Número total de visualizações de páginas

domingo, 11 de agosto de 2013

O PIRILAMPO E A SUA LUZ

      
     Era uma vez uma enorme montanha onde havia um castelo. Nesse castelo viviam reis, rainhas, príncipes e princesas, bobos, empregados e guardas. 
   O castelo tinha enormes e lindos jardins, cheios de lindas flores, de todas as cores, tamanhos e espécies que atraíam muitos animais como lindas borboletas, passarinhos e pirilampos.
      Havia muita gente da cidade, e da aldeia, que fazia longas caminhadas para a montanha, não só para apreciar a encantadora paisagem, mas também para conhecer e cumprimentar os habitantes do castelo, e alguns tentavam conquistar as princesinhas, mas sempre sem sucesso.
As princesinhas eram ainda muito novas, aceitavam os presentes, agradeciam, mas não gostavam de nenhum pretendente…ainda nem sequer pensavam em casar. Para elas não podia ser qualquer um! Eram princesas, e muito exigentes.
Uma noite quente de Verão, com um vento quente e uma lua cheia enorme, mágica, que iluminava toda a montanha…quase como se fosse o sol…sobrevoava por lá, um novo visitante que vinha de outro jardim. Um lindo pirilampo. 
Ele nunca tinha ido ao jardim do castelo, mas tinha imensa curiosidade em saber como era, quem vivia lá, e queria também conhecer as princesas.
O pirilampo voa devagar, plana no ar, e olha para todo o lado.
- Ei…tantas luzes ali no fundo da montanha! Ali…em alguma luz deve ser o jardim onde vivo…pelo menos…aquelas luzes são-me familiares. Isto é tão alto! Aqui em baixo…estão mais pirilampos…tanto espaço! Isto é tudo deles? Ei…que sorte! Aqui o ar é muito diferente do ar que há no jardim onde vivo! (Inspira e expira) Muito mais agradável…os cheiros… (inspira e expira) são muito mais agradáveis…muito melhores. Áááááááááhhhhhhhh….que agradável!
   Percorre janela por janela, devagar, encantado, espreita, mas não consegue ver nada.
- Porque é que não vejo nada? Áááááhhh…se calhar…estão de olhos fechados…ou têm as janelas fechadas! Não…talvez…ainda não estejam nos quartos.
       Continua a sua visita pelo enorme castelo, espreita tudo o que pode, cumprimenta os outros pirilampos, e de repente vê-se luz nos quartos das princesas. O pirilampo sorri e diz:
- As princesas devem ir deitar-se!
          E espreita pelas janelas acesas.
- Áááááhhh…tantas princesas! Que lindas.
       Mas a pouco e pouco as janelas fecham-se rapidamente, e o pirilampo não vê todas…só consegue ver de fugida as primeiras.
- Óhhhh…porque não deixam as janelas abertas? Está calor…podiam dormir com as janelas abertas…Áááááhhh…que pena! Bem…amanhã venho mais cedo, para ver as princesas mais de perto.
         Há uma janela que tem a luz acesa, mas não se fecha.
- Óóóóhhh…! Uma janela aberta, e luz acesa…! Boa…!
    E dirige-se para a janela, com a sua luz apagada para não ser visto. Espreita pela janela e vê uma linda princesa…uma menina de oito anos, de cabelos escuros e compridos, com cara de boneca, chamada Maria Luísa, veste o pijama, e a sua aia, apaga a luz e abre a janela.
- Boa Noite, pequenina…se tiveres frio, fecha a janela! – Diz a Aia.
- Está bem! Dorme descansada! Boa Noite – responde a Princesa.
        A Aia sai do quarto, e a menina vai à janela.
- Áááááhhh…está uma Lua tão bonita! Enorme!
   O pirilampo olha para a princesa de luz apagada, mas fica tão encantado que a sua luz acende-se e pisca, pois o seu coração bate muito depressa:
- Óh…que linda! Ai…acho que não me estou a sentir muito bem…ai, ai…apaga-te luz, apaga-te luz…se não a menina vê-te! Ai…nunca vi uma menina tão bonita! Óh…estou gelado…e a tremer…Aiiii…o meu coração vai sair do peito…ai, que medo…óh não…maldito cupido…estúpido…palerma…! Ai, acho que ele acertou-me…ei…que fraca pontaria, cupido desgraçado…e agora…? Se estou apaixonado por ela…não posso…ela é uma princesa, e eu sou um pirilampo…ela nunca vai querer nada comigo! Óhhhh…estou frito! Cupido…tira-me já a seta…! Ou então…transforma-me num príncipe.
