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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Tocar no Arco-íris


Narradora –
Era uma vez uma aldeia montanhosa, onde viviam várias famílias com filhos. As casinhas são de pedra, pequenas vivendas, muito confortáveis por dentro e um jardinzinho com flores. Nas traseiras das casinhas existem terrenos para cultivos e por toda a aldeia há muito pasto verde, grandes terrenos onde o gado vai pastar. Cada habitante tem a sua profissão, todos se conhecem e todos são amigos. Num belo dia de Primavera que começa quente e solarengo…as crianças acordam, tomam o pequeno-almoço e vão brincar juntos para um dos espaços verdes, sempre com adultos por perto para os vigiar, enquanto os adultos trabalham na terra. Estão todos contentes, mas…de repente…levanta-se um ar fresco.
Carolina – Uuuuiii…estava tanto calor há bocado! Agora levantou-se um vento frio.
Crianças – Pois foi!
Diogo – Os meus pais e os meus avós dizem que na Primavera, o tempo muda como o vento! 
Carolina – Os meus pais também disseram isso.
Mãe – Que estranho…o vento mudou de direção.
Todos (surpresos) Ááááhhh…pois foi!
Pedro – O São Pedro abriu as janelas… (todos riem)
Mãe 2 (ri) Pois foi, filho.
Avô – O tempo vai mudar!
Avó 2 – Ui, os meus ossinhos doem-me todos.
Avó – Os meus também! É melhor despacharmo-nos…antes que venha alguma coisa má.
Todos – Sim, vamos lá…!
Narradora – Os cães ladram, e de repente o sol esconde-se. Fica coberto de nuvens. Ficam todos a olhar para o céu e aparece o arco-íris. A Avó grita:
Avó – Meninos… todos para dentro! Vai chover.
Avó 1 – Arrumem os brinquedos.
Narradora – As crianças arrumam tudo, e vão todos para dentro de casa. As crianças estão tristes, porque queriam continuar a brincar, mas o vento é tão forte e tão frio, que não deixa brincar…parece que leva tudo pelos ares. Todos entram em casa, e as crianças olham para o céu através das janelas da sala.
Pedro (triste) – Óhhhh…não é justo!
Avó 1 – Óh, filho…daqui a pouco limpa outra vez!
Hugo – Estávamos tão bem a brincar.
Clara – Eu estava tão contente com o sol…!
Carolina – Mamã…a Avó disse que ia chover. Como é que sabes, Avó?
Avó (sorri) Olha para o céu, querida…está escuro e cheio de nuvens.
Mãe (sorri) Olha ali o Arco-Íris…!
Crianças – O que é isso?
Mãe – Olhem para ali…aquele arco de cores! Entre as nuvens.
Narradora – As crianças olham para o arco-íris muito surpresas, e encantadas.
Crianças – Áááááhhh…que lindo!
Carolina – Quem é que pôs aquele arco cheio de cores…?
Clara – É pintado, ou é feito de outro material?
Hugo – Será que se pode comer…? É que apetece mesmo…! Parece um chupa – chupa ou um bolo.
Mãe (sorri) É uma prendinha dos anjinhos…!
Crianças – O quê?
Avó 1 – Para que é que estás a enganar as crianças?! Não é nada uma prenda de anjinhos…é uma prenda da natureza…!
Pedro – A natureza é que pintou aquilo?
Todos – Sim.
Hugo – E com que é que ela pintou aquelas cores todas?
Clara – Está tão bem pintado…!
Diogo – Ela deve ter usado um compasso para fazer tão bem aquele arco.
Carolina – E como é que ela usou aquelas cores todas…? Foi com pincel?
Pedro – Ou lápis de cor brilhantes!
Clara – E eu acho que ela fez aquilo com estrelas.
Carolina – Aquilo é feito de esponja?
Crianças – Não sei.
Pedro – Não me parece!
Diogo – Acho que é feito de…algodão!
Avô – Queridos, quando o arco-íris aparece é porque há água nas nuvens e quando o sol reflecte na água que lá está!
Hugo – Então, o arco-íris é feito de água?
Avô – Sim…pode dizer-se que sim!
Hugo – Então pode-se beber.
Avô – Não…isso não se pode fazer.
Crianças – Porquê?
Avô – Porque a Natureza não deixa!
Avó 1 – Que resposta…óh velhote…! Meninos não se pode beber, nem comer…tudo o que o Avô está a dizer é mentira… (Avô interrompe zangado)
Avô – Óh quê? Já olhaste para ti…? Se já estás uma carcaça está calada e deixa-me explicar aos nossos netos… como deve ser…! Tu não sabes explicar!
Pai – Então…queridos sogros…estão aqui crianças…! Vejam lá.
Avó 1 (zangada e irónica) Óh genrinho…tu é que devias ter explicado claramente às crianças o que é o arco-íris…! Eles são teus filhos… (murmura) Ignorantes como tu…!
Pai (irónico) Então explique você, sogrinha…!
Avó 1 – Meninos…o arco-íris não se come, não se bebe…nem é nenhuma pintura feita pela natureza…nem é oferta de anjinhos coisa nenhuma!
Crianças – Então o que é?
Avó 1 – É ilusão da nossa vista…!
Avô – Só se for desse teu olhar velho…! Como eu estava a dizer-vos, meninos…antes desta carcaça velha se meter…o arco-íris aparece quando há água nas nuvens e quando o sol reflete na água que lá está!
Avó 1 (resmunga) Tu é que paraste na infância… não evoluíste!
Avó (ri) Calem-se, por favor. Olhem as crianças…que maus exemplos estão a dar…
Avó 1 – Maus exemplos estão a dar vocês, a inventar patetices! Elas têm de conhecer a realidade das coisas, não a fantasia…fantasia já chega a das histórias que só tem falsidades e mentiras!
Clara (inocente, mas chateada) Posso fazer uma pergunta, Avós?
Avós – Claro, filha…!
Clara – Boa, obrigada. Com todo o respeito…ainda bem que se calaram! Estão sempre a resmungar…que chatice! O que eu quero perguntar é…Mas não há sol…nem se vê água…como é que aparecem aquelas cores? (os adultos ficam um pouco envergonhados)
Avô – Há sol, mas está por trás das nuvens.
Carolina – E porque é que o sol está por trás das nuvens?
Avô – Porque vai chover!
Diogo (encantado) É tão lindo…!
Carolina – Óóóóhhh…Eu queria ir lá mais perto!
Pai – Não podes.
Carolina – Porquê?
Pai – Porque está a chover.
Avó 1 – Porque está muito longe!
Hugo – Não está longe…porque nós vemo-lo daqui…!
Mãe – Sim, querido, vemos daqui, mas não quer dizer que esteja perto…já aqui em frente.
Diogo – Não faz mal, nós vamos lá onde ele estiver. Está pousado no monte.
Avó 1 – Não está nada…parece, mas não está pousado coisa nenhuma…não tem pernas, nem suporte para pousar…!
Avô – Está suspenso…a pairar queres ver?
Avó – Nem uma coisa nem outra. (p.c) Queridos, não se preocupem em saber o que é o arco-íris, nem como é que ele aparece…vejam apenas…como é bonito, todas aquelas cores juntas num arco…!
Avô 1 (ri) Calou-te, mulher! Muito bem respondido, minha deusa…!
Avó 1 (resmunga) Ai…tanta falsidade…deusa…!
Avós (gritam) Cala-te! 
Avô 1 – Esta hoje acordou de cú para a lua.
Avó – Acorda sempre…! Deve ser a chuva que está a mexer nos miolinhos dela! Coitada…!
Mãe (chateada) Ai, que chatice…parem de peguinhar uns com os outros…as crianças estão a portar-se melhor que vocês!
Carolina – Óhhh…está a chover, mas levamos guarda-chuva e vamos lá na mesma não é meninos?! (os adultos riem)
Crianças – Sim, é!
Clara – Eu também queria ir lá…olha…vamos lá de barco!
Avó 1 – Como é que vais de barco, se não vivemos numa ilha, ou numa praia…? Os barcos não andam nas ruas.
Pai (ri) Não podes querida.
Clara – Porquê? Nós temos um barco…e com guarda-chuva já podemos ir.
Avó 1 – O guarda-chuva vai – vos fazer voar queres ver…? Isto não é chuva, é uma tromba de água com saraiva à mistura…não há guarda-chuva que resista!
Avô – Ai, o raio da velha está sempre do contra…cala-te…deixa as crianças serem crianças…a fantasia não mata ninguém.
Mãe (ri) É, Mãe…não ligue…deixe-os estar. Estão a imaginar, faz-lhes bem.
Avó – É por isso que a tua cara parece um trapo engelhado...rugas vincadas…!
Avó 1 – Vocês não são normais…! Estão piores do que eles! Mas para que é que querem ir lá à beira?
Crianças – Para ver o arco…!
Avó 1 – Óh rapariga…então não estás a ver o arco daqui…? Precisas de ir lá à beira…? Só se estás a ver mal…! (p.c) Ver aqui ou lá à beira é a mesma coisa…aliás…daqui até vês melhor.
Pai – Mas não vos vale a pena ir lá, porque quando o sol voltar, o arco desaparece.  
Mãe (murmura)Outro…já cá faltava este também…! Aaaaiii…!
Crianças – Óóóóhhh…!
Pedro – Então temos de ir lá de barco, depressa… antes que o arco desapareça.
Crianças – Pois.
Clara –É. Vamos lá e trazemos o arco para casa.
Mãe – Para quê?
Clara – Porque eu adorei aquele arco…e as cores todas…e quero ir lá buscá-las para meter num frasquinho e guardá-las!
Avó 1 – Até parece que isso é possível.
Avô – Claro que é possível!
Avó 1 – Meninos, não acreditem no vosso Avô.
Carolina – Mamã…eu quero tocar no arco-íris…!
Crianças – Eu também.
Avó 1 (ri) Óh, filha…eu também queria muita coisa e não tenho…! (p.c) Nunca quis tocar no arco-íris porque sempre soube que o arco-íris é tudo ilusão de ótica.
Crianças – É o quê?
Carolina – Mas o avô disse que o arco-íris é feito de água e sol.
Hugo – Pois, mas não dá para comer, nem para beber.
Pedro – É só para vermos as cores.
Diogo – É uma coisa da Natureza! 
Avó 1 – Ai, Santa Ignorância…!
Avô – Não liguem à vossa Avó…! Querem ver…? Fechem os olhos... (eles fecham os olhos) agora…lembrem-se do arco…com aquelas cores todas…sem abrir os olhos…e…quando virem o arco na vossa frente…toquem no arco-íris…toquem em cada uma das cores, levezinho, façam-lhes miminhos…
Avó (sorri) Que lindo!
Avô – Também podem tocar…vocês, adultos…!
Avó 1 (resmunga) Que palermice…só se eu estiver demente…ou louca…!
Avô (ri) É problema teu…é quanto perdes…óh carcaça seca…!
Avó 1 (resmunga) Tu és uma coisa horrível, mesmo! (p.c) Vou ter que te levar ao médico…não estás bom da cabecinha…!
Avô – Olha, não queres tocar no arco-íris não toques…mas há quem queira tocar, por isso…deixa-os tocar…e…cala-te…pau oco…!
Avó 1 (resmunga) Vais dormir para o galinheiro, se continuas a chamar-me essas coisas…! (As crianças riem)
Avô – É…para o galinheiro, ou para o eido…com os porcos…e os cavalos… não é mau de todo…ao menos aquecem-me, e não resmungam de tudo! (as crianças e os outros adultos riem)
Pai – Meninos…estes disparates que estão a ouvir não são para repetir…entendido?
Avô – Vá…façam lá como eu vos disse…! (p.c) Agora nem um pio, ouviste…cara de…traseiro… (p.c, todos riem) Fechem os olhos... (eles fecham os olhos) agora…lembrem-se do arco…com aquelas cores todas…sem abrir os olhos…e…quando virem o arco na vossa frente…toquem no arco-íris…toquem em cada uma das cores, levezinho, façam-lhes miminhos…
Narradora - As crianças esticam as mãos para cima e fazem de conta que tocam no arco-íris a sorrir. Todos os adultos, menos a Avó, apreciam deliciados e sorridentes. As crianças saltitam de alegria e gritam.
Crianças (felizes) Boa, Avô…tocamos no arco-íris…!
Avô (sorri, feliz) Viram?! Muito bem.
Carolina (sorri) É mesmo muito bonito! Brilhante.
Clara (sorridente) Sim, e as cores…são tão fininhas, que parecem umas asinhas de borboletas…!
Carolina (sorri) Pois é! E é muito levezinho…!
Diogo – Óh Avô…podemos escorregar pelo arco abaixo?
Avô – Sim, claro que podem!
Avó 1 – Podes, se quiseres esborrachar-te lá em baixo…! Vais para o monte, e atiras-te…assim já escorregas no arco – íris…no ar…!
Adultos – Que horror…!
Avô (O Avô bufa, e grita à Avó) - Cala-me esse esgoto de uma vez…daqui a pouco enfio-te uma rolha nessa goela…
Avó 1 (resmunga) Goela…e esgoto…?! Fica sabendo que daí sai uma voz maravilhosa…!
Avô (resmunga) É…com eco e tudo…! Parece uma mulher das cavernas a gritar para afugentar os predadores… (grita) Cala-te! (os meninos riem) Como eu estava a dizer… queridos netinhos… Podem escorregar no arco, sim…fechem outra vez os olhos…e quando virem o arco-íris à vossa frente…ponham os pezinhos numa nuvem que esteja à volta do arco…e subam a gatinhar pelo arco acima…!
Hugo – Mas é seguro, Avô, andar em cima do arco-íris?
Avô – Sim…vai à vontade…!
Narradora – Os adultos, menos a Avó, ouvem maravilhados, sorriem e discretamente, um pouco envergonhados, seguem o que o Avô lhes diz. As crianças estão felizes, e riem ao imaginar-se a andar por cima do arco-íris. Abrem os olhos e gritam em coro:
Crianças (felizes) Boa…andamos em cima do arco-íris…!
