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sexta-feira, 2 de maio de 2014

A bola mistério


























Era uma vez um pequenino duende que passeava pela floresta, sem pressa. Colheu flores para a sua apaixonada, e conversou com quem se cruzava. Sentou-se à beira do rio, e fechou os olhos.
Respirou fundo, e abriu as mãos para agradecer ao Universo, o dia e a noite, a sua saúde, a beleza da natureza, a família, o trabalho, o dinheiro, os animais, os alimentos e tudo o que tinha.
Os macacos das árvores à sua volta apercebem-se de alguma coisa a voar a grande velocidade pelo céu. Seguem o objeto com os olhos, muito surpresos, e ao mesmo tempo assustados. Eles trocam impressões um com o outro:
- O que é aquilo? - Pergunta um macaco baixinho para não atrapalhar a meditação do duende.
- É uma coisa!
- Que é uma coisa, eu já vi…mas o que é?
- Não sei. Não consigo ver…está muito longe.
- Espera…está a dirigir-se para aqui…
- Esconde-te!
- Tu também.
Os macacos metem-se na toca, abraçados, a espreitar pela entrada.
- Ai…acho que é o nosso fim.
- Cala-te! Estás a assustar-me.
- O quê? – Pergunta outro macaco sonolento
- Amigo…o mundo vai explodir.
- O quê?
- Vem aí uma coisa…
- Isso foi só… (boceja) no tempo dos…daqueles…ossudos…! Fiquem descansados.
       Responde o macaco sonolento.
- É mesmo verdade? – Pergunta uma macaquinha nervosa
- Quem vos disse? – Pergunta outra macaquinha nervosa
- Olha…está cada vez mais perto! – Diz o macaco muito assustado a ver pela frincha
- O quê? – Perguntam em coro
- Tu não estás bom da cabeça pois não? – Pergunta uma macaquinha
- Deixa ver…! – Diz a outra macaquinha
- Não estamos a brincar. – Garante o macaco
- Ai…gosto muito de vocês todos! – Diz uma macaquinha muito nervosa…
- Eu também. – Respondem em coro
- Sendo assim…vamos dar todos as mãos…acabamos todos juntos, como sempre andamos. – Sugere outra macaquinha.
      Espreitam, dão as mãos, fecham os olhos, e de repente, cai uma enorme bola branca nas mãos do duende. Os macacos encolhem-se e gritam o quanto mais podem, chiam, saltam, correm de uma lado para o outro, rebolam, caem, tropeçam uns nos outros, é uma grande confusão. 
      O macaco sonolento, acorda e segue os amigo. O duende grita, e os seus dedos começam a latejar de dor. Os malandrecos macacos começam às gargalhadas.
- Mas o que é isto? – Grita o duende quase a explodir de raiva – Quem fez isto? Foram vocês, seus macacões?  
- Não! – Respondem os macacos.
- Desculpa…magoaste-te? – Pergunta outro macaco
- Que pergunta, mais imbecil…se te caísse uma bola em cima dos dedos, não te ia doer…? – Pergunta o duende
- Óh, claro que sim… - Responde o macaco
- Mas foram vocês? – Pergunta o duende
- Não! – Respondem em coro
- Esperem…o mundo não acabou! – Reflete uma macaca
- Pois não! – Dizem em coro
- Estamos vivos! – Gritam em coro - Éééééééhhhh….
- Mas quem é que disse que o mundo ia acabar? – Pergunta o duende
- Vimos uma coisa a voar no céu, em direção à terra…e quando se aproximou daqui, pensamos que ia derreter a terra. – Explica um macaco
- O quê? O que é que viram? – Pergunta o duende
- Essa bola que tens aí nas mãos! – Responde outro macaco
- Mas isto não é uma bola qualquer…! E tinha logo que cair em cima de mim! - Observa o duende.
- Acertaste! Essa não é uma bola qualquer… - Responde uma voz feminina com eco
      Todos estremecem e procuram a voz.
- Estou a ouvir coisas…? – Pergunta o duende
- Não. Estás a ouvir a minha voz. E a minha voz, não é uma coisa.
- Desculpa, não queria ofender…é que não vejo ninguém.
- Pois não. E não é para ver…é para ouvir, e sentir.
- Mas quem és tu? Ou quem é você?
- Podes tratar-me por tu. Um dia descobrirás quem sou.
- Que misteriosa…gosto de mulheres misteriosas…são atraentes.
      Ouve-se um chicote que bate no duende. O duende salta e grita.
- Ai.
- Respeito! Tens de aprender a sentir uma mulher…a gostar dela sem tê-la.
- Ora, nós queremos ver mulheres, como vocês, querem ver homens.
   Outra vez o chicote, que desta vez, dá várias voltas e várias fustigadas. O duende grita e salta.
- Ai…que má!
- Mas que limitados que vocês são! Carnais! Uma mulher é como uma flor delicada…bela para ser apreciada, e acariciada, com toques na sua alma, não é com apertos esfomeados.
- Desculpa se te ofendi. De onde veio esta bola que quase me esmagou os dedos?
- Fui eu que te mandei.
