Número total de visualizações de páginas

domingo, 10 de outubro de 2021

Acordar melodioso

 


         



 Pintado por Lara Rocha no livro de terapia para adultos 



  Era uma vez um dia muito cinzento, com nuvens pesadas, escuras, e pingas sempre a cair. Estava prometida uma tempestade. 

       A Nicas, estava deitada com uma carantonha que chegava quase à porta do quarto, de tanta tristeza, porque já chovia há vários dias, e ela tinha-se zangado com a sua melhor amiga por causa de um motivo sem importância, apenas birra e casmurrice das duas. 

        Andava sonolenta, e cinzenta como o tempo. Estava ainda enrolada nas toneladas de roupa da sua cama, quando de repente ouviu qualquer coisa a bater na janela. 

- O que é isto? Não deve ser nada de especial. 

         Outra vez. 

- Outra vez? Parecem pedrinhas? Mas não está a saraivar. Será alguém a atirar pedrinhas para ver se eu abro? Mas não vou abrir. Nem vou ver quem é. Não me apetece ver gente, nem sair da cama. 

        Mais batidinhas. 

- Que coisa chata! 

        Levanta-se toda nervosa, pronta a gritar, espernear ou o que fosse preciso para despejar toda a sua raiva. Começa a abrir um bocadinho a persiana do quarto, e quando ia começar a disparar palavras agressivas, viu um passarinho a dar bicadinhas no vidro, ficou sem palavras. 

        Era tão bonito, ela nunca o tinha vista. As penas tinham uma variedade de cores que nem era possível contar, cada qual a mais bonita. O passarinho parecia que estava a falar com ela. 

Ao ver aquele ser que parecia frágil, passou-lhe logo o mau humor, abriu a janela, o passarinho tremia como uma vara verde, estava cheio de frio, com medo e encharcado, piava muito baixinho, quase não se ouvia. Sentiu pena dele, tocou-lhe a medo, mas o passarinho caiu de barriga para cima. 

- Óh, coitadinho...deve estar doente. 

        Pega nele, delicadamente, o coraçãozinho dele saltita, parece estar com falta de ar. Ela enrola-o numa toalha, dá-lhe um bocadinho de água, liga para um veterinário, e leva-o. O veterinário seca-o, limpa-o, examina-o, dá-lhe uns medicamentos, e diz à Nicas o que tem de fazer, se quiser ficar com o passarinho. 

        A Nicas, segui e cumpriu tudo o que o veterinário indicou. O passarinho foi melhorando, a Nicas alimentava-o, dava-lhe de beber, fazia-lhe mimos, falava com ele, agasalhava-o, e ao fim de alguns dias, o passarinho estava novo.                                              

Nicas deliciava-se com as cores das suas penas, ele cresceu e as penas ainda ficaram mais vistosas. 

Arranjou-lhe uma gaiola no seu quarto, confortável, sem portas, larga, arejada, com uma cama confortável, cobertores, almofadas de bonecos, e cobria-o carinhosamente, fazendo-lhe mimos, dando-lhe beijinhos, pondo-o a ouvir a mesma música que ela ouvia, e a luzinha de presença não podia faltar.                                               

       O passarinha estava eternamente grato à sua amiga, e para a compensar, numa manhã, quando o sol entrou pela persiana do quarto, o doce passarinho começou a piar, a cantar melodiosamente, de uma forma tão suave para não assustar a Nicas, e ela foi acordando devagarinho, a sorrir, pensando que estava a sonhar com essa melodia. 

- Áh, de onde vem esta melodia? Dos meus sonhos...? Não..., não pode ser...já estou acordada....(ela vê o passarinho com a cabecinha fora da gaiola) Áh, és tu que estás a cantar? Que delícia, uau...

        Aproxima-se, faz-lhe os mimos matinais, ele encosta a cabecinha às mãos dela, ela sorri: 

- Estás a agradecer-me, é, fofinho? Não tens de agradecer. Só fiz o que achei que devia fazer. Não podia deixar-te assim, naquele estado, nem pensar, Só se fosse um cubo de gelo, Aqui em casa todos gostamos muito de ti. 

        Ela abre mais a persiana. 

- Olha, hoje temos sol! Olha que bonito, aquelas gostas da chuva da noite penduradas...e aquelas nas pétalas...com o sol a dar, parecem brilhantes! Já tinhas visto muitas vezes, não? Vamos tomar o pequeno almoço, e passear, que dizes? 

        Ela tem longas conversas com o passarinho, e este responde com o seu chilrear. Os dois vão passear, e o passarinho mostra-lhe coisas que ela nunca tinha visto, dá espetáculos de dança em voo com outros passarinhos.                                                                 

        Nicas segue os seus bailados, com os olhos e com a cabeça, parece que hipnotizada com tanta beleza, aplaude, sorri, ri, tanta cor, tanto movimento, tanto chilrear. Que lindo! Depois do passeio, voltam para casa, e Nicas arranjou um grande amigo! Para ela e para toda a família que também acha o passarinho muito bonito, e ajudam-na a cuidar dele.      

        Para retribuir o cuidado, o passarinho dá concertos, e espetáculos de canto com outros pássaros, a cantar e a dançar, os da casa aplaudem, fotografam, e ao ver aquelas belezas, descansam os olhos, a mente de tanto stress do dia a dia.                             

        O passarinho passa a ser um membro da família, e o despertador melodioso, relaxante, suave de toda a família, pois ia de quarto em quarto, chilrear delicadamente, aumentando de tom mas sempre bonito.                                                      

        Todos acordavam relaxados, bem dispostos e com um sorriso, prontos para lidar com o dia, que quando terminava lá estava o passarinho e os amigos para o presente...do bailado e dos cantos. 

E vocês? 

Já foram acordados por passarinhos? Gostaram?

Como imaginam este passarinho? 

                                                                         FIM 

                                                               Lara Rocha  

                                                                                                                                                  10/Outubro/2021 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras