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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Uma bola muito especial (peça de teatro)




         







desenhada por Lara Rocha 


       Era uma vez uma aldeia pequenina, perdida entre montanhas altas, onde não vivem muitas pessoas, mas todos são amigos e ajudam-se uns aos outros, nos trabalhos da terra, ou noutras coisas necessárias. 
Nessa aldeia, as casas são de pedra, vivendas, e todas têm uma horta, jardim, espigueiro, eira, tanque de água e uma corte. A toda a volta há grandes campos, e de dia, todos os animais da quinta andam à vontade, soltos, livres, são respeitados, bem alimentados e tratados com carinho.    
     Numa bela manhã quente de Verão, bem cedo, os adultos vão trabalhar para os campos, tratar dos animais, e as crianças vão brincar para a eira da casa de uma delas. As meninas: Diana, Filipa, Glória, Isabel, Lúcia, Mára, Márcia e Nára, brincam juntas, sossegadas e alegremente com as bonecas, e os acessórios.
    Os meninos: Bruno, Diogo, David, Gabriel, Gonçalo, Hugo, Marco e Nuno brincam com os carrinhos, correm de um lado para o outro, andam de rastos pela relva, gritam, discutem uns com os outros, lutam, jogam à bola…
Duas fadas estão pousadas numa árvore a observá-los.
FADA 1 – Estes meninos não sabem brincar! Olha a diferença para as meninas…!
FADA 2 – Pois é! Acho que eles não vão ser capazes de cuidar do mundo que lhes vamos dar.
FADA 1 – Talvez até seja bom, e isto deve ser o que eles estão a precisar…de alguma coisa para os responsabilizar.
FADA 2 – Bem, vamos tentar.
            As duas têm uma bola na mão. Uma fada atira a bola, e esta cai no chão. Os meninos vêm a correr.
GONÇALO – Ei…está aqui uma bola diferente! De quem é?
Põem-se todos à volta da bola, olham-na.
GONÇALO – Não é minha!
TODOS – Nem minha!
NUNO – Mas quem é que a trouxe para aqui?
TODOS – Não sei.
HUGO – Se calhar veio de alguma casa da cidade!
GONÇALO – Claro que não! As casas da cidade ainda ficam longe daqui!
MARCO – Sim, mas podem ter chutado com muita força e veio parar aqui!
BRUNO – Eu acho que foi algum animal que a tirou a algum menino da cidade e trouxe-a para aqui!
TODOS – Sim…!
MARCO – Óh! Deixem lá o sítio de onde ela veio, e vamos mas é jogar com ela.
            Eles tentam dar um chuto na bola, mas ela não sai do sítio.
DAVID – Esta bola é estranha! Olhem as cores dela!
TODOS – O que é que tem?
DAVID – Nunca vi uma bola com estas cores!
            Eles olham bem para a bola.
TODOS – Áááhh…realmente…! (p.c) Eu também nunca vi.
DIOGO – Ela não se mexeu quando a chutamos!
TODOS – Pois não!
DIOGO – Mas devia ter-se mexido!
            Gabriel tenta pegar na bola.
GABRIEL – Uuuiiii…é tão pesada!
TODOS – Pesada?!
GABRIEL – Sim! Peguem nela!
            Cada um pega na bola.
BRUNO – Pois é! É mesmo pesada!
DIOGO – Parece…uma pedra!
DAVID – Ou…um ovo…mas também é muito duro para ser um ovo!
NUNO – Nunca vi uma bola tão dura!
GONÇALO – Será que isto veio de algum avião?
HUGO – Acho que não vamos poder jogar com ela…
TODOS – Pois não!
            As fadas riem da árvore. Uma fada chama-os:
FADA 1 (a rir) – Isso é uma bola!
NUNO – Estou a ouvir alguma coisa!
FADAS – Aqui…em cima!
MARCO – Quem são vocês?
BRUNO – São umas meninas, não vês?
MARCO – Parecem mais umas borboletas…
FADA 1 – Sim, somos tudo isso.
            Elas descem da árvore, eles olham-nas boquiabertos.
BRUNO – De onde são?
DIOGO – São tão pequenas…!
DAVID – Parecem uns E.TS.
HUGO – Estão mascaradas?
GONÇALO – Porquê?
GABRIEL – Porque é que são tão pequenas?
DAVID – Parecem uns ETS.
HUGO – Estão mascaradas?
GONÇALO – Porquê?
MARCO – Como vieram aqui parar?
            As Fadas riem.
FADA 1 – Parem de fazer perguntas, e ouçam o que nós temos para dizer!
DAVID – Óh…vamos embora, brincar…de certeza que estas não têm nada de interesse para dizer!
FADAS – Faz como quiseres.
FADA 1 – Mas devias ficar…não é educado de tua parte virar as costas às meninas.
HUGO – As meninas são aquelas, nós não brincamos com elas!
FADA 2 – E se nós quisermos brincar convosco?
MENINOS – Não podes.
DAVID – Nós não gostamos de brincar com meninas.
FADA 1 – Porque é que estás a dizer…nós…? Tu podes não gostar de brincar com meninas, mas os teus amigos podem gostar.
DAVID – Óh…nós somos amigos, sabemos muito bem o que gostamos e o que não gostamos.
NUNO – Pois…gostamos e não gostamos das mesmas coisas.
FADA 2 – Que falta de imaginação.
BRUNO – Mas digam lá o que querem…?
FADA 1 – Muito bem…estejam muito atentos. É muito importante.
            Os meninos riem.
FADA 2 – Estão a ver essa bola?
TODOS – Sim.
HUGO – Já tínhamos visto.
MARCO – Vocês são as donas desta bola?
FADAS – Sim.
DIOGO – Então podem levá-la…ela não serve para nada!
MENINOS – Pois não!
GONÇALO – Não sai do sítio!
MARCO – É pesada…!
GABRIEL – De que é feita?
NUNO – E tem umas cores diferentes.
FADA 1 – Essa não é uma bola igual às outras.
FADA 2 – Não é para vocês jogarem com ela.
DAVID – Mas nós só queremos bolas para jogar!
FADA 1 – Essa bola é para vocês.
DAVID – Mas para que é que queremos uma bola que não serve para jogar?
FADA 2 – Vão ter que cuidar dela!
BRUNO – O quê? Nós? Cuidarmos de uma bola…? Cuidar é para meninas.
FADA 1 – Começa cedo, este…com o machismo.
BRUNO – O que é que me chamaste?
FADAS – Machista!
BRUNO – Ãhhh…?
FADA 1 – Um dia vais saber o que é…
FADA 2 – Nesse dia pode ser que metas a cabeça num saco, com a vergonha.
BRUNO – O quê? Que língua é que estão a falar?
DAVID – Óh, burro…elas estão a dizer que nós temos que ser como as meninas pirosas…tomar conta de uma bola…
HUGO – Mas não se toma conta das bolas.
DAVID – Pois não.
DIOGO – As bolas são para jogar, chutar, furar…
            Riem.
NUNO – Estas acham que não temos mais nada que fazer…!
MARCO – Tomem vocês conta dela. É para isso que servem!
FADA 1 – Só não damos um estaladão a cada um de vocês, porque não queremos amachucar as nossas belas asas…e as nossas roupas!
FADA 2 (zangada) – Calem-se! (p.c) Seus arrogantes!
FADA 1 – Vão ter que tratar com carinho…esta bola…é uma bola mágica.
FADA 2 – Nela podem pôr tudo o que quiserem…desde que sejam coisas boas! Sempre que colocarem coisas boas, ela ficará iluminada…mais ou menos…conforme o que puserem dentro dela.
TODOS – Como?
FADA 2 – Essa bola é frágil, e ela vai trazer-vos coisas muito boas…ou más…conforme a tratarem.
DAVID – Que seca!
DIOGO – Mas para que é que temos de fazer isso?
GONÇALO – Não sabemos fazer isso.
FADAS – Claro que sabem.
HUGO – Pedimos ajuda às meninas.
FADA 1 – Se vos demos esta bola para cuidar, é porque confiamos em vocês, e porque achamos que vão conseguir fazer isso.
NUNO – E as meninas? Isso é para elas.
FADA 2 – As meninas vão ter outra igual.
FADA 1 – Se vocês sabem tratar dos animais, também vão saber tratar dessa bola!
BRUNO – Mas o que é que uma bola tem a ver com um animal? Um animal é diferente.
FADA 1 – Esta bola também é diferente.
FADA 2 – Olhem, nós não vos obrigamos a participar neste desafio, mas era bom que participassem.
GABRIEL – E como é que metemos aí coisas boas?
GONÇALO – E que coisas boas é que metemos para aí?
FADAS – Tudo o que quiserem.
FADA 1 – Podem escrever em papéis as coisas boas e metem por aqui…! Acontecimentos bons, sentimentos bons, quando se portam bem…quando ajudam alguém…muitas coisas.
MENINOS – Que seca! Escrever…
GABRIEL – Mas que prémio é que recebemos?
FADAS (sorriem) – No fim, vêem.
FADA 1 – Aceitam?
FADA 2 – Podem ser só alguns, não precisam de ser todos…se quiserem todos ainda melhor.
DIOGO – Eu não quero!
DAVID – Eu aceito.
TODOS – Óóóhhhh…!
HUGO – Eu também não quero.
NUNO – Eu muito menos. Fazer coisas de meninas…Óhhh…David…que mariquinhas
FADA 1 – Então, meninos, respeitem o vosso amiguinho.
MARCO – Eu também aceito.
GONÇALO – Eu também aceito.
BRUNO – Eu não quero.
GABRIEL – Eu também aceito.
FADAS (sorriem) – Muito bem.
DIOGO – Mas, olhem uma coisa…vocês…meninas esquisitas…vamos ser castigados por não querermos tomar conta da bola?
FADAS – Não!
FADA 1 – Os meninos que aceitaram…têm agora a responsabilidade e o dever de tratar bem essa bola…vão ver que quantas mais coisas boas meterem nessa bola, mais luzinhas vão acender…mais bonita essa bola vai ficar! (p.c) E vão ser recompensados.
BRUNO – Que burrinhos! (a rir, gozo fininho) Acho que se vão arrepender.
DIOGO (a rir) – Que paneleiros. Podem juntar-se com as meninas chatas para brincarem com bonecas.
NUNO (a rir) – Vão…meninas…mariquinhas…!
FADA 1 – Querem fazer mais alguma pergunta?
TODOS – Não.
FADA 2 – Nós vamos passando por aqui.
FADA 1 – Não se esqueçam da bola.
FADA 2 – Não a abandonem.
FADA 1 – Tratem bem essa bola especial.
FADA 2 – Portem-se bem.
FADAS – Até breve!
            Elas afastam-se a voar. Os meninos que aceitaram a bola juntam-se. David, Marco, Gonçalo e Gabriel discutem o melhor sítio para guardar a bola.
DAVID – E agora quem vai ficar com a bola?
GABRIEL – Ficamos à vez…!
DAVID – Sim. Está bem.
MARCO – Vais pô-la na tua casa?
DAVID – Sim, pode começar pela minha casa, depois para a do Gabriel, depois para a tua…e depois para o Gonçalo.
GONÇALO – Está bem.
DAVID – Mas temos que ir às casas uns dos outros para pôr as coisas boas.
MENINOS – Pois.
GONÇALO – Espera…tenho uma ideia melhor: porque não a guardamos no celeiro e vamos lá quando tivermos coisas boas?
MENINOS (sorriem) – Isso, boa!
MARCO – Mas temos que meter aí coisas boas todos os dias?
MENINOS – Não.
GABRIEL – Elas disseram que era para metermos aqui as coisas boas, quando tivéssemos, mas podemos não ter coisas boas todos os dias…!
MENINOS – Pois.
            Os amigos riem, e gozam, os meninos vão guardar a bola no celeiro e voltam para jogar à bola com os amigos. As fadas vão ter com as meninas. Pousam em cima da árvore e atiram a bola às meninas. As meninas assustam-se.
DIANA – Ei…o que é isto?
MENINAS – Uma bola.
FILIPA – Os meninos já estão armados em jogadores totós…!
GLÓRIA – Eles não sabem jogar à bola, só sabem correr feitos touros e dar chutos na bola.
ISABEL – Pois, nem olham para onde mandam o raio da bola.
LÚCIA – Até nós jogamos melhor futebol que eles.
MÁRA – Mas olhem…esta bola não deve ser dos meninos…!
NÁRA – Pois…olhando bem, esta é diferente da dos meninos.
MENINAS – Pois é!
MÁRCIA – Onde é que eles terão arranjado esta bola tão…estranha…?
MENINAS – Não sei!
FILIPA – Se calhar alguém lhes emprestou!
GLÓRIA – Ou será que a tiraram a algum menino da cidade?
MENINAS – Humm…!
ISABEL – Ai deles se a roubaram.
LÚCIA – Vai ser uma vergonha para os papás…!
MÁRA – Não…isso acho que eles não eram capazes.
MENINAS – Pois…
            As Fadinhas riem, as meninas procuram o som dos risos, até que olham para cima. As Fadinhas descem e sorriem.
FADAS (sorriem) – Olá meninas!
MENINAS (sorriem, surpresas) – Fadas?! Ááááhhh…!
DIANA (surpresa) – Ááááhhh…estou mesmo a ver fadas…?!
MENINAS (sorriem) – Sim! Ááááááhhhh…!
FILIPA (sorridente) – Que lindas!
GLÓRIA (sorridente) – Vocês…saíram das nossas histórias?
FADAS (sorriem) – Sim!
FADA 1 (sorri) – Eu sei que acreditam em nós.
FADA 2 (sorri) – E que gostam de nós!
FADA 1 (sorri) – É por isso que viemos ver-vos!
ISABEL (sorridente) – Que bom que vieram!
LÚCIA (sorridente) – Querem brincar connosco?
FADAS (sorriem) – Está bem.
FADA 1 (sorridente) – Mas primeiro…viemos dizer-vos uma coisa…!
TODAS (surpresas) – O quê?
FADA 1 – Esta bola não é dos meninos!
TODAS – Não?!
MÁRA – E…como é que ela veio aqui parar?
NÁRA – Vocês também jogam à bola?
FADAS (sorriem) – Sim, jogamos.
MÁRCIA – Nós não conhecemos esta bola como dos meninos, mas pensamos que alguém lhes teria emprestado…! Ou estiveram a jogar com eles?
FADAS (sorriem) – Não.
MÁRCIA – Mas…é vossa a bola?
FADAS (sorriem) – Sim.
MENINAS (sorridentes) – É gira!
FADA 1 – Mas não é uma bola qualquer!
MENINAS – Não?
FADA 2 – Peguem nela.
            Cada menina pega na bola.
MENINAS – É pesada!
FADAS (sorriem) – Sim.
FADA 2 – Essa não dá para jogar futebol.
MENINAS – Não?
FADAS – Não.
FADA 1 – Esta bola é mágica…especial!
MENINAS (espantadas) – Ááááááhhhh…
FADA 2 – Esta bola é para vocês cuidarem!
MENINAS – Como?
FADA 1 – Devem protegê-la do frio e da chuva, tratá-la com cuidado e carinho.
FADA 2 – E ela dá luz!
MENINAS (surpresas, maravilhadas) - Ááááhhh…
LÚCIA – À noite?
FADA 1 – À noite e de dia!
FADA 2 (sorri) – Ela vai dar luz sempre que lhe meterem coisas boas…! Se aceitarem o desafio, claro!
DIANA – E metemos aí…por onde?
FILIPA – E como é que ela dá luz?
As fadas indicam.
FADA 1 – Podem aqui meter todas as coisas boas que quiserem…que vos aconteçam…coisas boas que sintam, ou que façam por alguém…momentos felizes em que pensem ao longo do dia, ou sonhos bonitos e bons…quantas mais coisas boas meterem aqui…pode ser escrevendo em papéis…mais iluminada e mais bonita ela ficará!
FADA 2 – Aceitam?
FADA 1 – No fim, terão várias recompensas!   
FADA 2 – Não são obrigada a participar, se não quiserem, não vão ter nenhum castigo…nem vos vai acontecer nada! (p.c) Mas se quiserem…tem essa responsabilidade de a proteger, de cuidar dela…e de pôr aí coisas boas! Pode não ser todos os dias!
FADA 1 – Perceberam qual é o objectivo?
TODAS (sorriem) – Sim! Eu aceito!
FADAS (sorriem) – Todas aceitam?
TODAS (sorriem) – Sim.
FADAS (sorriem) – Boa!
DIANA (sorridente) – É tão bonita esta bola!
MENINAS (sorridentes) – Pois é!
FILIPA (sorri) – Vamos pô-la num sítio bem seguro, quentinho, protegido.
GLÓRIA – Sim, vamos tratar muito bem dela.
MÁRCIA – Pode ser…ali no Celeiro onde costumamos brincar…não?
MENINAS – Sim…boa…!
MÁRA (sorridente) – Eu acho que ela vai ficar cheia de coisas boas, num instante!