- Para quê?
- Essa bola não é uma bola qualquer…ela tem muito poder.
- Poder? Para quê?
- Abre-a.
- Como?
- Descobre.
- Que mistério…
- E tens medo dos mistérios?
- Tenho.
- Não. Não tens é paciência…é como vocês fazem com as mulheres! Não têm paciência para conhecer a mulher na sua profundidade… porque elas dão trabalho. Essa bola vai ensinar-te muito. Se queres ver o que ela tem dentro, tens de a conhecer, explorar com carinho, tentar, falhar e voltar a tentar…
- Mas o que é que ela faz quando abre?
- Verás!
- Vais aparecer?
- Não.
- Porque não?
- Porque não sou para aparecer.
- Mas…
- Boa sorte! E não desistas.
    A voz cala-se, os macacos estão gelados de medo. O duende está muito surpreso.
- Ouviram aquilo? – Pergunta o duende aos macacos
- Sim!
- Quem será?
- Não sei.  
    Ele pega na bola e esta fica do tamanho de um berlinde. O duende acaricia-a, vira para um lado, vira para o outro, e segue o seu caminho muito pensativo. 
   Por onde passa, todas as flores que estavam em botão, abrem, enormes. Os casulos rompem e saem de lá, lindas borboletas. Dos ovos, começam a sair os passarinhos, que cantam docemente, e das tocas, os coelhinhos. As joaninhas dão pequeninos voos e pousam nas flores.
    Pelas portas das casas, por onde passa, e onde há casais zangados, estes fazem as pazes, e voltam a estar apaixonados. Passa pelo hospital, e da bolinha saem potentes raios de luz, que entram pelas janelas dos quartos. 
    No dia a seguir, todos os doentes ficam curados. O duende começa a perceber os poderes da bola. E todos os dias, quanto mais o duende explora, procura, acaricia a bola, com toda a delicadeza e carinho, acontecem novas e maravilhosas coisas, sempre que ele passa. A bola mistério faz verdadeiras magias.
O duende não se separa mais dessa bola, e depois de descobrir todos os poderes da bola, torna-se muito conhecido, ajuda milhares de pessoas que lhe pedem, e que ele acha que precisam. Ficou conhecido como o duende Anjo. Toda a gente gostava dele.
- Esta bola faz milagres! – Comenta o duende feliz
- E sabes porquê? – Pergunta a voz – Porque tiveste paciência, soubeste descobri-la, experimentá-la, e cada vez que a acariciavas passavas-lhe a tua luz, que é linda, pura, bondosa. Essa bola é um prémio pela pessoa que és. Se não fosses assim, a bola nunca funcionaria. Mas tu tens poder. Nunca deixes de ser assim.  
- Áhhh!
- Essa bola só reforça o poder que tens! Todos temos esses poderes, mas nem todos sabemos usá-los, às vezes até fazemos pior, ao querer ajudar…porque não conseguimos ser verdadeiros nos sentimentos. E a partir de agora, estás preparado para conhecer mulheres muito especiais, ajudá-las. Agora aprendeste a tratá-las como mulheres.
- Sim. É verdade! Agora entendo porque é que elas fugiam de mim, ao fim de algum tempo. Porque era muito apressado.
- Claro! Elas não gostam de pressas, nem de possessões. Gostam de ser tratadas com delicadeza, respeito, gostam de ser conquistadas dia após dia, com coisas simples, verdadeiras, sem pressa. E a mulher é uma verdadeira bola mágica…os seus poderes especiais vão-se revelando, às vezes de forma tímida, mas quando mostram, marca-vos para sempre!
- Entendi! Muito obrigado por esta aprendizagem…
- (sorri) A bola não te caiu por acaso. Caiu nas tuas mãos, para ti! Porque tinha coisas para te ensinar.
- É verdade. E aprendi mesmo muito.
- Na nossa vida, todos os dias, ou muitas vezes, caem-nos bolas misteriosas nas mãos…enfrentamos pequenos ou grandes acontecimentos, que sentimos de forma diferente, uns dos outros. Esses acontecimentos, que podem parecer obstáculos ou atrasos, ou muito difíceis, são bolas mágicas, misteriosas, para aprendermos alguma coisa com eles, para amadurecermos, e construirmos um mundo melhor. No entanto, nem todos conseguimos entender as lições à primeira…por vezes, só muitos dias depois é que a bola mágica se abre, e está lá a explicação. Todos podemos ser bolas mágicas uns para os outros…tudo depende da forma como nos descobrem, e de como nos tratam.  
- Sim. É verdade. Agora entendi tudo.
   E desde que esta bola misteriosa caiu nas mãos do duende, ele nunca mais foi o mesmo. Tornou-se numa pessoa melhor, mais dócil, menos egoísta.
- Mistério desvendado! – Diz o duende, sorridente.

FIM
Lara Rocha 
(2/Maio/2014)

  


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