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segunda-feira, 23 de julho de 2012

OS MENINOS QUE TOCAVAM VIOLINO

Personagens
- Pedro (1 criança)
- Diana (1 criança mais velha)
- Mãe
- Narradora
- Senhoras
- Senhores
- Um pintor
- Um pianista
- Um guitarrista
- Uma cantora
- Uma bailarina
- Uma professora de bale

NARRADORA – Diana e Pedro são dois meninos irmãos, de uma família com grandes necessidades financeiras, vivem numa aldeia, numa casinha humilde, pequenina, simples e bonita, onde pelo menos amor, união, e felicidade não faltam. A mãe é doméstica e costureira mas não ganha muito dinheiro e está à espera de dois gémeos. O pai está emigrado em França e vem poucas vezes a casa, por motivos de trabalho, para reunir mais dinheiros e dar mais condições à família. Com o dinheiro que juntou, no Natal ofereceu aos pequenos um violino a cada, que adoram música e têm muito jeito. O pai pediu-lhes que tocassem esse instrumento pelas ruas para ver se alguém os ajudava dando algum dinheiro. Acordam muito cedo, antes do sol se levantar, e percorrem ruas diferentes da aldeia todos os dias. A mãe vai acordá-los com um beijinho. Pedro chora. Hoje não quer ir.
PEDRO (a chorar) – Mamã, hoje não quero ir!
MÃE – Porquê meu amor…? 
PEDRO – Está muito escuro lá fora. A esta hora ainda não está ninguém nas ruas.
MÃE – Mas olha que há pessoas que se levantam ainda mais cedo que tu.
PEDRO – Mas já são pessoas crescidas, já não tem medo do escuro!
MÃE – Há muitas crianças que se levantam muito cedo, como os seus pais. E há crescidos que também têm medo do escuro. Mas não precisas de ter medo.
DIANA – Pedrinho…não sejas medricas! Estás comigo e os nossos anjinhos da guarda também vão connosco! (p.c) Não queres ajudar a Mamã…e ter os brinquedos que gostas, mas não há dinheiro para comprar? Não queres ter uma casa mais confortável e maior para brincarmos com os manos?
PEDRO – Sim…!
DIANA – Esta noite sonhei com uma fada! Por isso hoje vamos ter muita sorte!
PEDRO – Mentirosa!
DIANA – Mentirosa, eu?
PEDRO – Sim! As fadas não existem…
DIANA – Já te disse que existem! Tu também já as viste…!
PEDRO – Não vi nada. Isso são coisas de meninas. 
DIANA – És sempre o mesmo totó.
MÃE – Vá lá queridos…acreditem que eu não queria que vocês tivessem de andar a tocar pelas ruas para juntar dinheiro, mas não vai ser por muito tempo, prometo-vos! Daqui a pouco o papá está de volta com mais dinheiro e vamos aos bocadinhos melhorando a nossa vida!
DIANA – Os manos também vão tocar?
MÃE (sorri) – Não sei…pode ser, se souberem tocar tão bem como vocês…!
(Eles sorriem)
DIANA – Eu ensino – lhes.
PEDRO – Nós tocamos bem, mamã?
MÃE (sorri) – Sim, meus amores! Muito bem! É delicioso ouvir-vos…! (p.c) vocês têm de lutar para terem o que querem…para ajudar! E têm esse dom da música aproveitem! (p.c) Eu sei que vão ter muito sucesso…! (p.c) Eu passo lá…para vos ver. Para onde vão?
DIANA – Para a rua do colégio da Guida.
MÃE – Está bem! Eu apareço lá. (p.c) Já sabem…sempre a sorrir…agradeçam tudo, mas não dêem muita conversa a estranhos que vos pareçam maus!
OS DOIS – Está bem!
NARRADORA – Levantam-se os dois, abraçam e beijam a mãe, lavam-se e vestem-se. A mãe prepara uma lancheira com coisas para eles comerem. Tomam leite e lá vão eles de mãozinha dada com o violino. O Pedro triste, a Diana sorridente. A mãe reza pelos filhos a chorar e fica a vê-los.
DIANA (sorri) – Hoje muita gente vai reparar em nós…!
