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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

O violino

Era uma vez um violino que vivia sozinho num campo abandonado. Quer dizer, ele nunca estava verdadeiramente sozinho, durante muito tempo, porque havia pessoas que passavam por esse campo para pensar, meditar e desabafar. Era um campo de solitários. E as pessoas raramente se cruzavam por lá. Iam sempre a horas diferentes.
            O violino foi deixado nesse campo que pertencia a uma casa, agora quase só tinha as paredes. O filho dos donos da casa teve muita pena, mas foi obrigado a deixar o seu violino de quem tanto gostava, porque os pais não gostavam de o ouvir.
            Mudaram de casa, e o violino ali ficou. Debaixo de uma árvore, para não se estragar. A árvore tornou-se a casa dele, e a sua mãe, que o protegia numa abertura do seu tronco, quando estava a chover ou frio.
Além disso, este violino era muito especial: tocava sozinho, não precisava de dedos para tocar nas cordas. Sempre que ia alguém a esse campo, ele tocava melodias de acordo com os sentimentos da pessoa.
Umas músicas eram alegres, outras tristes, outras muito tristes, e outras muito alegres. Ninguém percebia de onde vinha o som, mas gostavam muito. Até pensavam que estavam a sonhar. Ele já tinha aprendido a identificar o que sentiam as pessoas.
Mas o violino também não estava sempre feliz. Muitas noites, o pobre chorava e suspirava de tristeza e de solidão. Pensava no seu amigo humano, e como ele estaria, se sentiria falta dele, se estava a dormir, ou se já o tinha trocado por outro. As melodias que saíam das suas cordas eram tristes, vagarosas, soltas, arrepiantes.
A árvore ouvia o som das lágrimas do violino dentro dela, e ficava com pena dele. Um dia perguntou-lhe:
- Óh violino: que barulho é este?
- Qual barulho?
- Este de água a cair…
- Áh! Desculpa, são as minhas lágrimas. Estou a incomodar-te?
- Não, não! Fica à vontade. Só queria saber o que era…mas…estás triste?
- Sim…
- Posso saber porquê?
- Claro, acho que até tu já sabes…
- Tens saudades?
- Sim, muitas saudades do meu amigo.
            A árvore vê o filho dos donos da casa, mas não diz nada.
- Ele também deve ter saudades tuas.
- Achas?
- Claro.
- Mas nunca mais me veio ver…
- Sabes que agora foi viver para mais longe. Mesmo assim, ele não te esqueceu!
- Não?
- Não.
            O rapaz aproxima-se da árvore, e espreita. Grita:
- Estás aqui, amigo?
            O violino estremece, a árvore sorri. Os dois olham-se, dão uma gargalhada e um abraço longo e apertado.
- Óh…que bom ver-te outra vez! – Diz o rapaz sorridente e feliz
- Eu também…já tinha tantas saudades…estava mesmo a pensar em ti.
- Vou mudar-me para aqui.
- Mas…
- É. Não consigo viver longe de ti…como não te posso levar para a minha casa, venho eu para aqui.
- Mas…
- É isso mesmo!
- A casa dele, é a tua casa, sempre que precisares…rapaz! – Diz a árvore
- Muito obrigado! – Diz o rapaz a sorrir
- Entra…está frio. – Diz o violino
            Os dois abraçam-se outra vez, e trocam carinhos. Têm uma longa conversa, choram e riem, tomam chá quente, e adormecem quase de manhã. O rapaz deita-se no saco cama e dorme abraçado ao seu amigo violino.
No dia seguinte, o rapaz toca o dia todo, e chama muita gente para lá, porque de noite, enquanto o rapaz dormia, ou ia trabalhar para a cidade, o violino tocava sozinho, ao sabor do vento a passar, das penas das aves que caiam e roçavam nas suas cordas, e mesmo ele sozinho, de acordo com o que as pessoas sentiam.
Os pais do rapaz imploraram que ele voltasse para casa, mas ele disse-lhes que não voltaria sem o seu amigo violino. Então, os pais autorizaram o regresso do violino a casa, e graças a esse regresso, ganharam o filho de volta, e muito dinheiro, com os espectáculos do misterioso violino que tocava sozinho pelas ruas.
Todos o adoravam, e realmente, ele tocava maravilhosamente bem! Mesmo sozinho. O rapaz nunca mais se separou dele, e os pais passaram a adorá-lo, porque as músicas que ele tocava, eram melodiosas, transmitiam paz, e alegria.   

FIM
Lálá

(20/AGOSTO/2014) 

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