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terça-feira, 24 de março de 2015

QUEM VAI NAS BARQUINHAS?




(fotos de Lara Rocha) 



Era uma vez várias barquinhas que apareceram a navegar num grande lago. Eram amarelas e pareciam muito leves, frágeis. Numas não se via ninguém a conduzi-las.
         Quem via, perguntava:
- Áh! Que barquinhas tão estranhas.
- São muito leves.
- Nem parecem barcas…
- Não levam ninguém.
- Claro que não são barquinhas…são uma coisa qualquer, menos barquinhas.
         Mas nem tudo o que parece é! Estavam muito enganados… pensavam que não levavam ninguém, mas, de repente, viram uma coisa muito estranha, e apanharam um grande susto! Duma das barquinhas levanta-se uma pequenina bonequinha de pano, feita de sementes.
- Ai…! – Gritam todos e encolhem-se, escondem-se atrás de uma árvore.
- O que é aquilo? – Pergunta um gato selvagem
- Onde é que aquilo estava? – Pergunta outro gato assustado
- Nunca vi uma coisa destas… - Comenta outra gatinha
- Nem eu… - Respondem todos
         E ficam em silêncio, muito quietos a ver o que ia acontecer. A boneca olha à sua volta, e boceja:
- Áh! Acho que já cheguei ao lago. (grita) Amiga…cheguei! Onde estás?
         Da outra barquinha levanta-se uma borboleta pequenina, com asinhas finas e leves:
- Olá amiga! – Grita a borboleta com um grande sorriso.
- Estavas aí há muito?
- Mais ou menos…cheguei de manhã cedo, como ainda não estavas aqui, adormeci outra vez.
- Óh! Desculpa o atraso!
- Não! Não te atrasaste, eu é que não consegui dormir bem, com a felicidade de te receber aqui!
- (sorri) Eu também estava em pulgas para te encontrar.
- Estás bem?
- Sim, estou óptima, obrigada. E tu?
- Também! Anda! Vou mostrar-te a minha aldeia. Vamos tomar um belo pequeno-almoço, e passear.
         A borboleta empurra a barquinha da boneca, para a berma, dão um abraço e dois beijos, as duas vão passear alegremente, numa conversa muito animada.   
         Os gatos acompanham todos os movimentos, com os olhos muito abertos, sempre que ouvem as vozes.
- Não acredito… - Comenta uma gata, baixinho
- O que foi? – Perguntam todos, baixinho
- Intrusos…- Dizem todos
- É uma amiga daquela borboleta. – Diz um gato
- Aquela coisa tão pequena é uma borboleta? – Pergunta a outra gata
- Não. O que saltou da barquinha não é uma borboleta. – Confirma a outra gata
- Então? – Perguntam todos
- É uma espécie rara…desconhecida. – Diz outro gato
- Olha que pequena que ela é.
- Pois é. E…acho que não são patas…
- Não. São pernas!
- Pernas? – Perguntam em coro
- Sim, pernas!
- Onde é que a borboleta foi arranjar uma amiga são, tão…estranha?
- Não sei.
         Os gatos continuam a coscuvilhar e atentos a tudo, a tentar descobrir que amiga era aquela. Entretanto, um peixinho que vivia no lago assustou-se com a sombra das barquinhas e vai até à superfície. Fica muito surpreso:
- Nunca vi umas barquinhas assim!
         Ele toca a medo, para ver de que são feitas as barquinhas.
- Ei…isto não é de madeira! É mole e macio… (dá um encontrãozinho) Que leve! Quem usará isto? Afogam-se…! A não ser que sejam…penas, ou…formigas…ou aranhas…e mesmo assim…não sei se aguenta o peso!
         Aparece uma borboleta e pousa noutra barquinha. O peixinho fica muito atento.
- Como é possível? Aquilo aguenta o peso de uma borboleta? Mas…não é de madeira, não percebo!
         Aproxima-se mais da barquinha da borboleta.
- Amiga, desculpa…isso é o teu transporte?
- Sim! – Responde a borboleta
- E aguenta?
- Claro que aguenta!
- Mas…de que material é feito? É tão leve…e…macio…parece ser frágil.
- Sim, é mesmo leve, frágil e macio…não é de madeira, mas aguenta! É feito de pétala de flor! Não aguenta com todos, mas com os mais levezinhos, aguenta.
- Áh!
- Queres experimentar? Mas só podes andar na água, à superfície.
- Está bem…
         O peixinho fica um pouco desconfiado.
- E daí…acho que não confio nisso!
- Amigo…já estás na água.
- Sim…
- Anda lá…salta!
         O peixinho salta para a barquinha feita de pétala de flor, e fica muito admirado porque a pétala aguenta com o seu peso à superfície.
- Uau! Estou à superfície, numa barquinha feita de pétalas.
         Os dois divertem-se muito, brincam um com o outro, mergulham e tocam na água nas barquinhas, e embalados pelas águas ao sabor do vento, adormecem.
         A bonequinha e a outra borboleta sua amiga juntam várias pétalas que pareciam barquinhas, estavam na água, e constroem uma tendinha no solo, debaixo de uma árvore, á sombra, para a pequena dormir, porque vai ficar lá uns dias e a casa da borboleta é muito pequena.
         Nessa mesma noite, o lago é invadido por casquinhas de nozes e frascos de vidro, de onde se vê brilhar, alguma coisa parecida com luz.
         E era mesmo luz…dentro das casquinhas de nozes e dentro dos frascos de vidro, iam centenas de velas que as crianças da cidade acenderam pela PAZ no mundo.
         Todos acordam sobressaltados, porque os cães não param de ladrar, e vêem aquelas luzes todas na água.
- Tantas barquinhas! – Diz a borboleta surpresa
- Por isso é que os cães estão a ladrar… - diz a boneca
- Pois!
- Quem vai nas barquinhas? – Pergunta a boneca
- Áh! Que lindo…tanta luz! – Suspira e sorri a sua amiga borboleta
- É mesmo lindo! Quem os está a conduzir? – Pergunta a boneca
- Ninguém!
- Pois, também não vejo ninguém. Mas eles não andam sozinhos…
- Pois não! Vão guiadas pelo sabor da água e da aragem.
         De repente as barquinhas de nozes e os frascos com as luzes, são seguidos e acompanhados por milhares de pirilampos que ficaram sensibilizados com a causa.
- Onde vai tanta luz? – Pergunta a borboleta
- Haverá alguma festa por este caminho? – Pergunta a boneca
- Vamos perguntar. – Diz a borboleta
         As duas aproximam-se da berma e perguntam a um pirilampo, silencioso:
- Boa noite, amigos! – Dizem as duas
- Há por aí alguma festa? – Pergunta a boneca
- Estamos juntos! – Diz o pirilampo
- Sim, já vi que estão juntos, mas e as barquinhas à vossa frente? – Pergunta a borboleta
- Estamos juntos e solidários… (outro interrompe)
- Pela paz! – Acrescenta outro pirilampo
- As crianças da cidade puseram velas dentro de barquinhas de casca de noz e dos frascos, que vês ali a brilhar, pela paz no mundo! É luz!
- O mundo precisa de toda a luz, e mais alguma, para tanta cabeça maluca! – Diz outro pirilampo
- Tens razão! – Dizem as duas
- Por isso é que juntamos a nossa luz! – Acrescenta outro pirilampo
- É! Pode ser pequenina e fraquinha, mas é luz, e carregada de paz! – Diz outro pirilampo
- O que interessa é a intenção, e a que a nossa luz transporta é muito boa, com certeza, e comum a todos.
- Claro! – Dizem as duas e todos
- Juntem-se a nós…se quiserem! – Sugere outro pirilampo
- Claro! – Dizem as duas.
- Óhhh, mas nós não temos luz! – Repara a boneca
- Não têm uma vela, ou uma lanterna? – Pergunta outro pirilampo
- Podem vir mesmo sem luz, o que interessa é a vossa presença.
- Eu tenho! – Lembrou a boneca
         Vai à sua tenda e tira de lá a lanterna. A borboleta vai buscar outra, e voltam a encontrar-se, seguindo com os pirilampos.
         E chegam ao fim da viagem, onde estão centenas de crianças e adultos que aplaudem com as lágrimas nos olhos, de felicidade.
         Cada um pega numa vela, e escrevem um belo poema no chão, para a Paz no Mundo. Uma espécie de oração. Tiram muitas fotos, e nessa noite, sente-se um ambiente de paz. Além das luzes, todos trocam abraços.
         De certeza que essas luzes de paz chegaram através das estrelas, aos países no mundo que andam em guerra. Afinal…ninguém ia nas barquinhas de cascas de nozes, nem naquelas feitas de pétalas de flores, que pareciam ser barquinhas.
O peixinho tinha razão…só alguém muito leve podia ir nessas barquinhas de pétalas. Mas a luz e a paz são sempre muito leves, e não precisam de navegar nas águas em barquinhas de flores, ou nozes, nem serem conduzidas por alguém, porque a luz pode voar…e se forem enviadas com toda a bondade, e sinceridade, do coração, elas chegam lá onde mais precisam dela!

                                      Fim
                                      Lálá
                        (24/Março/2015)



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