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segunda-feira, 16 de março de 2015

Entre palavras e livros


Cena 1
NARRADOR/A 1 - Um poeta jovem estava muito triste, porque queria escrever e não conseguia. Já tinha pedido ideias às estrelas, aos rios, às fontes, aos lagos, aos animais, às montanhas…e nada!
(No parque, dois meninos conversam sentados à sombra de uma árvore frondosa, a folhear, a conversar alegremente, a partilhar e a trocar livros)
RAPAZ (Anda, nervoso, de um lado para o outro. Olha para um lado, e para o outro, olha para o tecto)Olá, amigos…viram por aí palavras, letras, imagens, sons e…
MENINO E MENINA – Livros?
RAPAZ – Sim!  
MENINA – Eu só tenho estes aqui…que encontrei num saco que iam levar para o lixo, só porque estavam estragados.
RAPAZ – Onde?
MENINA – Estavam ali atrás quase a ser levados para o lixo municipal. Eu é que pedi à minha avó para os levar para casa e concertá-los.
MENINO - São lindos! E ficaram óptimos! Como novos.
RAPAZ – Isso não se faz!  
MENINA – Eu trato os meus livros todos, como se fossem pessoas, animais ou plantas!
RAPAZ – É mesmo assim que eles têm de ser tratados.
MENINO – Pois, porque são muito bons para nós.
MENINA - São nossos amigos.
RAPAZ – Aprendemos muito com eles!
MENINO – Os livros são tesouros!
MENINA – Pois são.
RAPAZ – Mas o que eu quero mesmo saber é onde estão…palavras, ideias, pensamentos…? Onde?
MENINO – Porque é que estás à procura de livros?
RAPAZ – Porque quero escrever e não consigo. Parece que desapareci e desapareceu tudo o que eu queria escrever da minha cabeça!
MENINA – Pega nestes livros!
(Ele pega num livro e folheia. Numa das páginas, sai uma voz)
VOZ 1 – Lê-me. Folheia-me. De certeza que vais encontrar o que tanto procuras.  
RAPAZ – Boa ideia! Obrigado.
VOZ 2 – Escolhe só as palavras boas e bonitas!
RAPAZ – Sim, são essas que eu quero! E o mundo também!
NARRADORA 1 – Ao ler, estamos sempre a aprender coisas novas!
NARRADORA 2 – Quanto mais lemos, mais facilmente falamos, pensamos, escrevemos, fazemos amigos, dizemos o que sentimos, e crescemos.
NARRADORA 1 – Não em tamanho, mas por dentro!
                                                           Cena 2
(Ele começa a folhear e a olhar com atenção…em silêncio. Passam algumas palavras e pequenas frases…e parecem estar perdidas, olham para todos os lados e umas para as outras.
PALAVRA 2 – Ei…estamos num sítio diferente!
PALAVRA 1 – Esta não é a nossa casa.
CORO DE PALAVRAS – Pois não!
PALAVRA 3 – O que aconteceu?
PALAVRA 4 – Acho que nos mudaram de sítio!
CORO DE PALAVRAS – Como? Porquê?
RAPAZ – Onde estão, palavras?
PALAVRA 1 – Esperem…estou a ouvir qualquer coisa.
RAPAZ – Palavras…
CORO DE PALAVRAS – Estamos aqui!
RAPAZ – Apareçam, lindas palavras! Onde estão, palavras?
CORO DE PALAVRAS – Aqui!
(As palavras ficam muito atentas e em silêncio, na expectativa a ver o que está para acontecer. Ele sorri, fecha o livro).  
RAPAZ – Obrigado amigos. Até à próxima.
OS DOIS (sorriem) – Obrigada. Até à próxima.
(As palavras sentam-se no chão, desanimadas e tristes).
                                                           Cena 3
NARRADORA 1 - Não pensou mais nas palavras, e fez as suas tarefas de casa.
NARRADORA 2 – Tentou deitar-se e dormir, para ver se encontrava palavras perdidas nos sonhos…mas não pregou o olho a noite toda.
NARRADORA 1 - A sua tristeza aumentava cada vez mais, porque as palavras continuavam sem aparecer na sua cabeça.
NARRADORA 2 - Vê-se ao espelho, à procura das palavras…e só se vê a ele.
PALAVRA 1 – Olhem, ele está a ver-se ao espelho.
PALAVRA 2 – Estará à nossa procura?
CORO DE PALAVRAS – Sim!
PALAVRA 4 – Vamos gritar agora outra vez…a ver se é desta!
CORO DE PALAVRAS – Boa… (gritam) Estamos aqui!
PALAVRA 1 – Acho que ele afinal não viu nada nos livros.
PALAVRA 2 – É. Está tudo na mesma.
PALAVRA 3 – Ou então não esteve atento…viu, por ver!
PALAVRA 4 – Tenho tantas saudades de conhecer palavras novas e diferentes!
CORO DE PALAVRAS – Eu também!
