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sábado, 9 de outubro de 2021

O vendaval de duas pernas - caso prático para estudantes de psicologia; psicólogos; população em geral Adultos

«O vendaval de 2 pernas»

       M., mãe de C., mãe solteira, o pai de C. nunca assumiu a paternidade, e nunca se encontraram pessoalmente. M. mostra-se muito preocupada, nervosa, envergonhada pelo comportamento do seu filho, que não lhe dá sossego, e não sabe o que fazer. Vivem numa pequena aldeia onde todos se conhecem, e todos têm queixas do C.

       Há mais de um ano que C., de 14 anos revela muita agressividade para com as pessoas, em especial dirigida à mãe e à Avó com quem vive e que sempre cuidou dele, tal como da Mãe.

     C. Insulta-as, em casa e na rua, quando sai com elas, humilha-as em público, gritando e empurrando-as, agredindo-as com tanto violência que os vizinhos estão sempre atentos.

      A mãe e a avó já caíram várias vezes com os empurrões de C. Inclusive a avó foi várias vezes hospitalizada pelos ferimentos, sem nunca revelar os motivos das quedas, dizendo apenas que não sabia como tinha caído, que tinha tropeçado, ou que lhe tinha dado uma tontura, argumentando que era da idade.

    Nem a mãe nem a avó fazem queixa dele, porque sentem medo, pois C. Ameaça-as e agride-as, no entanto os vizinhos não deixam passar em branco estes comportamentos, até porque também já foram vítimas da raiva de C.

  C. revolta-se, luta com os vizinhos com violência, insulta-os, e vinga-se constantemente. Parte vidros das janelas com pedras, esconde-se, os vizinhos não o veem mas suspeitam que seja ele. Alicia os mais pequenos a atirar bolas de futebol contra as portas das casas.

     Durante a noite, sai de casa silenciosamente, dá murros e pontapés nas portas dos vizinhos para os perturbar, fazendo com que acordem sobressaltados, mas quando abrem a porta, já C. Desapareceu, esconde-se e ri à gargalhada do susto que provocou nos vizinhos.

    Durante a noite, quando se lembra, destrói flores dos jardins das casas, pisando-as, arrancando-as da terra, cortando as pétalas. Tira galinhas dos capoeiros, tapa-lhes os bicos para não cacarejarem, depena-as, parcial ou totalmente, de acordo com a intensidade da sua raiva, atira-as pelo ar, bate-lhes, roda-as e sai como se nada tivesse acontecido, parte vasos, parece que não pode ver nada direito.

   Maltratou cães vadios que apareceram na Vila, mas os vizinhos fizeram queixa dele, e foi necessária a intervenção da polícia, como aconteceu das outras vezes. Depois disso, muitos vizinhos acolheram os cães.

    Falta frequentemente à escola, a mãe é chamada constantemente e ligam para casa na tentativa de saber o que se passa, mas a mãe nem sabe que ele falta às aulas.

   Quando tal acontece, questiona o filho que não responde e ainda a insulta afirmando que não tem nada a ver com ele. Chumbou por faltas em várias disciplinas.

   Já tentaram colocá-lo em cursos profissionais, mas depois não frequenta nenhum e as poucas aulas que frequentou, não deu sossego aos colegas nem aos professores, levando-os ao limite.

     Insulta todos na escola, agride, destrói objetos de colegas que sentem medo dele, é muitas vezes expulso da escola, mas volta com o objetivo e processa que vai mudar o seu comportamento, mas tudo fica na mesma.

     Passa os dias a fazer asneiras, vai ao parque de estacionamento da escola e risca os carros dos professores, fura pneus, parte vidros, e apesar de ser visto por pessoas dos prédios, de costas, quando chega a polícia, já C. fugiu, e quando confrontado age com naturalidade, negando tudo, e mostrando raiva por considerar que é injusto acusarem-no de coisas que não fez.

   Neste momento está internado numa clínica de saúde mental com acompanhamento psicológico e psiquiátrico. O passo seguinte será trabalho comunitário, vigiado de perto e controlado.

