!
- Óh! Muito obrigada. Foi a minha mamã que te enviou, não foi?
- Foi!
- Realmente, se não fosses tu, eu já estava toda encharcada. Nunca pensei que fosse chover.
- Claro! Mas na estação do ano que começa amanhã, devemos pensar nisso, e estar preparados para essas alterações…de calor…para frio, e de sol para nuvens, vento…
- Pois. Não me lembrei que hoje termina o Verão. Até parece que o Outono é que já chegou.
- Sim.
A chuva carrega e ela acelera o passo. Pelo caminho conta à borboleta tudo o que viu, e chega a casa, seca! Os pais ficam descansados quando ela entra a porta.
- Mãe…Pai…manos…sabiam que está a chover? – Repara a boneca
- Claro! – Respondem todos
- Basta olhar lá para fora. – Acrescenta um irmão
- Pois. Já sabiam que ia chover? – pergunta a boneca
- Não! – Respondem todos
- Mas amanhã vai haver festa aqui na floresta! – Lembra outro irmão
- Ai…já te tinham dito? – Pergunta a boneca muito surpresa
- Já! – Confirma o irmão
- A mim não me tinham dito. – Diz a boneca
- Já tinham dito, sim! Tu é que estás sempre distraída e não ligaste! – Comenta outra mana
- É verdade! – Dizem os pais
- Hoje termina o Verão! – Lembra a boneca
- Sim! – Respondem todos
- Já sabíamos. – Lembra outro mano
- E amanhã começa o Outono! – Diz a boneca
- É! – Respondem todos
- E vai haver a festa da folha, aqui na floresta. – Lembra outra mana
- Áh! Boa! Adoro essa festa! – Diz a boneca
A chuva cai torrencial, com trovoada e vento forte. A boneca conta tudo o que viu… Se não fosse a borboleta enviada pela mãe, a boneca tinha-se perdido, ou tinha apanhado uma grande chuvada.
No dia seguinte, faz-se a grande festa da folha, na floresta, com muitos petiscos, bebidas, danças e cantares.
Acham que a boneca continuou a ser muito distraída, ou começou a estar mais atenta ao que acontecia à sua volta? E vocês? Fazem alguma festa quando chega o Outono?
O que é que vêem nos vossos caminhos? 
Já alguma vez caminharam mais devagar e nesses passeios descobriram coisas que nunca tinham visto antes? O que viram? 

FIM
Lálá
(20/Agosto/2015)




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