E fica envergonhado, tenta esconder-se. O Cupido faz uma grande careta e ri-se às gargalhadas.
- Oh, desculpa…acertei-te? Óhhhh… foi sem querer! (gargalhadas) Não tiro! Nem vou transformar-te em príncipe nenhum.
- Porque me acertaste?
- Já disse que foi sem querer…de propósito…é para te apaixonares…!
- Não me podia apaixonar por ela.
- (ri às gargalhadas) Eh, eh, eh…eu é que sei. (outra careta) A minha pontaria é excelente! – Diz o cupido.
- Nota-se…seu malvado.
- É para aprenderes! – Responde o cupido.
- Aprender o quê? –Pergunta o pirilampo.
- Estás mal habituado…sempre a ser correspondido. – Explica o cupido.
- E as pessoas devem ser felizes ao ser correspondidas, não?
- Quando eu lanço as setas não lanço para casais…para serem sempre correspondidos no mesmo sentimento…as pessoas são livres para escolher por quem se apaixonam e de quem gostam, mas não quer dizer que o outro também se apaixone! Eu não posso mandar nos sentimentos…apenas lanço as setas para despertar, e fazer o coração bater mais forte, entre outras coisas…depois de atirar as setas, com essa função, não tenho mais nada a ver com isso! – Explica o cupido.
- Mas és mauzinho! – Diz o pirilampo.
- Não…não sou nada…sou um anjinho.
- Mas o coração fica triste, se não é correspondido.
- Ficam uns dias…depois passa…e isso torna-os mais fortes. Em breve verás como tenho razão – Responde o Cupido. 
O Cupido ri-se e levanta voo.
- Vê se acertas essa pontaria…ninguém merece sofrer por amor. Já há muito sofrimento. – Grita o pirilampo.
- Eu sei…é por isso que eu atiro setas com amor. – Grita o cupido.
- Envenenadas, queres tu dizer…! – Responde o pirilampo a gritar.
Maria Luísa olha para a janela.
- Que lua tão grande…está mesmo bonita! Quem me dera ter aqui um pedacinho…Uma bolinha com aquela luz…! Espera…além da luz da Lua…há outra coisa a brilhar…O que é que está a brilhar aqui? – Pergunta Maria Luísa ao ver a luz do pirilampo.
- Óh, não…ela viu-me! – Murmura o pirilampo.
            O pirilampo tenta esconder-se, mas a sua luz denuncia-o…e a sua paixão.
- Um pirilampo? – Diz a princesa a sorrir.
- Olá princesa…sim, sou um pirilampo!
- Áááááhhh…que lindo! – Elogia a princesa a sorrir encantada.
- Que linda que és princesinha!
- Obrigada! (sorri) a tua luz está a piscar…? (ri) que engraçado.
- (envergonhado) Áááááhhh…às vezes fica a piscar.
- Gosto muito da tua luz.
- A sério? Obrigado.
- Vives aqui no meu jardim?
- Não…eu venho de outro jardim…ali…onde há muitas luzes! Mas vim passear e sempre tive muita curiosidade em saber como era o castelo que via de lá.
- Áhhh! E gostaste do que viste?
- Sim, é bonito! E o ambiente é muito agradável.
          Os dois têm uma longa conversa, sorriem e riem. Quando a princesa fica com sono diz:
- Amigo…desculpa…eu ficava aqui o resto da noite, a falar e a brincar contigo, mas estou a ficar com sono! O João Pestana anda aqui a rondar.
- É um guarda?
- (ri) Não! É o duende do sono, que me faz dormir.
- Óhhhh…não podes mandá-lo embora ou que se junte a nós?
- Não! Eu não gosto de dormir, mas temos de descansar.
- Sim, eu compreendo! Não faz mal. Vai dormir, princesa…bons sonhos!
- Voltas amanhã? – Pergunta a Princesa.
- Queres que eu volte? – Pergunta o pirilampo.
- Sim! – Responde a princesa a sorrir.
- Está bem, eu volto! – Responde o pirilampo a sorrir.
       A princesa estende a mão para o pirilampo, o pirilampo fica gelado sem luz, porque não sabe o que fazer.
