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quinta-feira, 26 de março de 2015

O ABRAÇO ÀS ÁRVORES

foto de Lara Rocha 

             Era uma vez uma aldeia com algumas casas, onde viviam famílias numerosas, e muitas árvores por todo o lado. Algumas árvores já estavam secas e velhas, já não produziam nada, e segundo os lenhadores, estas deveriam ser abatidas porque só estavam a ocupar espaço. Contrataram uns lenhadores, e uma criança de 8 anos, ouviu tudo. Ficou muito triste, e foi logo a correr contar aos outros.
- Não…não pode ser…não podem fazer isso. Amigos, já sabem uma coisa?
- O quê? – Perguntam em coro
- Aqueles grandes mal encarados querem cortar estas árvores, velhas e secas, e os nossos pais autorizam…
- O quê? – Perguntam todos assustados
- Isso mesmo. Dizem que só estão a ocupar espaço!
- Mas que grande lata!
- Eles é que estão a ocupar espaço…
- Só têm espaços naquela cabeça, sem nada.
- Não pode ser!
- É verdade. Eu ouvi tudo…eles estão na minha casa.
- Que horror.
- Uma árvore é um ser vivo, mesmo que já esteja velhinha e seca…acontece o mesmo com os seres humanos.
- Claro! – Respondem todos
- Uma árvore não é um pedaço de madeira…é muito mais que isso.
- Claro. - Respondem todos
- Temos de os impedir. – Sugere uma menina de 10 anos
- Estás maluca? – Perguntam todos
- Achas que nós, pequenos temos alguma influência? – Pergunta um menino da mesma idade
- Claro que não. – Responde outra menina da mesma idade
- Isso era bom…o mundo seria bem melhor se mandássemos alguma coisa.
- Pois era. – Concordam todos
- Eles fazem tudo o que querem.
- Pois! Tem dinheiro…
- A minha mãe e a minha avó dizem que o dinheiro controla tudo. E é bem verdade. – Diz um menino mais novo
- Pois é! - Concordam todos
- Esperem aí…é claro que podemos impedir. – Garante a menina de 10 anos.
- Como? – Perguntam todos
- Não temos super-poderes, lembras-te?
- Pois…nem somos crescidos.
- Os crescidos não fazem nada, e vamos fazer nós, tão pequenos?
- Mas amamos a natureza, certo?
- Claro! – Respondem todos
- Juntos, podemos! – Garante a menina
- Acho que estás a sonhar acordada. – Diz um menino
- Como é que vamos enfrentar aqueles grandalhões, mal encarados, cheios de coisas que cortam? – Pergunta um menino mais novo
- É. E como é que vamos mudar aquelas cabeçorras que só devem ter porcaria lá dentro?
- Pois! – Dizem todos
- Estamos unidos ou não estamos? – Pergunta a menina de 10 anos
- Estamos! – Respondem todos
- Queremos defender as árvores ou não?
- Queremos! – Dizem em coro
- Então! Não temos medo! Vamos.
- Vamos! – Gritam todos
- Mas qual é o teu plano?
- Ao chegarmos lá, cada um abraça uma árvore.
            E põem pés ao caminho. Mesmo cheios de medo, sabiam que estavam juntos, e acreditavam que iriam conseguir alguma coisa. Ao chegar lá, cada menino abraça uma árvore.
- Não vamos deixar que vos cortem. – Diz a menina de 10 anos à sua árvore
- O que fazemos a seguir? – Pergunta outro menino de 10 anos
- Deixem-se estar.
            Chegam os homens com serras e serrotes, e o pai de um deles, grita:
- Saiam daí.
            Eles não respondem, e continuam no mesmo sítio, abraçados às árvores.
- Saiam! – Gritam todos os homens
- Não! – Gritam as crianças
- Olha agora o raio da canalha…metida a gente grande… - R           esmunga um homem
- Vamos. Saiam…- Ordena outro pai
- O que estão a fazer aí? – Pergunta outro pai, nervoso
- A defender o que é nosso! – Diz outra menina de 10 anos
- Não saímos. Vocês é que têm de sair. – Diz a menina que teve a ideia
- Esta agora! – Resmunga outro senhor
- Vão levar uma tareia! – Ameaça outro pai nervoso  
- Não faz mal…afinal é mesmo isso que tu sabes fazer não é, pai? Dar tareias…mas dói menos do que ver estas árvores a ser cortadas. – Resmunga a menina
            O pai fica embaraçado e ainda mais nervoso, prepara-se para bater na filha, mas os outros impedem-no.
- Bandido! – Dizem todos
- Fica quieto. – Ordena outro pai
- Estes pedaços de madeira vão ser cortados, não servem para nada, estão secos. – Informa outro lenhador
- Vocês é que não servem para nada. Só pensam no dinheiro…mas o dinheiro compra o ar que respiram? Compra a saúde? – Desafia a menina de 10 anos
- Não sejas mal-educada. – Grita o pai dela
- Saiam imediatamente daí. Ou saem a bem ou saem a mal. – Gritam todos os homens
- Para cortar estas árvores, terão que nos cortar também! – Grita a rapariga que teve a ideia
- O quê? – Perguntam todos os homens
- Isso mesmo! – Gritam todas as crianças
