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quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Uns comprimidos muito especiais

Era uma vez dois jovens irmãos: um rapaz e uma rapariga que viviam numa floresta maravilhosa. À primeira vista, pareciam pessoas normais, iguais às outras, e eram…mas tinham poderes especiais. Eram sensíveis e muito bondosos, sempre que viam na sua bola de cristal que alguém precisava deles, lá iam. Geralmente iam os dois.
         Um dia, Hugo viu na bola de cristal uma senhora de muita idade, que vivia sozinha, isolada na cidade, e aparentava estar doente. Chama a irmã, muito aflito:
- Diana…anda cá ver isto…!
         Diana assusta-se e vai ter com ele.
- O que foi…? Alguma urgência?
- Sim. Há uma senhora com muita idade, que vive sozinha num apartamento, na cidade, e parece estar doente. Vamos lá vê-la de perto?
- Sim, claro.
- Vê aqui…
         Hugo mostra a bola à irmã.
- Sim, pois está! Vamos…
- É melhor avisarmos aqui em casa.
- Sim.
         Os dois vão à cozinha e informam os pais. Dão a mão, para reforçar as energias, e vão para a cidade.
- Viste onde ficava, Hugo?
- Vi. Eu sei onde fica.
- Olha, e como é que vamos entrar no apartamento da senhora? Será que ela pode levantar-se para abrir a porta?
- Achas…? Com aquela idade…? Não. Entramos pela porta da cozinha…nas traseiras da casa onde é a cozinha.
- Áh! Já andaste lá a ver isso tudo…
- Claro!
         Os dois entram sem serem vistos, tal como Hugo tinha identificado. A senhora está a gemer, e muito triste.
- Boa tarde, Avó…precisa de alguma coisa…? – Pergunta Hugo.
- Ai…! – Diz a senhora.
- Dói-lhe alguma coisa? – Pergunta Diana
- Ai…dói-me tudo…! Acho que cheguei ao fim.
- Não diga isso! – Respondem os irmãos em coro.
- Quer que chamemos uma ambulância ou um médico? – Pergunta Hugo
- Não…! Ai…aqui…estou melhor. – Responde a senhora.
         Os dois ajudam a senhora a levantar-se, e sentam-na carinhosamente no sofá, ficando um de cada lado. Hugo dá a mão à senhora, e Diana abraça-a.
- Olhe, diga-me como se chama… - Pede Hugo.
- Ai…não sei…esqueci-me… - Diz a senhora.
- Não faz…! – Respondem os dois.
- Tem família aqui perto? – Pergunta Diana
- Não…eu não tenho ninguém…até o cão…desapareceu. – Diz a senhora muito triste.
- Tinha um cão? – Pergunta Diana
- Tinha…muito bonito…não sei o que lhe aconteceu. – Responde a senhora.
- Quer um copinho de água? – Pergunta Diana
- Ai…filhos…não se preocupem comigo…eu não quero dar trabalho. – Diz a senhora.
- Não dá trabalho nenhum! – Respondem os dois.
         Diana vai encher um copo de água para a senhora. Enquanto isso, Hugo continua a perguntar à senhora:
- Dói-lhe alguma coisa?
- Ai, filho…dói-me tudo.
- Já vive aqui há muitos anos?
- Sim…!
- Quantos?
- Oitenta e tal… - A senhora bebe a água. Diana volta a abraçá-la.  
         Os dois jovens passam a sua luz para a senhora, e esta, de um momento para o outro, parece que ganha vida, e que até fica mais nova…começa a lembrar-se de tudo, e a sorrir.
Os três falam alegremente, e riem muito. Mais tarde, os dois vão passear com a senhora de braço dado, e ela está muito mais feliz, cheia de energia e alegria, sorri, conta anedotas e histórias, que deixa os dois irmãos maravilhados. A senhora prepara um lanche apetitoso para os três, está como nova, já nem lhe dói nada, e fala com eles alegremente. Eles riem. Ao fim da tarde…
- Desculpem, meus anjos…se me dão licença…vou descansar um bocadinho.
- À vontade! – Respondem os dois.
- Amanhã vimos visitá-la outra vez…está bem? – Pergunta Hugo.
