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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Na cozinha…


fotos de Lara Rocha 

Personagens:
Narradora
Potinho pequenino
Pote mãe
Pote pai
Pote irmã (potinho 2)
Pote irmão (potinho 3)
Prato
Outro prato
Prato 3
Pinheiro
Pai Natal
Travessa
Caneca
FIGURINOS
SRA
SR
Avô
AVÓ
CRIANÇAS
OUTROS ADULTOS
ALGUNS ADOLESCENTES



Narradora – Era uma vez, uma casa de pedra, numa aldeia que fica situada nos arredores de uma grande cidade, entre montanhas. Nessa linda e grande casa, como em todas as casas, há uma cozinha de pedra, escura com prateleiras, forno a lenha, um sofá, cadeiras de madeira, e uma lareira, entre outros objectos e utensílios que se vêem em todas as cozinhas. Em muitas casa das aldeias cozinha – se em potes de ferro, pretos, à lareira, e a lenha. Dizem que a comida fica ainda com melhor sabor…num dia frio, escuro e chuvoso, tudo está em silêncio. A cozinha ainda não tem as pessoas da casa e os objectos conversam uns com os outros. O potinho pequenino olha para a janela, sonolento, boceja, os outros potes estão a dormir.
POTINHO PEQUENINO – Mamã…Papá…maninhos…pssssssssiiiiiiuuuuu…
(Um prato que está no móvel em frente responde):
PRATO – Ãããããhhh…?! Quem está a falar?
OUTRO PRATO – Não sei bem…está tão escuro…! 
PRATO – Mas…já é noite?
OUTRO PRATO – Não sei…! Mas pelo sossego…ainda não deve ser…!
POTINHO – Ei…Papá…Mamã…manos…
PRATO 3 – É ele quem está a falar!
PRATOS – Quem?
PRATO – Ai, valha-nos as luzes…onde é que estão?
OUTRO PRATO – Deves ter olhos de lince…ou umas lanternas nos olhos!
POTINHO – Porque é que ninguém me responde? Nem a mamã, nem o papá…nem os manos…!
OUTRO PRATO – Claro que não respondem…estão a dormir!
PRATO 3 – Também com este escuro não está para outra coisa!
PRATO 4 – Olhem, já viram que temos ali um visitante novo?!
POTINHO – Sim, eu já tinha visto, aquela árvore cheia de coisas penduradas!
PINHEIRO – Tu também tens coisas penduradas.
POTINHO – Eu? O que é que eu tenho pendurado…? Não sei de nada!
PINHEIRO – Nunca te viste ao espelho?
POTINHO – Eu…? Não sei o que é isso que estás a dizer…!
CANECA – Que árvore tão estranha…ainda por cima é pouco delicada. Não tens nada pendurado, Potinho…não lhe ligues…!
PINHEIRO (a rir) – Ai, santas ignorâncias!
PRATO 4 – Não sei o que lhes deu para porem uma árvore dentro de uma cozinha!
POTINHO – Será que vão cozinhá-la ou metê-la nos fósforos…para nós…?
OUTRO PRATO – Hum…não me parece!
TRAVESSA – Acho que eles não comem madeira, nem aqueles picos.
PINHEIRO – O que é que estão para aí a dizer?
PRATO 4 – Estamos a falar de ti!
PINHEIRO – Sim, já reparei…! Já estou habituado…toda a gente repara em mim! Com este meu corpinho escultural, elegantérrimo e estes cabelos maravilhosos…! Ninguém fica indiferente à minha presença.
(Todos riem a gozar de fininho)  
PINHEIRO – Onde é que está a graça…?
TRAVESSA – Estás à procura de alguém nesta família com esse nome, ou… (pinheiro interrompe)
PINHEIRO – Não…estou mesmo a perguntar de que é que se estão a rir…? Eu até acho que já sei o que é…mas digam na minha cara…! Estão cheios de inveja de não ser como eu não é?  
(Começam todos a rir de gozo fininho).
TODOS – Na…na…!
(A caneca comenta com a travessa, baixinho)
CANECA – Que nojento…acha – se o máximo!
TRAVESSA – Também acho. Tem a mania que é bom!
CANECA – Coitado…! Ainda bem que não sou como ele.
TRAVESSA – Podes crer. Eu também gosto muito mais de mim assim.
CANECA – Se ele me conquistasse, eu não caía na treta dele…comigo não tinha sorte.
TRAVESSA – Nem comigo. Eu dava – lhe logo um chuto.
CANECA – Não gosto nada dele.
TRAVESSA – Nem eu! É parvo todos os dias.
OUTRO PRATO – És novo aqui, não és?
PINHEIRO – Sim, claro! Nunca tinha estado aqui antes.
PRATO 3 – Quem é que te trouxe para aqui?
PINHEIRO – Não sei! Foi alguém, porque eu não vim sozinha, nem a voar, nem entrei pela janela!
POTINHO – Mas tu és uma árvore…não devias estar lá fora junto com as outras?
PINHEIRO – Óh puto, tu fazes perguntas muito difíceis…! (p.c) És pouco inteligente sabias?
POTINHO – Porquê?
PINHEIRO – Se fosses inteligente não me perguntavas isso.
POTINHO – Ora essa…! Sei de coisas muito mais importantes do que isso, que tu com certeza não sabes!
TODOS (a rir) – Bela resposta…!
CANECA E TRAVESSA (a rir, baixinho) – Boa, potinho…muito bem!
OUTRO PRATO – Óh pinheiro…escusas de ser tão nariz empinado… (p.c) Tu és novo aqui, portanto queremos e temos o direito de saber quem és…! (p.c) Aqui já todos somos como família, por isso quando chega alguém de novo, queremos saber quem é.
TODOS – Pois.
PRATO 3 – Como é que vieste aqui parar?
PINHEIRO – Outra vez? (p.c) Já vos disse que não sei como vim aqui parar…quer dizer…sei que alguém pegou em mim, e trouxe – me do sítio onde estava…claro…porque não vim a voar, nem entrei pela janela.
OUTRO PRATO – Mas o que é que estás aqui a fazer?
PINHEIRO – Não faço ideia! Sei que um bando de pessoas encheram – me de coisas…
POTINHO – Ai…não vinhas com isso tudo?
PINHEIRO – Claro que não…! Só me puseram isto quando cheguei aqui.
OUTRO PRATO – Se calhar vão – te cozinhar…ou…usar – te para aquecer o ambiente que está gelado!
CANECA – Podia ser que ficasse mais simpático.
PINHEIRO – Isso queriam vocês! (p.c) Que monstruosidade. (p.c) É claro que não me vão usar para cozinhar.
PRATO 3 – Áh…então já sabias e não estavas a dizer…
PINHEIRO – Não…não sabia, nem sei…acho que sirvo para enfeitar…
POTINHO – Espera…realmente…acho que já te vi antes!
PINHEIRO – A mim?! (p.c) Não me podes ter visto, porque é a primeira vez que estou neste sítio!
OUTRO PRATO – Humm…ele tem razão…a tua cara também não me é estranha!
PINHEIRO – Devia ser alguém da minha família…!
POTE MÃE – Olá…! (boceja) estou a sonhar…ou…ouço alguma confusão…?
POTE PAI – Não querida, não estás a sonhar! Há alguma coisa no ar!
PRATOS – Moscas…?
POTINHO – Onde é que estão as moscas?! Não estou a vê-las!
POTE MÃE – Não há moscas, filho…
POTE PAI (sorri) – O que estávamos a dizer era que está a acontecer alguma coisa…
POTE MÃE – E eu acho que já sei o que é!
POTINHO – É que temos visitas…!
(Todos olham para o pinheiro e sorriem).
POTES (pai e mãe) – Olá…!
POTE MÃE (sorri) – Bem – vindo…
PINHEIRO (sorri) – Olá…muito obrigada! (murmura) Finalmente alguém simpático! (p.c) Só espero que não me façam inquérito policial como estes totós!