- Ficaste sem luz?
- Aaaaaahhhh…ela volta já!
- Não me beijas a mão? – Pergunta a Princesa Maria Luísa muito surpresa.
- Ááááááhhhh…desculpa…não sabia o que devia fazer…ai, que vergonha.
   A princesa ri e o pirilampo ganha luz novamente. Ele pega na mãozinha da princesa, pousa nas costas da mão e beija-a repenicadamente. A princesa fica encantada com a sua luz e com as cócegas.
- Boa noite, linda princesa! – Diz o pirilampo.
- Boa noite! Obrigada pela companhia. Espera…acompanha-me até ali à cama…por favor!
- Eu posso? – Pergunta o pirilampo surpreso.
- Sim! Sou eu que te estou a pedir!
- Está bem!
      E a luz do pirilampo volta a brilhar mais intensamente. A princesa deita-se e o pirilampo olha para ela, encantado. 
- Que lindo que é o teu quarto, princesinha! Combina contigo! – Elogia o pirilampo.
- Obrigada! Também gosto muito! – Responde a princesa.
- Vou deixar-te dormir, linda princesa!
- Boa noite!
- Boa noite!
        A menina boceja e adormece. O pirilampo fica a olhá-la deliciado e sorri. A sua luz pisca e torna-se mais forte. Está apaixonado! Ouve passos, e esconde-se debaixo da cama da princesa.
     A aia entra e fecha a janela e persiana da princesa. O pirilampo fica com medo de ser apanhado, mas a Aia não o vê e sai em silêncio. O pirilampo sorri e olha mais uma vez para a princesinha, beija-a a medo e levemente, na bochecha, ela mexe-se de olhos fechados, e sai pela fechadura do quarto.
Ele está leve, sorridente e cheio de luz que pisca ao ritmo do seu coração que bate depressa porque está apaixonado. Vai dormir para o jardim, e dentro de umas tulipas que estão meias abertas.
- Boa noite…podes dar-me dormida? – Pergunta à Tulipa.
- Olá pequeno…sim, claro! Entra! – Responde a Tulipa, simpática.
       Ele instala-se confortavelmente, e a princesa não lhe sai da cabeça…deixa-o com um sorriso de orelha a orelha. A Tulipa percebe logo.
- Ai, ai…o pequeno de luz está apaixonado!
       Ele fica envergonhado e quase sem luz.
- Então…não vale a pena ficares envergonhado! Desculpa…eu não tinha nada que me meter…mas é que vê-se a léguas…a tua luz está muito diferente! Mais brilhante, mais forte e a piscar…- Explica a Tulipa a rir...O pirilampo sorri, e volta a dar luz.
- Sim, é verdade!
- Que bom! E quem é a felizarda?
- Não sei se é bom…é uma princesa!
- Óh, que lindo…chamas-lhe princesinha…?
- Não…ela é mesmo uma princesa…aqui do castelo! Está naquele quarto!
        A sua luz volta a piscar, e torna-se outra vez mais forte.
- Uma princesa? De carne e osso? – Pergunta a Tulipa.
- Sim! – Responde o pirilampo.
- Óh…desculpa desiludir-te, mas…não escolheste bem!
- Mas não fui eu que escolhi! Foi o meu coração…- responde o pirilampo.
- O teu coração só respondeu ao que agradou aos teus olhos!
- Sim! Mas porque é que dizes que não escolhi bem?
- Porque nunca vais ser correspondido…! Ela é uma princesa, e tu…um pirilampo…nunca uma princesa vai apaixonar-se por um pirilampo! Até pode gostar de ti…mas não da mesma maneira que tu gostas dela!
- Estás a dizer que eu nunca vou conseguir conquistá-la?
- Não é isso…! O que estou a dizer é que podes ser amigo dela, mas nunca poderás ser namorado dela! Os humanos como as princesas, só podem namorar com humanos, e tu…com outras da tua raça!
- Eu bem desse àquele malvado que tem fraca pontaria…ele disse que não fez de propósito…e que não faz por mal…! – Diz o pirilampo.
- Quem?
- O Cupido.
- Encontraste o Cupido?
- Sim…ele atirou-me uma seta envenenada…!
- Envenenada?
- Sim…eu disse-lhe que ele tinha fraca pontaria, e ainda por cima foi envenenada porque fez-me apaixonar por uma humana.