            Os homens tentam agredir as crianças, mas elas não cedem, e não largam as árvores, elas dão as mãos umas às outras, e fazem uma espécie de barreira. Os homens tentam dar sapatadas nas mãos para que se separem, mas elas não deixam, não largam as mãos nem por um segundo.
De repente, por magia, as árvores ganham vida! Saem umas raízes da terra, grossas e volumosas, e desatam a dar pontapés nos homens, outras raízes dão nas mãos deles.
Uns troncos fininhos que aparecem mais acima no topo do tronco dão uns valentes estalos, e puxam cabelos, outras pegam nos homens, sacodem-nos e atiram-nos ao chão, outras pisam-nos já no chão. Eles nunca viram aquilo, e estavam incrédulos.
            Parecia que as árvores tinham sentido que iam ser cortadas, e defenderam-se. Despejaram toda a raiva em cima deles, principalmente porque ouviram que uma das meninas e a sua mãe que costuma ir para os pés dessa árvore desabafar, e ganhar força, eram maltratadas pela figura masculina. Até as crianças estavam de boca aberta e desataram
às gargalhadas. Abraçaram ainda mais as árvores e dizem em coro:
- Obrigada, árvores.
            As árvores sorriem, e ganham uns troncos como se fossem braços, envolvem as crianças num abraço carinhoso.
- Nós é que temos de vos agradecer… - Diz uma árvore
- Mas o que foi isto…? – Pergunta um homem bastante mal tratado como todos os outros
- Acho que…
- Não sei…
- Não percebi nada!
- Tiveram o que mereceram. – Diz a menina de 10 anos que teve a ideia
- Parece que os pedaços de madeira que não serviam para nada, só ocupavam espaço, e estavam secas e velhas, afinal, tinham vida. – Diz a outra menina de 10 anos.
- Graças aos vossos abraços… - Diz uma árvore
            E as árvores ficam como novas, nascem centenas de ramos fortes, e folhas viçosas, verdes, e frondosas.
- Cortem-nos agora! – Diz outra árvore irónica
- Vocês têm armas, mas nós temos ainda mais…- Diz outra árvore
- Ou querem experimentar mais? – Diz outra a rir
            Os homens não respondem.
- Vamos embora, antes que eu me arrependa. – Resmunga outro homem
- E tu, óh minha grande besta, ai de ti que assentes mais essa mão podre em cima da menina e da tua mulher. Acabo com a tua raça…tu não sabes do que sou capaz. – Ameaça a árvore que servia de confidente
- Maldita! – Grita o homem nervoso
- É. Vais ver quem é a maldita… ou o que é que é maldita… - Diz a árvore
- Rua…! – Gritam as árvores em coro
- Ou querem mais? – Pergunta outra árvore
- Que lindos que estão… - Diz outra árvore a gozar
- Fantásticos… - Dizem todas as árvores
- Que artistas que nós somos… - Diz outra árvore a rir
            E todas começam a gozar. Os homens antes de sair ainda ameaçam:
- Voltaremos!
- Olhem…parece que gostaram.
            Todas riem
- Nós fazemos mais, não temos qualquer problema…e pomos-vos ainda mais bonitos… - Ri outra árvore
- Melhor que uma massagem chinesa… Éh, Éh, Éh…
            Todas riem e dizem:  
- Verdade.
            As árvores ficam a gozar, e as crianças brincam livres e felizes naquela zona. Conseguiram o que queriam…as árvores não foram cortadas.
- Afinal, o que elas precisavam era só de um abraço, para nascerem de novo, e ficarem ainda mais bonitas! – Diz a menina que teve a ideia
- Isso mesmo! – Dizem todos
- Pois claro! – Respondem as árvores em coro
            Chega a mãe da menina, muito feliz, e fica encantada com as árvores.
- Lindo, meus amores…como é que isto aconteceu? O teu pai foi levado para a esquadra!
- Finalmente! – Sorri a menina que era maltratada
- Agora vai pagar cêntimo, por cêntimo o mal que nos fez.
- A árvore também já cobrou.
- Temos poder ou não temos? - Pergunta a outra menina de dez anos
- Conseguimos! - Dizem todos felizes 
- Somos pequenos, mas juntos conseguimos, e os adultos conseguiriam ainda mais se também se juntassem pelo que querem lutar. 
- Tens toda a razão! Foste muito corajosa. Obrigada. - Diz a mãe da menina 
            A árvore ri-se, e a mãe também a abraça.
- Obrigada, querida árvore. Obrigada, obrigada, obrigada. – Diz a mãe da menina
            E os homens nunca mais lá voltaram para cortar as árvores. A paz e a natureza em estado puro, voltaram a esse lugar onde o abraço das crianças, às árvores fez verdadeiros milagres.
As árvores, mesmo secas e velhas servem para abrigo de alguns animais. Todos precisamos muito de árvores…e de abraços…de gente que ame, que defenda, que proteja…

FIM
Lálá
(26/Março/2015)




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