MENINAS (sorriem) – Sim.
FADAS (sorriem) – Com certeza!
FADA 1 (sorridente) – Mais alguma pergunta, queridas?
TODAS (sorriem) – Não, obrigada!
NÁRA – Mas…já se vão embora?
FADAS – Sim.
FADA 1 – Mas nós vamos andar por aqui mais vezes!
MÁRCIA – Não querem brincar connosco?
FADA 1 (sorridente) – Outro dia!
FADA 2 (sorri) – Agora temos que ir a outros sítios.
MENINAS – Óóóhhhh…que pena!
FADA 1 – Voltaremos em breve.
FADA 2 – Qualquer coisa chamem-nos.
MENINAS (sorriem) – Obrigada.
            As Fadas levantam voo, e as meninas, levam a bola com cuidado, delicada e carinhosamente para o celeiro. Nára põe um cobertor debaixo da bola.
NÁRA – Ao fim do dia vimos aqui cobri-la.
MENINAS – Sim.
            Todas fazem um carinho à bola. A bola muda de cor, fica mais bonita, mais luminosa. Todas olham surpresas e sorriem.
NÁRA (sorri) – Mudou de cor.
MENINAS (sorridentes) – Pois foi!
MÁRCIA – Deu luz.
MENINAS (felizes e surpresas) – Ááááhhh…pois foi!
DIANA (sorri) – Que linda! Parece um candeeiro de um quarto de uma princesa!
MENINAS (sorriem) – Sim…!
FILIPA – Acho que já todas temos uma coisa boa para pôr aqui na bola…!
MENINAS – Sim.
GLÓRIA – Vamos escrever num bloquinho que tenho ali na minha caixa e vimos aqui trazer.
MENINAS (sorriem, contentes) – Boa!
            Voltam para os brinquedos, Glória dá uma folha a cada menina e escrevem. Todas escrevem em pedacinhos de papel que depois dobram e metem na bola.
DIANA – Vou escrever… «Acordar»!
MENINAS – Eu também.
FILIPA – Podemos escrever as mesmas coisas?
MENINAS – Sim.
GLÓRIA – Eu vou pôr…o «Sol».
MENINAS (sorriem) – Sim…boa…eu também.
ISABEL – Eu vou pôr… «As coisas boas que comemos às refeições»!
MENINAS (sorriem) – Sim…boa…eu também.
LÚCIA – Eu vou pôr… «Beijinhos de bom dia dos Papás, dos Avós, e dos Manos… 
MENINAS (sorridentes) – Sim…isso é muito bom…!
MÁRCIA – Eu vou pôr… «Todos os mimos!»
MENINAS (sorridentes) – Sim, boa!
MÁRA – Eu vou pôr… «As meninas amigas»!
MENINAS (sorriem) – Sim, muito boa!
NÁRA – Eu vou pôr… «Brincar com as bonecas!»
MENINAS (sorriem) – Sim, sim…também…!
DIANA – Tenho outra muito boa… «Partilhar os brinquedos!»
MENINAS (sorriem) – Isso.
FILIPA (sorri) – «As bonecas e os brinquedos».
MENINAS (sorriem) – Sim.
GLÓRIA - «A visita das fadas»!
MENINAS – Olha…boa…!
ISABEL - «Os animais…»
MENINAS (sorriem) – Sim, sim.
LÚCIA - «As árvores que dão sombra e fruta deliciosa…»
MENINAS (sorriem) – Sim, é verdade!
MÁRCIA - «As flores».
MENINAS (sorriem) – Isso.
MÁRA - «Os campos!»
MENINAS (sorriem) – Boa.
NÁRA - «Os legumes».
MENINAS (sorridentes) – Sim, sim…boa!
DIANA - «As nossas roupas»
FILIPA - «Os nossos sapatos»
GLÓRIA - «Os sorrisos»
ISABEL - «A erva»
LÚCIA - «A chuva»
MÁRCIA – «A água»
MÁRA - «As fontes»
NÁRA - «As luzes»
DIANA - «As estrelas»
FILIPA – «A música»
GLÓRIA – «O Verão», «A Primavera», «O Outono» e o «Inverno»
ISABEL – «A neve»
LÚCIA – «O frio»
MÁRCIA – «O calor»
MÁRA – «O vento»
NÁRA - «A trovoada»
DIANA - «As nuvens» …
FILIPA - «O céu azul»
GLÓRIA - «As cores»
ISABEL - «A madeira»
LÚCIA - «O vidro»
MÁRCIA - «Os potes de cozinha»
MÁRA – «A lareira»
NÁRA - «A televisão»…
DIANA - «Ajudar os Pais e os Avós»
FILIPA - «A história contada pela Mamã ou pelos Avós, antes de dormir, e durante o dia»
GLÓRIA – «O bolo de chocolate, as deliciosas sobremesas das mamãs e das Avós»
ISABEL - «Os carinhos recebidos»
LÚCIA - «O mano bebé»
MÁRCIA - «O meu cãozinho pequenino»
MÁRA - «O meu peixinho»
NÁRA - «O milho»
Não se lembram de mais nada, e levam os papéis à bola. Cada uma mete os seus papéis com as coisas boas que escreveram na bola, e esta fica com o fundo todo iluminado.
            As meninas soltam uma grande exclamação, sorriem deliciadas e encantadas com a luz da bola, batem palminhas e saltitam de alegria, felizes, com sorrisos de orelha a orelha.
            Continuam a brincar alegremente umas com as outras e com as bonecas, e os meninos a jogar à bola, a correr e a brincar com os seus brinquedos, com a bola ainda toda apagada, sem nenhuma coisa boa.
            No fim da tarde, as meninas foram cobrir a bola ao celeiro. Parece que os meninos esqueceram a bola. Deixam-na como a puseram, vazia, sem luz…
Nos dias seguintes, as meninas, todos os dias metem papéis com coisas boas escritas…coisas simples às quais elas dão valor. Ao contrário, a bola dos meninos ainda não tinha um único papel, e em consequência disso não dava luz, estava a ficar murcha como um balão a esvaziar aos bocadinhos, meia derretida…a perder as cores…
            Numa tarde, os meninos lembraram-se de ir ver a bola, e ficaram muito decepcionados.
DAVID – Mas…o que aconteceu à bola?
GONÇALO – Está tão feia…!
MARCO – Parece…um balão sem ar…!
GABRIEL – Esta bola não era mágica?
MENINOS – Sim.
DAVID – Mas onde está a magia desta bola?
GONÇALO – Fomos enganados.
MARCO – Pois fomos, porque se esta coisa fosse mesmo mágica, não estava assim.
            As Fadas estão frustradas, zangadas e aparecem.
FADA 1 – A vossa bola está bonita, está…!
FADA 2 – Olhem para isso…!
FADA 1 – O que é que lhe fizeram?
DAVID – Cala-te palerma…
GONÇALO – Vocês devem ser umas bruxas…!
MARCO – Vocês mentiram-nos.
GABRIEL – Esta coisa não é uma bola…muito menos mágica.
FADA 1 (ralha) – Mas que grande lata!
MENINOS (zangados) – Vocês é que tiveram muita lata!
FADA 2 (ralha) – Isso é maneira de falar connosco?
FADA 1 (ralha) – Ora pensem bem no que poderá ter acontecido à vossa bola…!
DAVID – Vocês deram-nos esta porcaria porque já sabiam que não prestava, e queriam livrar-se disto, não foi? Confessem lá? Suas maldosas…!
FADA 1 (ralha) – O que é que nós dissemos sobre esta bola, quando vos entregamos?
GONÇALO (zangado) – Disseram que esta porcaria que parece um balão furado…era…mágica…!
GABRIEL – Onde é que está a magia dela…?
FADA 2 (ralha) – E além dela ser mágica, o que é que dissemos mais…?
MARCO (zangado) – Puseram-se com aquela treta de que se cuidássemos dela e se metêssemos coisas boas, ela ia dar luz, e que íamos receber um prémio…
FADA 1 – Ora aí está…!
FADA 2 – Vocês…cuidaram dela?
MENINOS – Sim.
FADAS – Ai sim…?
MENINOS – Sim.
DAVID (zangado) – Não a vês aqui metida…? Aqui está protegida…e não a estragamos…
            AS fadas riem.
FADA 1 – Isso é cuidar dela, protegê-la…?!
MENINOS – É.
FADA 2 (zangada) – E o resto?
MENINOS (zangados) – Que resto?
FADA 2 – Fizeram tudo o que dissemos?
MENINOS – Sim.
FADA 1 – Meteram aqui alguma coisa…?
MENINOS – O que é que íamos meter aí?
MARCO – Eu metia aqui agora era um explosivo!
DAVID – Eu derretia esta porcaria na lareira.
FADA 1 (zangada) – Tanto disparate.
FADA 2 (zangada) – Têm memória de galos…!
FADA 1 (zangada) – Então não dissemos que além de a protegerem e de cuidarem bem dela, tinham que meter coisas boas…?! Para que ela mostrasse a sua magia…?!
FADA 2 (zangada) – Onde estavam com as cabeças quando falamos nisso?
            Os meninos fazem silêncio, amuados. Ficam pensativos.
FADA 1 – Onde estão as coisas boas que dissemos para meterem na bola?
MENINOS – Não pusemos nada!
FADA 2 – Vocês comprometeram-se a cuidar bem da bola, protegê-la, mas esqueceram-na…não puseram nada de bom…foi por isso que ela ficou assim.
FADA 1 – Vocês também se devem sentir assim, quando não recebem carinho, ou quando não são elogiados, ou quando dizem mal de vocês…não é?
            Os meninos respondem envergonhados:
MENINOS – Sim…
GABRIEL - Esquecemo-nos da bola.
FADA 2 – Se fosse uma bola de jogar futebol, vocês não se esqueciam dela, com certeza!
MARCO – E não sabíamos que isso também era cuidar da bola.
FADA 1 – Nós confiamos em vocês…! E vocês…abandonaram-na…! Ela precisava da vossa atenção e dedicação.
FADA 2 – Tal como nós, também os objectos têm que ser bem tratados, protegidos, elogiados, acarinhados…e isto é o que vai acontecer com as meninas, se as tratarem desta forma.
            Os meninos zangados protestam, resmungam todos ao mesmo tempo, insultam as fadas. Elas riem.
FADA 1 (a rir) – Perderam o desafio!
FADA 2 (a rir) – Vão ficar sem prémio.
DAVID (chateado) – O prémio também devia ser uma porcaria qualquer.
FADA 1 (a rir) – Foi quanto perderam…seus insensíveis.
GONÇALO – Mas…não podemos fazer isso agora?
FADAS – Não.
MARCO – Bruxas…
            As Fadas riem.
GONÇALO – E o que fazemos agora com isto?
FADAS – O que quiserem.
FADA 1 – Agora já podem jogar à bola com ela.
GABRIEL – Que injustiça…as meninas vão receber prémios e nós não…!
FADA 1 – Vocês não fizeram nada para merecer.
MARCO – Vamos furar esta porcaria toda.
GONÇALO – Metê-la no lume…
GABRIEL – Ou metê-la na boca dos cães.
DAVID – Estou com uma raiva de vocês…saiam da nossa frente…suas minorcas, mázonas…
GONÇALO – Vão lá para as palermas das meninas…! Patas chocas…!
FADA 1 (a rir) – Apareçam no baile…em breve vão saber em que dia é.
GONÇALO – Temos mais o que fazer, do que aparecer em bailes, para ver um bando de pirosas, a receber prémios.
            As fadas riem.
FADA 2 (a rir) – É quanto vão perder…! Há lá meninas muito bonitas…comida boa…música e dança ainda melhor…!
MENINOS – Comam isso tudo.
            As Fadinhas riem e saem. Os meninos voltam a brincar. Uns tempos depois, as fadas convidam toda a gente da aldeia a participar no baile de entrega de prémios.
            A festa é muito animada, recheada de música, dança, cor, alegria, banquetes e convívio com outros meninos, tiram muitas fotos, riem muito, brincam muito, divertem-se. As meninas são chamadas ao palco onde têm um baú com a bola a estourar de luz.
FADA 1 (sorri) – Meninos…chegou o momento por que tanto esperavam! (p.c) Por favor…abram o baú.
            As meninas abrem o baú e sorriem surpresas, a luz da bola espalha-se por todo o palco, e por toda a sala. Toda a gente fica maravilhada.
MENINAS (sorriem) – Este é o nosso mundo! E é lindo!
            Todos batem palmas, as meninas, uma por uma, pegam na bola de luz, passa de mão em mão e a última menina entrega na plateia com um sorriso e música de fundo. Estendem a bola, e esta passa também de mão em mão, por cada pessoa (quem quiser).

FIM!
Lálá
(31/Janeiro/2011)
              
           












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