- Mas não fez por mal…
- Ele diz que não…que só atira setinhas para fazer o coração bater mais forte, mas não sabe por quem essa pessoa se vai apaixonar.
- Pois…aí tem razão! Não é ele que manda no coração…! Podemos ser correspondidos ou não…e a outra pessoa ou ser…não é obrigado a gostar de nós da mesma maneira!
- E agora, o que é que eu faço?
- Agora, querido…é melhor habituares-te à ideia e…ou aceitas a amizade dela, ou mais te vale desaparecer para não sofreres mais e esquecê-la.
- Ai, que trágica!
- Só te estou a abrir os olhos, para não te iludires, nem teres esperanças que ele te vai corresponder.
            O pirilampo suspira.
- Que pouca sorte a minha! É triste ser um pirilampo.
- Óh, não digas isso! És como és! A amizade não tem forma, nem raça, nem sexo…os animais podem ser amigos uns dos outros, e de humanos…e os humanos podem ser amigos de animais e de pessoas, se gostarem deles. Podem ser bons amigos, tu e ela! E às vezes tem muito mais valor, as pessoas tornarem-se amigas, e os animais incluídos, porque assim tornam-se muito mais felizes, desde que não se magoem, nem se desiludam. Às vezes é muito melhor ser amigo verdadeiro do que namorado.
- Óh…porque é que eu tinha de me apaixonar por ela! Ela é tão bonita…tão simpática…tão doce! Será que ela vai querer um amigo pirilampo?
- Claro que sim! Porque não haveria de querer? Tenho a certeza que ela não faz esse tipo de distinções…é uma criança. Tenta conquistá-la como amigo! Mas…agora descansa. Amanhã terás ideias mais claras, e outras melhores.
- É…está bem! Boa noite!
- Boa Noite!
            Nessa noite, o pirilampo sonha que é um príncipe e que conquista a linda princesinha. De manhã quando acorda, gostou tanto do sonho, que parecia tão real, que acorda sorridente, voa da flor:
- Bom dia! Obrigada pela estadia.
- Bom dia! (sorri) Dormiste bem?
- Sim, muito bem…é muito confortável, dormir nas tuas pétalas!
- (sorri) Volta sempre!
         O pirilampo vai lavar-se no laguinho e olha para a sua imagem reflectida na água. Fica muito triste e desiludido, porque estava à espera de se ver como um lindo príncipe, como tinha sonhado, e afinal era um pirilampo.
- Óh…não acredito…! Ainda sou só…um pirilampo…! Tudo não passou de um sonho.
       O pirilampo senta-se na fonte, triste, e deixa cair algumas lágrimas. De repente, aparece o Cupido, a tocar trombeta, a rodopiar, feliz, e a dançar com as borboletas à sua volta.
- Olá…! - Diz o Cupido sorridente.
- Tu outra vez?
- Ei…que tempestade…! (o Cupido e as borboletas riem)
- Não está muito bem disposto… - Diz uma borboleta.
- Eu já o conheço! – Diz outra borboleta.
- Coitadinho! – Dizem as borboletas em coro.
- Está triste! – Diz o Cupido.
- Pois estou…e a culpa é toda tua.
- Minha…? Como? Eu sou o anjinho do amor…não trago infelicidade…
- Ai não…? É só o que trazes! Atiras setas envenenadas…
- Óh, porque dizes isso? O amor não é veneno.
- É veneno sim! 
- Só porque não és correspondido?
- Ora essa…no amor nunca sabemos se vamos ser correspondidos por quem nos apaixonamos ou não…mas é bom sentir amor por alguém…sentir o coração a bater mais forte…ficamos mais iluminados. – Acrescenta outra borboleta.
- Para isso faço um voo mais rápido e fico com o coração a bater depressa, não precisava de me apaixonar…ainda por cima…por uma humana…muito diferente de mim. – Responde o pirilampo.
- Que insensível…! – Diz outra borboleta.
- Porque te estás a lamentar tanto de ser um pirilampo? – Pergunta o Cupido.
- Se eu fosse um príncipe tudo era diferente…! – Murmura o pirilampo.
- Não era garantia nenhuma. Mesmo que fosses um príncipe, não queria dizer que ela gostasse de ti. – Responde outra borboleta.
- Ai…dói tanto. – Suspira o pirilampo.
