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sábado, 27 de julho de 2013

O PINCEL E AS TINTAS


         Era uma vez um pincel que estava mergulhado na água com um produto, para tirar os pedaços de tinta depois do trabalho. A função dos pincéis é trabalhar…transferir para o papel os sentimentos, emoções e pensamentos, desejos e sonhos…do pintor.
Os pincéis dançam, rodam, sobem e descem, vão para a esquerda e para a direita, fazem círculos, quadrados, triângulos, e formas misturadas, como o pintor decide.
Umas vezes trabalham mais, outras vezes trabalham menos, conforme as ideias do pintor, mas não são nada sem as tintas. O pintor escolhe as cores, mistura, usa uma de cada vez, ou várias de cada vez, o pincel adora acariciá-las, escorregar pelas telas e folhas grandes.
Este pintor estava tão louco, eléctrico que pintou durante toda a tarde, em que chove torrencialmente. Nasceram uma série de quadros nessa tarde, e o pobre pincel estava mesmo muito cansado, ainda via tudo a andar à roda quando parou.
Mesmo depois de tanto quadro, o pintor ainda queria pintar outro, mas não tinha mais ideias. Então, decidiu ir para a varanda da marquise, ver chover, e para ver se ganhava novas ideias. Enquanto olhava para a janela, quase vencido pelo cansaço, instalou-se no cadeirão, cobriu-se com uma manta, e sem dar por isso, o cinzento das nuvens, e a escuridão, tomaram conta dele. Adormeceu e sonhou…
Enquanto o pintor dormia, os dois gatos ficaram no quarto, com o pincel e as tintas, a apreciar os quadros. Tinham ficado todos muito bonitos! Pareciam verdadeiros! Uns eram sobre a cidade: pessoas de guarda-chuva, galochas, candeeiros acesos, cães e gente a procurar abrigos numa correria louca, carros a levantar grandes chafarizes de água e a dar banho aos desgraçados que passavam, pessoas que dormiam na rua…e outras cenas que o pintor tinha visto… Outros quadros eram do mar, e outros quadros do campo.
- Valeu a pena tanta volta! Suspira o pincel.
- Sim! – Respondem as cores, e os gatos.
- Aquele peixe existe mesmo? Pergunta o gato esfomeado, a lamber os bigodes.
- Que peixe? Perguntam todos.
- Aquele que tem um aspecto…Huummm…com aquelas cores: vermelho, azul-escuro, amarelo, cor-de-laranja, branco, preto…e…prateado e dourado…! Descreve o gato.
- Não sei! Respondem todos.
- Se ele o desenhou…existe quanto mais não seja, na imaginação dele. Explica o outro gato.
- Eu nunca vi um peixe assim…também nunca mergulhei no mar ou nos rios, para ver se existe! Responde a tartaruguinha pequenina do aquário.
- Tem um aspecto…Huummm…apetece mesmo espetar ali o dente! Inhame, inhame… Murmura o gato esfomeado.
- Só pensas em comer! Exclama o outro gato.
- Não podes comê-lo…é de papel, e o papel não se come! Explica a tartaruguinha.
- Que pena! Suspira o gato esfomeado.
- Gosto mesmo daquelas cores! Exclama o pincel.
- Olhem: porque não fazemos uma surpresa ao nosso amigo, para lhe retribuir o trabalho que ele nos dá, e assim é também um hino à nossa amizade! Sugere a tartaruguinha.
- Como? Perguntam em coro.
- Fazemos todos juntos, um lindo quadro para ele. Sugere a tartaruguinha.
- Acho muito boa ideia…já somos amigos há muito tempo, estamos sempre aqui, e se não fosse ele, não teríamos nada de interessante para fazermos…ficaríamos a apanhar pó, ou seriamos comidos… - Reflecte o pincel.
- Sim, é verdade…estamos juntos há tanto tempo, e nunca festejamos! Lembra o outro gato.
- Pois! Dizem em coro.
- Mas o que vamos fazer? Pergunta outro pincel.
- Podemos misturar-nos, e juntar os lápis de cor, e os marcadores…os guaches, as tintas de água, a tinta-da-china, as tintas de óleo, as purpurinas… - Sugere o pincel.
- Sim! Respondem em coro.
- Posso participar? Pergunta a tartaruguinha.
- Claro…! Responde o pincel.
- E nós? Perguntam os gatos.
- Também. Responde o pincel.
- Pomos uma musiquinha para nos inspirar. Sugere a tartaruguinha.
- Boa! Respondem em coro.
- É melhor pormos a tela em baixo…- Lembra o pincel.
- Claro! Respondem em coro.
- Já era o que eu ia fazer, para ninguém se magoar ao atirarem-se contra mim.
         A folha branca desliza da tela, e pousa no chão. O pincel salta do frasco, sacode-se, liga o rádio, e todos se preparam. Ao som da música, todos os materiais começam a dançar alegremente, os lápis de cor começam, e cada um, passa pela folha, faz um risco que quer, com os movimentos, acompanhados de palmas dos outros.
Depois, todos juntos, os lápis de cor dançam uns com os outros sobre a folha, e fazem círculos, uns encaixados nos outros, em direcções diferentes.
A estes, juntam-se os marcadores, que encaixam os seus movimentos corporais, nos círculos feitos pelos lápis de cor, em todos os sentidos da folha, com as cores muito bem conjugadas.
