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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

AS MÃOS ENRUGADAS


        Era uma vez uma senhora de muita idade, que vivia sozinha na sua casa pequenina, uma vivenda com quintal à frente e jardim atrás, onde ela gostava de passar o dia, com o sol. Ficava num bairro de uma enorme cidade.
A sua melhor amiga era a solidão, uma mulher jovem, parecida com ela, que ela conheceu há muitos anos, e viviam na mesma casa. Essa jovem não envelhecia.
As duas conversavam durante longas horas, passeavam juntas e riam e choravam. Um dia, a jovem solidão desapareceu sem dizer nada.
A pobre senhora procurou-a desesperada, por toda a casa, fora de casa, e entre as plantas:
- Solidão…solidão…onde estás? Foste-te embora, e deixaste-me aqui sozinha? E agora, o que vai ser de mim…? Não tenho mais com quem conversar!
        Sai a porta a chorar, e apanha um grande susto! Está a linda jovem solidão, cheia de luz, com uns lindos cestos de animais bebés: cãezinhos, gatinhos, coelhinhos, pintainhos, e carneirinhos.
- Voltaste, querida solidão? – Pergunta a senhora velhinha com um sorriso aberto
- Claro. Pensaste que eu ia embora? – Perguntou a solidão a sorrir
- Sim!
- Óh, não…tu sabes que nunca te abandonaria!
- Felizmente…Isso já os meus filhos, netos e marido fizeram…Ia ser muito mau se também tu, minha amiga de tantos dias e tantas horas, fosses embora.
- Óh, não digas essas coisas tão tristes! Sabes que eu não gosto de ouvir isso.
- Óh filha, mas é a realidade.
- Não. A realidade é que estás viva, estás bem de saúde, bem de cabeça, e não estás sozinha. Vais ver que um dia os teus filhos e netos vão voltar.
- Um dia? Quando? Quando a casa estiver vazia?
- Nada disso! Um dia destes. Vais ver. Vá lá…eu fui buscar-te umas prendinhas, não é para te ver chorar…é para te ver sorrir e feliz. (Sorriem) Esquece essas coisas feias e tristes, prometes?
- Está bem…prometo. Aliás, agora que tu voltaste, estou feliz.
        A senhora abre um grande sorriso.
- Olha que maravilha…
        A jovem entrega os cestinhos com os animais, e tem lá uns bilhetinhos. Ela lê:
- Avó: cuida destes bichinhos que te mandamos com muito carinho. Amamos-te. Beijos dos teus netos. O outro papel dizia: Mãe de luz…estaremos juntos muito em breve. Enquanto isso, toma conta destes presentes que nos deram, mas infelizmente não podemos ficar com eles. Até já.
        As mãozinhas enrugadas tremem e juntam os papéis ao coração. Dos seus lindos olhos muito azuis, caem umas lágrimas que parecem cristais transparentes. E da sua boca brilha um enorme e aberto sorriso de felicidade.
- Então? – Pergunta a solidão
- Os meus netos e os meus filhos enviaram-me estes presentes, para eu cuidar…eles não podem ficar lá com os bichaninhos, e diz que voltam muito em breve…
A solidão fica muito feliz, e entrega as cestinhas à velhinha, e dá-lhe um sonoro beijo.
- Ai, que riqueza… - Diz a velhinha feliz
- Eu disse-te que eles iam voltar.
        A velhinha acaricia cada bichinho, deliciada com a maciez do pêlo, e encantada com o seu tamanho.
- Tão pequeninos! Que lindos. Toca-lhes… – Diz a velhinha. (A solidão acaricia-os também) Que bom!
        As duas acariciam os bichinhos e arranjam nuns cantinhos, umas caminhas muito confortáveis para eles. Soltam-nos e dão-lhes de comer e de beber.
- Tu nunca me vais deixar, pois não, solidão?
- Não! Claro que não. Eu gosto muito de ti.
- (sorri) Eu também gosto de ti.
        O tempo passa, os bichinhos crescem, e tornam-se os melhores amigos da senhora, muito meigos, brincalhões, recebem muitos mimos das duas, e são uma companhia maravilhosa.
A senhora vai passear os cãezinhos e os gatinhos, e os outros ficam na sua gaiola. A jovem solidão acompanha-a sempre, e todas as crianças e adultos por quem passa, vão ter com ela, cumprimentam-na, falam alegremente com ela, fazem-na rir, dão-lhe carinhos e brincam com os animais, felizes.
A velhinha nunca mais foi a mesma, desde que recebeu os bichinhos. As suas mãozinhas enrugadas ainda tinham força para pegar nas coisas que precisava, nos animais, e para abraçar e acariciar quem se cruzava com ela, e reparava em si e nos seus animais.
Os animais passaram a ser um atractivo para todos, e assim, a velhinha passou a andar sempre com um sorriso aberto, e uns lindos olhos brilhantes.
Era uma senhora adorada por todos, e respeitada. Sempre que podia ajudava também quem precisava. Chega o Inverno. Numa tarde em que chovia torrencialmente, com neve.
A senhora não sabia quando é que os netos e os filhos iam regressar, mas também só pensava nisso, e ficava mais triste, quando era noite. Rezava sempre por eles, para que chegassem em segurança, e para que estivessem bem.
Sentada à lareira, olhava para as suas mãos enrugadas e relembrava momentos da sua vida…para se distrair e não ficar triste, a solidão distraia-a com conversas e brincadeiras. Também fazia malha, roupas e mantas para os filhos e para os netos, e para outras pessoas que pediam.
Estava ela muito ocupada, quando de repente tocam à campainha.
- A esta hora? Quem será? Ai…eu até tenho medo de abrir.
- Vai…não tenhas medo.
        A senhora levanta-se e assustada pergunta:
- Quem é?
        Do lado de fora respondem em coro muitas vozes:
- Somos nós.
        Ela reconhece as vozes, abre a porta, e que enorme surpresa e felicidade: os filhos e os netos chegaram.
- Olá! – Dizem todos a sorrir muito felizes.
- Avó… - Gritam os netos com um grande sorriso
- Mãe…! – Gritam os filhos da senhora com um grande sorriso.
- Meus amores…! – Grita a senhora muito feliz.
        Trocam muitos abraços e beijos, carinhos e risos. Entram em casa, e vêem os bichinhos, do mais doce que podia haver…tão meigos que se enroscaram logo em todos, e lamberam, abanaram os rabos, como se já fizessem parte da família há muito tempo.
A senhora não cabe em si de felicidade, e enquanto vêem os outros animais e descarregam os carros, ela prepara um chá bem quente, com um sabor delicioso, e oferece uns biscoitos de vários sabores que tinha feito nesse dia.
Todos saboreiam deliciados, conversam alegremente uns com os outros, riem, contam as aventuras todas.
- Mãe: viemos para ficar cá!
- Vamos montar uma casa que compramos aqui mesmo ao lado da tua.
        A senhora abre um grande sorriso de felicidade:
- Óh meus amores…meus filhos e meus netos…vocês são o meu melhor presente! Não sabem como estou feliz…
- Nós também estamos muito felizes. – Respondem os filhos
- Podiam ter dito quando vinham…
- Quisemos fazer-te uma surpresa! – Diz o neto
- Tão lindos. – Diz a Avó
- E os bichinhos como se portaram?
- Óh, maravilhosamente bem…são uma doçura.
        A senhora conta todas as aventuras, e coisas boas que os animais lhe trouxeram. Todos ouvem encantados, e riem. Também contam muita coisa que lhes aconteceu. Ficam a conversar até altas horas da madrugada, com muitas gargalhadas.
        Nesse dia todos foram dormir felizes, e a senhora nunca mais se sentiu sozinha nem triste, porque tinha a sua amiga solidão, mas também tinha os filhos e os netos mesmo ao lado, na casa deles, que estavam sempre lá. Os animais também tiveram direito a uma casotinha muito confortável, e a todo o espaço à frente das casas, no quintal.
        Mesmo com as suas mãozinhas enrugadas, era uma senhora muito activa, simpática, meiga, que adorava companhia, cozinhava, fazia lindos trabalhos à mão, contava histórias aos netos, passeava com eles e com os filhos, levavam os animais a passear, mas principalmente adorava encher todas as pessoas que a rodeavam de carinhos, mimos, beijos, abraços e pequenas lembranças.
        As suas mãozinhas podiam estar enrugadas, mas a sua paixão pela vida era ainda uma criança, tal como a sua felicidade e o seu coração que era tão bom.
FIM
Lálá
(16/Setembro/2014)



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