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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Carrocel Desfeito

Era uma vez um pequeno carrocel típico das festas populares que tinha poucos brinquedos: uma chávena com pires, um barquinho, um carrinho, uma nuvem, um sol, uma lua, dois cavalos (um branco e um castanho), uma mota, uma bicicleta, uma cadeira e uma carroça.
         Certo dia, os brinquedos estão muito cansados, nervosos e decidem fazer uma reunião. Há muita discussão, todos querem falar ao mesmo tempo.
O sol manda um assobio, calam-se todos e este informa:  
– Pessoal, eu sei que todos queremos falar, e que todos queremos apresentar as nossas razões mas por favor, com ordem.
         Respondem todos em coro:
– Certo.
         A Lua pede para ser a primeira a falar:  
– Posso começar por falar eu?
         Respondem todos em coro:
– Sim.
         A Lua desabafa, a Nuvem e todos partilham da mesma opinião:
– Estou cheia deste trabalho…!
– Eu também.
– Eu também!
         A Chávena, a Cadeira e o Barquinho também estão cansados da mesma vida:
– Esta vida rotineira está a arrasar-me.
– A mim também…
– Eu estou farto de tanto andar á roda.
         Todos respondem em coro:
– Eu também!
         A Carroça remata:  
– Este é um aspecto comum a todos nós certo?
         Todos respondem em coro:
– Sim.
         O Sol informa:
– Temos de fazer alguma coisa, caso contrário vai ser a nossa ruína.
         Todos estão de acordo:
– Sim, claro.
         Mas não sabem como fazer. A Mota, a Bicicleta, o Cavalo Branco e o Cavalo Castanho pensam alto:
– Mas…o quê?
– Não temos muito que fazer…estamos presos a estes malditos ferros que nos põem á roda.
– Sim, eu também queria fugir, já pensei nisso muitas vezes, mas não sei como fazê-lo.
– Vamos todos pensar…
         Fazem silêncio um pouco, e a Lua grita.
– Já sei… (Olham-se todos) vamos fazer greve!
         Todos perguntam em coro:
– Greve?
         A Nuvem não percebeu qual a ideia da Lua, a Lua explica melhor:
– Mas…como é que fazemos isso?
– Então…quando a feira abrir, e os carrosséis começarem a andar, nós não andamos.
         O Sol fica com pena do dono do Carrossel:
– Mas se não andarmos, prejudicamos o nosso amigo.
         A Carroça e a Cadeira mostram desagrado por o Sol ter pena do dono do Carrossel. A Carroça pergunta, e a Cadeira comenta:
– Mas afinal…estás connosco porque estás a sofrer e farto de andar às voltas ou tens pena do nosso amigo…
– Amigo só se for para ti.
         A Chávena dá uma sugestão e a Lua tenta dar outra, mas é interrompida pelo Sol:
– Temos de continuar unidos e pensar em conjunto, para ver a melhor solução…eu…pessoalmente…não sei se a greve funcionará…
– Eu acho que é melhor…
– Esperem…vem aí uns moços…vamos pedir-lhes socorro, para ver se eles nos desapertam esta porcaria de ferros.
         Todos concordam e dizem em coro:
– Boa!
         O Sol faz uma sugestão:  
– Aos 3 gritamos todos juntos. (p.c) Um…dois…três…
Gritam todos:
– Socorrrrooooo…!
         A Lua implora:
– Tirem-nos daqui!
         Um rapaz pergunta aos outros:
– Ouviram alguma coisa?
         Os outros três rapazes respondem em coro:  
– Sim…
         Outro dos rapazes relembra:
– Parece que alguém pediu socorro não foi?
         Os outros também ouviram e confirmam:  
– Sim.
         Outro dos rapazes (3) pergunta:
– Quem será…? Não está aqui ninguém.
         Dois dos rapazes indicam o local onde lhes parece estar as vozes que ouviram
– Pode estar por aqui!
– Ali…atrás do carrossel!
         Os brinquedos voltam a pedir socorro, os rapazes procuram nas redondezas do carrossel e todos voltam a gritar:  
– Socorro…!
         A Mota dá de si e chama a atenção:  
– Aqui rapazes…
         Todos acrescentam:
– No carrossel.
         Os rapazes perguntam-se:
– No carrossel?
         Um Carrinho responde:  
– Sim, somos nós…os brinquedos.
         O Sol, a Lua e o Cavalo Branco imploram:
– Por favor…tirem-nos daqui.
– Isso… venham cá desapertar estes malditos ferros que nos prendem.
– Não queremos mais estar aqui.
         Os quatro rapazes não estão a acreditar no que estão a ouvir e comentam:
– (todos) Uaaaauuu…!
– Acho que estamos a alucinar…ou quê?
– Eu acho que não bebemos nada de mais.
         Respondem todos em coro, e continuam a manifestar dúvidas:  
– Não.
– Nem fumamos nada!
         Respondem todos em coro:
– Não.
         Três dos rapazes não sabem como fazer:
– Mas…como é que vos vamos tirar daí?
– Isto é uma loucura!
– Nunca vi tal coisa…isto deve ser uma armadilha…ou para os apanhados da televisão!
         O Cavalo Castanho nega e clarifica:
– Não, não é armadilha nem para os apanhados…só são uns brinquedos desesperados.
         A Carroça acrescenta:
– Só queremos a nossa liberdade.
         Um dos rapazes (4) comenta:
– Mas essa é a vossa função!
         A Chávena e a Bicicleta explicam-se:
– A nossa função tem limites.
– Nós é que temos limites, e chegamos ao fim.
         Dois dos rapazes (2, 3) reforçam os seus argumentos:
– Mas vocês têm que divertir as pessoas…são um carrocel…
– Sim, servem para andar às voltas, com as pessoas em cima.
         A Lua e a Nuvem tentam convencer os rapazes:
– Ponham-se no nosso lugar! Gostavam de estar aqui presos…?
– Isto é como se vocês estivessem presos com uma porcaria de um ferro aos vossos cabelos, ou aos vossos pescoços…
         Os rapazes ficam horrorizados:
– Que horror!
         Dois dos rapazes (1,2) acrescentam:
– Nem pensar…
– Dava-me umas coisas muito más!
         A Carroça também tenta convencê-los:
– Éh! E se tivessem que andar sempre no mesmo sítio, à roda, vezes sem conta?!
         Os rapazes respondem em coro:  
– Naaaaa…!
         Os rapazes (3,4,1,2) dizem como se sentiam se fossem um brinquedo de carrossel sempre às voltas:
– Eu não andava!
– Eu ficava tolo…
– Eu vomitava…!
– Mas se calhar se fosse um brinquedo de carrossel, andava na boa!
         Perguntam todos em coro:
– Queres experimentar?
         A Lua desafia:
– Nós espetamos um ferro destes na cabeça e pomos – te a rodar no mesmo sítio mais de 300 vezes por dia, com música aos gritos…queres?
         O rapaz (2) recusa-se:
– Aaahhh…não.
         O Barquinho face à resposta do rapaz acrescenta:
– Pois, vocês falam porque andam à vontade, de um lado para o outro, podem correr…fazer tudo…nós estamos limitados a este espaço e a dar voltas…
         Os brinquedos gritam:
– Chega!
         Os rapazes mostram-se mais compreensíveis:
– Yá, não deve ser fácil!
– Yá, deve ser uma seca!
– Mas…não vos podemos ajudar.
– Eu não me meto aí!
– Nem eu…ainda apanho um piparote…Naaaa…!
         O Barquinho incentiva-os:
– Vá lá, deixem-se de conversas e ajudem-nos a sair daqui.
         Mas não adianta porque os rapazes não sabem como, e respondem todos em coro:  
– Como?
         Eles riem e vão-se embora. Os brinquedos ficam desiludidos e tristes, alguns choram e resmungam. A Chávena, a Lua, e o Cavalo Branco manifestam o seu desagrado e partilham a sua tristeza uns com os outros:  
– (chateada) Que malditos!
– (triste) Não foram nada cavalheiros.
         O Cavalo Branco não percebe o insulto da Lua e comenta:
– Cavalos somos nós os dois!
         A Lua responde-lhe triste:  
– E o que é que isso tem a ver? Eu estava a dizer que aqueles cabeçudos humanos foram indelicados connosco…não nos ajudaram!
         O Sol murmura chateado:
– Estamos tramados!
         O Barquinho e a Carroça incentivam os amigos:
– Vá…não podemos desistir!
– Isso! Temos que unir forças e lutar…
         A Mota tem uma ideia que pode ajudar e pergunta:
– Qual de nós está mais solto deste maldito ferro…?
         Todos olham para os ferros e respondem em coro:   
– Não sei!
         A Mota dá uma sugestão para tentar ajudar:
– Vamos abanar-nos com muita força de um lado para o outro…a ver se conseguimos libertar-nos!
         Todos concordam:
– Boa!
         Os brinquedos abanam-se de um lado para o outro, na tentativa de se soltarem, mas nada feito. Não conseguem! Ficam todos tristes, e a Bicicleta tenta mudar os sentimentos comuns a todos:  
– A nossa tristeza não está a ajudar nada!