Avô (sorri) Viram…?! Foi bom?
Crianças (felizes e sorridentes)Sim, foi muito bom.
Avó 1 (resmunga) Mas que mentiroso…! Só inventas…isso não se faz…enganar as crianças…!
Narradora - O Avô ignora, olhando de canto para ela, encolhendo os olhos e abanando a cabeça. Os adultos riem.
Carolina – Óh Avô…e…agora eu queria guardar aquelas cores todas num frasquinho!
Clara – Eu também quero!
Avô – Isso, vão ter que pedir às estrelas, quando as virem!
Avó 1 (resmunga irónica) Sim…esperem sentadinhos, que as estrelas vão já dar-vos isso…!
Avô – Claro que vão! Façam isso.
Crianças – Está bem, Avô!
Narradora – Entretanto, para de chover, e volta o sol. Todos regressam ao jardim, para trabalhar, e as crianças voltam a brincar felizes. Enquanto as crianças dormem o soninho da tarde, o Avô pede dois frascos às mães da Carolina e da Clara. Neles pinta, alegremente, muito feliz e sorridente, uma linda paisagem com um enorme arco-íris para as netas. Esconde-os, e à noite, quando vai deitar as netas, elas pedem o desejo às estrelas, de ter as cores do arco-íris num frasco. O Avô sorri, cobre-as com carinho, dá-lhes beijos e Carolina pergunta.
Carolina – Avô…achas que as estrelas ouviram o nosso desejo?
Avô – Claro que sim, minhas queridas! 
Clara – Óh Avô…tu também pediste desejos às estrelas?
Avô (sorri) Sim, também pedi. Alguns…!
(As duas sorriem)
Clara – E elas ouviram os teus desejos?
Avô (sorri) Uns sim, outros demoraram mais um bocadinho. Mas quase sempre, ouviram…!
Carolina (sorri) Qual foi o último desejo que tu pediste às estrelas, e que elas realizaram?
Avô – Humm…Olhem…foi…foi…que elas me mandassem as netas mais bonitas e mais queridas do mundo…as melhores netas que qualquer Avô pode ter…! E cá estão elas…!
Narradora – O Avô e as netas abraçam-se, a rir, trocam carinhos, e o Avô diz:
Avô (sorri) Agora…toca a dormir…e pode ser que as estrelas realizem rápido o vosso desejo!
Narradora - As netas sorriem, felizes, deitam-se, cobrem-se e Carolina acrescenta.
Carolina (sorri) És o melhor Avô do Mundo…! Adoramos-te!
Clara (sorri) Sim, é verdade! És mesmo o melhor Avô do Mundo…!
Avô (sorri, babado, e orgulhoso) Ai, que doçuras…! Meus amores…minhas princesinhas lindas…! O Avô também vos adora…! Boa Noite, durmam bem…!
As duas (sorriem) Boa Noite!
Narradora – O Avô sai, apaga a luz, e passado um bocado, quando as meninas estão a dormir e silenciosamente, entra no quarto, põe os frascos que pintou nas mesinhas de cabeceira de cada uma das meninas. Na manhã seguinte, quando as meninas acordam, vêem os frasquinhos, e ficam muito surpresas. Levantam-se felizes, e maravilhadas com os frascos, vão a correr para a cozinha a gritar.
As duas – Avô…Avô…olha…olha…!
Carolina (feliz e sorridente)As estrelas ouviram o nosso desejo!
(Todos riem)
Avô (feliz e sorridente) Estão a ver…? Eu disse-vos! Mas…não há beijinhos em mais ninguém…?
Narradora – As duas cumprimentam toda a gente, penduram-se no Avô e beijam-no, eufóricas com os frascos. Todos os adultos riem, menos a Avó…que não se pronuncia, mas abana a cabeça. E assim…na sua imaginação, as crianças conseguiram tocar no arco-íris, sentir as suas cores, acariciá-las, escorregar nelas, e ter as suas cores num frasco…! Do que a nossa imaginação é capaz…e o que os Avós não fazem para ver os seus netos felizes…! Mas isso também é bom para eles, pois sentem-se mais novos…ao reviver a magia das suas infâncias…ou pelo menos…aquela magia que alguns gostariam de ter tido, mas não tiveram. É sempre bom sentirmos a maravilhosa época da infância, mesmo em adultos. A inocência é tão bonita…! Ficarmos maravilhados com pequenas coisas…sem saber o verdadeiro significado das mesmas…em termos científicos…é lindo! É especial! E deveria ser uma característica que todos devíamos continuar a ter em adultos.

FIM
Lálá
(25/Junho/2012)


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