RAPAZ – Ai, palavras…lindas palavras…onde estão?
CORO DE PALAVRAS – Aqui!
                                                           Cena 4
NARRADORA - Passa uma borboleta em voo…ele olha fixamente para a borboleta, que pousa na sua almofada. O rapaz olha para ela.
RAPAZ – Olá…! Talvez tu sejas a minha salvação…borboleta. Borboleta, borboleta…óh não…não me sai nada…
BORBOLETA – O que é que estás para aí a dizer…?
RAPAZ – Não consigo escrever...não me sai nada. Parece que as palavras fugiram todas…não sei para onde!
BORBOLETA – Que palavras?
RAPAZ – Todas!
BORBOLETA – E onde tinhas as palavras?
RAPAZ – Não sei…estavam na minha cabeça, nas mãos, nos meus olhos…lá fora…em todo o lado.
BORBOLETA – Muda de sítios.
RAPAZ – Também já fiz isso, e não funciona. Tentei dormir, a ver se as encontrava nos sonhos, mas não consigo fechar os olhos. Por acaso não viste por aí umas palavras…?
BORBOLETA – Vi, sim…milhões e milhões por aí espalhadas a voar.
RAPAZ – Onde?
BORBOLETA – Por exemplo…agora estou a ver milhares nos teus olhos…!
RAPAZ (surpreso) – Palavras nos meus olhos?
BORBOLETA – Sim.
RAPAZ – Mas eu vi-me ao espelho, e não vi uma única palavra.
BORBOLETA – Mas eu vejo. Visita livros…quem sabe, elas foram de férias! Deita-te!   
RAPAZ – Não consigo!  
BORBOLETA – Ora…deita-te! Fecha os olhos, e pede ao João Pestana que te dê soninho.
RAPAZ – Não consigo.
BORBOLETA – Pára de resmungar e fecha os olhos. Amanhã é outro dia, e terás outras ideias.
RAPAZ – Ai, que nerrvoooossss…!
BORBOLETA – Deita-te e conta até dez. Respira…e não penses nas palavras que não encontras. Não penses em nada.
NARRADORA 1 – Com a magia das asas da borboleta, ele adormece e sonha…
NARRADORA 2 - Sonha que anda atrás das palavras que aparecem em forma de borboletas.
NARRADORA 1 - Milhares de palavras diferentes, lindas, a voar felizes, diante dos olhos dele.
NARRADORA 2 - Ele tenta apanhá-las com a rede, com as mãos, corre atrás delas, mas elas não se deixam apanhar, pousam na sua cabeça, mas deixa de as ver.
(Acorda sobressaltado e grita).
RAPAZ (grita, nervoso) – Nem nos sonhos vos consigo apanhar.
                                                           Cena 5
(De repente, ouvem-se muitos passos, muitos risos, e muitas palavras soltas)
RAPAZ – Estou a ouvir passos! E…risos…
MÍMICA
O quarto é invadido por personagens de livros, que conversam umas com as outras, riem, dançam, saltitam, cada uma faz coisas diferentes.
RAPAZ – O que é isto?
BORBOLETA – Não perguntes nada…aproveita!
RAPAZ – Mas…
PALAVRA 1 (feliz) – Meninas, é agora!
CORO DE PALAVRAS (sorridentes, gritam) – Boa!
PALAVRA 2 (feliz) – Finalmente, novas amigas e imagens, e sons…
PALAVRA 3 (sorri) – Áhhh…olha aquelas que lindas!
PERSONAGEM 1 – Olhem, palavras…estamos num sítio diferente!
TODAS – Uau! Éhhhh…
RAPAZ – Quem são vocês?
PERSONAGEM 2 - Vivemos todos num grande livro!  
PERSONAGEM 1 – Nós viemos descansar e passear!
PERSONAGEM 6 - Estamos cansados de ser folheados.
PERSONAGEM 3 – E de entrar e sair.  
PERSONAGEM 4 – Viemos conhecer sítios diferentes.

PERSONAGEM 5 – E de silêncio!

PERSONAGEM 1 – Anda connosco! 
                                                                       Cena 6
(Uma personagem dá uma caixa em forma de livro. Ele folheia, sentado no chão, e segue as personagens, sorridente e feliz).
MÍMICA (personagens: borboletas, nuvens, vento, palavras, letras)
Palavras que voam como borboletas desajeitadas, outras chocam com nuvens, outras são sopradas pelo vento, e caem ou correm, tentam segurar-se com as mãos. Cruzam-se com outras palavras, umas vão para um lado, outras para outro, separam-se pelo caminho, dançam, saltitam, brincam, riem. Fica tão feliz que levanta-se e entra na brincadeira com elas. No fim da música:

RAPAZ – Finalmente, encontrei as palavras outra vez, e voltei a escrever coisas lindas! Muito obrigado, livros e palavras!

FIM
Lálá
(17/Janeiro/2015)




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