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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O CAMPO


      Era uma vez um lavrador que tinha um campo enorme recheado de abóboras. Umas ainda só tinham os troncos e as folhas arrepiadas e enormes, que cobriam delicadamente as flores de futuras abóboras, outras, já tinham as cabecinhas a espreitar, e outras já estavam a crescer.
        Além das abóboras, o lavrador tinha no seu campo, belos e enormes cachos de uvas pendurados nas redes…Huummm…tentadoras! Apetecia comer só com os olhos. Maçãs, pêras, laranjas, romãs e amoras silvestres também faziam parte.
        Era um lavrador orgulhoso e vaidoso do seu campo. Tudo era tão apetitoso e provocador, que até toupeiras e companhia chegaram a comer sementes de abóbora e cabaço. Viam-se muitos buracos na terra.
        O lavrador ficou fora de si, de tão raivoso, e tentou várias vezes apanhá-las mas elas eram muito espertas…só apareciam ao fim da tarde, quando o lavrador não estava.
        Pensando que resolvia o atrevimento das toupeiras e impedia que comessem as outras sementes, construiu um espantalho assustador!
Um molho de palha, enorme, vestiu-lhe uma roupa, pôs-lhe um bigode e barba feitos em lã, uns olhos gigantes, feitos de bolas de futebol, com casca de laranja, uma carcaça de espiga, sem bolinhas de milho, a fazer de nariz e uma boca de tábuas com pregos a fingir que estava aberta e cheia de dentes.
Pôs um chapéu e uma vela no cimo. Estava mesmo assustador. Mas, infelizmente as coisas não correram como ele esperava. Uns morcegos passaram a voar baixinho e chocaram com a vela acesa. Ficaram com as asas chamuscadas, e guincharam nervosos. Deitaram a vela abaixo, e esta queimou o espantalho todo. O seu suporte e toda a palha de que era feito…a roupa…não sobrou nada! O espantalho ficou em cinzas.
O lavrador ficou muito assustado e triste. Não percebeu que foram os morcegos a destruir com a vela. Mas não desistiu. Ele tinha mesmo de proteger aquele campo, por isso, construiu outro espantalho, com uma decoração ainda mais feia e aterradora. Pô-lo no mesmo sítio do outro, com a certeza de que agora estava mesmo seguro.
Mas, infelizmente…saiu tudo ao contrário do que ele esperava! Durante a noite…enquanto o lavrador dormia, vários casais de cegonhas que vinham de muito longe, gostaram do sítio e estavam muito cansadas. Então, instalaram-se lá...atacaram o espantalho, tirando muitos pedaços de palha para fazer os ninhos.
Por estar incompleto e faltarem várias partes, vários outros passarinhos aproveitaram e tiraram mais pedaços. Isso fez o boneco desfazer-se e cair.
As ovelhas, os cavalos, os burros e as vacas aproveitaram logo e comeram a palha do boneco que estava no chão. As toupeiras continuaram a rabear por baixo da terra e a comer raízes e sementes. Por causa disso, alguns legumes e espigas apareceram ruídos ou estragados e murchos. As folhas das couves e alfaces começaram a aparecer ruídas…eram os caracóis que as comiam. Eles sabiam o que era bom.
O lavrador pensou que estava a ter um pesadelo, e não queria acreditar que o campo estava em reboliço.

- Malditos! Vou dar cabo de vocês… - Grita o lavrador muito zangado, quase a explodir.

        Todos os que tinham estragado o campo, riram com vontade.

- E agora…o que é que eu vou fazer?

        Dá uma volta pelo campo, pensativo, pára a olhar para todo o lado, triste, e não se lembra de nada.

- Como é que aqueles horríveis entraram aqui e fizeram isto com o meu campo? Malditos! – Grita – Apareçam covardes.

        É claro que eles não aparecerem, nem responderam, pois sabiam que não iam acabar bem. O lavrador dá outra volta, e tem uma ideia:

- Já sei! Desta vez não falha.