PEDRO – Como é que sabes?
DIANA (sorri) – Porque a fada disse.
PEDRO – Que fada?
DIANA (sorri) – A que apareceu no meu sonho! Quando sonho com fadas é quando temos muita sorte e quando muita gente repara em nós.
PEDRO – Espero bem…!
NARRADORA – Sentam – se na rua deserta, tiram os violinos dos sacos, olham para o céu.
DIANA – Olha, já está quase a ser dia! As estrelas já estão quase a ir dormir.
PEDRO – Pois…até parece que elas dormem!
DIANA – Claro que dormem! O sol já está por aí…olha…está mais claro.
PEDRO – Sim! Eu não gosto de escuro! Não tens medo do escuro?
DIANA – Sim, quando está escuro mesmo. Mas agora não tenho! Estou contigo e há muitas luzes por aqui. (p.c) Vamos começar a tocar. Não te esqueças de sorrir!
PEDRO – Não me apetece.
DIANA – Assim as pessoas só vão reparar em mim…
PEDRO – Está bem … que sorte a tua!
DIANA – Anda lá! Sorri mesmo sem ter de quê…! Os sorrisos atraem as pessoas.
NARRADORA – Pedrinho lá faz um esforço e sorri. Eles começam a tocar uma doce melodia, com os violinos, e…parece magia…eles a tocar e o céu a clarear, o sol a começar a nascer…
DIANA – Olha, Pedrinho…o sol gostou tanto de nos ouvir tocar que veio ver quem era…olha…está a sorrir!
PEDRO – O sol não tem olhos nem boca…nem ouvidos…!
DIANA – Ai, Pedrinho…estás muito chato hoje! Assim ninguém nos vem ver! Se achas que o sol não nos veio ver, nem gostou de nos ouvir é problema teu.
NARRADORA – Ouve-se passos, eles recomeçam a tocar docemente. Passam duas velhinhas de braço dado, e param a ouvir os meninos encantadas, batem palmas no fim e dão-lhes duas moedas valiosas a cada um.
SENHORA 1 – Que doçura de meninos!
SENHORA 2 – Tão lindos…!
SENHORA 1 – Tocam tão bem!
SENHORA 2 – Isto é uma preciosidade!
SENHORA 1 – Sim. Um dom divino. Tão pequeninos, mas com muito valor…!
SENHORA 2 – Não deixem de tocar, bonequinhos!
SENHORA 1 – Os vossos pais?
DIANA – A mamã está em casa. O papá muito longe daqui... em França!
SENHORA 1 – Coitadinhos…
SENHORA 2 – Hão-de ter muita sorte!
SENHORA 1 – Olhem, quando eu voltar da missa, dou-vos umas roupinhas dos meus netos que já não lhes servem está bem?
(Eles sorriem)
MENINOS – Sim! Muito obrigada.
SENHORA 2 – Eu também trago…!
SENHORA 1 – Vou rezar por vocês.
SENHORAS – Até já.
MENINOS (sorriem) – Até já.
SENHORA 1 – Áááhh…já tomaram o pequeno-almoço?
MENINOS (sorriem) – Sim, muito obrigada!
SENHORA 2 – Que delícia de meninos…
SENHORA 1 – São muito educados.
(Os dois sorriem)
PEDRO (sorri) – Que bom…vão-nos dar roupas e…sapatos…ou brinquedos.
DIANA (sorri) – Sim! (p.c) Que senhoras tão simpáticas.
PEDRO (sorri) – Pois são!
NARRADORA – Abre-se uma janela de uma casa em frente, e eles voltam a tocar, com um sorriso. A senhora fica deliciada a ouvir e a sorrir. No fim bate palmas. Vai para dentro.
DIANA (sorridente, murmura ao irmão) – Continua a tocar, Pedrinho!
PEDRO – Agora toca tu sozinha!
DIANA – Está bem…se queres assim…
NARRADORA – A Senhora aparece pouco depois com um saco de comida, roupas e alguns brinquedos, e deita-lhes uma moeda em cada saco de violino, faz um carinho a cada um, sorridente.
SENHORA 3 – Isto é para vocês, lindos meninos! Comida, roupas e alguns brinquedos! (p.c) Vocês precisam não precisam?
MENINOS (tristes) – Sim…
DIANA – Somos pobres. É por isso que estamos a tocar nas ruas, a ver se ajudamos a mamã, o papá e os manos ou manas que os papás encomendaram à cegonha.
SENHORA 3 – Áh! Então também vos vou trazer roupinhas para os bebés…ainda não chegaram?
DIANA – A mamã diz que eles vêm a caminho. Mas é de um sítio muito longe por isso ainda demora um bocadinho.
SENHORA 3 – Pois…! (p.c) Precisam de alguma coisa?
MENINOS – Não, obrigada.
DIANA – A senhora já nos deu muita coisa!
SENHORA 3 (sorri) – Ora essa…! Eu sei que vocês precisam. (p.c) Vou procurar roupas para os manos…! (p.c) continuem a tocar, que é delicioso! (p.c) Estudam música? (eles não percebem) Huuummm… quem vos ensinou a tocar?
OS DOIS (sorriem) – Ninguém!
SENHORA 3 – Fantástico…muito bem!
OS DOIS (sorriem) – Obrigada.
SENHORA 3 – Já volto.
DIANA – A mamã é costureira…se precisar de alguma coisa para cozer nós levamos.
SENHORA 3 – Obrigada, queridos!
(sorriem).
NARRADORA – A senhora vai a casa. Eles continuam a tocar felizes. Acordam uma jovem estudante.
ESTUDANTE – Estou a sonhar, ou está alguém a tocar violino?
(Vai à janela) Ááááhhh…uns meninos tão pequeninos a tocar…tão bem…que lindo…! Será que…humm…devem estar a pedir para alguém…! (p.c) Vou dar – lhes qualquer coisa… (p.c) Uaaauuu…isto deve ser um sonho…! (ela bate palmas e grita) Que lindo…excelente! Parabéns. (p.c) Nunca acordei tão bem disposta como hoje! Com esta música tão linda! (Eles sorriem e agradecem). Podem vir aqui todos os dias acordar-me! Adoro o som desse instrumento…! (p.c) a sério…venham todos os dias acordar-me, a esta hora, está bem?
MENINOS (sorriem) – Está bem.
DIANA (sorri) – Quer mesmo?
ESTUDANTE (sorri) – Sim! Venham mesmo! Peço-vos.
(Os meninos sorriem felizes).
MENINOS – Está bem. (sorriem) Obrigada!
ESTUDANTE (sorri) – Eu é que vos agradeço.
NARRADORA – Os dois meninos estão felizes e tocam até com mais gosto. A estudante deixa também uma moeda para cada um. A senhora deixa um saco cheio de roupinhas de bebé, dos filhos e dos netos. Os meninos agradecem. Continuam a tocar alegremente. Passa uma bailarina, também encantada pela música.
BAILARINA – Que lindo…! (p.c) Toquem outra vez, por favor…para eu dançar, posso?
OS MENINOS (sorridentes) – Sim, claro.
DIANA (sorridente) – Com todo o gosto! Mas…esta música não dá para dançar…
BAILARINA (sorri) – Dá! Dá perfeitamente para dançar bale.
DIANA (surpresa) – Ai dá? Danças bale?
BAILARINA (sorri) – Sim. Vais ver…toca lá!
NARRADORA – Diana volta a tocar com um sorriso, e a bailarina começa a dançar graciosamente, muito elegante, com aqueles passinhos, é encantador. Pedrinho fica encantado. Diana também toca feliz e deliciada. Quem passa fica como hipnotizado a apreciar. No fim batem palmas maravilhados. Os meninos e a bailarina agradecem.
DIANA (sorri) – És tão bonita…e danças tão bem!
BAILARINA (sorri) – Obrigada. Vocês também tocam que dá gosto ouvir! (p.c) Deixem que eu vou falar com a minha professora de bale e ela tem de vos vir ver…! (p.c) Muitos parabéns e continuem assim a tocar tão bem!
(Sorriem)
MENINOS – Obrigada!
NARRADORA – A bailarina aparece pouco depois com a professora. Eles já estão a tocar outra música, sorridentes. Já várias pessoas lhes deixaram dinheiro. A professora de bale sorri e ouve deliciada.
BAILARINA (sorridente) – Olha…toca outra vez aquela música que eu dancei… não te importas?
DIANA (sorri) – Claro que toco…com muito gosto. Vais dançar outra vez?
BAILARINA (sorri) – Sim! Para a minha professora ver!
NARRADORA – Diana toca com um grande sorriso e feliz, a bailarina dança. A professora sorri emocionada, bate palmas.
PROFESSORA DE BALÉ – Indescritível…! (sorri) Estou arrepiada de emoção… (p.c) Que beleza…! (p.c) Eu…onde moram? (p.c) É que eu quero que vocês entrem num espectáculo…mas tenho de falar com a vossa mãe!
(Os meninos estão radiantes e dizem onde moram)
PROFESSORA DE BALÉ – Ainda hoje passo lá! (p.c, a sorrir) É mágica a forma de vocês tocarem! (p.c) Transportam…fazem sonhar…!
MENINOS (sorriem) – Obrigada!
PROFESSORA DE BALÉ – Continuem meus bonecos… (sorri) tocam maravilhosamente bem!
NARRADORA – Eles estão radiantes, e continuam a tocar. Passam um pianista, um guitarrista, e uma cantora, que param para apreciar. Parece que ficam hipnotizados. No fim batem palmas e comentam.
PIANISTA – Que lindo!
GUITARRISTA – Estas crianças vão ter futuro.
PIANISTA – Sim. Já consigo ouvir a música que tocaria com eles a acompanhar no violino…!
GUITARRISTA – Yá! Podíamos contratá-los!
CANTORA – Mas…olha para o aspecto deles…coitadinhos…
GUITARRISTA – Isso o aspecto dá-se um jeito!
PIANISTA – Sim, o aspecto é secundário…eles tocam com alma…
CANTORA – Também gostei muito de os ouvir. Mas…como é que eles vieram parar à rua…?! Porquê…?! Óh meninos…tocaram muito bem, mas vocês não deviam estar na escola?
MENINOS – Agora não!
CANTORA – Não andam na escola?
MENINOS – Não.
DIANA – A mamã ensinou-nos a ler e a escrever…diz que não temos dinheiro para ir para a escola!
GUITARRISTA – São pobres…!
PIANISTA – A vossa mãe?
DIANA – Está em casa a trabalhar! Nós é que andamos a tocar a ver se ajudamos, para ter melhores condições…não sei o que é isso, mas ela é que diz.
CANTORA – Hummm…
PIANISTA – Nós queremos ajudar-vos.
(Eles sorriem)
CANTORA – Podemos fazer uma experiência convosco?
OS DOIS – O que é isso?
CANTORA – Vocês tocam violino, eu canto. Ele toca piano e ele guitarra. Mas como não temos aqui piano…ele vai tocar guitarra…ou canto só eu…e vocês acompanham-me está bem?
(Os dois sorriem)
MENINOS – Está bem!
NARRADORA – Os meninos tocam lindíssimo como sempre, e a cantora acompanha-os também com uma linda voz. Quem passa fica deliciada, bate palmas e dá moedas aos meninos.
CANTORA (sorri) – Uaaaauuuuu…
GUITARRISTA (sorri) – Que momento tão…relaxante!
PIANISTA (sorri) – Não podia ter sido melhor. Até estou arrepiado de emoção!
CANTORA (sorri) – Yá! Vamos contratá-los! Nós queremos ajudar-vos…!
GUITARRISTA (murmura) – Sim…e a nós também!
CANTORA (sorri) – Vocês ainda vão ser muito famosos…muito conhecidos…! São fantásticos! (p.c) Onde moram?
GUITARRISTA – Vamos lá agora falar com a vossa mãe. (p.c) Já voltamos.
NARRADORA – Eles indicam, e continuam na mesma rua a tocar alegremente. A cantora, o guitarrista e o pianista dirigem-se para casa dos meninos. Batem à porta. A mãe estremece, espreita à janela assustada.
MÃE – Bom dia…
OS TRÊS (sorriem) – Bom dia!
PIANISTA – É aqui que moram uns meninos que tocam violino…tão bem…que fazem…viajar quem ouve…?
MÃE – s...sim…porquê?conteceu alguma coisa com eles?
OS TRÊS – Não!
GUITARRISTA – Não se preocupe, com eles está tudo bem.
CANTORA (sorri) – Vê – se logo que são seus filhos…bonitos como a senhora!
MÃE (sorri) – Obrigada! (p.c) Mas…não estou a perceber o que os trouxe cá?!
CANTORA – Nós…ouvimos os seus filhos a tocar…fizemos uma experiência com eles, eu cantei e eles acompanharam-me com aquele instrumento de sonho…! Foi um momento inesquecível…mágico…! (A mãe sorri orgulhosa) Nós queremos ajudá-la a si e aos seus filhos! (p.c) Eles não podem nem precisam de continuar na rua…se a senhora aceitar a nossa proposta…nós queremos contratá-los para fazer parte do nosso grupo! (p.c) Já há meses que andamos à procura de um violonista, mas não ficamos satisfeitos, porque os que nos aparecem não tocam com alma, como os seus pequenotes! (p.c) Nós pagamos muito bem!
MÃE – Mas…vocês são artistas?
OS TRÊS – Sim…
CANTORA – Mal conhecidos, mas havemos de lá chegar! Fazemos alguns espectáculos principalmente de solidariedade e casamentos e baptizados…algumas festas de anos…
MÃE – Desculpem…eu agradeço a vossa boa vontade, mas…não quero os meus filhos nessa vida de artistas…vádios… 
PIANISTA – Por favor, não faça essa maldade com eles! Coitadinhos!
GUITARRISTA – Não os impeça de mostrarem o que tem de melhor! (p.c) Olhe que eles não precisam de voltar às ruas se aceitar a nosso proposta!
CANTORA – Não tem pena que os seus filhotes andem na rua para ajudar…?
MÃE – Claro que tenho. Fico sempre com o coração apertado…mas não há outra solução. E ainda bem que eles têm esse dom.
CANTORA – Claro. Não quer o melhor para os seus filhos?!
MÃE – Claro que sim, por isso é que estou a recusar a vossa proposta! A vida de artista não é boa para eles…! (p.c) Os artistas não ganham e vão sempre por maus caminhos.
GUITARRISTA – Desculpe…isso são ideias de pessoas que no fundo têm inveja! (p.c) Nós não andamos por maus caminhos!
CANTORA – Pois!
PIANISTA – Nós só estamos a aproveitar um dom divino e partilhamos a amizade…o gosto pela música…a felicidade!
MÃE – Vida de artista, não é vida. E vocês também só estão a querer aproveitar-se dos meus filhos para ganharem fama e dinheiro à custa de os explorar.
CANTORA – Francamente…se a senhora tivesse um dom divino seja para o que for ia desperdiçá-lo, escondê-lo? Aquelas crianças não podem continuar na rua! (p.c) E olhe que vai melhorar muito a sua vida!
GUITARRISTA – Eles hipnotizam toda a gente que passa.
MÃE – Sim, bem sei que eles têm esse dom, e tocam realmente muito bem! Mas…não acho que seja o melhor para eles! (p.c)
CANTORA – Está de bebé?
MÃE (sorri) – Sim. Vem dois a caminho.
CANTORA (sorridente) – Que giro! Parabéns. E está a correr tudo bem?
MÃE (sorri) – Sim!
PIANISTA – Está a ver?!...Mais uma razão para aceitar a nossa proposta! Vai precisar de muito sustento…os outros também ainda são muito necessitados!
CANTORA – Não vamos explorar os seus filhos! Só vamos dar a conhecer a qualidade deles, e melhorar a sua vida que bem precisa! Eu não sou mãe, mas acredite que fiquei preocupada e com o coração apertado de os ver tocar na rua…!
MÃE – É muito bonito de sua parte, mas que garantias é que eu tenho de que vocês vão ter sucesso, e que vão tratá-los bem? (p.c) É que infelizmente há gente má!
CANTORA – Eu percebo a sua preocupação, mas pode confiar em nós! (p.c) Nós vimos buscá-los quando tivermos espectáculos, e vimos trazê-los no fim dos espectáculos. Até pode vir connosco e assistir aos ensaios, aos espectáculos…
NARRADORA – Aparece a professora de bale.
PROFESSORA DE BALÉ – Bom dia…é aqui a casa dos meninos que tocam violino?
MÃE – É sim…aconteceu alguma coisa com eles?
PROFESSORA DE BALÉ – Não! Eles estão óptimos…é a mãe?
MÃE (sorri) – Sim…!
PROFESSORA DE BALÉ (sorridente) – É uma senhora cheia de sorte…tem uns filhotes preciosos! Lindos…tocam que é uma coisa…é indescritível ouvi-los…!
MÃE (sorri, orgulhosa) – Obrigada.
PROFESSORA DE BALÉ – Eu vim pedir-lhe autorização para que os seus filhos participem nos meus espectáculos de bale eu pago bem…! (p.c) E eles devem ir para a escola. É um crime andarem na rua para ajudar a família, correrem muitos perigos…com estas idades! (p.c) Com o dinheiro que lhes vou dar, não vão precisar de voltar às ruas. Vão melhorar a sua vida e muito! (p.c) Eles têm um dom divino…aproveite! (p.c) É uma asneira deixá-los fugir! (p.c) Deixe-os ir! (p.c) A minha aluna passou na rua onde eles estavam a tocar e dançou ao som daquele instrumento maravilhoso.
MÃE – Mas…é todos os dias?
PROFESSORA DE BALÉ – Não! É por isso que podiam e devem ir para a escola! Não é justo estarem na rua!
CANTORA – Então…se não é todos os dias, os outros tocam connosco…que também não será todos os dias.
PROFESSORA DE BALÉ – Já tem outra coisa para fazer?
MÃE – Eu…ainda não decidi!
CANTORA – Nós viemos aqui convidar os filhos dela para tocarem connosco, porque também ficamos hipnotizados pela maneira deles tocarem. Eles tocam com sentimento. E também pagamos muito bem! Connosco eles não precisavam de voltar à rua.
PROFESSORA DE BALÉ – Se a senhora quiser, eles podem participar nas duas coisas! Só lhes vai fazer bem…não os vai prejudicar em nada! E devem estudar! Tenho a certeza que vão ficar muito contentes.
CANTORA – Nós chegamos primeiro! Mas a senhora diz que não quer os filhos na vida de artistas. (p.c) Nem todos os artistas vão por maus caminhos.
MÃE – Eu…ensino-lhes o que é preciso…não há dinheiro para escolas.
PROFESSORA DE BALÉ – Por favor…aceite a nossa ajuda! Não de vai arrepender! (p.c) Eu sei que infelizmente não vive à larga, e que precisa de ajuda. 
CANTORA – Ainda por cima vem mais dois bebés a caminho…não vai querer que eles passem sofrimento pois não?
MÃE – Não! Por isso mesmo é que os meus filhos andam na rua…eu…agradeço a vossa ajuda, mas…acho que não! A vida de artista não é vida!
PROFESSORA E CANTORA – Por favor, não faça isso!
CANTORA – A minha mãe no inicio também não achou piada, mas logo que me foi ouvir, mudou de ideias!
PROFESSORA DE BALÉ – Não os prenda na gaiola! Eles são dois passarinhos que precisam de voar, com um instrumento magnifico…vá lá! Eles merecem uma oportunidade…tenho a certeza de que não se vai arrepender. Não os deixe na rua! (p.c) Leve-os para uma escola, e deixe-os participar nos espectáculos! (p.c) vai ser muito bom para todos vocês…!
GUITARRISTA – Sim.
MÃE – Humm…não sei…!
PROFESSORA DE BALÉ – Eu entendo as suas preocupações com as crianças, mas pode confiar em mim!
CANTORA – Em nós também!
MÃE – Humm…eu…preciso de consultar o meu marido!
PROFESSORA DE BALÉ – Então, fique com o meu contacto, e quando falar com o seu marido diga! Mas olhe…aconselho-os a aceitar!
CANTORA – Fique com o nosso também!
MÃE – Está bem. Depois entro em contacto convosco! (p.c) Muito obrigada! Ou…se quiserem aguardem um momento, que vou ligar – lhe e já vos digo.
TODOS – Nós esperamos.
MÃE – Querem tomar alguma coisa?
TODOS – Não, obrigada.
MÃE – Com licença.
NARRADORA – A mãe entra em casa, e murmura…
MÃE – Ai, valha – me Deus…será que devo aceitar…? Será que é bom para eles…? Não será perigoso… (p.c) Ai…(suspira) Eu…acho que até vai ser bom para eles…que eles merecem esta oportunidade…vou ver…(liga ao marido).
NARRADORA – Entretanto as crianças estão a tocar na rua e passa um pintor com o material numa mala. Fica especado a olhar para eles, deliciado com o som, abre a mala, pega no papel, tintas e começa a desenhar com um sorriso de orelha a orelha. Primeiro desenha os meninos, depois, imagens que lhe vêm á cabeça ao ouvir a música, e sorri.
PINTOR – Lindo… (sorri) maravilhoso… (p.c) delicioso… (p.c) encantador… (p.c) fabuloso… (p.c) serviram-me de inspiração para desenhos lindíssimos! (p.c) Estas crianças são uma obra de arte…(p.c) que espectáculo… (p.c) É a conjugação perfeita entre a inocência e a pureza da criança…o sorriso delas…a suavidade e a magia do som do violino…o brilho das estrelas dos olhares…a claridade do sol…(p.c) uaaauu…que sonho! (p.c., bate palmas) Parabéns meninos!
MENINOS (sorriem) – Obrigada!
NARRADORA – Deita uma nota recheada em cada um, sorriem e agradecem e tocam outra. O pintor faz mais desenhos e deita mais algumas moedas e vai para o trabalho dele.
DIANA (feliz) – Eu não te disse que hoje íamos ter muita sorte?! Que muita gente ia reparar em nós?!
PEDRO (sorri) – Pois foi.  
NARRADORA – De volta a casa dos meninos, estão todos à espera da resposta da mãe. Aparece à porta, sorri.
MÃE – Bom…o meu marido decidiu aceitar, e disse que eles podem participar, mas por favor…não os usem para o mal...não se aproveitem deles para o vosso benefício.
PROFESSORA DE BALÉ (sorri) – Foi o melhor que podiam ter decidido! (p.c) Já sabe que pode ir assistir aos ensaios, e aos espectáculos.
CANTORA – De nossa parte também, à vontade.
MÃE – Obrigada!
PROFESSORA DE BALÉ – Meta-os na escola primária.
MÃE – Quando tiver dinheiro.
PROFESSORA DE BALÉ – Naquela escola não paga nada.
MÃE – Mas é preciso material escolar…e é caro!
PROFESSORA DE BALÉ – Quanto a isso não se preocupe! Eu conheço a professora, e tenho a certeza que ela vai ajudar, e eu também.
MÃE (sorri) – O pai ficou muito orgulhoso e feliz!
(Todos sorriem)
CANTORA (sorri) – E não é para menos! Eles são fantásticos…!
MÃE (sorri) – Não sei como vos agradecer.
PROFESSORA DE BALÉ (sorri) – Não se preocupe com isso.
GUITARRISTA (sorri) – Vai ver que não se vai arrepender!
NARRADORA – Combinam e esclarecem os pormenores, e algumas dúvidas da mãe, aparecem as crianças com sacos de roupas, brinquedos e comida. Ficam muito felizes com a novidade que a mãe lhes dá. A mãe inscreve-os na escola, eles são muito inteligentes e gostam de ir à escola, fazem espectáculos e encantam toda a gente. Rapidamente a vida desta família melhora bastante, e com o dinheiro que ganhando compram uma casa maior, as crianças já não voltam às ruas. Os bebés nascem e no fim aparece o casal bem vestido, os bebés ao colo e os outros dois ao lado felizes, bem vestidos à porta da casa nova. Toda a gente tem um dom especial: uns para música, outros para desenho ou escultura e pintura, outros para o desporto, outros para costura e trabalhos manuais, canto, dança…esses dons podem ser rentabilizados e mudar a vida das pessoas para bem melhor. O mais importante é que se faça o que se gosta!

FIM.
Lálá
 (21/ Fevereiro/2010)





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