Os outros materiais apreciam de fora, e gostam do efeito, mas sentem que falta mais cor. Os guaches, as tintas de água, e as tintas de óleo dançam individualmente com o cavalheiro pincel, e deslizam pela folha…parece que andam de patins.
Juntam-se mais uns pincéis de diferentes espessuras e tamanhos, e dançam com eles nos sítios certos, nas imagens que precisam, e desenham linhas, pontos, traços, pequeninos detalhes que fazem toda a diferença. A tartaruguinha e os gatos também acrescentam uns miminhos onde acham que precisa.
Está um quadro de um verdadeiro artista…a brincar e a dançar, a conviver alegremente, cada um contribuiu para uma obra completa, cheia de pormenores nas imagens…parece tão real! E com umas cores…de sonho! Parece uma fotografia do real. Que lindo!
No final, todos voltam aos seus sítios, limpam-se, e apreciam a obra de cima.
- Uau! Suspiram em coro.
- Está lindo! Elogia o pincel, orgulhoso e sorridente.
- Fomos mesmo nós que fizemos isto? Pergunta outro pincel.
- Sim! Gritam em coro.
- Fantástico! Elogia um gato.
- E nós? Perguntam as purpurinas.
- Áhhh…! Exclamam todos.
- Esquecemo-nos de vocês! Exclama a tartaruguinha.
- Desculpem! Exclamam todos.
- Ainda podem terminar… - Sugere o outro gato.
- Onde? Perguntam as purpurinas.
- Já está cheio… - Exclama outro pincel.
- Ali…no cimo da folha…e no solo… o que vos parece? Sugere a tartaruguinha.
- Sim! Exclamam todos.
         E as purpurinas dão o remate final á pintura.
- Perfeito! Gritam todos.
         Todos aplaudem, orgulhosos, sorridentes e felizes. A folha volta para a tela. Apreciam mais uma vez. Todos os materiais abraçam-se, trocam elogios, dizem o que sentem uns pelos outros…e de repente ouvem barulho na varanda. O pintor acordou. Cada um vai para o seu sítio, como se nada fosse. O pintor olha mais uma vez para a janela, e volta para o quarto.
- Adormeci! Suspira o pintor.
         Quando chega ao quarto vê a linda pintura pendurada.
- Mas… estou a sonhar? Pergunta o pintor.
- Não! Respondem os gatos.
- Ááááhhh…mas…fui eu que fiz isto? Pergunta o pintor, maravilhado com a imagem.
- Fomos nós! Gritam todos.
- Quem fez esta pintura tão bonita…? Pergunta o pintor.
- Fomos nós para te agradecer o trabalho que nos dás. Explica o pincel.
- E foi um hino à nossa amizade! Porque já estamos juntos aqui há muito tempo, e nunca demonstramos carinho uns pelos outros…nunca nos tínhamos abraçado, nem divertido tanto… Acrescenta a tartaruguinha.
- Pois é! Concordam todos.
- Como não estavas inspirado, resolvemos fazer-te esta surpresa. Responde a folha.
- E ficou lindo! Está perfeito… Muito obrigado! Responde o pintor com um sorriso de orelha a orelha.
- Aprendemos contigo! Acrescente o gato esfomeado.
- Acredito! Aprendemos sempre uns com os outros! Responde o pintor.
- Foi muito bom este bocadinho, amigos! Agradece a tartaruguinha.
- Sim! Concordam todos, sorridentes.
- E sabem outra coisa muito importante? Pergunta o pintor.
- O quê? Perguntam todos.
- Cada um de vocês é diferente do outro…cada um tem a sua cor, e o seu material…mas todos juntos fizeram este quadro maravilhosamente lindo, perfeito, cheio de vida! Explica o pintor.
- Tens toda a razão! Concordam todos a sorrir.
- Muito obrigada por existirem! Também não sou nada sem vocês. Preciso de cores, para me dar alegria, e transmitir tudo o que sinto a quem me vê! Agradece o pintor.
- Obrigado amigo! Agradecem todos os materiais.
- Até fiquei inspirado…vou pintar…a gratidão e a amizade…os abraços e o carinho, a dança! ─ Informa o pintor.
─ Boa! ─ Gritam em coro.
─ Lá vamos nos outra vez! ─ Exclama o pincel.
         E o pintor…põe outra vez mãos a obra. Ficou tão feliz com a surpresa que os amigos lhe prepararam, e com a amizade que lhe demonstraram, que surgiram na sua mente, mais quadros…alegres, cheios de cores, acompanhados de música e dança.
─ Com estes quadros, vou mostrar a toda a gente, que não vivemos sem amigos, e que devemos reconhecer o carinho que nos dão, e que temos por eles. Vou mostrar também que sozinhos não somos nada, e que todos precisamos uns dos outros! Vou mostrar ainda que os sentimentos bons e bonitos devem ser mostrados, vistos por todos, sentidos por todos…precisamos de sentir que somos queridos para alguém, e os outros também precisam de o saber. ─ Comenta o pintor, enquanto pinta.
─ E a gratidão também deve existir sempre, em todas as nossas relações e em todos as pequenas coisas que recebemos, que temos…que damos e que retribuímos. ─ Lembra o pincel.
─ Com gratidão tudo fica muito mais bonito, mais brilhante e luminoso. ─ Comenta a purpurina prateada.
─ Com amizade e gratidão…o mundo pode ser melhor. ─ Afirma o pintor.
         E continua nas suas pinturas, feliz e grato.

FIM
Lálá
27/Julho/2013








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