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sábado, 20 de setembro de 2014

A COROA DO SAPO

        Era uma vez um sapo que vivia num lago com a água toda suja, cheia de ervas daninhas e com um cheiro insuportável.                Todas as pessoas tapavam o nariz e fugiam o mais possível e o mais rápido que podiam. 
Comentavam:
- Que cheiro horrível!
- Ui, que nojo!
- Que porcaria de rio…parece mais um charco!
- Esta água está insuportável.
- Deve ser só bicharocos.
- Que porcaria.
         Outros sapos comentaram:
- A vossa casa deve ser igual!
- Esta gente reclama demais. Fala sempre!
- Nunca estão satisfeitos.
- Estes humanos são mesmo muito exigentes…
      O sapo tinha uma coroa com três pedras amarelas florescentes que brilhavam no escuro. 
    Às vezes, ele mergulhava e só se via as três bolinhas da coroa a brilhar no escuro. Quando mergulhava deixava a coroa de fora para não se molhar. 
      Todas as crianças perguntavam que luzes eram aquelas na água!
- O que é que está ali?
- Que luzes são aquelas na água?
- Parecem pirilampos…ou bichos!
- Deve ser venenoso.
   Uma noite de muita chuva que ultrapassou as margens, levou a água toda suja, as ervas daninhas e o sapo.
    Era tanta água, e ia tão depressa que ele não conseguiu segurar-se. Rodou na água, bateu várias vezes com as patas nas pedras, gritou, tentou segurar-se mas a força da água era maior do que ele.
- Onde é que eu vou parar? Ai…socorro! – Grita o sapo muito assustado
Alguém lhe grita:
- Atira isso que tens na cabeça!
- Não! A minha coroa não!
- Coroa? – Pergunta um casal de sapos
- A tua vida é mais importante que uma coroa, não? – Pergunta uma rã
- Sim, eu tenho uma coroa.
   Agarra-se a uma folha de árvore, mas afunda e a folha desfaz-se. O sapo consegue agarrar-se finalmente a um tronco grosso que tinha acabado de se partir e caiu na água.
- Áh! Estou salvo! E a minha coroa também. – Suspira o sapo.
  Passam uns sapinhos muito pequeninos aos gritos, a rodopiar, o sapo pega neles e põe-nos em cima do tronco. E consegue também salvar os pais dos bebés.
     Entretanto a chuva passou, e os sapos que foram salvos pelo sapo da coroa, quiseram recompensá-lo e levaram-no para um belo lago cheio de água limpa, transparente, e com as bicas de água sempre a correr, nenúfares, e peixinhos, numa casa que mais parecia um palácio. 
    O sapo fica tão feliz, que mergulha na água para se lavar, e depois instala-se confortavelmente num nenúfar e deixa-se levar pela corrente da água. 
      Os outros sapos e sapinhos e rãs seguem-lhe o exemplo.
- Áh! Depois de tanto trambolhão, finalmente descanso. E aqui cheira bem, a água é limpa…!  
- Áh! Que bom!
- Acho que me vou mudar para aqui.
- Eu também não saio mais daqui.
     Enquanto o sapo saboreia aquela paz, uma das filhas vai à janela do seu quarto e vê as três luzes da coroa do sapo.
- Que luzes são aquelas no lago? Não estavam ali! Serão fadas?
     Ela chama a mãe e mostra-lhe. Toda a família sai de casa e vai ao lago.
- Sapos…? – Exclamam todos
         As mulheres e as crianças gritam:
- Ááááhhh…que nojo!
- Tira essa porcaria daí. – Implora a mãe da menina
    O pai pega numa enxada e molha-a na água.
- Óh, sorte maldita! – Grita um sapo nervoso
- Estávamos tão bem. – Grita uma rã assustada
- Porque é que vem mexer connosco…? – Pergunta outro sapo nervoso
- Óh não!
  Os sapos escondem-se debaixo dos nenúfares e atrás da estátua, debaixo da estátua…onde podem.
- Pára, pai. – Grita a menina
- O que foi?
- O sapo tinha alguma coisa diferente…
- O quê?
- Sim…tinha alguma coisa que brilhava.
- Não pode ser!
- Olha.
   A coroa do sapo aparece, e ele olha assustado para a família.
- Pois tem…! – Diz o pai
- Tem uma coroa! – Diz a menina surpresa
- Por favor…não nos faça mal. Acabamos de passar por uma tempestade, e viemos aqui parar sem dar por isso. Temos sapinhos pequeninos que foram arrastados pela corrente, e estão muito assustados. Por favor, deixe-nos descansar só um bocadinho. Assim que estivermos bem, vamos embora. Sabemos que não gostam de nós. Minha senhora linda…com todo o respeito…por favor…sei que tem nojo de nós, mas por favor…deixe-nos ficar só um bocadinho. Temos um aspecto feio, e nojento, mas não lhes fazemos mal, nem somos venenosos. Também não estragamos nada e até podemos protegê-los dos mosquitos.  
     O sapo pede com um tão inocente, tão humilde, que o senhor da casa fica com pena dele. A dona da casa sorri, e diz:
- Mas este sapo é um fenómeno…sim, é tudo verdade o que disseste. Está bem, fica.
- Óh…pobres! Está bem, deixai-vos estar. – Diz o senhor  
- Áh! Que bonito…ele tem uma coroa. – Repara o irmão mais novo
- E brilha no escuro! – Diz o outro irmão
- Áh! Então eram as luzes que eu via na água. – Diz a menina
- Sim, é isso. A minha coroa brilha no escuro! – Confirma o sapo
- Nunca outra vi! – Diz o senhor
- Nem eu! – Diz a senhora
- Mas que giro. – Diz outra senhora
   Os vizinhos apercebem-se de alguma confusão de volta do lago e vão ver o que é. Todos ficam muito surpresos e encantados com a coroa do sapo. 
       Espalham a novidade, e toda a aldeia vai visitar milhares de vezes o lago onde está o sapo da coroa que brilha no escuro. 
    Tiram-lhe centenas de fotos, ele faz alguns espectáculos, recebe muitos aplausos e é simpático com todos.
     O sapo torna-se o centro das atenções e gosta. Mas uns dias depois, começa a ficar cansado de tanta agitação, tantos olhos em cima dele, tantas fotos, tantas vozes…fartou-se da sua vida de vedeta e fugiu. Os outros seguiram-no.
Saltou vários minutos pelos campos, muito depressa sempre a olhar para trás, para ver se estava a ser seguido. 
Não é que ele não gostasse de viver naquela água tão limpa e cheirosa, mas estava já com saudades da sua casa, do seu cantinho, que ainda que não fosse um palácio, era lá que ele tinha o seu cantinho, estava sossegado, e tinha companhia. Quando queria estar sozinho, refugiava-se na sua coroa e os amigos deixavam-no em paz.
Já tinha muitos amigos, e sentia-se feliz naquele sítio. Tinha mais liberdade. Quando chegou lá, teve uma grande surpresa. 
A água já estava limpa, transparente, via-se o fundo, e as pedras, já não havia ervas daninhas, nem mau cheiro, e os seus amigos esperavam-no, já há vários dias, por isso receberam-no numa grande festa.               Ninguém tinha ocupado o seu lugar debaixo da ponte, onde se protegia do frio. 
Uma veterinária muito novinha construiu uma casinha muito confortável e quente, para o sapo, que ela sabia que estava lá. 
Trocam abraços e beijos, festejam, e o sapo volta a ser quem era, feliz e com a sua coroa que brilhava no escuro. 
Ele adorou a sua nova casa, no sítio onde nasceu e sempre viveu.
- Áh! Que bom que é voltar à nossa casinha! A quem nos ama. Obrigado, amigos, e até já.
   Entra na sua nova casa, instala-se confortavelmente, aconchega-se e dorme feliz.
FIM
Lara Rocha 
(18/Setembro/2014)



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