         A Chávena concorda mas tem uma perspectiva mais negativa:
– Pois não, todos sabemos que a tristeza não ajuda nada…mas que queres? Que fiquemos contentes ao estar aqui presos…sem ninguém nos ajudar a sair daqui finalmente?
         O Carrinho tem uma sugestão que agrada à Carroça, mas a Cadeira não tem muita confiança nessa solução:   
– Devemos tentar construir uma corrente de pensamento positivo…sei lá…por exemplo, pensarmos todos juntos que vamos sair daqui.
– Boa!
– O nosso pensamento não vai libertar-nos, mas está bem…
         A Bicicleta sente e acredita que vai correr bem, e diz:
– Olha, se não queres pensar positivo, se achas que não vai funcionar, pelo menos deixa quem quer pensar positivo fazê-lo, e tu…fica bem quietinha e caladinha sem sequer pensar para não bloqueares o nosso pensamento positivo.
         A Cadeira obedece:
– Está bem…!
         O Sol sugere:
– É melhor pensarmos todos ao mesmo tempo, da mesma maneira!
         Todos concordam e o Sol explica como vão fazer:  
– Boa!
– Eu conto até três e ao chegar a três todos pensamos o seguinte: vamos sair daqui! Em breve teremos a nossa tão desejada liberdade! Vamos conseguir. Entendido?
         Todos respondem em coro:
– Entendido!
         O Sol começa…
– Concentrem-se todos…respirem devagar… (p.c) isso…1…2…3…
         E durante um bocadinho faz-se silêncio. Todos têm o mesmo pensamento positivo e o mesmo desejo.
Pouco tempo depois levanta-se um forte vento que começa a levar tudo à frente…há folhas pelo ar, toldes de plástico, lixo que havia no chão…tudo abana…os brinquedos ficam assustados. O Sol e a Lua apesar do susto pensam:
– Continuemos a pensar…
– Parece que está a funcionar…
         Atrás do vento e juntamente com ele vem a chuva forte e a trovoada, os brinquedos abanam muito, os ferros ficam mais soltos, e eles ainda se abanam mais para ajudar. Sempre a pensar positivo, e na sua liberdade tão desejada. A Nuvem, a Lua e o Carrinho ficam entusiasmados e dizem:
– Sim…isso…vamos conseguir!
– Está muito perto do fim este pesadelo.
– Isso…vamos conseguir.
         O parque está muito danificado, já tem muita coisa destruída, e de repente um forte trovão atrai á armação do carrocel, e os ferros desprendem-se dos brinquedos, os fios dentro dos ferros começam a faiscar, os brinquedos caem todos, os tubos de ferro separam-se dos bonecos e todos gritam em coro:
– É agora…
         O Sol acrescenta:
– Vamos.
         Desatam a fugir, felizes e resguardam-se numa tenda que ainda está de pé. Olham-se todos, sorriem e dizem em coro:  
– Estamos todos? (p.c) Sim…!
         A Lua acrescenta feliz e sorridente:
– E olhem bem para nós…sem ferros…e sem fios…?!
         Todos respondem em coro felizes e sorridentes, e a Lua acrescenta, e todos estão de acordo:
– Sim, pois é!
– O que quer dizer que…
– Estamos livres!
         Chocam uns com os outros felizes, saltitam, batem palmas, riem. O Carrinho, a Bicicleta e a Carroça desabafam:
– (sorridente) Ááááhhh…!
– Que alívio!
– Isto é maravilhoso!
         Todos respondem em coro:
– (sorridentes) Sim!
         A Chávena comenta feliz:
– Até me sinto mais sensual!
Todos riem e a Cadeira pede confirmação:
– Eu não estou a sonhar pois não?
         Todos respondem em coro:
– Não.
         A Nuvem, a Mota, o Barquinho e o Sol partilham também as suas emoções:
– Estamos mesmo fora daquele espaço…sem aqueles ferros malditos.
– Finalmente!
– Uaaaauuu…nem acredito que vamos deixar de andar às voltas.
– Estás a ver cadeira, como o nosso pensamento funcionou?
         Todos respondem em coro:
– Pois foi!
         O Cavalo Branco confirma, mas a Cadeira tem uma versão contrária:
– (sorri) Foi ele que nos libertou.
– (ri) A trovoada é que nos tirou dali!
         Há conversas cruzadas e gargalhadas. Os brinquedos estão felizes por finalmente estarem livres, e quando pára de chover, todos saem. Ainda está escuro!