- Claro que dói…todos nós já sentimos essas dores. – Responde outra borboleta.
- Tu também? – Pergunta o pirilampo.
- Claro! Eu e todos os pirilampos, todas as borboletas, todos os pássaros, todas as pessoas e todos os animais. – Explica outra borboleta.
- Como é que sabes? – Pergunta o pirilampo.
- É o que oiço dizer. – Responde a borboleta.
- Com certeza! – Responde o Cupido.
- Esta dor nunca vai passar. – Grita o pirilampo.
- Claro que vai passar. Todas passam…e ainda vais ter muitas mais dores como essas, ou maiores. Não acredito que nunca te tenhas desiludido ou magoado antes! – Diz a borboleta.
- Que simpática! Claro que já…mas não tanto como esta. – Suspira o pirilampo.
- Já te esqueceste das outras, e ainda bem…mas de certeza que as outras também foram assim. Por acaso sou simpática. – Responde a borboleta.
- Agora não estás a ser nada simpática. Só estás a aumentar a minha dor. – Diz o pirilampo.
- Há dores muito maiores do que essa que estás a sentir. – Lembra outra borboleta.
- Pode haver, mas neste momento só sei da minha, que a sinto. – Responde o pirilampo.
- Claro! Cada um sente as suas à sua maneira. Todos acham que as dores não passam, mas é claro que passam…com o tempo esquecem. – Diz outra borboleta.
- O que é que eu faço…para deixar de doer? – Pergunta o pirilampo muito triste.
- Aceita a ideia que nunca terás a princesa como…uma mulher da tua vida! Lembra-te que ela não sente o mesmo por ti…que o coração dela não bate ao mesmo ritmo que o teu…por isso…nada de muito sério haverá entre vocês! Mas, nada impede que tu e ela sejam amigos! E que brinquem juntos…é muito bom ter amigos…diferentes de nós…desde que nos tratem bem, e nós deles. – Explica o Cupido.
- Como é que eu vou conseguir ser amigo dela, se estou apaixonado? – Pergunta o pirilampo.
- A amizade não implica que se esteja apaixonado…e quem sabe…essa tua paixão por ela, não é paixão! – Explica o Cupido. 
- Como assim? – Pergunta o pirilampo.
- Podes achar que estás apaixonado por ela, porque o teu coração bate depressa…mas…podes estar apenas encantado por ela…e quando a conheceres…quando fores amigo dela…essa paixão, ou encanto…vai transformar-se em amor fraterno…em…carinho…em…coisas muito melhores! Pode parecer-te que estás apaixonado porque ela agradou-te aos olhos, é bonita…mas ela pode não ser como tu imaginas!
- Tenho a certeza que é linda e que é boa pessoa!
- Sim, também não duvido. Mas a amizade não se conquista!
- Conquista sim…não podes chegar à beira dela e dizer-lhe directamente que queres ser amigo dela…elas não gostam disso! Tens de te ir mostrando aos bocadinhos…ser delicado…não a pressiones…mostra-lhe que pode confiar em ti conversa com ela…faz-lhe companhia, e se ela não quiser estar contigo, deixa-a! Ela volta mais tarde, e não quer dizer que não goste de ti!
- Mas sendo amigo dela…não lhe posso oferecer nada! – Diz o pirilampo.
- Porque não? (ri) Só se não quiseres! – Diz o cupido.
- Porque é minha amiga! – Responde o pirilampo.
- E os amigos não podem oferecer coisas uns aos outros?
- Nos anos, e no Natal!
- Não tem que ser só nessas datas…pode-se oferecer sempre que quisermos. Todos gostamos de pequeninos miminhos dos amigos, sejam eles quais forem…e de pequeninas lembranças. Aliás…fora de épocas festivas ainda sabe melhor!
- (sorri) Ai é? Diz-me mais…!
        O pirilampo, o Cupido e as borboletas, têm uma longa conversa. O cupido, e as borboletas, ensina coisas muito importantes ao pirilampo, e este fica mais animado. 
       Ao fim dessa manhã, ele vai para o quarto da princesa e esta já lá não está. Mas de repente entra no quarto e vai à janela.
- Pirilampo…amiguinho…pirilampo… - chama a princesa.
            O pirilampo fica feliz e aparece à menina.
- Olá Bom Dia, princesa!
- Olá! Estás aqui? (sorri)
- Sim!