- Claro, meus amores…sempre que quiserem. Estou tão feliz…e já nem me dói nada. Nem sei como vos agradecer…fizeram-me tão bem…! – Diz a senhora.
- Que bom! – Respondem os dois a sorrir
- Ficamos muito felizes por isso. – Diz o Hugo.
- Vocês os dois são uns anjos…e como é que sabiam que eu precisava de alguém…? – Pergunta a senhora
- Nós…íamos a passar por aqui, atrás e ouvimo-la…! Como tinha esta porta aberta…entramos. – Diz Hugo
- Áhhh! Muito obrigada…se fossem outros quaisquer…não me ouviam, ou até me fariam mal. E o que é que são um ao outro…? Namorados…? Marido e mulher…? – Diz a senhora.
- Não! Irmãos. – Respondem em coro.
- Irmãos?
- Sim! – Respondem a sorrir.
- Ááááhhh…não são muito parecidos…! E moram aqui perto? – Sorri.
- Sim! – Respondem a sorrir
- Bem, filhos…mais uma vez muito obrigada. – Responde a senhora.
- Não precisa de companhia agora para a noite? – Pergunta Hugo?
- Não, filho…já estou habituada…é muito triste, mas também…como já estou a dormir…nem percebo que estou sozinha. – Diz a senhora a rir.
- Amanhã então voltamos…aliás…até lhe deixamos um contacto, e se precisar chame-nos, a qualquer hora. Combinado? – Diz Hugo
- Não vos vou estar a incomodar… - Diz a senhora.
- Não incomoda nada. – Respondem os dois em coro.
         E dirigem-se para a senhora. Trocam abraços e beijos, e sorrisos com a senhora, e saem. No dia seguinte, voltam a casa da senhora, com uma surpresa…um lindo cãozinho, pequenino, muito meigo. A senhora fica muito feliz, abraça e beija e acaricia o cãozinho, carinhosamente e deliciada, abraça e beija os jovens, e passam mais uma tarde fantástica com ela. Desapareceram-lhe as dores, e está muito feliz, com a presença dos jovens e do cãozinho.
- Meus queridos…a vossa presença e o vosso carinho são melhores que muitos comprimidos…vocês são seres muito especiais. – Diz a senhora muito contente.
         Os dois sorriem.
- É um remédio fácil, gratuito, sem químicos, e muito poderoso… - Diz Hugo a sorrir.
- Sim, é mesmo filho. Tenho de vos recompensar. – Diz a senhora.
- Nem pense nisso. – Dizem os dois.
- Fazemos isto com todo o coração! – Diz Diana.
- Sim, filha…eu sei, mas merecem ser recompensados…hoje em dia já quase não se encontra pessoas como vocês…os jovens estão muito maus, sem respeito nenhum pelos mais velhos…! – Explica a senhora.
- Sim, tem razão, mas estamos nós os dois aqui, e somos diferentes, mas temos todo o gosto em fazê-lo! E não é para recompensas…a melhor recompensa que podemos ter…já recebemos…que é vê-la bem, feliz, com saúde e alegria…e fresca…! – Diz Hugo.
- Sim, e estou mesmo…graças a vocês…ganhei anos de vida. – Diz a senhora.
         E a partir desse dia, vão visitar a senhora todos os dias, e ela nunca mais se sentiu sozinha, nem doente. Esta senhora e muitas outras que vivem sozinhas. Há coisas que não se curam com medicamentos…como a solidão, o abandono, o isolamento, a tristeza… Para as dores emocionais, os melhores medicamentos não são os químicos…são: uma simples presença doce de alguém, um carinho, um passeio, uns abraços, umas mãos que segurem nas deles, um simples sorriso, a escuta, uma partilha, umas conversas, e umas gargalhadas… a atenção, a dedicação, a lembrança…uma pequenina oferta…é fácil e é barato…faz bem a toda a gente, rejuvenesce, devolve a saúde, a energia, a alegria de viver, o sentimento de pertença e de utilidade…tão importantes para os que têm mais idade, e todos ficam a ganhar.

FIM
Lálá
(20/Agosto/2013)


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