         O Barquinho anuncia:  
– Vou já para o lago aqui perto. Tenho a certeza que vou gostar muito! E vocês podiam vir também.
         A Lua e a Nuvem, e a Bicicleta manifestam tristeza com a decisão do amigo, mas a Bicicleta também comunica uma decisão, mas não quer ir sozinha, e faz um convite:
– Estava a ver que depois de tanto tempo juntos íamos acabar assim…cada um para o seu lado!
– Que tristeza!
– Também acho…estivemos tanto tempo juntos…eu gosto muito de vocês, e adoro a vossa amizade, mas vou dar por ai uma volta. Mas voltarei para a vossa beira…só quero aproveitar uns momentos de liberdade. Querem vir comigo?
         O Barquinho incentiva a amiga e faz-lhe um pedido. A Bicicleta faz uma promessa:
– Vai…mas por favor volta!
– Podes ter a certeza que voltarei brevemente, amigos. Nunca me esquecerei de vocês, nem dos momentos bons que passei convosco.
         Todos dizem em coro à Bicicleta e esta também retribui:  
– Gostamos muito de ti.
– Eu também. Por favor, não fiquem tristes. Se ficam tristes já não vou.
         Todos sorriem e respondem em coro:  
– Vai.
         A Mota quer ir com a Bicicleta e faz-lhe esse pedido, a Bicicleta aceita:
– Já prometeste que voltaste…eu acompanho-te nessa volta, não te importas amiga?
– A sério?! Vens comigo? Boa…com todo o gosto…vamos dar belos passeios juntos, e em breve voltaremos para os nossos amigos.
– (sorri) Claro que sim! Vamos por ai…! (p.c) Até breve amigos.
         Junta-se mais uma a estas duas, a Carroça:
– Esperem…eu também vou!
         A Mota e a Bicicleta respondem em coro sorridentes e felizes:  
– Boa! Anda!
         A Mota, a Bicicleta e a Carroça sorriem, e respondem em coro:
– Até breve amigos!
         Todos respondem em coro:
– Até breve.
         O Barquinho acrescenta:
– Boas viagens!
         Todos respondem em coro:  
– Obrigada, igualmente. Divirtam-se…!
         A Bicicleta, a Mota e a Carroça lá vão todas animadas a falar e a rir umas com as outras, a passear sem pressa.
         O Cavalo Branco quer ir dar umas corridas e convida o Cavalo Castanho. O Cavalo Castanho aceita:
– Olhem, se me dão licença, eu vou desentorpecer as patas e os cascos ali para os campos, queres vir castanho?
– Vou!
         O Barquinho faz-lhes um pedido:  
– Voltem depressa!
         Os Cavalos respondem em coro, e o Cavalo Branco acrescenta:
– Sim.
– Não iremos muito longe.
         O Carrinho também informa do que vai fazer:  
– Eu vou descansar ali debaixo daquelas árvores…até já. Bons passeios.
         A Lua, o Sol, a Nuvem, a Chávena e a cadeira vão para dentro do tronco de uma árvore descansar, muito perto do laguinho para onde vai o barquinho.
Todos saboreiam a sua liberdade enquanto os senhores da feira estão numa tristeza profunda e num desespero por ver tudo destruído.
Como construíram uma linda amizade, os barquinhos do carrossel não conseguem ficar muito tempo longe uns dos outros, e passam a viver todos juntos num tronco de uma árvore.
Umas vezes cada um faz o que quer, outras vezes fazem programas juntos e divertidos, felizes.
Estão a adorar esta nova vida, acima de tudo pela liberdade que conseguiram e pela amizade que construíram. Entretanto, os senhores da feira vão reconstruindo os brinquedos, e tudo volta ao normal…quer dizer, sem a presença destes brinquedos no carrocel, que conseguiram libertar-se com o pensamento!
Ou…terá sido só um lindo sonho deles, e só se sentiram livres por momentos…enquanto sonharam?
Fica ao critério de cada um que leu esta historinha…! Aconteceu mesmo com a força do pensamento positivo dos brinquedos?! Ou…foi só um sonho lindo e libertador da tristeza dos brinquedos por estarem naquelas condições?!
Às vezes só se consegue a liberdade total através do pensamento e dos sonhos aí sim…somos completamente livres para fazer, pensar, dizer e ser tudo o que quisermos, e materializar, com os desejos e a nossa imaginação.
Tudo isto e mais que possamos imaginar, sem magoar os outros na realidade e sem nos magoarmos a nós mesmos. 

FIM!
Lálá
(1/Setembro/2011)

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