PRATO – Óh senhora Pote…você conhece esta nova presença?
POTE MÃE (sorri) – Sim…quer dizer…não deve ser o mesmo do ano passado…mas é – me familiar!
POTINHO – Quem é, mamã?
POTE MÃE (sorri) – É um pinheiro…!
PINHEIRO (sorri) – Sim…! Sou eu!
POTE MÃE (sorri) – Estamos no Natal, querido…!
TODOS – Ááááááhhhh…
POTINHO – Aquela época do ano em que vem muita gente aqui para a cozinha…?
TODOS – Sim.
PINHEIRO – Sim, isso mesmo…e vais-me ver…brevemente…cheio de caixas coloridas aos meus pés!
PRATO 4 – E o que é que têm essas caixas?
OUTRO PRATO – São para te aquecer?
PINHEIRO – Não! (p.c) Quer dizer…também me aquece…mas acho que não fazem isso para aquecer… (p.c) essas caixas podem ter muitas coisas…não sei….quando mos põem aos pés, não sei o que têm! (p.c) Mas devem ser coisas boas, porque começam todos a gritar!
POTE PAI (sorri) – São os presentes que o Pai Natal traz.
OUTRO PRATO – Quem…? (p.c) Aquela figura…barbudinha…gordinha…simpática…?
TODOS (sorriem) – Sim.
POTE MÃE (sorri) – Estás muito bonito pinheiro!
PRATO – Pois eu acho que estás muito paneleiro! (todos riem)
POTE PAI – Então…o que é isso?
PINHEIRO (resmunga) – Que grande palerma…mando – te já daí a baixo!
PRATO (a rir) – Ai que medo…! (p.c) Ainda gostava de ver…tu…cheio de bolinhas e brinquedos e queriquices…nem te podes mexer! E ias – me deitar abaixo…!
PINHEIRO – Não me provoques…estás – te a habilitar a levar – me duas…!
(Todos riem).
POTE PAI (a rir) – Não lhes ligues…! (p.c) Estão cheios de inveja!
PINHEIRO – Pois…Isso eu já sabia, e já lhes tinha dito. (Nervoso) Ai se eu tivesse um ramo livre…sacudia-te já o pó!
PRATO (a rir) – Obrigado, não precisas de ter essa delicadeza comigo…hoje já me limparam o pó…suavemente…com um delicioso paninho de flanela…!
(Risinhos).
PINHEIRO (zangado) – Que piada! (p.c) Tu vais ver quando eu me livrar disto…!
OUTRO PRATO (a rir) – Áh, áh, áh…quando te livrares disso vais mas é para a lareira.
PINHEIRO (zangado) – Falas com uma certeza…! Vamos ver se não irás tu primeiro para o lixo!
(Ele saco – de e atira uma bola para o prato…acerta em cheio)
PRATO 3 – Ai…que brutamontes…! Rude…! És mesmo reles…!
(Desatam todos a rir, incluindo o pinheiro)
PINHEIRO (a rir) – Áh, áh, áh…mesmo em cheio…!
PRATO 3 (zangado) – Pudera…estás mesmo na minha direcção…assim até eu.
CANECA (a rir, baixinho) – Bela pontaria…
TRAVESSA (a rir, baixinho) – Também, deve ser a única coisa boa que tem…!
(Os outros dois potinhos acordam, estremecem).
OS DOIS POTINHOS – Brrrrr…que frio!
POTINHO 2 – Já é noite?
POTINHO 3 – Está tão escuro!
POTINHO – Não…ainda não é bem noite, mas está meu tempo!
POTINHO 2 – Eu…ouvi bem…?! Estavam a rir…?! E a falar alto?
TODOS – Sim!
POTINHO 3 – O que é que estava a acontecer?
PRATO 3 – Tudo por causa de um cromo de um pinheiro metido a bom que veio aqui parar!
PINHEIRO – Ai, ai, ai, ai…! Vou ter que mostrar o que sou quando não estou com enfeites?
PRATO 3 – Vais atirar outra porcaria dessas, atira para eles…!
PINHEIRO (a rir) – Não assumes os fracassos…!
POTINHO 2 E 3 – O quê?
POTINHO 2 – Mamã…o que é que se passa?!
POTINHO 3 – Está tudo de mau humor!
POTE MÃE (sorri) – Não se preocupem está tudo bem. É só um desafio entre homens…
POTE PAI (sorri) – Estamos no Natal.
CANECA – Daqui a pouco estou cheia de vinho ou de água…e vou andar de um lado para o outro…
TRAVESSA – E eu…não tarda nada vou levar com batatas, couves e bacalhau a escaldar…!
PRATO – Estás com sorte, porque nós pratos, vamos levar com isso e com garfos e facas a arranhar-nos e a picar-nos!
(Risinhos. Ouvem – se passos)
POTINHO – Vem aí alguém…!
(Faz – se silêncio na cozinha, entra o casal da casa cheios de frio, carregados de lenha para acender a lareira. Acendem as luzes da cozinha).
SRA – Ai, que frio…! Vamos já acender a lareira…
SR – As batatas já estão cá em cima?
SRA – Já! E as couves também! A minha mãe e o meu pai já vão ajudar a descascar.
SR – Vou buscar o vinho à adega!
SRA – Está bem.
NARRADORA - Entram um casal de senhores mais velhos, pais dos donos da casa, a mancar um pouco, agasalhados, sentam – se no sofá. A Sra pega numa enorme bacia de couves, e pousa no chão aos pés dos Avós. E outra bacia com as batatas. O Avô acende a lareira, com lenha, fósforos, papéis. O Avô aprecia a lareira que fez…
Avô – Ááááááhhhh…que maravilha de lareira. Tão bom! Este calorzinho…Humm…acho que até os potinhos gostam.
AVÓ – Está mesmo frio.
SRA – Esteve todo o dia uma tristeza…escuro…sem sol…frio…uuuiiii…!
AVÔ – O Natal é mesmo isto…mas é a época mais bonita do ano não é?
TODAS – Sim.
AVÓ – As crianças onde estão?
SRA – Estão no parque.
AVÓ – É melhor chamá-las, não é bom para elas estar naquele frio.
SRA – Não se preocupe mãe, o Tó está na adega, quando vier para dentro, elas também vem.
NARRADORA - Os três descascam as batatas e arranjam as couves, enquanto falam e riem uns com os outros. Os potes ficam felizes.
POTINHO 3 (sorri) – Finalmente que nos vão aquecer.
POTINHO 2 (sorri) – Também acho.
POTINHO – O que é que te vão pôr?
POTINHO 2 – Não sei…e a ti?
POTINHO – Também não sei! E a ti, mano?
POTINHO 3 – Não imagino o que seja.
POTE MÃE – Eu vou levar…as batatas. O pai também vai levar batatas.
(O marido chega com as canecas, e atrás vem as crianças, filhos do casal numa grande algazarra uns com os outros, a correr e a gritar).
AVÓ – Vá lá que o cabeçudo do teu marido se lembrou das crianças. Não é costume…deve ser por ser Natal.
SRA – Mãe…
SR – Não te preocupes querida, já estou habituada aos tratos carinhosos da tua mãe…que me adora, não é sogrinha…?
AVÓ (sorri) – Sim, genrrinho…com paixão… (murmura com a filha) este teu marido está cada vez mais feio…! (p.c) Óh canalha…ide lá para cima fazer barulho…não me azucrinem a cabeça…
UMA CRIANÇA – Mas…avó nós queremos ficar aqui…
OUTRA CRIANÇA – Sim, lá em cima está muito frio…!
AVÓ (resmunga) – Eu já disse que não vos quero aqui a azucrinar – me a cabeça.
AVÔ – Fiquem aqui, queridos…!
SRA – Olhem, fiquem aqui na sala, daqui a bocado o calor da lareira chega – vos lá.
AVÓ – Óh homem, vai lá tirar as coisas da mesa, se não ainda ficamos sem mesa para o jantar.
SR – Não há nada em cima da mesa para eles estragarem.
CRIANÇA 3 – Nós portamo-nos bem.
AVÓ – Que remédio…caso contrário não há prendas.
CRIANÇA 4 – Óh pai, anda – nos ligar a televisão se faz favor.
AVÓ – Onde é que já se viu…na nossa altura não havia televisão…a família era muito mais unida.
UMA CRIANÇA – Que seca!
AVÔ – Óh filhos, não havia televisão, mas era muito bom e muito divertido… estávamos todos juntos.
AVÓ – E tratávamos os nossos pais por você…!
SRA – Ide lá brincar. Óh Tó, podes ir fazendo os doces. Ou descasca tu aqui o resto que eu faço os doces.
SR – Está bem.
AVÓ – Deixe estar que eu faço isso, se não, você deita metade das batatas fora, juntamente com as cascas…
(O Sr. Bufa, troca os olhos)
SR – Por favor, deixe – me fazer o trabalho que me foi atribuído…sossegado…eu não mexo consigo…faça o seu trabalho também.
AVÔ – Óh filha, deixa o Tó. Que implicância.
NARRADORA – Chegam mais adultos, adolescentes e crianças. São família. Cumprimentam – se todos alegremente, e as crianças vão para de volta do pinheiro, olham – no deliciados.
CRIANÇA 5 – Ááááhhh…está tão bonito este pinheirinho…!
TODAS (sorriem) – Pois está.
PINHEIRO (ri) – Estas crianças são uma maravilha.
CRIANÇA 2 (sorri) – O meu pinheiro não tem tantas coisas!
PINHEIRO – Que sorte a desse pinheiro. Está mais leve (p.c) E não deve estar menos bonito que eu.
CRIANÇA 6 – Óh primas…onde arranjaram aquelas estrelinhas…?
CRIANÇAS 1 E 2 – Compramos.
CRIANÇA 4 – Aquelas cordas fomos nós que fizemos!
TODAS – Áh! Que giro.
CRIANÇA 3 – Onde estão os presentes?
CRIANÇA 1 – O Pai Natal ainda não veio, como é que queres que tenha prendas…?
CRIANÇA 6 – Podemos ir brincar para outro sitio?
CRIANÇA 2 – Sim. Vamos para a sala.
(Há conversas cruzadas e gargalhadas)
PINHEIRO – Que susto…! Ufff…! Pensei que ia ficar já sem caruma!
NARRADORA – As crianças vão brincar para outro lado. Os potes estão cheios de comida e doces. Contentíssimos por estar quentes e com a comida. Chegam mais adultos e mais crianças e há muita brincadeira, às vezes as crianças a correr dão encontrões ao pinheiro; caem alguns enfeites, o pinheiro fica chateado mas segura-se. As travessas ficam cheias de comida e são levadas para a mesa. Os potes ficam na cozinha com o pinheiro, enquanto a família e as crianças estão na sala de jantar a conversar alegremente. Os potes suspiram de alívio...
POTES + PINHEIRO – Ufff…!
POTINHO – Finalmente uns minutos de silêncio e de descanso.
POTES + PINHEIRO – Também acho.
POTINHO 2 – Ai, já estava a ficar cansado!
PINHEIRO – Esta parece uma casa de loucos…aquelas crianças já me estavam a irritar…devo estar todo negro…deram-me cada encontrão até deitaram coisas abaixo! (p.c) se eu fosse mais fraco já estava no chão!
POTINHO 3 – Humm…está aqui um cheirinho!
POTINHO 2 – Um não…muitos cheirinhos bons…!
POTINHO – A mim só me cheira a comida e a fumo da lareira!
POTE MÃE – E a eucalipto.
PINHEIRO – Desculpe…devo ser eu…quando fico nervoso cheiro mais!
POTE PAI (ri) – Não tens que pedir desculpa…este cheirinho é muito bom!
PINHEIRO (sorri) – Obrigado. (p.c) Xiuu…vem aí alguém…!
(Entra uma adolescente com uma caneca na mão).
ADOLESCENTE – Muito bebem. Que seca...ainda por cima tinha que ser eu a vir buscar esta porcaria…! Francamente…com tanta gente na sala…tinha que ser eu que detesto este cheiro. (p.c) Já estão bêbados…e daqui a pouco até eu fico só de o cheirar…lhec… (p.c) Como é que é possível alguém chamar a isto…o manjar dos Deuses…! (p.c) Credo…! Se os Deuses gostavam desta nojice…coitados…! Que falta de gosto. (p.c) Que chamem manjar dos Deuses aos doces de ovos moles, aos pudins e coisas assim, ainda percebo, agora a esta porcaria…! Ai, valha – me Santos. (ela vira a garrafa na caneca)
CANECA (grita) – Socorro…acho que já estou a ficar bêbada. (p.c) Não querem trocar de lugar comigo?
TODOS – Não, obrigada…
PINHEIRO – Eu…acho que não estou muito mal aqui!
(riem)
CANECA – Ai…lá vou eu outro vez…! (p.c) Não sabem a sorte que têm em não ir para a mesa! (p.c) Lá dentro é só gritos, eu ando de um lado para o outro…já há aqueles pançudos que não dizem coisa com coisa…é o vinho que fala por eles … (p.c) ainda por cima, sou agarrada por umas mãos grossas, sujas, mais ásperas que palha de aço…ehehehehe…que nojo! Ainda se fossem umas mãos de um homem jeitoso, macias, elegantes…agora aquelas…lhec. (p.c) Que pesadelo. (todos riem) Até já.
TODOS (sorriem) – Até já.
PINHEIRO – Coragem.
NARRADORA – Na cozinha, quando todos pensavam que podiam finalmente descansar, aparecem as mulheres da casa aos gritos, às gargalhadas cheias de louça, aos encontrões…todos se assustam.
PINHEIRO – Não. Eu não acredito nisto!
POTE PAI – Estamos a ser invadidos por uma praga de galinhas…
PINHEIRO – É isso mesmo, e é ver quem berra mais alto.
POTE MÃE – Que falta de respeito pelas donas da casa, homem…! A casa é delas, podem entrar e sair quando muito bem entendem e sempre que precisam. (p.c) Estão a trabalhar. Ao contrário dos homens…que estão a afogar a alma em vinho…!
POTE PAI – Desculpa querida…é só uma brincadeirinha…uma…maneira de dizer que estão a falar muito alto.
POTE MÃE – É normal que falem muito alto…estão todas juntas e felizes por isso. Mas escusavam de ser tão insensíveis… homens.
TRAVESSA – Acho que finalmente o meu dia acabou! Pelo menos até amanhã.
CANECA – O meu também. Espero eu!
TRAVESSA – Sim, também espero.
CANECA – Já não podia mais…acho que ainda estou enjoada!
TRAVESSA – Podera, com tanto vinho e tanta volta…Ainda por cima não tiveste sorte com as mãos que te seguraram.
CANECA – Nem me fales nisso…!
TRAVESSA – Mas olha, aqueles da mesa ainda estão piores que tu! (riem) Não diziam coisa com coisa…só se riam! (p.c) Eu já estava cansada…e a ferver.
CANECA – Eu ainda estava mais! Vou tomar uma banhoca…
TRAVESSA – Eu também!
(As mulheres lavam-nas e põem-nas na prateleira, elas suspiram de alivio).
CANECA E TRAVESSA (sorriem) – Ááááhhh…! Que bom!
CANECA (sorri) – Estou bem mais fresca!
PINHEIRO – Estas mulheres não vão sair daqui tão cedo! Ainda têm tanto que lavar…
POTE PAI – O que temos de aturar.
PINHEIRO – Mulheres juntas…que filme de terror.
POTE PAI (ri) – Podes crer! Parece uma trovoada!
POTE MÃE – Eu percebo que estejam felizes, mas podiam falar mais baixo e fazer menos barulho com a loiça…! Cruzes!
POTINHO 2 – Mas que…parece uma tasca!
POTINHO 3 – Não podiam lavar a louca noutro sítio?!
TODOS – Aaaaaiiii…!
NARRADORA – Finalmente volta a paz à cozinha, apaga-se a luz e fica só o resto da lareira acesa. Toda a família se vai deitar, e chega o Pai Natal. No meio do silêncio entra o simpático barbudinho e barrigudinho, carregado de prendas.
PAI NATAL (baixinho) – Boa Noite!
TODOS – Boa noite!
PAI NATAL (sorri) – O caminho está livre?
TODOS (sorriem) – Sim!
PINHEIRO (sorri) – Vens muito carregado.
PAI NATAL (ri) – Óh, Óh, Óh…e de que maneira!
PINHEIRO – Mas tu achas que estas crianças merecem prendas?
PAI NATAL (ri) – Óh, oh, Óh…sim!
PINHEIRO – Depois do que elas me fizeram eu já não lhes dava prendas!
PAI NATAL (ri) – Óh, Óh, Óh…! São crianças querido…ficam felizes com a nossa presença…com os presentes…e ao ver a família toda reunida! Não é queridos potes e companhia?
TODOS (sorriem) – Sim!
POTINHO (sorri) – Ele é novo aqui, ainda não está habituado como nós!
PINHEIRO – Só me deram encontrões.
PAI NATAL (a rir) – Não foi por mal.
POTE PAI – És servido, Pai Natal?
PAI NATAL (sorri) – Não, muito obrigada. Só vou deixar os presentes aqui, e vou-me embora!
CANECA (sorri) – Se quiseres beber podes usar-me!
PRATO – E se quiseres comer podes usar – me com toda o gosto.
TRAVESSA – Elas guardaram ali os restos. Deve ter sido a pensar em ti.
PAI NATAL (sorri) – Vocês são sempre muito simpáticos, mas não quero mesmo nada…muito obrigado.
NARRADORA – O Pai Natal distribui os presentes embrulhados debaixo do pinheiro.
PINHEIRO – Estes não são pobres a pedir…!
PAI NATAL (sorri) – Pois não! Cada um pediu mais que um presente…!
TRAVESSA – E todos caros, não?
PAI NATAL (sorri) – Nesta época não se olha a isso…olha-se é para o sorriso de felicidade deles, e para o brilho no olhar deles…!
POTE MÃE (sorri) – Sim…isso até nós ficamos mais felizes e mais brilhantes quando te vemos…! (p.c) E é mesmo bonito ver o sorriso e o brilho no olhar deles!
PAI NATAL (sorri) – Obrigado!
POTINHO – E para ti, Pai Natal, não há prendas?
PAI NATAL (sorri) – Ora…a melhor prenda que recebo é a que vos disse agora…a felicidade e o brilho no olhar de uma criança, aqueles sorrisos luminosos, abertos e inocentes nas carinhas deles…!
POTE MÃE (sorri) – És mesmo querido, Pai Natal…!
PINHEIRO (sorri) – Até a mim me fazes sorrir e sentir-me feliz por estar aqui…só por te ver! (p.c) Até esqueço os pontapés e os encontrões que elas me deram…!
NARRADOR – O Pai Natal ri-se, acaba de distribuir os presentes, confirma a lista, e da porta diz)
PAI NATAL (sorridente) – Óh, óh, óh…Feliz Natal.
TODOS (sorridentes) – Feliz Natal!!!
NARRADOR – O Pai Natal sai, acende-se a luz a fazer de dia, e as crianças e os adultos vão para de volta do pinheiro, pegam nas prendas, desembrulham-nas felizes, as crianças abraçam o tronco do pinheiro felizes e com um grande sorriso, fazem-lhe festinhas, saltam, exploram os brinquedos riem, batem palmas…
PINHEIRO (sorridente) – O Pai Natal tem toda a razão! (p.c) Que lindos estes sorrisos…!
TODOS (sorridentes) – Sim.
ADULTOS E CRIANÇAS (sorriem) – Obrigada Pai Natal!

FIM!
Lálá
(9/Janeiro/2011)












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