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domingo, 10 de agosto de 2014

Um amor que se vê

Era uma vez uma princesa gigante...tão gigante que só tinha espaço para si, muito lá em cima! Nas nuvens...era gigante e...feia. Adorava andar vestida de preto, pela sua eterna tristeza, e chorava durante longas horas, todos os dias.
            Um dia, a princesa vénus, uma estrela linda, brilhante, luminosa, cruzou-se com a princesa noite e apanhou um grande susto. Deu um grito tão estridente...parecia quase vidros a partir. A princesa noite grita também porque não era costume encontrarem-se.
- Que susto! – Dizem as duas a olhar uma para a outra
- Devo ser ainda mais feia do que aquilo que imagino...! – Comenta a princesa noite
- Eu não disse isso! – Corrige a estrela vénus
- Não disseste porque és delicada e simpática...mas o grito que deste falou por ti!
- Desculpa...não contava contigo! Não costumo ver-te por aqui...!
- É! Eu não ando muito por aqui!
- Porquê?
- Porque...costumo ficar em casa.
- Eu costumo vir sempre dar uma olhadela pela terra.
- Áh! Sim. Eu também ando de noite, para não verem como sou feia.
- Porque estás sempre a dizer que és feia?
- Não vês?
- O quê? Que andas de roupa preta?
- Sim! Eu não tenho nada de bonito. Já tu és tão linda!
- Olha que há muita gente na terra a gostar de ti.
- Há?
- Há.
- A sério?
- Sim.
- Como é que sabes?
- É o que vejo.
- Óh. És mesmo querida!
- É verdade, não estou a dizer isto só para ser simpática.
- Ainda bem.
- Tu andas sempre vestida de preto?
- Ando.
- Porquê?
- Porque sou triste e feia.
- Mas o que é que tem a cor da tua roupa, com a tua tristeza?
- O preto é uma cor triste... sabes, no fundo eu não gosto de usar tanto a roupa preta, mas não consigo usar outra.
- Mas porque não consegues usar outra cor? Não tens ou não queres?
- Porque sou triste! O preto é uma cor triste.
- Depende. Se for tudo preto, sim, dá a impressão de tristeza, mas há tantas cores...alegres...devias usar mais essas cores, em vez de preto, ou misturada com preto, que fica bonito, e assim sentias-te mais feliz.
- Achas que funciona?
- Funciona! Garanto-te.
- Tu também fazes isso?
- Faço.
- Áh! É por isso que és tão bonita e feliz.
- Sim. Eu quero muito ajudar-te...! Posso?
- Sim! Achas que consegues?
- Acho que sim.
- Qual é a tua ideia?
- Vou dar-te um pouco da minha luz, e das minhas cores!
- Mas...como?
- É muito fácil...
- Mas depois ficas sem luz e sem cores!
- Não fico nada. Tenho cores e luz para todos...e quanto mais dou, mais ganho!
- Ai é?
- É!
- Áh! Que lindo...e como fazes isso?
            A estrela bate duas palmas, e milhares de outras estrelas começam a tocar uma série de instrumentos musicais, e vénus começa a mexer-se em todas as direcções ao som das músicas, dança e à medida que se mexe começa a soltar raios brilhantes de luz, cheios de estrelas que se colam ao vestido da princesa noite.
            A princesa noite ganha uma nova energia e uma nova alegria, dançando também com a estrela com um grande sorriso. Fica encantada com a sua nova roupa.
- Mas que linda que estás!
- Óh! Estou mesmo! E estou muito feliz! Muito obrigada.
- E como vês, eu continuo na mesma.
- Sim. E estás mesmo mais brilhante e feliz.
            Entretanto passa o rei sol, tão rápido, que rasga o vestido da princesa noite, de cima a baixo. As duas gritam e abraçam-se.
- Quem é este? – Pergunta a noite
- É o Rei Sol...deve estar outra vez atrasado para ir para o trabalho!
- Mas que bruto! Olha o que ele fez ao meu vestido...! Tu com este trabalho todo e carinho a dar-me estrelas e luz, e este furacão passa, dá cabo de tudo!
- Conheces o Rei Sol?
- Não.
- Chamaste-lhe furacão, pensei que o conhecias!
- Não! Furacão não é um termo nada carinhoso. Os furacões são ventos terrivelmente fortes, que arrasam tudo o que vêem pela frente!
- Áh! Que horror...esses são os teus amigos?
- Não! Nada amigos...tenho muito medo deles!
- Eu não os conheço, mas pelo que tu dizes, também já não quero conhecê-los!
- É. Quando os vires é mesmo melhor fugires!
- Que terror.
- São mesmo.
- Vamos arranjar o teu vestido.
            As duas ficam a arranjar o vestido da princesa noite. A estrela vénus prega mais brilhantes e luzes aos milhares. Quando o sol passa pela noite, está muito envergonhado. A noite vira-lhe as costas zangada. O sol pede desculpa:
- Princesa...perdoa-me! De manhã estava atrasado, que acho que te rasguei o vestido. – A noite não responde – Óhhhh...o que posso fazer para te ajudar...e...perdoares-me?
- Nada! É manteres-te à distância e não voltares a destruir o meu vestido!
- Está bem! – Diz o sol triste. – Mas não te quero ver triste!
            A noite não responde. O sol dá uma volta pelas estrelas e resolve mostrar o seu romantismo. Oferece à noite um saquinho de estrelas, doces planetas, flores da lua, cometas, e lindos anéis de sóis.
            A noite fica tão feliz que perdoa o sol, e tornam-se grandes amigos. Tão amigos que para agradecer...a noite deixava que o sol descansasse no conforto do seu colo, abraçam-se, passeavam, dançavam...e a amizade tornou-se cada vez maior, mais forte, até que não conseguiam viver mais um sem o outro.
            Nasceu entre eles um gigantesco amor, que mesmo trabalhando por turnos encontravam-se muitas vezes por dia, trocavam juntos. Foi assim que se começaram a ver na terra pelos humanos! O seu amor era tão gigante que quiseram servir de exemplo para todos. Mas muitos deles não aprenderam a lição. Uns porque tinham inveja, outros porque nem sequer têm tempo para olhar para o que é tão bonito. Mesmo assim, o mais importante é o amor entre os dois, e a felicidade. O que os outros pensam não lhes interessa.
            Era bom que todos os amores fossem assim, e que se pudessem ver na terra, sem julgamentos ou críticas, em vez de se ver todos os dias a guerra entre iguais.

                                                           FIM
                                                           Lálá
                                               (28/Julho/2014)




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