       Mostra-se atualmente mais calmo, com medicação, diz-se arrependido e pensa pedir desculpa a todos, embora a mãe (com depressão e também a receber apoio) não confie nele.

    A mãe não sabe como nem porque começou este comportamento do filho, e apesar de toda a destruição que o filho provocou na Vila, os vizinhos apoiam-na a ela e à avó.

                                                        Lara Rocha 

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Nota para psicólogos, e população em geral. 

Este é um caso fictício, mas pode acontecer em qualquer casa, e causa grandes problemas a todos os que os rodeiam. Foi um monólogo baseado nos critérios de diagnóstico, DSM-IV-TR, 1ª Edição, Lisboa, Janeiro de 2002. 

Perturbação do comportamento  (P. 93 - 99) 

Padrão de comportamento repetitivo e persistente, em que são violados os direitos básicos dos outros ou importantes regras ou normas sociais próprias da idade, manifestando-se pela presença de 3 (ou mais) dos seguintes critérios, durante os últimos 12 meses, e pelo menos de 1 critério durante os últimos 6 meses.

Critérios

- Agressão a pessoas ou animais

1 – com frequência insulta, ameaça ou intimida as pessoas

2 – com frequência inicia lutas físicas

3 – utilizou uma arma que pode causar graves prejuízos físicos aos outros (por exemplo, pau, tijolo, garrafa partida, faca, arma de fogo)

4 – manifestou crueldade física para com as pessoas

5 – manifestou crueldade física para com os animais

6 – roubou confrontando-se com a vítima (por exemplo, roubo por esticão, extorsão, roubo à mão armada)

7 – Forçou alguém a uma atividade sexual

- Destruição de propriedade

8 – ateou fogo deliberadamente com intenção de causar prejuízos graves

9 – destruiu deliberadamente a propriedade alheia (sem ser por ateamento de incêndios)

- Falsificação ou roubo

10 – arrombou a casa; a propriedade ou o automóvel de outra pessoa

11 – mente com frequência para obter ganhos ou favores ou para evitar obrigações (por exemplo, vigariza os outros)

12 – furta objetos de certo valor sem confrontação com a vítima, por exemplo, furto em lojas, mas sem partir ou forçar a entrada, falsificação

- Violação grave das regras

13 – com frequência permanece fora de casa de noite apesar da proibição dos pais, iniciando este comportamento antes dos 13 anos de idade

14 – fuga de casa durante a noite, pelo menos duas vezes, enquanto vive em casa dos pais ou em lugar substituto da casa paterna (ou uma só vez, mas durante um período prolongado)

15 – faltas frequentes à escola com início antes dos 13 anos

B – A perturbação do comportamento causa um défice clinicamente significativo no funcionamento social, escolar ou laboral

C – Se o sujeito tem 18 anos ou mais, não reúne os critérios de Perturbação Anti-Social da Personalidade

TIPO EM FUNÇÃO DA IDADE DE INÍCIO:

312.81 – Tipo início na segunda infância antes dos 10 anos, início de pelo menos uma das características de Perturbação do comportamento

312.89 – Perturbação do comportamento início não especificado: a idade de início é desconhecida

GRAVIDADE:

- Ligeira – poucos ou nenhuns dos problemas de comportamento para além dos requeridos para fazer o diagnóstico os problemas de comportamento só causaram pequenos prejuízos aos outros

- Moderada – o número de problemas de comportamento e os efeitos sobre os outros entre «ligeiros» e «graves»

- Grave – muitos problemas de comportamento que excedem os requeridos para fazer o diagnóstico ou os problemas de comportamento causam consideráveis prejuízos aos outros

Comportamentos destes e outros, merecem atenção, avaliação psicológica e acompanhamento, antes que evolua para situações mais complexas. São muitas vezes percebidos como rebeldia, típicos da pré ou adolescência, má educação,  falta de regras, e outros, mas na verdade, pode ser causa de problemas emocionais mais graves.  

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