- Já tomaste o pequeno-almoço?
- Já, e tu?
- Eu também! Não vejo a tua luz!
- Porque é de dia! Mas eu estou aqui…
- Áááááhhh…! Está bem…a tua luz é muito bonita. Todos adoramos pirilampos.
- A sério? (sorri) Obrigado…!
   Os dois ficam à janela a conversar alegremente, e riem até a princesa ser chamada para almoçar.
        De tarde e à noite, voltam a encontrar-se e passeiam pelos jardins, a princesa brinca com os outros pirilampos e assiste a um bailado de pirilampos, maravilhada, aplaude. 
       O seu amigo pirilampo oferece-lhe uma flor, e em troca, a princesa convida-o para dormir no seu quarto, porque gosta muito dele. A princesa prepara-lhe uma cama muito confortável na sua mesinha de cabeceira.
- Ficas aqui, porque eu não gosto nada de escuro…assim…tenho a tua companhia, e a tua luz de presença! – Diz a princesa.
     O pirilampo está mesmo feliz e a sua luz mais forte, mais brilhante e mais pura.
- Óóóóhhh…muito obrigado, querida princesa. Também és muito linda, e gosto muito de ti! – Diz o pirilampo sorridente e feliz!
- (sorri) És o meu melhor amigo.
- (sorri) Tu és a minha única amiga de carne e osso, mas és maravilhosa.
- (sorri) Obrigada. A tua cama é confortável?
- Sim! Não pode estar melhor!
- (sorri) Boa! Se tiveres frio, diz-me que eu ponho-te mais roupa…aqui às vezes é muito frio.
- Está bem! E se alguém vier ao teu quarto…não vão gostar de me ver aqui. Dão-me logo umas chineladas…
- Nada disso! Não te preocupes…eles nem vão reparar que estás aqui!
- Achas?
- Sim!
- Só se eu apagar a minha luz para eles não me verem.
- Óh, não…não apagues a tua luz…é tão bonita.
- Não precisas!
- Está bem…! Eu fico aqui quietinho.
- Eu quero que fiques comigo!
- (sorri) Está bem…estou e estarei sempre aqui contigo!
- Eu sei! Obrigada!
   E desde esta noite, os dois tornam-se verdadeiros e grandes amigos, conversam muito, riem muito, brincam e passeiam, vão a festas, trocam carinhos e pequeninos presentes, e partilham o mesmo quarto. 
      O Cupido e as borboletas tinham toda a razão: a paixão do pirilampo era mesmo…encantamento…gostou da princesinha pelos olhos…e quando se tornou amigo dela…os seus sentimentos tornaram-se mais suaves, de carinho, ternura, respeito…ele gostava da sua presença, da maneira de ser da menina, e era muito feliz com ela, por ser amigo dela, por se divertir tanto com ela, e ter longas conversas. A menina correspondia-o na amizade…no amor fraterno, como se fossem irmãos.
     Acontece muitas vezes com os seres humanos quando conhecem alguém…gostam pelos olhos, mas não sabem conquistar a amizade aos bocadinhos, e quando conhecem, os sentimentos transformam-se…umas vezes…tudo não passa de fogo de vista…daquele primeiro encanto!
    Uma chama que se apaga rapidamente…outras vezes…é o primeiro encanto…começa por uma chaminha pequenina, e vai aumentando…outras vezes é uma chaminha que alastra e apaga tão rapidamente como o primeiro encanto.
      Outras vezes, há o primeiro encanto, seguido da chaminha que aumenta à medida que se conhece, e passa para paixão…que quando se apaga, dói! Outras vezes, há o primeiro encanto, a chaminha…a lavareda que cresce na amizade, e permanece bem acesa…para sempre…ou…até haver desilusão.
Por fim…há o primeiro encanto, a chaminha, a lavareda e a fogueira do amor um pelo outro, dos sentimentos puros e sinceros, do gostar da presença um do outro, do respeito, da companhia, da compreensão, amizade, lealdade, fidelidade, e da felicidade.
A amizade conquista-se aos bocadinhos, sem pressões, sem abandonos, e, ou sufocos…com liberdade, assim como a confiança e o amor. Há muitos tipos de amor, e cada um tem a sua beleza, a sua importância, as suas características.

FIM
          Lálá

                                                                       (2/Agosto/2013)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras