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domingo, 11 de agosto de 2013

A CONCHA DE LUZ

foto de Lara Rocha 

            Era uma vez uma praia paradisíaca, selvagem, onde ainda nenhum ser humano tinha entrado, pois o seu acesso não era fácil, e era um caminho muito perigoso. Nesta praia de areias brancas e águas limpas, transparentes, apenas viviam os animais marinhos, e animais voadores como gaivotas, borboletas, águias, e pássaros. Aqui havia sol, sombra, paz e silêncio.
        Uma tarde de muito calor, uma mulher de rara beleza, misteriosa, e com poderes especiais, conseguiu pousar naquela praia, na qual já tinha reparado há muito tempo, mas ainda não tinha visitado. Esta mulher vivia numa gruta de uma montanha muito alta, com a sua família porque teve de fugir da aldeia onde vivia, por causa dos seus poderes.
Todos os habitantes tinham muito medo dela, e da sua família, mas na verdade eles não faziam mal a ninguém. Apenas tinham uma sensibilidade extra, para fenómenos naturais que assolavam muitas vezes a aldeia.
Eles sentiam as mudanças climáticas, daí que pensassem que eles eram feiticeiros e até diziam que a culpa era deles, por isso, foram expulsos. Tinham fugido, mas viviam felizes na montanha…lá tinham tudo o que precisavam, até televisão, viviam em paz, produziam alimentos, tinham muita água, animais e raramente precisavam de descer à cidade.
A linda mulher ainda jovem, sentia que precisava de ir a essa praia…alguma coisa mais havia, para além da sua curiosidade de conhecer a praia. Estava maravilhada com o espaço…e foi-se refrescar nas águas. As sereias que por lá vagueavam e brincavam com os golfinhos, ficaram deliciados com a sua beleza. Mas viam de longe…
- Um peixe? – Pergunta uma estrela-do-mar.
- Não…claro que não é um peixe…é…um intruso. – Diz o golfinho branco.
- Intruso? – Gritam todos.
            Os animais ficam numa grande agitação, mergulham e saltam.
- Estes rapazes não podem ver uma mulher…! – Comenta uma sereia de cabelo ruivo.
- Pois! Ficam logo fora deles. – Comenta outra sereia de cauda prateada e azul.
- Até fazem cenas para chamar a atenção delas! – Acrescenta outra sereia de cabelo preto.
- Mas espera aí…é uma…mulher! – Reflete a sereia violeta.
- Sim! – Confirmam todas!
- Não pode ser…! – Murmura a sereia violeta.
- Mas é! – Respondem em coro.
- Como é que ela entrou aqui? – Pergunta a sereia de cauda vermelha.
- Pois…se é uma mulher…! – Pensa alto, a sereia verde.
- Realmente! – Respondem em coro.
- Nunca nenhum humano entrou aqui. – Diz a sereia de cauda cor-de-rosa.
- Pois não! – Respondem em coro.
- Mas ela tem cara de mulher! – Lembra a sereia de cauda amarela.
- Pois tem! – Respondem em coro.
- E é muito bonita! – Comenta a sereia de cabelo preto.
- Sim! Muito bonita! – Confirmam todas.
- Será que é uma sereia como nós? – Pergunta a sereia azul-marinho.
- Não parece! – Respondem em coro.
- Ela não é uma mulher qualquer…como as outras. – Repara a sereia gota.
- Não? – Perguntam em coro, surpresas.
- Não! – Respondem a sereia gota.
- O que é que tem de diferente das outras? – Pergunta a sereia de cauda cor-de-rosa.
- Ela é especial de certeza! Se não fosse…não teria entrado aqui! – Explica a sereia de cauda cor-de-rosa.
- Mas o que é que tem de especial? – Pergunta a sereia de cauda prateada e azul.
- Não sei explicar, mas sinto algo de muito diferente! – Explica a sereia de cauda cor-de-rosa.
- Mas de bom ou mau? – Perguntam todas.
- Bom! Muito bom! – Responde a sereia de cauda cor-de-rosa.
            Debaixo de água, lá, onde moram as sereias, vive Mara, uma sereia igualmente misteriosa e mágica, que está atenta a tudo.
- Huuummm…uma mulher especial? – Pergunta-se enquanto vê a praia – Sim, se entrou aqui é mesmo especial! Vou ter de te fazer um teste…! É linda! Muito linda! Nunca a tinha visto por aqui. O que será que vens cá fazer? Áááááhhh…espera aí…eu conheço-te! Mas…de onde?
            A rapariga misteriosa volta a sair da praia, e regressa para a sua casa da montanha. Nessa noite, ela não consegue dormir, e sai silenciosa de casa, para a praia. Ao chegar à praia, só se ouve o barulho do mar.
- Talvez agora consiga ganhar sono! Não sei o que se passa comigo hoje. Parece que estou agitada…mas não há razão nenhuma para tal! – Murmura a rapariga.
            Debaixo de água, a sereia Mara sente a presença da rapariga, e vai silenciosa até à superfície da água, e daqui vê a mulher linda, cheia de luz, e sorri:
