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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

O que tens para me dar?

      




Foto de Lara Rocha 












       Era uma vez um senhor com muita idade, enrugado e meio dobrado, com cabelos brancos e um ar triste. Vivia com a sua esposa, mais velha do que ele, os filhos estavam todos no estrangeiro a trabalhar e raramente voltavam a casa para os ver.
      Todas as manhãs, o senhor ia passear pelo parque com a sua esposa, devagar, de braço dado e a conversar. De tarde, a esposa apesar de ser velhinha ainda costurava e fazia bordados, gostava muito de sair com amigas e reunir-se com elas. Era muito bem-disposta.
       De tarde, o senhor ia caminhar para o parque da cidade, sem pressa, e sentava-se um pouco num banco. Depois, quando lhe apetecia voltava para casa.
            Numa dessas tardes, o senhor estava sentado no banco, muito pensativo e passa um gato. O gato pára a olhar para ele, e mia para chamar a sua atenção. O senhor não lhe liga nenhuma, pois os seus pensamentos estão perdidos a olhar para o rio.

- O que tens para me dar? – Pergunta o gato

            O gato espera uma reposta, mas o senhor não diz nada. O gato suspira e vai embora. No dia seguinte, o senhor volta ao mesmo sítio e o gato volta a parar e a olhar para ele. Pergunta outra vez:

- O que tens para me dar?

            O senhor volta a não responder. O gato vai à sua vida e o senhor volta para casa. Uns dias depois, como estava a chover, o senhor não foi ao parque, mas o gato foi lá e sentiu a sua falta.
            O sol apareceu finalmente. O senhor voltou a sair e a ir para o mesmo sítio. Desta vez o gato para a olhar para ele, mas não diz nada. O senhor repara no gato:

- Olá bicho…olá…!

            O gato estremece, surpreso, e mia delicadamente.

- Estás aqui sozinho…? – Pergunta o senhor

- Miau!

- Sim, já percebi que sim. Eu também estou sozinho.

- O que tens para me dar? – Pergunta o gato

            O senhor não lhe responde, e começa a contar a sua vida ao gato. O gato senta-se e ouve atentamente. Emociona-se com algumas coisas que ele conta, sorri e ri com outras.

- O que tens para me dar? – Pergunta o gato

- Nada! Ao contrário de ti, que já me deste a tua presença paciente, e os teus ouvidos. – Responde o senhor.

- Então já me deste histórias da tua vida! – Diz o gato

- Sim. Desculpa ter falado tanto…

- Não faz mal. Foi um prazer ouvir-te! Tens histórias muito interessantes, e que me emocionaram…fizeram-me rir…bom…tenho de pensar nelas outra vez, para ver o que aprendi.

- Está bem. Obrigado. Até amanhã…

- Até amanhã.
            O senhor vai embora, e o gato também. No dia seguinte encontram-se novamente no mesmo sítio.
- O que tens para me dar? – Pergunta o gato
- Nada!

            Pega no gato ao colo, e acaricia-o. O gato fica deliciado, quase adormece, e o senhor fala com ele.

- Mais uma vez não te dei nada…pobre bicho! – Suspira o senhor

- Deste sim! Desta vez, deste-me colo e mimos. – Responde o gato

- Isso é bom, mas não te enche a barriga.

- Enche outra barriga…comida, eu arranjo sempre…carinho não!

- A sério?

- É. És o único que me dás carinho.
           
Os dois conversam mais um pouco, e vai cada um para a sua casa. No dia seguinte encontram-se no mesmo sítio.

- O que tens para me dar? – Pergunta o gato

- Nada! – Responde o senhor

            Pega outra vez no gato ao colo e dá-lhe muitos mimos, ao mesmo tempo que conversa com ele. Ele rebola no colo do senhor, para receber os mimos, mia, esfrega-se carinhosamente, lambe as mãos do senhor.

- Outro dia que não te dei nada… - Diz o senhor

- Deste sim! Mimos…

- Isso não é nada.

- Para mim é tudo!

- Até amanhã…

- Até amanhã e obrigado pelos mimos.

            O senhor vai para casa. Eles encontravam-se todos os dias, no mesmo sítio e tinham longas conversas. Ouviam-se e trocavam carinhos. O gato perguntava sempre ao senhor, o que é que ele tinha para lhe dar, e o senhor achava sempre que não tinha nada. Mas dava-lhe o que mais ninguém lhe dava: carinho e atenção.
            Uns dias depois, o gato voltou a perguntar:

- O que tens para me dar?

- Uma casa, muitos colos, muitos mimos, água e comida. Queres vir comigo, para a minha casa? – Perguntou o senhor

            O gato mia e saltita feliz, enrosca-se no senhor, e lambe-o.

- Óh…que maravilha…! Sim…vou! – Suspira o gato.

            E vão os dois felizes até casa.

- Isto é tudo o que tenho para te dar, bichano…!

- E isto é tudo o que eu mais preciso!

            Os dois tornam-se amigos inseparáveis. A esposa do senhor adora o gato, e trata-o como se fosse um filho. O senhor também o adora, e o gato é louco pelo casal. Faz-lhes uma companhia maravilhosa, é muito meigo e muito atencioso, brincalhão, e ajuda.

- O que tens para me dar? Tudo! Uma casa, comida, bebida, conforto, carinho, companhia…é tudo o que temos para te dar, e tudo o que tu tens para nos dar! – Diz a esposa

- Muito obrigado, bicho, por teres entrado na minha vida! – Diz o senhor

            O gato sorri orgulhoso e feliz:

- Vocês dão-me tudo o que têm…eu é que não tenho nada para vos dar. – Diz o gato

- Já nos dás tudo o que tens! – Diz o casal em coro

            E agora iam os três passear sem pressa, pelo parque da cidade, e por outros sítios.

FIM
Lálá

(17/Outubro/2014)

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