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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O BANDO DE MORCEGOS

          
foto de Lara Rocha 

            Era uma vez um bando de morcegos, que decidiu mudar da cidade para o campo, porque o ar da cidade estava a ficar demasiado poluído. Os mosquitos na cidade eram cada vez menos e de cada vez pior qualidade, quase sem sabor, e os morcegos andavam a ficar fracos, magros, com as forças a falhar.
Não havia praticamente sítios escuros, e os sítios que havia mais escuros, estavam completamente lotados de morcegos. E mais…o ruído era cada vez mais forte: música barulhenta aos gritos em muitas ruas, muitas conversas em que um falava mais alto que o outro, parecia que ninguém se ouvia, carros, motas, camiões e autocarros a circular a toda a hora, toda a noite, por todo o lado.
Toda esta barafunda, confundia os morcegos e deixava-os de rastos…cansados, nervosos e desorientados. Voaram em bando vários quilómetros e começaram a entrar num sítio mais sossegado…nos arredores da cidade. Ficaram muito mais calmos, quase não havia luz, não se ouvia grandes barulhos a não ser dos outros animais noturnos, e havia mosquitos com fartura.
Voaram felizes e calmos pelo campo, comeram até se fartar, e instalaram-se comodamente em vários troncos de árvores velhas, cheias de grandes buracos.
No dia seguinte, recompostos da viagem e com a barriga aconchegada, vão visitar o campo seguinte. Encontram a mesma coisa. Alimentam-se e voltam para o primeiro campo, o da noite anterior.
Nas noites seguintes, exploram os outros campos, felizes e aterram num campo cheio de abóboras. Eles não conheciam esse sabor, e nunca tinham provado, mas viram tantos pássaros a picar uma abóbora que quiseram provar. Gostaram tanto, como gostam de mosquitos, e a abóbora desapareceu num piscar de olhos.
Na noite seguinte, foi muito pior…pássaros, morcegos e bruxas fazem uma festa nesse campo e destroem uma série de abóboras. A dona do campo nem quer acreditar. Apanha-os em cheio, e eles ficaram tão assustados que não fugiram. A senhora distribui vassouradas pelos morcegos, bruxas e pássaros. Grita-lhes, ralha-lhes, e só depois de apanharem é que fogem.
A dona volta a plantar tudo, muito zangada e triste, os seus netos aproveitam as carcaças das abóboras comidas, e fazem decorações assustadoras…parecidas com caras de monstros, bocas gigantes com dentes enormes feitos nas cascas, cortam grandes olhos, muito abertos e põem dentro velas a arder. Iluminadas com velas ainda ficam mais monstruosas e metem mais medo.
Fizeram estas máscaras com as cascas de abóboras e de cabaças, na esperança de que aqueles visitantes indesejados e atrevidos também tivessem medo e não voltassem a estragar o campo dos avós.
Felizmente…aconteceu o que eles queriam. Os invasores voltam ao campo, pensando que a dona já se tinha esquecido, e que já deveria haver lá coisas apetitosas para eles comerem. A senhora estava às escuras a ver da janela do seu quarto:

- Venham, venham meus diabos! Vão ver a bela surpresa que tenho para vocês! É o meu agradecimento por me terem estragado o campo.

            Eles aterram no campo descansados, mas quando vêem que o espaço estava cheio de cabeças luminosas, com caras horríveis, quase gelam…olham para as caras, correm de um lado para o outro, desatam aos guinchos, chocam uns contra os outros, e gera-se uma grade confusão.
            A dona do campo e os netos desatam às gargalhadas a ver a aflição dos invasores, e as quedas, os choques, as sapatadas e os guinchos entre eles.

- Áh, áh, áh…parecem umas baratas tontas! – Diz uma neta a rir

- Funcionou mesmo bem, Avó! – Diz outro neto

- Nunca vi bruxas, morcegos e pássaros com tanto medo de abóboras e cabeças a arder.

            A senhora às gargalhadas põe a cabeça de fora e grita:
- Se voltam a dar cabo do meu campo, serão as vossas cabeças que irão decorar o campo! Xôôô…bandidos…atrevidos…

            Todos desatam a fugir, e não voltam para aquele campo. Depois dessa noite, só foram para os campos abandonados que tinham o que comer, e puderam fazer todas as festas que queriam, sem estragar o que não deviam.
            Claro que foram mauzinhos com a senhora, mas melhoraram a saúde deles e engordaram! Não precisaram de voltar à poluição cada vez mais concentrada nas cidades.

            E vocês? Se fossem morcegos…onde preferiam viver? Nas cidades ou nos campos? Porquê?

FIM
Lálá
(26/Outubro/2014)


            

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