Número total de visualizações de páginas

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O passarão


pintado por Lara Rocha, do livro de pintar para adultos 

       Era uma vez um pássaro enorme, que vivia numa ramada cheia de videiras. Essas videiras, no mês de Setembro produziam belos e atraentes cachos de uvas, de cor verde e de cor roxa, vermelhas e pretas. Eram doces e cheias de água…um consolo para quem as comia.
            Por viver nessa ramada de videiras, o passarão de penas de uma beleza rara, cheias de cores misturadas, achava-se dono das uvas. Mas não era, porque embora tomasse conta delas, quem as plantava, cuidava delas e colhia eram os donos dos campos.
          Um dia, os donos autorizaram uns familiares a ir aos campos apanhar uvas. O grande passarão não os conhecia, e pensou que era alguém que ia roubá-las. Ficou muito nervoso e assustado, começou a andar de um lado para o outro, em cima dos arames, a fazer um barulho irritante e assustador para afastar as pessoas.
            As pessoas desataram a correr e aos gritos com medo do passarão. Os donos voltam lá com os familiares e a senhora diz:
- Óh meu grande passarão: deixa estes senhores tirarem as uvas que quiserem. São de confiança, e fomos nós que demos autorização.
- Este é o nosso guarda-costas! – Diz o senhor a rir  
- Pudera! Com este tamanho e o barulho que ele faz, assusta qualquer um. – Diz o outro senhor
- Pois! Desculpem, esquecemo-nos de vos avisar que tínhamos aqui o pássaro. – Diz o senhor do outro casal
- Pois foi. – Reconhece a esposa
- Tirem à vontade. – Diz a outra senhora
            O passarão obedece, mas fica sempre atento a tudo. Os seus olhos amarelos não param. No dia seguinte, uma série de outros passarinhos pequeninos vão ao pomar, esfomeados à procura de comida, e caem com a fome. O grande pássaro fica muito preocupado. Eles ficam assustados com o tamanho do pássaro:
- Óh não! – Dizem os passarinhos em coro
- Já vamos servir de almoço para este! – Diz um passarinho
- Que medo! Olhem só o tamanho dele… - Diz outro passarinho
Vai ter com eles, pergunta o que se passa e eles disseram-lhe que estavam fracos, com muita fome, vinham de muito longe, onde só havia gelo. O passarão fica triste com a história dos passarinhos.
- Porque é que me está a cheirar a medo? Áh…são vocês. Medo porquê? Esperem, não precisam de responder. Estão com medo de mim, não é? Não precisam de responder…eu sei. Mas não precisam! Não vos vou fazer mal…vou buscar comida para vocês! – Diz o passarão
- Como é que ele adivinhou que estávamos com medo? – Pergunta um passarinho, baixinho
- Parece que lê os nossos pensamentos! – Diz outro passarinho, baixinho
- Não lê nada, nem adivinha…só sentiu o nosso cheiro a medo. – Explica outro passarinho
- Ufa! Que susto! – Suspiram os passarinhos
- Afinal ele é bom! – Diz outro passarinho aliviado
- Cuidado! Pode ser só uma armadilha… - Lembra um passarinho
- Uma armadilha? – Perguntam todos
- Sim!
- Para quê? – Perguntam todos
- Ele pode estar a tentar cativar-nos, para ficarmos aqui…engorda-nos, e depois come-nos. – Explica o passarinho
- Com penas e tudo? – Pergunta outro passarinho
- Isso mesmo. Não sobra nem um bocadinho de osso.
- Que horror! – Dizem todos
- Óh…para com essas tuas histórias de terror. – Ralha outro passarinho
- É. Também acho que já estás a imaginar coisas. – Diz outro passarinho
O passarão apanha com as suas patas enormes, umas uvas e uns cachos inteiros que estavam no chão, e dá aos passarinhos.
- Comam à vontade…vão ficar como novos! E se quiserem mais no fim, é só pedirem – Diz o passarão
- Obrigada! – Dizem em coro
Os pequenos, com um bocadinho de medo debicam-no, num abrir e fechar de olhos, deliciados com o sabor.
- Huummm… - Dizem os passarinhos em coro
- Que uvas tão boas. – Diz um passarinho
- Cheia de sumo…Huummm…
- E doces!
- Estão mesmo boas.
- E são enormes.
- É. Tudo isso porque os donos deste campo, cultivam e cuidam de tudo o que a Natureza oferece, com muito cuidado, carinho e alegria. Dedicam-se muito! – Revela o passarão
- Áh!
- Realmente, este campo está muito bonito, limpo, arejado!
- É. Passamos por uns campos lá atrás em que só havia silvas, ervas gigantes que pareciam cabelos compridos, não se via onde era a entrada. Horrível.
- Até podia ser que tivesse lá fruta.
- Sim, mas esses campos estão ao abandono.
            Os passarinhos conversam mais um pouco com o passarão, surpresos com a bondade e a sabedoria dele. Já satisfeitos e recuperados, os pequeninos agradecem e voam, com a promessa de voltarem um dia destes…
Uns dias depois, outros passarinhos muito matreiros, que tinham assistido a tudo, escondidos atrás de um campo abandonado, quiseram experimentar. Fingiram que estavam fracos e com muita fome. Mas o experiente passarão não caiu na conversa deles.
- Ai querem comer? Coitadinhos…estão muito fraquinhos não é? – Pergunta o passarão irónico
- É! – Dizem os passarinhos fingidos.
- Se querem comer, vão ter de trabalhar!
- Trabalhar? – Perguntam em coro
- Sim, trabalhar. Vão ter de encher esses baldes para os donos da casa, com as uvas que estão no chão e estas de cima.
- Óh, não!
- Querem ou não?
- Sim.
- Mas estamos muito fracos para apanhar as uvas… - Lamenta um passarinho fingido
- Pois, claro…pobres bichaninhos…estão tão fracos que até vieram a voar…claro… (grita) Toca a trabalhar, antes que eu vos ponha daqui para fora. Pensam que eu não entendi o que queriam…?! Comigo não gozam.
            O passarão bem tinha razão. Os pássaros estavam mesmo a fingir. Começaram a voar rapidamente, e encheram os baldes num instante. Todos se ajudaram uns aos outros, com as patinhas e os biquinhos, para cortar, e outros ajudaram a carregar para os baldes.
            O passarão ri-se várias vezes, e aplaude, encoraja-os para voarem mais e mais rápido. Os baldes já estão bem cheios.
- Muito bem. Estão a ver? Muito obrigado. Os donos vão ficar muito felizes. E melhor ainda…vão pensar que fui eu que lhes enchi os baldes! – Diz o passarão a rir.
- Podemos comer?
- Sim, agora já podem comer. E também podem levar alguns cachos para casa, se conseguirem pegar neles…
            Eles comem satisfeitos e felizes, e levam alguns baguinhos. Os passarinhos ficaram tão zangados por os terem mandado trabalhar, que viraram costas, e voaram…sem agradecerem…
- Pensaram que me conseguiam enganar? Eu não nasci ontem. Matreiros…
Os donos têm uma grande surpresa quando veem os baldes cheios, e sorriem. Acariciam o passarão, e ele sorri orgulhoso. Tudo volta à paz de sempre, com aquele belo e enorme passarão a tomar conta! Os donos tinham mesmo muita sorte.

FIM
Lara Rocha 
(28/Setembro/2014) 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras