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quinta-feira, 2 de outubro de 2014

AS ÁRVORES DOS MORCEGOS

             


            Era uma vez uma árvore só com pequenos troncos, sem uma única folha, perdida num grande descampado, sem relva, só terra, e sem luz. Por ser um sítio escuro, via-se muito bem as estrelas do céu, mas todas as pessoas tinham medo de ir para lá.
            Este era um sítio fantástico para animais nocturnos, como morcegos, mochos e corujas. À noite, esse campo ganhava vida com tanto bicho de um lado para o outro, de ramo em ramo, iam para os becos da cidade e voltavam, faziam uma grande barulheira, e de dia, dormiam na árvore.
            Um dia, uma pequena menina foi à procura de um sítio onde pudesse ensaiar sossegada as suas músicas que tocava em flauta, sem incomodar as pessoas, principalmente uns vizinhos que detestavam flauta, e ralhavam muito com ela.
            Chegou ao campo da árvore dos morcegos, e reinava o sossego. Como era de dia, os animais nocturnos dormiam. Os morcegos fechados nas suas asinhas, pendurados, as corujas e os mochos nas crateras do tronco da árvore que era um sítio escuro e silencioso.
            Quer dizer…eles pensavam que era silencioso, e era! Até aparecer a menina. Pois é! Como a menina não sabia que aqueles eram animais nocturnos, e dormiam de dia, nem olhou para a árvore, de tão concentrada que estava na sua flauta.
Andava de um lado para o outro, dançava e rodava ao mesmo tempo, com algumas quedas à mistura e ria-se sozinha. Estava tão feliz, e sentia-se tão livre que nem deu pelas horas passarem.
Quase à noitinha os morcegos, os mochos e as corujas começam a despertar lentamente, e preparam-se para a noite. A menina está muito assustada, porque está escuro e esqueceu-se do caminho.
Ela olha para cima, e vê montes de olhos pregados nela.

- Quem és tu? – Pergunta uma coruja

- És caçadora? – Pergunta um mocho

- Não. Sou uma menina.

- Uma menina? – Perguntam em coro

- Sim.

- Humana? – Perguntam em coro

- Sim! Porquê?

- Da cidade? – Pergunta outra coruja

- Sim.

- Huummm…estou cheio de fome… - Murmura um morcego gordo

- Era de estranhar se não estivesses com fome! – Resmunga a sua mulher

- O que é que isso quer dizer? – Pergunta a menina assustada

- Não é nada comum aparecer aqui…humanos! – Diz outro mocho

- O que é que isso quer dizer? Que me vão morder? – Pergunta a menina assustada

- Não! – Respondem em coro

- O que é isso que tens na mão? – Pergunta uma morcega

- É uma flauta! – Responde a menina

- E o que é que isso faz? – Pergunta outra morcega

- Isso tem um ar ameaçador! – Diz outra morcega

- Óh, não…não faz mal! Faz música! – Responde a menina

- Isso dá de comer? – Pergunta o morcego gordo

(Todos riem)

- Não. Quer dizer…não dá comida, mas dá consolo…! E alimenta a alma! – Responde a menina  

- Quem é a alma? Posso comê-la?

- (Ri) Não. A alma está dentro de nós. Não se pode comer.

- Óh, o consolo não é de comer! A alma também não…o que é que tu comes? – Resmunga e pergunta o morcego gordo

- Que insensível! – Resmunga a sua esposa

- Como muita coisa…mas alma e consolo não.

- E essa coisa não comes? – Pergunta o morcego gordo

- Não. Isto faz música…não se come. – Diz a menina  

- Podes tocar um bocadinho, por favor? – Pede outro mocho

- Claro que sim! – Diz a menina a sorrir

- Óh, com licença…não quero saber de tocares…quero é comer… - Resmunga o morcego gordo e voa.
            Todos riem. A menina começa a tocar, e todos os animais ficam espantados com o som da flauta, quase não pestanejam. Sorriem e choramingam, balançam o corpo e seguem a música. Todos aplaudem a menina.

- Ááááhhh! – Suspiram todos a sorrir

- Que lindo! – Diz uma morcega ainda embalada.

- É mesmo bom. – Diz um mocho a sorrir

- Onde aprendeste a tocar isso? – Pergunta um morcego

- Sozinha e na escola.

- Maravilhoso! Mexe com o coração…é lindo… - Diz uma coruja encantada

- Obrigada. Podem ajudar-me a encontrar o caminho de volta para a cidade, por favor? É que estou perdida…

- Óh, mas isso é fácil… - Diz um mocho

- Vamos para lá agora. – Diz a sua esposa coruja

- Segue-nos! – Diz um morcego

- Muito obrigada. – Diz a menina

- Por favor…toca mais um pouco para nós! – Pede outro mocho

- Claro que sim…

            E a menina vai o caminho todo a tocar feliz, os morcegos, os mochos e as corujas acompanham-na, voam e pairam à frente dela, circundam-na e dançam como bailarinos profissionais, felizes, leves e sorridentes, uns com os outros e sozinhos. Todos chegam à cidade, e os animais começam a chorar e a aplaudir.

- Óóóhhh…! – Lamentam todos

- O que foi? Não gostaram? – Pergunta a menina preocupada

- Adoramos! – Respondem todos

- Então porque estão tão tristes? – Pergunta a menina

- Porque…

- Porque…

- Porque vamos ter de nos separar! – Diz uma coruja

- Mas não por muito tempo…pois não? – Pergunta uma morcega

- Claro que não. Vamo-nos encontrar muitas vezes. E se quiserem, venham até à minha casa que lá não falta que comer.

- A sério? – Perguntam todos

- A sério. Venham.

            Os animais acompanham-na e nem querem acreditar…realmente…no sítio onde a menina vivia havia mosquitos às centenas, e outros petiscos para a bicharada. A menina entra em casa, os pais muito preocupados, mas aliviados quando a vêem.

- Onde foste? – Pergunta o pai

- Fui tocar para um sítio livre, e distrai-me com as horas

- Podias ter dito! Ficamos muito preocupados! – Diz a mãe  

- Desculpem…

            A família conversa. Enquanto isso, todos os morcegos, corujas e mochos comem quanto querem. Nesse mesmo sítio tem outra árvore igualzinha à outra, onde viviam. Instalam-se lá, mesmo em frente ao quarto da menina, e ela vê-os da sua janela.

- Vão ficar aqui? – Pergunta a menina

- Sim. – Respondem todos

- O comilão já voltou?

- Já…

- Que lugar recheado…! – Diz o morcego satisfeito e regalado

(Todos riem)

- Está-se muito bem aqui. – Diz uma morcega!

- O meu quarto é este…daí podemos ver-nos! – Diz a menina

            Todos os animais ficam felizes, saltitam de alegria e pousam na beirada da janela do quarto da menina para conversarem e riem à vontade. De dia, os morcegos, os mochos e as corujas dormiam na árvore, e à noite saiam.
Depois desse dia, eles e a menina tornaram-se grandes amigos, e até o vizinho resmungão, começou a gostar das músicas que a menina tocava na flauta. Os morcegos protegiam a menina e toda a gente dos insuportáveis mosquitos e outros insectos, e a menina, em troca dava-lhes música que eles adoravam.

FIM
Lálá
(2/Outubro/2014)




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