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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O PALHAÇO DESMONTADO


Era uma vez um menino que não tratava muito bem dos brinquedos. Quando estava muito zangado, destruía o primeiro brinquedo que apanhava, depois, o pai e o Avô, pacientemente e com muito carinho concertavam-nos. Mas ele voltava a destrui-los, na zanga seguinte.
- Já te disse que os brinquedos não são para destruir rapaz…! – Dizia o pai
- Eu não destruí! – Diz o rapaz
- Ai não? Então…? Montaste-os? – Pergunta o Pai
- Sim! – Diz o rapaz
- Que mãos! – Resmunga o Pai.
- Outra vez…? – Ralhava o Avô
- Um dia destes não concerto mais nada. – Ameaça o Pai
- Eu já não concertava hoje…tens de aprender a ser um rapaz meigo, até com os brinquedos. Quem tos oferece de certeza que ficaria muito triste ao ver o que fazes com as ofertas. – Diz o Avô.
- Eles não sentem nada. São de madeira. – Argumenta o rapaz
- É claro que sentem… - Garante o Avô
- Isso são histórias que contam à Filipa. – Defende o rapaz
- Ela sim, trata dos brinquedos como deve ser. – Diz o pai
- É menina… - Diz o rapaz
- Sabe comportar-se. E sabe que os brinquedos são para brincar, não são para estragar, porque eles sentem, e são nossos amigos. – Diz o Avô.
O menino pousava os brinquedos todos estragados na bancada do Avô, e virava costas. Desta vez, a vítima do seu nervoso foi um lindo palhaço de madeira, de fato colorido, ao xadrez, e uma cara pintada, risonha, todo articulado, que mexia o corpo todo.
Só porque a mãe não lhe deu o que ele queria, ficou tão zangado que agarrou no palhaço e desmontou-o todo.
- Ai, estás-te a rir…? Espera que já vais ver… - Diz o rapaz raivoso
- O que é que eu fiz?
O pobre palhaço grita, e tenta segurar as suas partes, mas a sua dor começou a tomar conta de si…e deixou de gritar. Perdeu as forças, porque o menino: separou a cabeça do resto do corpo, arrancou a cabeleira, rebentou as cordas do tronco, dos braços, das pernas e dos pés, de tanto que puxou por ele. Depois, ainda não satisfeito, pegou nos pedaços todos e atirou pelo ar…foi uma parte para cada lado. Pobre boneco!
Depois da destruição saiu do quarto amuado e bateu a porta. O boneco geme.
- O que foi isto? – Perguntou uma boneca delicada da irmã
- Mais uma vítima nas mãos daquele estouvado. – Responde outro boneco
- Mas ele é mesmo palerma… - Diz a boneca.
- Olha como ele pôs o desgraçado do palhaço… - Observa outro boneco.
- Mas que terror. E logo um palhaço tão giro. – Suspira a boneca.
- Foi um sonho mau, ou…o que eu…sonhei que aconteceu, aconteceu mesmo? – Pergunta o palhaço
- Desculpa desiludir-te amigo…! Infelizmente aconteceu mesmo! Não foi um sonho mau que tiveste…foi real! Foste mais uma vítima daquele terror…! – Diz o outro boneco
- Óh! Coitadinho. – Lamenta a boneca
- Vamos cuidar de ti. – Diz o outro boneco
- (olha em volta) Estes pedaços são meus?
- Sim! – Respondem os dois
- Óh…não posso acreditar. – Diz o palhaço assustado
- Calma, amigo… vais já ficar como novo. – Assegura o outro boneco
O boneco e a boneca pegam nos pedaços todos, com carinho, aproximam-se dele, e tentam juntar os pedaços.
- É assim, mas falta cola… - Lembra o boneco
- Pois é…está aqui. – Diz a boneca
Pegam no tubo de cola, e colam todos os pedaços do palhaço. Num instante, o palhaço fica como novo.
- Já está! – Diz o boneco sorridente
- Que lindo! – Diz a boneca
- Foi rápido! – Diz o palhaço
- Já temos muita prática! – Assegura o outro boneco.
- E tu até foste mais ou menos fácil de montar, porque temos situações de montagem muito mais complicadas! – Diz a boneca.
- Felizmente, juntos conseguimos sempre. – Diz o outro boneco.
- Pois. E somos sempre nós que reconstruimos os brinquedos que aquele diabo destrói. Não pode ver nada direito! – Resmunga a boneca.
- Agora tens de secar um pouco, amigo! – Diz o outro boneco.
- Está bem, como faço isso? – Pergunta o palhaço?
- Nós levamos-te até ali. – Diz a boneca.
Os dois bonecos arrastam-no com cuidado para o chão onde há sol, e deixam-no ao sol para secar. Enquanto isso, os três bonecos falam e riem alegremente uns com os outros. Quando o palhaço está seco, os três dão as mãos, e fogem para o quarto da Filipa, abraçam-se e beijam-se.
- Conseguimos! – Gritam os três
- Aqui estamos seguros, com toda a certeza! Seremos muito bem tratados. – Garante a boneca.
- Achas que ele não vai dar pela nossa falta? – Pergunta o palhaço
- Claro que não…ele nem para os brinquedos olha…a esta hora já se esqueceu de nós, e do boneco que destruiu…aliás…já deve estar a pensar no próximo boneco ou brinquedo que vai destruir…ele não sabe o que é brincar, nem para que servem os brinquedos. Não valoriza a amizade verdadeira que nós podemos oferecer. – Explica o outro boneco
- Nunca me vou cansar de vos agradecer tudo isto, amigos! Muito obrigado! – Diz o palhaço feliz.
- Não tens de agradecer. A amizade também é para isto…para colar novamente, os pedaços que são separados, e tirar algumas dores, com abraços, carinhos e gargalhadas. – Diz o outro boneco.
- Sim. Vocês são maravilhosos! – Diz o palhaço a sorrir feliz.
O tempo foi passando e, realmente, o menino não se lembrou mais dos três brinquedos, destruiu muitos mais, sempre reconstruidos pelos três bonecos. Algumas amizades na nossa vida também podem ser como a destes três bonecos…para se ajudarem, para se abraçarem e para se reconstruirem uns aos outros…os pedaços que se soltam muitas vezes de nós, e apanhar os estilhaços do coração que se espalham e que nos fazem chorar…na maneira de ser, e nas transformações que vamos sofrendo. Se nos destroem, como o menino fazia com os brinquedos, não são amigos, e devemos mantê-los longe.

                                                          FIM
                                                          Lálá
                   (31/Janeiro/2014)
        


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