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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Um burrinho diferente

Era uma vez uma linda quinta, que tinha uma casa enorme, onde viviam várias famílias (adultos e crianças) e os típicos animais da quinta: cavalos, porcos, ovelhas, coelhos, vacas, bois, galinhas, pintainhos, algumas aves, cães, gatos e burros.
De entre estes simpáticos animais, há um especial, o herói desta história…um querido e pequenote burrinho, castanhinho, iguais aos outros…mas com uma diferença: este tem uma patinha ligeiramente torta e mais pequena que as outras, por isso manquita um bocadinho dessa pata.
Para ele e para os seus pais esta diferença de tamanho da patinha não é um grande problema porque amam-no como filho, respeitam-no e incentivam-no…põem-no a fazer coisas!
Além disso…o burrinho é feliz, muito activo e prestável, simpático para todos, brinca com os outros, faz traquinices como os outros…mas os humanos da quinta rejeitam-no, insultam-no…desprezam-no e só não o maltratam porque os pais não permitem.
O dia na quinta começa muito cedo…um pouco antes do sol nascer, porque é uma aldeia muito quente e nas horas de maior calor ninguém consegue andar ao ar livre…parece que se sufoca. Por isto aproveitam as horas mais frescas para trabalhar na terra.
Os animais também vão para o pasto muito cedo, e quase todos servem para ajudar os lavradores. Apesar dos trabalhos duros, os animais sentem-se felizes porque são úteis.
O burrinho fica mais uma vez no estábulo, sozinho, a olhar para a paisagem que se vê da porta aberta, verde e fresca, com os animais e os homens. Enquanto os seus pais trabalham, o burrinho põe-se a pensar…e murmura: 
Quem me dera poder ajudar os meus pais…ser útil…! Eu sei que os meus pais amam-me…mas não consigo fazer, nem posso…tudo como eles…tão rápido e tão bem como eles fazem por causa desta pata torta e pequena.
      Entra de rompante um jovem lavrador, um dos filhos de um dos casais da quinta, vaidoso, arrogante e convencido. 
      O burrinho assusta-se, olha para o rapaz e o rapaz grita chateado.
Eu não acredito que este ainda está aqui…! - comenta o rapaz 
      O burrinho pensa para si mesmo.
Que falta de educação…como é que é possível, com aquelas pessoas tão boas como são os pais deste cromo, e restante família, e este sai assim tão grosso…! Pobres pais…será que eles sabem a porcaria de filho que fabricaram…com todo o respeito pelos senhores de quem gosto muito…mas que pessoa tão imbecil. - responde o rapaz 
Este burro não vale nada…- comentao rapaz 
Grande besta…ainda te vais calar e engolir todas as bacoradas que estás a lançar por essa boca fora, que mais parece um caleiro de um barril de vinho. Se eu não tivesse educação, e se pudesse dava-te já semelhante coice nessa peida que ias à Lua e voltavas num instantinho. (P.C) Mas tu és louco…portanto fala para o meu cú. Não me apetece chatear-me com esterco. - resmunga o burrinho 
        O rapaz resmunga…
Seu burro inútil…eu já te tinha vendido…mas como ninguém te quer, ninguém te pega, claro, quem é que quer um burro estúpido que não faz nada, defeituoso…só ocupa espaço no estábulo e não faz nada de bom, nem ajuda os trabalhadores. (P.C) Infelizmente não sou eu que mando…se não já não estavas aqui. Não servespara nada.
     O burrinho não reage, embora a sua vontade seja de esbofetear o rapaz, e pensa para si.
Tu serves para ainda menos, e ninguém te põe fora. Falas de inveja com certeza, grande parvalhão. Mas um dia destes vou-te fazer engolir isto tudo…e vamos ver quem é que é o inútil. - responde o burrinho 
  Este rapaz tem um filho pequeno, infelizmente mudo, aponta para o burrinho…e gosta muito do bichinho. O burrinho consegue ler nos olhos do menino o que ele não consegue dizer por palavras. Olha-o com carinho, sorri.
Olá amiguinho, vieste ver-me…?! Que bom! - diz o burrinho a sorrir 
     O menino acaricia – o com um grande sorriso, abraça-o deliciado. O burrinho sorri e esfrega a sua cabeça no menino, o menino sorri e dá beijinhos ao burrinho. O pai do menino fica todo enojado, e o burrinho pensa para si mesmo.
Vê bem isto, óh monstrengo! Ainda bem que o teu filho não é igual a ti. Segue o seu exemplo e tornar-te-ás numa pessoa melhor. - diz o burrinho 
       O pai do menino resmunga. 
Sai daí moço…larga essa coisa peluda…ainda vais apanhar piolhos…
   O burrinho controla-se e pensa para si mesmo: 
Tu é que deves ter piolhos. Principalmente nos miolos. 
       O menino não larga o burrinho e fica triste. O burrinho diz-lhe: 
– Não ligues ao que o teu pai diz…eu sei que tu gostas de mim, e eu também gosto muito de ti. Isso é o que importa.
     O menino olha para o burrinho, sempre abraçado a ele. Ele entende o que o menino quer saber…
Queres saber porque é que o teu pai não gosta de mim? Porque sou diferente fisicamente dos outros burros. Se reparares, eu tenho uma pata torta e mais pequena que as outras, e por isto, o teu pai acha que sou um inútil, que não valho nada…só ocupo espaço e que não ajudo nada. - explica o burrinho 
     O menino fica triste, diz que não com a cabeça.
Eu sei que tu não achas isso de mim…tu és um bom menino. (P.C) Sim, é triste ouvir estas coisas, e injusto…mas não te preocupes, eu sou feliz na mesma e brinco. Talvez um dia destes, eu prove o contrário ao teu pai, e aí ele vai engolir tudo isto. - responde o burrinho 
       O menino sorri e diz que sim com a cabeça. O pai grita outra vez.
Larga esse maldito bicho! Peludo, feio, malcheiroso…inútil… se não o largas já eu bato-te e abato esse miserável. - grita o rapaz 
       O menino fica nervoso e triste, a olhar para o burrinho. 
É melhor obedeceres ao teu pai…eu estou aqui, podes voltar aqui quando quiseres. - recomenda o burrinho 
       O menino fica triste e obedece. O pai puxa-o pela mão e resmunga. O burrinho pensa para consigo mesmo: 
Tu és homem…em forma de monstro. Só fisicamente tens forma de gente…mas por dentro não és! Nem como pai prestas. (P.C) Como é possível, o pai tratar assim o filho…?! Não sei porque é que a criança não pode estar aqui comigo nem a brincar…eu compreendo o seu olhar…ele nem precisa de falar, que eu sei o que quer dizer. (P.C) Que palerma. Pobre criança. 
    Nesse mesmo dia, começa um grande incêndio à volta da quinta. Fica tudo em pânico a gritar, a fugir, os burros e os cavalos ajudam a carregar os baldes de água. 
        O burrinho ao ver toda aquela agitação sai do estábulo a correr mas a manquitar. Fica ansioso, procura os pais, grita por eles e procura a família, fica mais aliviado quando os vê lá espalhados com baldes, a apagar o incêndio. 
      Na confusão, o menino mudo cai ao lago quando tenta fugir. Ninguém se apercebe…só o burrinho…que desata a correr, mete a pata estendida na água e o rapaz está muito assustado. O burrinho grita-lhe.
Agarra-te à minha pata! Estás seguro…eu tiro-te daqui. 
       O menino agarra-se à pata do burrinho e o burrinho agarra a roupas do menino com os dentes e puxa-o para fora de água. 
   O menino já fora de água, abraça-se ao burrinho, o burrinho vê o fogo e ordena ao menino.
Olha…vai buscar ali um balde, rápido…vamos apagar este incêndio nesta parte. Aliás…traz dois baldes…tu levas um…- diz o burrinho 
     O menino vai e volta com os baldes. O burrinho pede para encher o balde. O menino enche os dois baldes. O burrinho diz: 
Rapaz…se puderes com o balde leva um…e segue-me…se não podes…põe-mo na boca…
      O menino leva um balde com água e o burrinho leva outro preso nos dentes. Lá vão depressa, o burrinho a manquitar, deita água na chama e apaga uma parte. 
         O menino vira o balde dele e apaga outra lavareda. O burrinho tem uma ideia melhor.
Agora…se puderes com os dois baldes…enche os dois baldes e trá-los…que eu encho a boca com água está bem? - recomenda o burrinho 
      O menino diz que sim com a cabeça. E é mesmo isso que fazem. O menino com os baldes, e o burrinho com a boca cheia de água lança grandes jatos e num instante esse fogo fica apagado.
       A mãe do menino está em pânico à procura dele, enquanto os outros adultos apagam o fogo. 
       Ela encontra o menino todo molhado com o burrinho. O burrinho enche outra vez a boca e desata a correr para ajudar a apagar o resto do incêndio. 
       A mãe do menino abraça o filho aliviada e fica surpresa com o burrinho. O burrinho faz várias caminhadas para encher a boca e lançar jatos, corre de um lado para o outro e á volta das chamas para lançar terra em cima das chamas e elas apagam-se. 
        Estão todos boquiabertos com o burrinho, e os pais do burrinho orgulhosíssimosdele, sorriem felizes e em conjunto os burros e os cavalos seguem o exemplo do burrinho, que juntamente com os baldes de água dos lavradores, o grande incêndio apaga-se rápido. 
      Estão todos estafados, a arfar, olham em volta, bebem água, deitam-se na relva e faz-se silêncio. Ninguém sabe como começou. 
    Estão todos ainda assustados. Uma lavradeira suspira de alívio.
Áááááhhh…!!! - suspira Anabela 
Que susto! - respondem todos
Estamos vivos…?! - pergunta Susana 
Sim. - respondem todos aliviados 
Graças ao trabalho que fizemos todos juntos e aos animais. - lembra Patrícia 
Principalmente este querido burrinho…que teve a feliz ideia de lançar jatos de água pela boca e o nosso pequenote com baldes. - acrescenta Filipa, a mãe do menino 
E desde quando é que um burro tem ideias? - resmunga o rapaz 
Sim, não passa de um animal perneta…- acrescenta Afonso 
Perneta…ou patudeta…o que interessa. Seja o que for, ele fez um trabalho excelente…- salienta a mãe 
Estás a dar mais valor a um burro idiota em vez de dar a mim que sou teu marido e pai do teu filho…?! Que ofensa. - diz o rapaz 
Não passas do pai do meu filho, mas não és meu marido. Eu não ia casar com uma besta que maltrata os animais e tenta que o filho faça o mesmo. - diz a mãe do menino
      O burrinho ri, os pais estão orgulhosos. O burrinho pensa para si mesmo: 
Realmente...tão bonita e tão meiga…foste logo enganchar-te com aquele ser…não tem nada que se aproveite…e trata mal o filho e os animais.
Temos de retribuir aos bichinhos o que eles nos fizeram hoje. - sugere o Sr. André 
Sim, é muito justo que o façamos. - concorda Filipa 
Admito que não gosto desse bicho com a pata defeituosa…mas tenho que reconhecer que ele foi imprescindível neste momento de aflição. - reconhece o rapaz 
Tu…? Gostares de bichos…e principalmente deste…? Que falsidade. Ao menos hoje mostra-lhe gratidão...quebrou um pedaço de gelo. - resmunga Filipa 
    Ao ouvir isto, o burrinho pensa para si mesmo: 
Sou perneta…tenho uma pata defeituosa mas tenho boca com dentes resistentes para fazer esforços, inteligência suficiente e sensibilidade, ao contrário de ti, cabeçudo…calhau com olhos! Não tens nada na cabeça, nem no coração.
Como és capaz de dizer uma coisa dessas de um animal tão especial? - pergunta Filipa 
Olha, pode ter uma patinha imperfeita, mas também tem muita coisa boa que muita gente não tem… - acrescenta Sofia 
        As lavradeiras riem e batem palmas 
É isso mesmo…! Este burrinho, lá por ter patinha diferente, é de ouro. - reforça Xana a rir à gargalhada 
Tu tens quatro patas…dois braços, três pernas…uma bem mais pequena que as outras e defeituosa…mas ainda fez alguma obra…o filho…- acrescenta Filipa ironica 
      Todas riem, mas os homens não percebem.
Acabem lá com a conversa, ataques de porcaria. - resmunga o rapaz chateado 
Estás-te a ver ao espelho. - riem todas 
      (Gargalhadas gerais)
Vocês são horríveis. - resmunga o Sr. Frederico 
Sim, mas vocês são abaixo disso…! - responde Luisa 
Vamos mas é festejar! - sugere o Sr. Ze
Boa! - respondem todos 
        O burrinho fica feliz, vaidoso e orgulhoso e os seus pais também. O burrinho pensa para si mesmo: 
Eu disse que um dia ainda ias engolir tudo de mau que dizias de mim. Quem é o inútil afinal?     
    Os pais acariciam o burrinho e todos o felicitam. O menino abraça o burrinho e este leva-o a passear no seu lombo pela quinta, os dois passeiam e riem felizes. 
       Os lavradores preparam uma festa especial para os animais. Os animais e os homens e mulheres convivem em harmonia, com música, dança, gargalhadas, boa comida…pela noite dentro, até o sol nascer. E a paz volta à quinta. 
     Assim o burrinho sentiu-se feliz e útil…porque ajudou a apagar o incêndio e salvou a vida dos seres humanos. 
     Apesar da sua patinha diferente, o burrinho mostrou a quem o considerava inútil, que tem na verdade um grande coração e é capaz de fazer tudo o que os outros fazem. 
     Além disso, foi a união entre as pessoas e os animais que extinguiram o incêndio. O rapaz aprendeu a valorizar o burrinho e a trata-lo com carinho.
Obrigada mamã e papá pela educação que me deram, e por ser como sou. - diz o burrinho 

FIM
Lálá
(31/Julho/2011)

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