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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Natasha, a bailarina da caixinha de música e os bonecos.



1. 

        Natasha é uma adolescente em crise. Está deprimida, acha – se horrível, sente – se abandonada, acha que ninguém gosta dela, e muitas outras coisas mais. 
    Os seus pais trabalham muito, não têm grande disponibilidade para estar com ela, como ela queria e precisava, o que não quer dizer que eles não a amem e não se preocupem com ela. Umas vezes fica com a Avó, outras vezes fica sozinha em casa. 
      Numa certa noite, muito chuvosa, ventosa, e com trovoada, a Natasha está muito triste porque o rapaz de quem ela gosta não lhe liga nenhuma, goza – a, e ela chora, chora, chora…grita, atira coisas pelo ar, sapatos contra a porta. 
        Os bonecos estão muito assustados, mas a bailarina da caixinha de música não está a perceber nada, e desata às gargalhadas ao ver aquelas loucuras dela. Os palhacinhos tentam segurá-la, animá-la, metem-se à frente dela, e ela grita-lhes muito zangada:
– Saiam da frente!
– Calma rapariga…estás tão zangada…não pode ser! -diz o Laçarote 
– Isso faz – te muito mal. - acrescenta o Arco-Íris 
– Quero lá saber que me faça mal…quero é que desapareçam, antes que vos atire pela janela fora. - grita Natasha 
– Ui…que medo - goza o Balão 
         Ela continua a atirar coisas, aos gritos muito nervosa, os palhacinhos encolhem – se, escondem – se assustados atrás da cama, correm atrás da Natasha, tipo sombras, baixam – se, levantam – se, seguram em objetos para ela não atirar…ela está demais…!
– Ai, ai, ai…isto não está fácil. As crianças são mais fáceis de controlar e de animar. - comenta o palhacinho Laçarote 
– Sim, realmente… - acrescenta o Arco - Íris 
    Ouvem – se as gargalhadas da bailarina.
– Óh bailarina…eu gosto muito das tuas gargalhadas, e eu próprio adoro rir, e fazer rir… mas isto não está para brincadeiras. - comenta Balão 
– Áh pois não. - acrescenta Laçarote 
– Que raio de bicho é que lhe mordeu? - pergunta-se Arco-Íris 
– Não faço ideia. Sei que está a ser um espetáculo muito divertido! - responde a bailarina a rir 
– Não percebo onde está a diversão deste espetáculo. - murmura a Nenuca 
– Eu não estou a achar piada nenhuma. - concorda a Boneca de pano 1 
– Eu também não…ela está louca. - acrescenta a outra boneca de pano 
– Devíamos fazer alguma coisa! - sugere o Feijãozinho 
– Também acho. Desta maneira, daqui a pouco sobra para nós. - concorda o Nenuco 
– Não tarda nada estamos nós a espetar uma marrada naquela parede, ou no chão…pelos cabelos…- comenta o Feijãozinho 
(Todos riem)
– Ai, até me arrepio só de imaginar. - diz a Boneca de Pano 1 
– Eu também. - dizem todos 
– Sou um monstro…não valho nada…sou horrível…ninguém gosta de mim, e aquele gajinho…goza – me…que ódio…nem os meus pais gostam de mim… - resmunga Natasha 
– Coitadinha…ainda tens muita cabeçada para dar…ainda tens de ter muitos desgostos para crescer…- diz a Bailarina a rir 
– Sou um monstro…- lamenta Natasha 
– Estás a precisar de óculos…daqueles especiais. De burro…Se fosses minha filha levavas – me umas chineladas nesse rabo que não dizias mais essas asneiras…- diz a Bailarina 
– Nem os meus pais gostam de mim, claro, não admira…uma gaja feia que mete medo ao susto…eles até devem ter vergonha de mim…- responde Natasha, com raiva 
– Ela não está boa…olha…tão bonita que é…e põe – se a dizer aquelas tolices…! - suspira a Nenuca 
– Quem dera a muitas meninas ser bonitas como ela. - acrescenta a outra boneca de pano 
– Ainda por cima sou gordíssima…- resmunga Natasha, raivosa 
– Como o bacalhau pelo rabo…- comenta Laçarote 
– Mas…o bacalhau não é gordo, muito menos o seu rabo…! - analisa Feijãozinho 
– E achas que ela é gorda…? - pergunta Laçarote 
– Não.
– Nunca ouvi nem vi tanto disparate junto. - diz a bailarina às gargalhadas 
– Mas porque é que ela está assim? - pergunta a boneca de pano, muito intrigada 
– Ela só está a crescer. - responde a bailarina 
– Eu vejo – a sempre do mesmo tamanho. . goza Laçarote 
(Todos riem)
– Tu também estás sempre do mesmo tamanho…mas com uma grande diferença: enquanto tu cresces em estupidez, ela cresce mentalmente…está em transformação para se tornar uma senhora adulta. - responde a bailarina 
– Isso é bom ou é mau? - pergunta o Balão 
– Podes ter a certeza que para nós bonecos é muito mau! - lamenta a Nenuca 
– Porquê? - perguntam os palhacinhos 
– Porque vai deixar de brincar connosco. - responde a Nenuca, triste 
– Sim, infelizmente…daqui a nada estamos num sótão escuro, cheio de pó, e outros brinquedos. - lamenta a boneca de pano 
– Eu não quero ir para esse sítio. - diz o Feijãozinho assustado 
– Nem eu. - dizem todos 
– Se ela vos puser nesse sítio nós vamos lá buscar-vos. - diz o Laçarote 
– A sério? Muito obrigada. - sorriem os bonecos 
– Mas não serão só vocês a sofrer se ela crescer…pelo que percebi, nós também vamos passar à história…- comenta Balão 
– Porquê? - perguntam todos 
– Porque os adultos deixam de nos achar piada…- diz Balão 
– Óóóóóóóhhhh…que triste sorte! Mas a nossa amizade convosco tem de ser mais forte, e juntos vamos ultrapassar isto não é? - diz o Feijãozinho, triste 
– Sim, claro. - respondem os palhacinhos 
– É nestes momentos de grande tristeza que se veem os verdadeiros amigos! Estamos aqui, juntos…quase a ser abandonados pela mamã…- comenta o Nenuco 
– Claro, começam a crescer…e os interesses começam a ser outros…as hormonas saltam como as pipocas, e começam a olhar é para os homens…como se os homens tivessem algum interesse! Sai cada besta da toca…que se eu fosse a elas, preferia ficar sempre criança, olhar sempre para os bonecos e brincar sempre com eles. - lembra a Bailarina 
– Isso a mim não me soa bem. Quem são as…hor…mo…mo…momas ou monas…ou qualquer coisa assim parecida…foi isso que tu disseste…? - pergunta o Arco- Íris 
– Saltam como as pipocas…Huuuummmm…devem ser boas…! Menhã. Menhã…já marchava para o pipote (esfrega a barriga) um belo baldinho delas…- acrescenta Laçarote, pensativo
(riem)
– Elas são de comer? - pergunta Balão 
– Tu és demais…! Não, as hormonas não são de comer! São uma coisa que há no corpo das raparigas e dos rapazes, que a uma certa altura aparecem para que eles e elas deixem de ser crianças e passem a ser adultos, como a mamã e o papá da Natasha. - explica a bailarina, a rir 
– Então já não gosto delas. Mesmo que fossem de comer, já não as queria comer. - comenta Laçarote 
– Nem eu. - respondem em coro 
(Riem).
– São essas hormonas que põem esta rapariga completamente histérica. - acrescenta a bailarina a rir 
– E isso é bom ou é mau? - pergunta Arco-Íris 
– Não costuma ser muito bom, tem alturas melhores, e outras piores. - responde a bailarina a rir 
– Mas se elas são más para a Natasha, porque é que ela não as manda embora? - pergunta Feijãozinho 
– Isso não é possível. - diz a Bailarina a rir 
– Bem, seja bom ou mau, acho que temos de a ajudar. Se ela está a chorar tanto, e a gritar tanto…não deve estar muito bem. - sugere a boneca de pano 
– Nunca a vimos assim. Nem está a ligar para nós. Costuma ser tão querida connosco. - diz o Feijãozinho 
        A Natasha em total desespero, olha de repente para os bonecos, com raiva, a rosnar, a bufar. Os bonecos estremecem, encolhem – se.
– Ai, ai, ai…- gemem os bonecos a tremer como varas verdes 
– Ai, sobrou para nós…- lamenta a boneca de pano 
– Estamos fritos…! - lamenta o Nenuco assutado 
– Ai, bailarina…salva – nos. - pedem os bonecos 
– Odeio – vos…! Não sei como é que ainda vos tenho aqui. (Ficam todos surpresos). Nem sequer falam comigo. Olhem para isso…ter-vos aqui e não ter ninguém é a mesma coisa…! Foram os meus pais que vos deram ordem de não falarem comigo não foi? (p.c) não foi? Digam…(p.c) claro que foi. Só pode ter sido…eles não gostam de mim. - grita Natasha 
– Mal agradecida! - lamentam os bonecos 
          Ela ouve gargalhadas, fica estática, olha para eles, mais próximo, eles estão em pânico. Olha em volta, e ouve as gargalhadas
- Quem é que está aí? (p.c) Quem é que se está a rir de mim…? (p.c) Eu atiro – me da janela abaixo… - pergunta Natasha 
– Ai, menina, por favor…não faças uma coisa dessas. - recomenda Laçarote 
– Assim mais depressa vamos para o sótão…- diz o Feijãozinho 
– Ninguém vai sentir a minha falta…- lamenta Natasha 
– Não acredito no que estou a ouvir, mas…Força…! Duvido que tenhas coragem. - diz a bailarina a rir 
– Mas…quem é que está a falar comigo? Não estou a ver ninguém. - procura Natasha 
– Claro que não estás a ver ninguém…estás a olhar para o vazio…a chorar dessa maneira, e a dizer tanto disparate como é que queres ver o que quer que seja, ou ouvir…? (p.c) Aqui…óh palerma de meia tigela…- responde a Bailarina 
– Aaaahhh…desculpa…mas acho que estás a pior as coisas…bailarina…! - diz a Nenuca escandalizada, e assustada 
– Até tu que eu não sei quem és…me estás a chamar palerma…- grita Natasha 
– Para de gritar, histérica do raio! Não somos surdos. E és muito mais do que isso, mas não te posso dizer os outros nomes, estão crianças a assistir.
- Onde é que tu estás? - pergunta Natasha 
– Porquê? Vais espancar-me, é? Bem perto de ti…procura – me se queres. - diz a bailarina às gargalhadas 
– Nós ajudamos – te a procurar. - diz o Arco- Íris 
– Não…deve ser coisa da minha imaginação…tem algum jeito isto…ou será que está alguém debaixo da cama…? - comenta Natasha 
            Natasha põe – se de joelhos e procura debaixo da cama, a bailarina só se ri, os bonecos estão assustadíssimos. Os palhacinhos brincam com a situação, riem baixinho, e fazem de conta que estão a procurar pela bailarina. A bailarina ri – se 
– Que croma…! - comenta a bailarina 
– Não está ninguém. Não viram nada nem ninguém por aí? - pergunta Natasha 
– Não. - respondem os palhacinhos 
– Claro que não está ninguém. - diz a Bailarina a rir-se 
– Acho que estou a ficar louca. - comenta Natasha 
– Naaaa…! Tu…a ficar louca…? (ri) Quem fala numa coisa dessas…estás finíssima…! Nem me sabes procurar. - goza a Bailarina 
– Nem para procurar de onde é que vem as vozes, sirvo. Vou – me atirar pela janela fora. - diz Natasha 
– Deves achar que és alguma super mulher…que tens asas, ou és uma zorra…ou…algum tapete para ser sacudido não? - pergunta a Bailarina 
– Ela está a gozar comigo! Estás – me a provocar…ai se eu te apanho… Era bom se fosse uma super mulher…ou uma zorra…mas valho muito menos que isso. - resmunga Natasha 
– Não…de certeza que ela não está lá fora a falar, para que é que te vais atirar da janela…? - diz Balão 
– Procura melhor…cá dentro…Ela está cá dentro! - sugere o Arco- Íris 
– Ai, vocês também estão a ouvi – la? - pergunta Natasha 
– Sim. - respondem todos 
– Estás a precisar de óculos, ou de um espelho novo. - diz a Bailarina a rir 
– Os espelhos só mostram porcaria. - grita Natasha 
– Só sabes falar aos gritos? Achas que estás no meio do monte, não? Se te atirasses da janela…já imaginaste o que ia acontecer? - pergunta a Bailarina 
– Já nem posso expressar a minha raiva que calam-me logo o pio! Sim, com certeza ninguém ia sentir a minha falta! - responde Natasha 
– Eu ia. E aqueles bonecos ali também. - diz a Bailarina num tom triste 
– Os bonecos…? Até parece…eles nem sequer falam…- responde Natasha 
– Ela já nem nos ouve! - comenta o Feijãozinho triste 
– Mamã…fica connosco. - gritam todos os bonecos 
– Ouviste? - pergunta a bailarina 
– Não. - responde Natasha 
- Claro, com esses berros, e só estás a ouvir a tua tristeza, ou a tua raiva...! Cala-te e ouve! Meninos... 
– Fica connosco Mamã…nós precisamos muito de ti. - gritam os bonecos 
– Estás a ser muito má connosco, porque estás assim tão triste, e nós, bonecos…aqueles que dizes que nem sequer falam…é que estamos aqui contigo… - protesta a boneca de pano 
- Ias atirar – nos pela janela fora…e depois…com quem é que ficávamos? - pergunta a outra boneca de pano 
- Quem é que ia tomar conta de nós? - pergunta a Nenuca 
– Outra pessoa qualquer…! - responde Natasha agressiva 
– Mas nós não queremos outra pessoa qualquer para ficar connosco, nem tão pouco ir para aquele sótão nojento. - responde Nenuca 
– Alguma vez te fizemos algum mal? - pergunta Feijãozinho 
– Não…- responde Natasha 
– Onde está aquela rapariga querida que gostava tanto de nós…? - pergunta a Nenuca 
– Sim, aquela princesinha que quase se confundia connosco…tão linda que era…tão querida…- acrescenta a boneca de pano 
– Sim, aquela que brincava sempre connosco, dias inteiros, que nos fazia festinhas… - acrescenta a outra boneca de pano 
– E aquela que até dormia connosco…? - acrescenta o Feijãozinho 
– Sim, era a nossa mamã…- diz o Nenuco, triste 
        Começam todos a chorar
– Ai, que momento tão bonito…- pega num lenço, assoa-se a fazer muito barulho, e também chora o palhacinho Arco- Íris 
– Porque é que estás tão triste? - pergunta o Laçarote 
– Porque…nada me corre bem…ninguém gosta de mim. Nem os meus pais, nem o rapaz de quem gosto, nem as raparigas da minha turma…ele goza – me…- desabafa Natasha 
– Que grande mentira! - dizem os bonecos 
– Para que raio é que queres uma besta quadrada…um frango depenado metido a rapaz? Para te chatear e sofreres? Não deve valer a ponta de um corno, nem a ponta do outro. (Riem todos) Podes ter a certeza que as pessoas que mais gostam de ti, com todo o amor…um amor incondicional, verdadeiro…são os teus pais e estes bonecos. - comenta a Bailarina 
– A bailarina tem toda a razão. - diz a Nenuca 
– Mas se eles me amam, porque é que raramente estão comigo? - pergunta Natasha 
– Porque estão a trabalhar, para te sustentar…e para não viveres na rua…nem andares nua…nem passares fome. - explica Nenuca 
- Temos a certeza que eles também queriam estar contigo neste momento e em todos os momentos. - acrescenta a outra boneca de pano 
– Imagina que tu eras a tua mãe, com a profissão dos teus pais…e se tivesses uma filha, com certeza também querias ficar sempre com ela, mas ias deixar de trabalhar, para estar com ela, e ela passar fome, ou não ter roupa…? - lembra a boneca de pano 
– Acho que não…- responde Natasha 
– E ias deixar de amar a tua filha por causa do teu trabalho não te permitir ficar muito tempo com ela? - pergunta a outra boneca de pano 
– Acho que não…! - responde Natasha 
– Então…? - perguntam os bonecos 
– Porque é que em vez de estares com essas tolices todas, não brincas connosco? - sugere a boneca de pano 
– E eu lá tenho idade para brincar convosco? Isso era quando eu era pequena. - resmunga Natasha 
– Que coisa mais ridícula. É disparates, atrás de disparates. E estar assim…por causa de um parvalhão de quem gostas, só porque ele não gosta de ti…ainda por cima goza contigo…! Francamente! Tu devias era arranjar – te, tirar toda essa tua beleza de dentro para fora, e esfregar – lhe bem nas trombas que ele é um calhau com olhos, que não vale nada, e que está a precisar de uns óculos de burro. (p.c) Além disso, ele não é o único homem no mundo. (p.c) Achas que ele merece tanto sofrimento? - responde a Bailarina 
– Tu tens é que te divertir. Ainda tens tanto tempo para ter alguém do teu lado. - acrescenta Laçarote 
– Eu queria um príncipe encantado…- diz Natasha 
– E vais encontrar…mas para quê tanta pressa. Com a tua idade ele também quer é brincar, divertir – se… (p.c) pensas que é fácil estar apaixonado por alguém, e aturar um homem, todos os dias…? (p.c) Pergunta à tua mãe se é fácil e se é bom! Na vossa idade, o mais importante é a amizade! - responde a Bailarina 
– Como é que sabes que é assim? - pergunta Natasha 
– A tua mãe sempre que vem fazer a tua cama, vem a resmungar contra o teu pai…discutem constantemente… (p.c) ela já me disse muitas vezes que se fosse hoje não se tinha casado. Tinha brincado muito mais tempo. - conta a bailarina 
– É verdade! - confirmam os bonecos 
– A tua mãe deve gostar mais de nós, do que tu de nós. Ela brinca sempre connosco, faz – nos sempre carinhos, sorri, pega em nós ao colo, cobre – nos…! - revela o Nenuco 
– A sério? (muito surpresa) Não sabia…! (p.c) Eu também gosto muito de vocês…- diz Natasha muito surpresa 
– Ainda há bocado disseste que nos odeias…- responde Nenuco 
– Mas…eu disse isso da boca para fora. - diz Natasha 
– Tu és tão bonita…Anda divertir – te connosco. - convida Balão 
– Sou tão feia…- murmura Natasha 
– Posso pregar – lhe um bufardão…? - pergunta Balão 
– Podes… - concordam todos 
– Bem merecia…mas…Vê – te bem ao espelho…se te achas feia é claro que o palermão também te acha feia. - diz a Bailarina 
– Ai é? - pergunta Natasha 
– Claro. Os nossos pensamentos refletem – se na nossa cara…(p.c) se temos pensamentos feios, também nos tornamos feios…ou ficamos a chorar, ou com uma cara comprida…de amuados…qualquer cara fica mais bonita se estiver a sorrir…! E para estar a sorrir, temos de ter pensamentos bonitos…! (p.c) Olha bem para ti…! Aqui…nos espelhos…- diz a Bailarina 
– Mas eu não consigo ter pensamentos bonitos…! - suspira Natasha 
– Claro que consegues. - diz a Bailarina 
– Queres ver como já vais ter pensamentos bonitos…? - diz o Arco- Íris 
– Anda connosco…- convida Balão 
– Bailarina…! - chamam os palhacinhos 
           A bailarina salta da caixinha de música, a sorrir, e chama os bonecos.
– Bonecos…
         Os bonecos levantam – se e todos gritam…feeeeeeessstaaaaa…!
– Não…não quero festas…não sei dançar. - resmunga Natasha 
– Está bem…nós também não sabemos dançar. - dizem os palhacinhos 
         Desatam todos às gargalhadas, puxam – na pelas mãos, empurram – na, liga – se música alegre, de discoteca, começam todos a saltar, a dançar uns com os outros, a rir, os palhacinhos abrem uma caixa cheia de balões de todas as cores. 
        O palhacinho Laçarote solta muitas bolas de sabão, há luzes a piscar de muitas cores, o palhacinho Arco – íris oferece flores à Natasha, ela está sorridente e animadíssima a dançar com a bailarina e com os bonecos. 
        Já nem parece a mesma. Depois de dançarem e se divertirem um bom bocado, a música para, porque Natasha está cansada. Os bonecos e os palhacinhos também se sentam.
– Então…? Como te sentes? - pergunta a Bailarina 
– Uau…já não me sentia assim há muito tempo. Estou feliz. Adorei esta festa. - responde Natasha a rir 
– Viste…?! (p.c) Sabes, todos nós, até os bonecos e os palhacinhos temos dias e momentos em que ficamos muito tristes, com raiva, muito zangados, só nos apetece desfazer tudo, e fazer muitas asneiras…dizemos muitas asneiras…mas não podemos permitir que essas tristezas atrevidas e esses pensamentos feios nos façam tão mal. (p.c) Não podemos impedir que elas e eles nos visitem, infelizmente. Mas podemos fazer com que elas e eles se vão embora depressa…! (p.c) Se nos dedicarmos a fazer coisas divertidas, como dançar, brincar com os nossos amigos de quando somos pequeninos…porque esses sim, estão sempre presentes, do nosso lado, a ouvir – nos, até podemos abraçar – nos a eles, que eles não se importam nadinha. (p.c) Olha agora pela janela…a chuva…e os trovões…que lindo… (p.c) que bom que é, estar em casa…protegidos…quentinhos…acompanhados… (p.c) há muita gente que quereria estar no teu lugar! É a estas coisas boas que tens de dar valor, são estas pequenas coisas que te devem fazer sentir feliz, e não um idiota que não tem nada na cabeça… (p.c) primeiro olha para ti…põe toda a tua beleza à mostra…e quando menos esperares ele vai aparecer. (p.c) Mas alguém que preste. Não esse fedelho que ainda faz caca atrás das portas e no chão, mas já se acha… (p.c. ri) Coitadinho do franguinho depenado…ainda vai ter que comer muita sopa antes de te ter. (p.c) Não facilites a vida a esses lobos esfomeados. Eles não merecem. - comenta a Bailarina 
– Obrigada, linda! És uma boa amiga…posso chamar – te assim não posso? - diz Natasha 
– Claro que sim…claro que sou tua amiga! - responde a bailarina a sorrir 
– Ei…e nós…? - perguntam os palhacinhos 
(Riem)
– Vocês também, claro! - responde Natasha a rir 
        Saltitam contentes, à volta das duas, oferecem 1 flor a cada uma, e a bailarina e a Natasha abraçam cada palhacinho, deliciadas, dão um beijinho, os palhacinhos sorriem deliciados, e suspiram)
– E nós…? - perguntam os bonecos 
        Riem, a Natasha também abraça e beija os bonecos, um de cada vez, eles ficam contentes.
– Obrigada a todos…vocês são maravilhosos. Desculpem, mas eu vou dormir…não se importam? - diz Natasha 
– À vontade…! Nós estamos aqui. - respondem todos 
– Boa noite…- diz Natasha 
– Boa noite…bons sonhos. - dizem todos 
            Natasha deita – se e adormece a seguir. A bailarina, os palhacinhos e os bonecos sentem – se realizados, estão felizes e orgulhosos, arrumam as coisas que Natasha atirou e vão também dormir.
2
        
          O palco tem luz azul, as personagens estão a dormir, e ouve – se o som da chuva e dos trovões. Na janela aparece uma sombra de um rapaz…o príncipe…está deliciado a olhar para ela. Entra no quarto, vai para a cama dela, segreda – lhe ao ouvido…
– Princesa…! 
        Ela não se mexe, ele faz – lhe um carinho na cara, a bailarina vê – o. 
– Ei…Pssssiiiiuuuuuu…quem és tu? - pergunta a Bailarina 
– Sou o príncipe da Natasha. - responde o príncipe 
– Quem…? - pergunta a Bailarina 
– O príncipe dela… - responde o príncipe 
– Mas…- diz a bailarina 
– Vou aparecer todas as noite nos sonhos dela…para a ajudar! - explica o príncipe 
– Ááááhhh…ai é? Boa! Espero bem que a ajudes…ela hoje estava insuportável. Quase destruiu o quarto todo…! Mas o que é que tu vais fazer concretamente com ela, nos sonhos dela? - diz a Bailarina 
– Umas vezes vou fazer o que ela quiser…ela é que vai mandar em mim…outras vezes, vou ser eu que vou fazer algumas coisas com ela. - diz o príncipe 
– Vê lá o que vais fazer…olha que ela está a crescer…e…teve a primeira deceção amorosa dela…um amor não correspondido dói sempre muito. - recomenda a Bailarina 
– Sim, bem sei…por isso mesmo é que a vou ajudar! Não vou revelar – te já tudo o que vou fazer. Mas de uma coisa podes ter a certeza: não a vou magoar, nem fazer sofrer.
– Acho muito bem!
– Eu ouvi – a dizer que quer um príncipe encantado.
– E só porque a ouviste dizer isso, já te vais aproveitar dela…? Vocês são horríveis.
– Não. Ela ainda é muito criança…ainda está em idade de sonhar…comigo…(sorri vaidoso) todas as meninas gostam de sonhar comigo. Mas eu não passo disso mesmo…uma personagem dos sonhos delas. Na realidade não existo. Mas através dos sonhos, elas podem crescer…saber o que gostam e o que não gostam quando tiverem um homem…percebes…? Podem experimentar – me…fica descansada, que ela vai aprender muito comigo.
– Hum, estou a ver…(murmura…fala para o público) Que grande convencido…! Não tens nada na cabeça com certeza…vocês, quanto mais bonitos por fora, mais estúpidos e mais feios são por dentro…! (fala para o príncipe) mas olha uma coisa…imagina que ela se apaixona mesmo por ti…vai ficar presa a ti, o resto da vida, e com isso vai sofrer muito…! Porque certamente não te vai encontrar na vida real certo…?
– Certo…ela não me vai encontrar na vida real, mas enquanto existo nos sonhos delas, e enquanto eu e elas nos encontramos, elas sentem – se reconfortadas…preenchidas…amadas…ao contrário do que dificilmente acontece na vida real… (p.c) é o que também acontece quando elas brincam com os bonecos…e imaginam mil e uma coisas…! Isso é muito saudável para as crianças, ajuda a crescer e a desenvolver – se. Possivelmente, quando ela acordar nem se vai lembrar que esteve comigo, ou então, vai questionar – se…onde é que ela terá visto aquele borrachinho dos sonhos… (a bailarina ri – se, de gozo fininho)
– Sim, claro.
– Todas as mulheres me querem…! Não me achas bonito…irresistível…com tudo no sítio…? (a bailarina manda uma gargalhada, e diz para o público)
- Meninas…não se iludam! Este não existe na vida real. Só existe a pior parte dele…o ter a mania que é bom todos os dias, e que é irresistível…não se deixem levar pela beleza física deles…o homem perfeito…bom por fora e bom por dentro não existe…quer dizer…só nos sonhos…e nos sonhos somos nós, cada uma que lhe dá vida, com aquilo que mais gostava de ter num homem!
– Vou precisar de ti, querida…
– (para o público) Já me vai usar e deitar fora. É o que na realidade acontece aos homens que são bonitos por fora…seduzem – nos, usam – nos e passado pouco tempo…mesmo dando – lhes tudo…deitam – nos fora! Não se iludam! (para o príncipe) Huuuummmm? Para quê?
– Tens música não tens…?
– (murmura) Tu é que tens muita música, tens… (para o príncipe) Sim, tenho música e danço. Porquê?
– Podes tocá-la, por favor…ela quer dançar comigo…!
– Aaaahhh…ela disse – te? Não a ouvi falar…mas está bem…prepara – te…
– Princesinha…dança comigo!
         A Natasha está a dormir, mas abre os olhos, levanta – se, olha fixamente para o príncipe, sorri, o príncipe estende – lhe a mão, ela levanta – se, a bailarina roda na sua caixa, e toca uma doce melodia e dança graciosamente. 
        O príncipe dança com ela, suavemente, agarradinhos, a olhar um para o outro, a sorrir…e no fim da música, quando eles quase se beijam, ouve – se um sonoro e gigantesco trovão. 
        O príncipe foge, esconde – se, e Natasha fica de pé, acorda sobressaltada e desata aos gritos, assim como também os bonecos e a bailarina. Depois de passar esse trovão, vem outro igual. Desatam outra vez aos gritos, assustadíssimos.
– Ai…que a casa foi abaixo! - comenta Natasha assustada 
– Não foi nada…é só a trovoada lá fora. - diz a Bailarina 
– Ai…que medo! - suspira Natasha 
        Ela está a tremer…pega nos bonecos e põe – nos na cama dela, abraça – os…
– Ai, fiquem comigo aqui! Tenho tanto medo da trovoada…- diz Natasha, nervosa 
        Os bonecos sorriem, felizes por terem ido para a cama dela)
Vês como estamos sempre do teu lado, e quando mais precisas…? - comenta a Nenuca 
– Ao contrário do que fazem os homens…! Viram o que fez o tontinho do príncipe…cobardolas…em vez de ficar com ela para lhe tirar o medo, pôs – se na alheta…é o que todos os homens fazem connosco na vida real…quando há tempestade nos nossos corações…quando mais precisamos da sua presença do nosso lado é que eles nos chutam…deixam – nos sozinhas, entregues a nós mesmas…aos nossos medos…aos nossos trovões! - explica a Bailarina (para o público) 
– Ao menos tenho vocês como companhia, para não ter tanto medo da trovoada…! Os palhacinhos…? Ááááhhh…estão ali….venham também para a minha beira…! - diz Natasha 
        Os palhacinhos vão para a beira da cama dela, sorridentes, mas cheios de medo dos trovões, ela faz – lhes festinhas, sorri
– Obrigada! - diz Natasha 
– Podes ter a certeza que estás mais segura, e mais acompanhada com eles, do que com qualquer outro homem. - comenta a bailarina (para o público) 
– Ai…estava a ter um sonho tão lindo…tão bom…! E os malditos (um grande estrondo de trovoada, eles encolhem – se, estremecem e gritam baixinho) …como eu estava a dizer…os malditos trovões acordaram – me…estragaram tudo! - conta Natasha 
– Podemos saber o que estavas a sonhar assim de tão bom? - pergunta a Nenuca curiosa 
– Isso…conta…para nos distrairmos dos trovões. - pede a boneca de pano 
– Está bem…boa ideia. Eu conto…- sorri Natasha 
            Ela conta o sonho aos bonecos. Eles sorriem, e voltam todos a adormecer. Nos dias seguintes, a Natasha continua a ter momentos bons e momentos maus, mas já sabe o que fazer…com a ajuda dos bonecos, que a distraem e fazem festas com ela. 
            O príncipe encantado continua a aparecer nos sonhos dela, e a desaparecer. E à medida que o tempo passa, ela cai na real…
– Sabem uma coisa…? Nenhum rapaz que vi até agora é o rapaz que entrava nos meus sonhos. - acrescenta Natasha 
        Aparece o príncipe, com uma flor na mão
– Desculpa desiludir – te…mas a verdade é que…eu não existo…é por isso que não me vês em lado nenhum…só existo nos teus sonhos! Até podes vir a encontrar em alguns homens algumas características que gostas em mim, mas nunca me vais encontrar na totalidade…! - diz o príncipe 
– Mas…tu tens tudo o que uma mulher deseja nos homens…! És lindíssimo, romântico, delicado, danças maravilhosamente bem, meigo…tu é que devias existir. - diz Natasha 
– Acredita que se existisse, não ias gostar de mim. - acrescenta o príncipe 
– Mas…claro que ia…tu tens tudo no sítio. Tudo de bom. - responde Natasha 
– Mas as personagens dos sonhos são isso mesmo…são perfeitos…lindos…agradam as mulheres…mas na vida real ninguém é assim. E sabes porquê? Se todos fossem perfeitos, ninguém reparava uns nos outros…não se despertava o gosto pela descoberta…não se ficava a conhecer pessoas diferentes…há de tudo…e toda a gente é diferente…mas é essa diferente que torna a vida humana e as relações entre as pessoas mais interessantes. É com pessoas diferentes que aprendemos coisas muito importantes. O que interessa numa relação entre duas pessoas é que…são duas diferentes, mas complementam – se! Se se aceitam essas diferenças há equilíbrio e harmonia. (p.c) Os príncipes encantados só existem nas histórias. Na vida real, os príncipes são de carne e osso, com sentimentos, emoções, bons e maus…- comenta o Príncipe 
– Estou a perceber…os príncipes encantados da vida real são aqueles que nos amam…- diz Natasha 
– Exatamente! São os namorados e namoradas que cada pessoa tem, e enquanto essas relações duram, correm bem, são príncipes e princesas uns para os outros, mas a convivência mostra defeitos, e os príncipes e as princesas deixam de o ser…transformam – se em sapos. (p.c) e fica a dor…a tristeza...e corações despedaçados, quando os supostos príncipes e princesas viram as costas. Mas mais importante que ter o amor de um homem…ou de uma mulher…é ter amigos verdadeiros…aqueles que estão do nosso lado, sempre, principalmente nos maus momentos, mesmo que esses não digam nada…a sua presença é fundamental para acalmar a dor. Infelizmente, em muitas relações humanas, nas piores alturas, quem não se lembra por exemplo dos amigos bonecos…perde o interesse pela vida…e comete um ato de loucura. Não se esqueçam…o príncipe encantado não existe na vida real…existem pessoas parecidas com o príncipe encantado, muito poucas, diferentes de todas as outras que já conheceram, para melhor…e quando essas pessoas aparecem, convém segurá-las bem. A sociedade de hoje sofre muito de solidão…!  - diz o príncipe  
- Obrigada, meus amiguinhos…bonequinhos…pela vossa existência e presença na minha vida, em todos os meus momentos. Adoro – vos. Obrigada príncipe dos meus sonhos…pelo que me ensinaste, e pelos momentos maravilhosos que vivi contigo…nos sonhos!  - diz Natasha 
– Um dia chegará o teu príncipe encantado de carne e osso…mas lembra – te que ele não vai ser como eu…perfeito…! Vai ter apenas algumas características parecidas com as minhas que te agradem. - diz o príncipe a sorrir 
            A peça acaba com todos a dançar alegremente uma música.

FIM.
Lara Rocha 
(23/Outubro/2010)




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