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terça-feira, 14 de outubro de 2014

A MÚSICA DA ÁGUA


foto de Lara Rocha             

         Era uma vez, uma linda fada que estava a voar numa folha de uma árvore. A folha caiu na água de um lago, com uma forte ventania. A fada molhou-se toda, e fica muito chateada.
- Olha para isto…! O que é que te deu? Íamos a voar tão bem! – Resmunga a fada
        Ela ouve uma gargalhada:
- Ainda por cima estás a rir-te na minha cara! – Diz a fada ofendida – E agora, como é que eu me vou secar? A água está fria…ainda se fosse quente…
- Desculpa, fada. Mas não fui eu que me ri. – Diz a folha
- Ai não? Fui eu? – Pergunta a fada
- Olá! Resmungona…
- O quê?
- Não fui eu.
        A fada faz silêncio.
- Quem está aí?
- Fui eu que deitei a folha abaixo! – Diz a voz de um elfo
- Mas que grande atrevido…aparece. – Grita
        Aparece um lindo e elegante Elfo.
- Olá… - Diz o elfo docemente
        A fada vira-lhe as costas zangada.
- Vai-te embora…não te quero ver! – Diz a fada
- Desculpa, princesa… - Diz o elfo
- Não sou princesa, sou fada. – Diz a fada com o nariz levantado
- Porque é que nos deitaste abaixo? – Pergunta a folha
- Porque queria conhecer a princesa que tu passeavas.
- O quê? – Gritam as duas
- Isso é maneira de alguém conhecer outra pessoa? – Pergunta a folha
- Também acho. Que disparate. – Resmunga a fada
- Óh…uma menina tão linda…tão resmungona… - Diz o elfo
- Não sou princesa, nem menina. Sou fada! – Grita a fada
- Ui, que nervosa…
- Claro…mandaste-me para a água, e achaste que eu ia ficar feliz, ou rir, não? Olha como eu estou? – Diz a fada zangada
- Estás linda!
- Ui, uma beleza…a escorrer água por todo o lado.
- Sim! Vá…anda dançar, que isso seca. – Diz o elfo a sorrir
- Eu? Dançar contigo? Depois do que me fizeste? Nunca.
        Ela amua. Ele põe-se de joelhos com o ar mais doce do mundo, sorri e diz:
- Perdoa-me, minha Fada linda.
        Era vira-lhe o rabo.
- Que rabiosque bonito, mas gosto mais de te ver de frente…
        Ela ia resmungar, mas como não estava à espera daquele elogio ao seu rabo, começa a rir às gargalhadas, e o elfo ri com ela. Sem dar por isso, já estão os dois virados um para o outro, a rir.
- Que riso tão bonito…fada! – Elogio o elfo
        Os dois param de rir, e fixam os olhos um no outro.
- O que é que os nossos olhos estão a dizer uns aos outros? – Pergunta o elfo
- Não sei…estão a segredar uns com os outros…não consigo perceber.
- Deixemo-los em paz, e a conversar à vontade.
- É. Eles lá se entendem.
        O elfo estala os dedos e aparece um belo ramo de flores, que oferece à fada.
- Áh! Flores…que lindo! Obrigada. Adoro.
        Trocam sorrisos.
- Podemos dançar? – Pergunta o elfo
- E onde tens a música?
- Está aqui à nossa volta.
- Não ouço nada.
- Vais ouvir…
        Ele dá as mãos à fada, delicadamente, e a sorrir. Ela rende-se à beleza e doçura do elfo. Abraçam-se, e trocam olhares fixos, e sorrisos.
No silêncio, eles conseguem realmente ouvir música. A música das águas que correm no lago com velocidades e intensidades diferentes, as águas que passam entre as rochas e as águas das cascatas. Ouvem as gotas de água que caem de cima, e o vento a soprar forte entre as folhas que abana. Ouvem a água a borbulhar e a cair mais forte.
Ouvem o canto das cigarras e dos grilos na relva à volta do lago, até ouvem os seus corações a bater, o sorriso e o brilho dos seus olhos.
De repente aparece um coro de fadas, acompanhadas de passarinhos, que cantam e tocam lindamente instrumentos como harpas, violinos, piano, tambores, ferrinhos.
Toda a gruta desperta, e juntam-se morcegos, que guincham, peixes que nadam velozmente, nenúfares que se abrem e de onde saltam as flores, e belas fadas da água que fazem patinagem artística e mágicas danças. A fada fica toda brilhante, muito feliz, o elfo, encantado e sorridente, e participam alegremente na festa, dançam juntos.
Mas aquele momento tão bonito é interrompido por um ser monstruoso que mora nas profundezas do lago, muito mal-humorado, resmungão, agressivo, e solitário. Com um aspecto de meter medo.
Aparece à superfície e grita:
- Fora daqui!
        Todos desaparecem do lago rapidamente, e encontram-se fora dele.
- Cruzes, que coisa era aquela? – Pergunta a fada
- Era o monstruoso sargo que vive nas profundezas do lago. Odeia ser incomodado. Acha que é o dono do lago. – Explica o elfo
- Que criatura nojenta! – Suspira a folha
- Estava tão bom. – Diz a fada a sorrir
- Gostaste, fada? Eu também! Conseguiste ouvir a música que havia à nossa volta? – Pergunta o elfo
- Sim, consegui. Uma música maravilhosa! – Diz a fada
- Pois foi. E também ouvi os nossos corações a bater! – Diz o elfo
- Também ouvi.
- Ele diz que gosta muito de ti.
- O meu também.
        Os dois sorriem. Abraçam-se mais uma vez, e de cada um deles sai uma linda luz. As duas luzes encontram-se, enrolam-se e fundem-se numa só. Atravessam o corpo dos dois.
- A minha luz encontrou a tua luz! – Diz o elfo
- A tua luz encontrou a minha luz! – Diz a fada
- As nossas luzes, agora são uma só…na amizade, no respeito e no amor incondicional. – Explica o elfo
- Que lindo! Eu sinto a tua luz em mim. – Diz a fada a sorrir
- Boa! Eu também sinto a tua luz em mim! – Diz o elfo.
- Muito obrigada…- Diz a fada
- Não digas mais nada. Fica sempre comigo! – Diz o elfo
- Sim! (sorri) Ficarei sempre contigo.
        Dão a mão e voam, num passeio livre, pela floresta, e numas conversas muito animadas. Param algumas vezes para apreciar a paisagem e desde esse dia, não se separam mais.
        Às vezes os nossos corações encontram-se e conversam, sem as nossas palavras…só entre eles. Não conseguimos ouvi-los, mas eles entendem-se. Quando isso acontece, as nossas luzes encontram-se, e se elas se envolvem e fundem numa só, todos sentimos a luz uns dos outros dentro de cada um de nós.
        É essa luz que nos preenche, que nos faz sentir queridos e amados, que nos faz chorar e rir, e brincar…ou abraçar, só para sentirmos um pouco mais de luz. Porque às vezes, a nossa luz também enfraquece com a tristeza ou a solidão…é preciso pelo menos um abraço de alguém que tem a nossa luz dentro de si, além da dele ou dela, para nos devolver o sorriso, e nos fazer acreditar que o sol brilhará a seguir.
A nossa luz nunca é demais, e nunca se esgota…precisa sempre de outras luzes que lhe toquem, para brilhar mais forte, e para acender outras luzes em corações que precisam.
Muitas vezes faltam-nos as palavras, mas elas não são precisas quando dois corações de luz se encontram e conversam…e quando dessa conversa sai um abraço que conforta.
FIM
Lálá
(14/Outubro/2014)


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