- Uau! Que luz maravilhosa! Sim…és mesmo especial…és tu…sim…és mesmo tu…eu sabia que te conhecia de algum lado! És aquela que apareces muitas vezes nos meus sonhos! Boa! Agora vou ser livre, feliz…!
            A sereia dá um mergulho, olha-se no espelho, e no espelho aparece um bebé lindo, a sorrir. Ela estende os braços, pega no bebé carinhosamente, envolve-o, nos seus braços, e este fica cheio de luz. Marisa coloca-o numa linda concha enorme, e leva-o para a superfície. Pousa a concha na água, e as ondinhas levam-no para a areia, fechada, juntando-se com outras conchas.
- Vai…! Estaremos sempre juntos! – Diz a Marisa ao bebé.
            E a rapariga olha para a praia toda, e vê uma luzinha na areia. Caminha em direcção à luz e ajoelha-se.
- O que é isto? – Pergunta a rapariga muito surpresa. – Uma concha enorme, cheia de luz!
            Olha em volta, e tenta tocar na concha, um pouco a medo.
- Nunca vi uma concha assim! Que linda! – Diz a rapariga a sorrir.
            Marisa aprecia da água, a sorrir.
- Abre! – Diz Marisa.
            A rapariga ouve-a, e abre a concha. Nem quer acreditar no que vê, quando a abre. A luz aumenta e aparece o bebé sorridente, lindo…
- Áááááhhh…! O que é isto? – Pergunta a rapariga.
- Um bebé numa concha. – Responde Marisa.
- Sim, é um bebé cheio de luz…mas…numa concha…porquê? 
- É para ti…- Responde Marisa.
- Mas, eu não pedi nenhum bebé! – Diz a rapariga.
- Esse bebé fui eu que criei.
- E porque o deixaste aqui? Devia estar contigo!
- Não! Eu não posso ficar com ele!
- Aparece por favor…preciso de te ver.
            A sereia Marisa aparece. 
- Áááááhhh…és uma sereia? – Pergunta a rapariga muito surpresa.
- Olá mulher linda de luz! – Diz Marisa.
- Olá! Chamo-me Lúcia…
- Eu sou Marisa.
- És uma sereia?
- Sim! E tu uma mulher linda de luz.
- Obrigada (sorri) Como é que sabes que tenho luz?
- Eu vi.
- Tu também és muito bonita. Mas…o que significa isto?
- Esse bebé é para ti.
- Mas…se ele é teu, porque tenho de ficar eu com ele?
- Ele não é meu filho, mas esse bebé faz parte dos meus sonhos, e tu apareces muitas vezes nos meus sonhos, por isso ele é para ficar contigo!
- O quê?
- Eu e tu somos almas gémeas! Já ouviste falar?
- Sim! Também tenho algumas nos meus sonhos e à minha volta! Mas como é que sabes que somos almas gémeas? Eu nunca sonhei contigo!
- Tenho a certeza que és tu…sinto a tua luz e a tua energia, é a mesma que sinto agora! Fazes-me companhia, proteges-me…esse bebé é a minha libertação para o mundo fora do mar!
- Sim, eu também não conheço todas as minhas almas gémeas, mas nos meus sonhos aparecem muitas, e sinto-as no real.
- Pois! É o que acontece comigo. Tu tens de ficar com esse bebé!
- Mas, ele é teu filho…e os filhos não se dão assim.
- Não! Ele é parte de mim, mas não é meu filho…sou uma sereia. Este é um bebé de luz, tem de ser libertado! A luz dele não pode ficar debaixo da água. Um bebé de luz só pode andar livre, com alguém muito especial.
- Mas este bebé é real!
- Não! Parece de carne e osso, mas tu viste a luz dele.
- Sim, era ele que estava na concha. E eu vi a concha cheia de luz.
- Ele é muito especial. Nem todos o verão, mas levas a concha e só te peço para andares sempre com ele. Ele é a forma de nos comunicarmos e de estarmos juntas. Eu quero conhecer o sítio onde vives. Ele dará sempre luz…sempre que abrires a concha.
- Mas eu posso vir aqui também, não posso?
- Claro que sim! Até porque ainda ninguém tinha conseguido entrar aqui, mas tu entraste, por isso és mesmo especial.
- Obrigada…está bem, eu fico com a concha e com ele.
- Muito obrigada!
            As duas têm uma longa conversa e riem muito. Passeiam pela praia até de manhã. As sereias cantam felizes, e dançam alegremente, junto dos golfinhos. As duas vêem, e aplaudem maravilhadas! Na manhã seguinte, a Lúcia leva a concha que Marisa lhe ofereceu, para casa com o bebé.
A partir deste dia, ela e a sereia tornam-se amigas inseparáveis e através do bebé da concha passam horas a falar uma com a outra, mostram coisas bonitas do sítio onde vivem, e partilham alegrias e tristezas.
As sereias e os golfinhos vêem muitas vezes três luzes a passear pela praia, lindas e puras, que transmitem paz e boas energias. A praia das conchas tornou-se assim ainda mais especial.
Pessoas de luz atraem-se, é por isso que umas vezes gostamos de certas pessoas logo da primeira vez que falamos com elas ou que as vemos, e outras nem tanto, ou mesmo nada…nem conseguimos estar próximas.

FIM
Lálá
(30/Julho/2013)


            

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