        Constrói vários espantalhos, terrivelmente feios e espalha-os pelo campo. No dia seguinte vê tudo na mesma. Planta novas sementes.
Entretanto, numa linda noite de lua cheia, o campo é visitado por uma bruxa e as suas aprendizes, que resolveram fazer uma festa. O resultado dessa desta com bruxas não podia ser bom. E não foi.
Destruíram tudo. Comeram abóboras inteiras, picaram-nas, e comeram o recheio, conviveram, dividiram as abóboras com os morcegos que também quiseram participar na festa, e nada sobrou.
Depois ainda se juntaram umas criaturas horríveis, desconhecidas que comeram os restos…pássaros enormes que comeram as uvas, pequenos seres estranhos e muito feios, despiram as espigas todas e levaram com elas as bolinhas de milho.
E por fim, uns cogumelos venenosos devoraram num abrir e fechar de olhos, os troncos, os troços, e as folhas dos cabaços. Não sobrou nada! No dia seguinte, o lavrador ficou destroçado, estava tão triste que desistiu de cuidar do campo.
Na noite seguinte, uma grande surpresa…o campo é visitado por um agricultor feito de estrelas cintilantes, e fadas. O agricultor de estrelas e as fadas alisam a terra, limpam-na, aspiram-na, sopram-na, afugentam todo o tipo de bichos que tentam aproximar-se com uma luz que dá choques eléctricos.
Depois da terra limpa e alisada, o agricultor e as fadas trabalham em conjunto: ele cava um buraquinho, uma fada deita as sementes, outra tapa com terra, outra regra, outra aduba.
Fazem vários carreirinhos na terra e plantam abóboras, cabaços, cenouras, cebolas, batatas, couves, milho, flores, feijões de várias qualidades, pepinos, curgetes, olhos franceses, xuxus, nabos, nabiças, e muitas mais coisas, incluindo árvores de frutos, nozes, castanhas, amêndoas, dióspiros, romãs e de tudo um pouco.
Por fim, outra fadinha sacode as asas e deixa uns lindos brilhantes na terra, e sobre tudo o que plantaram. Refugiam-se numa casinha num tronco velho e ficam a descansar.
Todos os dias e várias noites, várias semanas, as fadas e o agricultor feito de estrelas, iam vigiar o campo e cuidar dele. O lavrador recuperou da tristeza quando olhou para o seu campo e tudo estava tratado, limpo, com as produções a espreitar na terra.

- Áh! Quem esteve aqui?

        O lavrador nunca teve resposta para esta pergunta…só viu o resultado final…um maravilhoso campo recheado de coisas boas. tudo o que tinha sido plantado, cresceu enorme, suculento, tenro, fresco, de encher o olho.
        O lavrador colhe tudo quanto pode e come deliciado. Oferece algumas coisas aos seus familiares, amigos e vizinhos, e nascem umas coisas atrás das outras.
Com isso, o lavrador enriquece e volta a cuidar dos seus campos com muita dedicação, carinho e atenção, claro…com a ajuda do agricultor de estrelas e das fadas que ele nunca viu.
Mesmo que não os vejamos, podemos sentir, e sabemos que eles estão lá, por todas as coisas maravilhosas que comemos, e que colhemos da terra. Só pode ser tudo obra de uns seres muito especiais como…anjos…ou…fadas…ou…bom…aqueles que vocês quiserem. Não acham?
A natureza é um verdadeiro milagre! Ela dá-nos tudo o que tem de melhor, mesmo quando não a tratamos bem. Por isso, não faremos muito, se lhe retribuirmos de alguma maneira…por exemplo, a cuidar bem dela, protegê-la, e todos os dias agradecer o que ela nos dá! O ar, a vida, a água, a comida…a felicidade e a paz!

FIM
Lálá
(26/Outubro/2014)





        

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